Projeto de vida: Ser ou existir?

O projeto de vida traz a possibilidade de arquitetar, conceber e plasmar o que está por vir. O ser humano tanto pode idealizar uma bomba, quanto a cura para uma doença. As escolhas dos estudantes decorrem de influências intrínsecas e/ou extrínsecas e, no que tange ao apoio da escola, do compromisso de seus atores com a ética, a ciência tanto pode atender aos interesses mercadológicos, estando a serviço do consumo desenfreado, da competitividade e das guerras, quanto do coletivo, visando a paz, a lucidez e o bem comum.

“Idealizar a própria vida é ter consciência da responsabilidade de cada um em sua atuação social, descobrindo-se a si mesmo, aos outros e o meio em que vive".

Projetar a vida perpassa por questionamentos sobre as diferentes violências físicas e simbólicas que se configuram diante das desigualdades sociais, étnicas e de gênero. Idealizar a própria vida é ter consciência da responsabilidade de cada um em sua atuação social, descobrindo-se a si mesmo, aos outros e o meio em que vive. É o momento em que são percebidas as tantas formas e jeitos de ser. É também quando alguns dos preconceitos construídos socialmente atingem e afetam as crianças, o que pode ser revertido a partir do compromisso da escola em importar-se com o outro.

Muitas vezes, nos projetamos para uma vida produtiva, pensando no mundo do trabalho, e, por isso mesmo, em mecanismos para conseguir um emprego. É como se a criança ainda não fosse nem precisasse ser um trabalhador, enquanto o idoso já concluiu essa fase. A isso chamaríamos vida? 

Projeto de vida: Qual é o nosso destino?

Uma das maneiras de buscar respostas às perguntas iniciais da existência, tais como: “Quem sou? Por que existo? Por que existe tudo e não nada?”, é por meio do autoconhecimento. Por ele, inicia-se a construção da identidade pessoal.

Muitos alunos relatam ou demonstram, direta ou indiretamente, não serem merecedores de sonhar, de modo que grande parte da energia dos professores reside em superar determinismos geográficos ou biológicos e despertar nos adolescentes a vontade deles quererem algo para si, reforçando que a escola é:

  • espaço de acesso ao conhecimento;
  • ampliação do universo cultural;
  • ascensão social e profissional.

A instituição escola é, também, um espaço privilegiado para descobertas quanto ao mistério da vida. Da poesia à biologia, do astrônomo ao filósofo, do artista à criança sempre há possibilidades de diálogo, produção, pensamento, debate e desenvolvimento do verdadeiro potencial humano que supera a repetição e a imitação, pois se vê capaz de:

  • criar;
  • sentir;
  • pensar;
  • inventar;
  • inovar;
  • querer;
  • ousar. 

Esse modo de olhar para o estudante em sua integralidade envolve a unidade entre corpo e mente, pois compreende aspectos cognitivos e afetivos, intelectuais e práticos, políticos, singulares e coletivos, ou seja, implica em ser receptivo para os aspectos humanos que passam a ser explorados intencionalmente. É a vez de identificar preferências e habilidades. Essa educação interdimensional visa contemplar equilibradamente aspectos racionais, relacionais, físicos e irrespondíveis, como “o que é a morte”, “a que se destina nossa existência”, pois o “eu” e o “tu” transcendidos no “nós” trazem ao projeto de vida algo para além do indivíduo. Trata-se do ser e do querer ser que dependem da confiança, da escuta atenta, da percepção de si e do outro, do apoio familiar, da aprendizagem, da comunicação oral e escrita para interagir com a comunidade, de saber argumentar e defender pontos de vista, do reconhecimento dos pontos fortes e das fragilidades do projeto, visando formar um cidadão autônomo, solidário e competente.

Um dos impasses que circundam a vida dos adolescentes e jovens é o de conciliar os estudos com o trabalho. Muitas vezes a inserção precoce no mundo do trabalho, devido às necessidades de sobrevivência, impede que o projeto de vida seja direcionado, qualificado e consciente. Antes disso, já acontece o abandono escolar e o direito de aprender e de fazer escolhas é tolhido.

“[...] quanto mais o acesso e a permanência na escola tenham cenários desafiadores, tanto mais se fará necessário o convencimento da importância de que o projeto de vida se conecte e se integre aos itinerários formativos a serem escolhidos pelos estudantes.”

Por mais que se estabeleça um ponto de chegada (com conhecimentos mínimos e um projeto de vida), revelando um desejo de igualdade (com a BNCC), o ponto de partida torna-se tanto mais desafiador quanto a consciência do papel do sonho na vida de cada um; ou seja, quanto mais o acesso e a permanência na escola tenham cenários desafiadores, tanto mais se fará necessário o convencimento da importância de que o projeto de vida se conecte e se integre aos itinerários formativos a serem escolhidos pelos estudantes.

Assim, a promoção da equidade conta com práticas pedagógicas inclusivas e de diferenciação curricular para reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza alguns grupos no Brasil.

Quais benefícios os jovens adquirem ao realizar o projeto de vida?

O índice de felicidade humana considera aspectos como:

indicadores que avaliam a autoestima, a percepção de competência, estresse.

indicadores medidos a partir de padrões de comportamento arriscado, tais como horas de sono, frequência de exercícios físicos e alimentação saudável.

divisão que cada um faz, considerando horas perdidas no trânsito; vitalidade comunitária (examina a sensação de acolhimento).

envolve estudos formais e informais, preocupação e diálogo da família com relação às ações que demonstrem avanços nas questões ambientais e solidárias.

oportunidade de desenvolvimento do potencial criativo; respeito às questões étnico-raciais e de gênero.

percepção da qualidade dos recursos naturais.

relação de confiança e transparência detectada partindo do relacionamento com as diferentes instituições que o cercam.

renda, segurança e nível de endividamento.

Pode-se dizer que a realização das atividades direcionadas à confecção do projeto de vida afeta, proporcionalmente, na sensação de felicidade. Pode-se afirmar que planejar a vida é evitar o sofrimento.

São muitas as atitudes que decorrem do projeto de vida consciente. Em primeiro lugar, o entendimento de que a felicidade é coletiva. Depois, pensar sobre o mundo do trabalho na escola é um jeito de ensinar a administrar o dinheiro adquirido com o trabalho, consumo consciente, uso responsável de bens e serviços públicos, educação financeira, alimentação saudável, busca da saúde e da qualidade de vida, bem como melhoria da disciplina.

O projeto de vida pode contar com avaliações contínuas que identifiquem o índice de:

  • cooperação;
  • comunicação;
  • partilha/ações direcionadas ao compartilhamento;
  • escuta;
  • prazer;
  • interação;
  • felicidade.

A projeção para o mundo do trabalho é um dos focos do projeto de vida. Entretanto, é importante que o projeto de vida se contextualize no mundo do trabalho, mas também que saibamos que trabalho é exatamente essa capacidade de projetar e idealizar, transformando a natureza, diferente de emprego, atividade remunerada, típica da sociedade industrial, donde se extrai que a pessoa é produtiva durante certo período da vida e improdutiva, quando criança ou quando idosa.

Para pensar nisso, diferentes estudos apontam para o questionamento da desvalorização dos tempos considerados improdutivos, seja por desemprego, infância, juventude ou velhice.

“Quais habilidades poderiam ser desenvolvidas para a construção de um mundo melhor?”

Dito de outro modo, como desenvolveríamos um projeto de vida que se transpassasse em nós? Que tivesse no horizonte não apenas um emprego, mas a própria existência, já que grande parte dos estudantes ouvem sobre sua “inutilidade" antes de serem inseridos no mercado de trabalho.

Quais habilidades poderiam ser desenvolvidas para a construção de um mundo melhor? Personalidades como Mahatma Gandhi inspiram a todos, pois propiciam reflexões mais profundas sobre o destino da vida, sem esquecer da relação entre trabalho e prazer, da busca pela satisfação pessoal e pelo aprimoramento do ser.

Para crianças do Ensino Fundamental, projetar a vida adulta com simulações de experiências do mundo do trabalho mais lúdicas, métodos ativos, encenações, brincadeiras, jogos cooperativos e teatrais mantêm o brilho e a espontaneidade, além de contribuir para o processo de internalização de regras e saberes.

À medida que os aspectos cognitivos e socioemocionais vão se desenvolvendo, os adolescentes do Ensino Médio já dialogam, escrevem, argumentam e experimentam com caminhos entre os da vida adulta e os da infância, tendo de haver ponderação conforme a maturidade de cada grupo, sem perder o foco na responsabilidade, na empatia, na ética e na busca pela felicidade.

Em um pensamento holístico, os estudantes de EJA podem reviver sensações da infância em um memorial com a intenção de que as lembranças gerem trabalho mental, o que ao mesmo tempo descontrai e traz reflexão para a criação de outros desenhos, considerando os caminhos já trilhados, com a compreensão dos motivos que os trouxeram de volta à escola. 

Saiba mais!

Conheça importantes referências bibliográficas sobre o tema Projeto de Vida:

BEAUVOIR, Simone de. A velhice. O mais importante ensaio contemporâneo sobre as condições de vida dos idosos. Tradução de Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

WISNIK, José Miguel. Cajuína transcendental. Série Temas. V. 59.  São Paulo: Editora Ática.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

ROSA, J. G. “O espelho”. In: _______. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1972.

ROSA, J. G. Cara-de-bronze. In: _______. No urubuquaquá, no Pinhém. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984


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