"Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade." (BNCC, 2018, p. 36)

Podcast

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Boião literário no berçário

Contações de histórias que exploram as diferentes linguagens no contexto escolar e explicitam recursos lúdicos, principalmente os livros, com o propósito de favorecer momentos de prazer em socialização.

Quando:

Durante todo o ano letivo, com as leituras e as contações de histórias sendo trabalhadas pelo professor uma a duas vezes por semana.

Materiais:
  • piscina inflável;
  • almofadas;
  • livros de pano;
  • livros 3D;
  • fantoches.
Habilidades trabalhadas:

EI01EO01; EI01EO03; EI01EF03; EI01EF07; EI01EF08; EI01CG02; EI01EF06; EI01ET03;

Professor(a) responsável:

Kiaria Cavalcante Da Silva.

Escola:

Creche Renato Lucena Nóbrega, João Pessoa (PB)

O que é:

O boião é uma piscina inflável que serve como instrumento para apresentar livros, brinquedos e algumas bolinhas coloridas, favorecendo a interação das crianças com os livros, que ficam à disposição durante a realização das contações de histórias. Com isso, tem-se um ambiente aconchegante, que transmite a sensação de segurança e oferece o direito de exploração.

Como fazer:

As etapas do trabalho foram, inicialmente, a investigação e a avaliação da turma, levantando o que, de fato, os alunos já sabiam e o que ainda não sabiam. A turma do berçário I é esperta; superadas as dificuldades no período da adaptação dos bebês, notamos avanços em seu desenvolvimento.

Quando entram na instituição, os bebês têm entre seis meses e um ano e três meses de idade. Portanto, ainda não falam, têm pouco equilíbrio e reduzida coordenação motora. Nesse contexto, é importante desenvolver a oralidade, a atenção, a interação com o professor e a turma e a curiosidade em explorar e conhecer o novo.

As etapas seguintes do projeto foram encadeadas de acordo com as dificuldades encontradas nas crianças. A interação foi promovida pela curiosidade delas em querer explorar os diversos livros, brinquedos e materiais lúdicos.

Durante a contação de história, atuei em parceria com as minhas ajudantes de sala de aula. Com apoio delas, percebi que as crianças se sentiam seguras.

Trabalhamos os seguintes aspectos: criatividade, percepção visual e auditiva, expressão oral, movimentos, gestos e equilíbrio (quando o bebê entra e sai do boião).

Um dos momentos significativos foi a interação e a atenção que foram sendo construídas apesar das dificuldades iniciais. Outro momento significativo foi ver as crianças desenvolverem a linguagem oral, pela fala e pelos gestos.

As estratégias utilizadas foram, inicialmente, mostrar os brinquedos e as bolinhas coloridas, para, em seguida, deixar as crianças manusearem os livros e os brinquedos. Após essa interação, procurei fazer contações de história com os bebês dentro do boião literário, onde eles observavam os livros e os materiais lúdicos.

A partir dessas estratégias, trabalhei vários aspectos da diversidade, dentre eles:

1

saber conviver com o próximo, respeitando o seu tempo, seu limite e as diferenças;

2

desenvolver a socialização, em que bebês trocavam objetos e livros;

3

produzir e explorar materiais didáticos que valorizassem o companheirismo e as diferenças, visando a uma convivência sadia e prazerosa.

Fizemos algumas adaptações no início do projeto. Os obstáculos foram contornados com muita paciência, em busca dos ajustes necessários.

Os momentos mais significativos foram os de desenvolvimento dos bebês, quando eles passaram a interagir, a mostrar objetos e figuras e a falar pequenas palavras.

Confesso que, nos primeiros dias do projeto, senti um pouco de dificuldade com a leitura e a contação de história no Berçário I, com os bebês dentro do boião literário.

Isso porque eles estavam tão interessados em explorar os livros, os brinquedos e as bolinhas coloridas que não conseguiam prestar atenção nas histórias. Eles queriam olhar e explorar, mexer em tudo o que estava dentro do boião, jogar os brinquedos e os livros pelo chão, subir e descer.

Passei, então, a separar alguns livros. Coloquei uns dentro do cantinho da leitura e outros deixei no boião. Também separei algumas bolinhas e alguns brinquedos.

Percebi alguns bebês com dificuldades em prestar atenção, com incapacidade de se adaptarem e com propensão ao choro. Mas também vi outros já plenamente adaptados, começando a falar e sem chorar. Notei ainda que a diversidade de conhecimentos da turma era grande. Por isso, precisaria adaptar as contações de histórias.

Outras ideias para colocar em prática

Depois da etapa inicial de exploração da diversidade de materiais, é interessante organizar, no boião, materiais específicos, visando aprofundar o direito dos bebês de aprenderem e se desenvolverem, por meios cada vez mais sofisticados de exploração dos objetos.

Isso pode ser feito separando as sessões de exploração de brinquedos por tipos de objetos, como livros e materiais não estruturados para apoio ao jogo heurístico.

Os brinquedos e os demais materiais podem ser explorados autonomamente pelas crianças, mesmo porque a piscina inflável adaptada como ambiente de exploração possibilita a interação em pequenos grupos com segurança.

Já a exploração dos livros deve ser acompanhada pelos adultos, a fim de dar aos bebês um bom modelo de formas socialmente aceitas de exploração do livro, que é algo bem diferente do que ocorre com os demais brinquedos.

A escolha do acervo de exploração deve levar em conta não somente sua durabilidade, mas, principalmente, a qualidade literária.

É importante oferecer livros que contemplem narrativas, que sejam ricamente ilustrados e que ofereçam às crianças elementos para recontarem as histórias.

Outra dica importante é sempre disponibilizar, para o manuseio dos bebês e das crianças bem pequenas, os livros que acabaram de ser lidos pelo professor ou professora, assegurando, assim, um contexto mais favorável à imitação imediata.

Por fim, recomenda-se que, organizada dessa forma, de acordo com diferentes categorias de materiais, a leitura seja explorada, no mínimo, diariamente, uma vez que as narrativas das histórias têm papel importante no desenvolvimento da fala, da escuta, do pensamento e da imaginação, campos de experiências fundamentais para o desenvolvimento da linguagem nessa fase da vida.