"Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade." (BNCC, 2018, p. 36)

Podcast

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Ideias pipocam... a voz das crianças no planejamento da Educação Infantil

Explorar o direito de participação e a autonomia das crianças, evidenciar seus desejos por meio da expressão oral, do registro escrito e dos desenhos; e estimular a auto-organização, expressa no planejamento das ações cotidianas.

Quando:

De julho a outubro de 2017.

Materiais:
Materiais de uso comum das crianças no dia a dia.
Habilidades trabalhadas:
EI03EO01; EI03EO02; EI03EO04; EI03EF01; EI03EF09; EI03ET04;
Professor(a) responsável:
Debora Duarte Souza.

Escola:
EMEB Silva Freire, Cuiabá (MT).

O que é:

Sequência de atividades com contação de histórias, desenho, música, atividades físicas e piquenique.

Como fazer:

Neste projeto, começamos falando sobre o livro “Bugrinho – que menino é esse?”, uma biografia do poeta Silva Freire, patrono de nossa escola. Escrito por sua filha, Daniela Freire, a obra é adaptada para crianças e contém ilustrações de Marcelo Velasco.

No livro, o personagem conta que sua cabeça fervilhava de ideias, como se fossem pipocas estourando na panela. As crianças ouviam a história e perguntavam sobre alguns trechos, querendo saber sobre os diversos personagens do livro.

Com o uso do computador e da história do bugrinho digitalizada, as crianças reescreveram a história, introduzindo outro personagem e outras ideias.

Retomei o assunto das ideias "pipocas". De início, pensamos em levar os alunos para a cozinha da escola, mas isso não seria algo muito diferente para eles, pois já tinham visto como fazer pipoca em casa. Com a ajuda de parceiros da escola, conseguimos uma pipoqueira profissional, de vidro. Então, todo o processo pôde ser observado com mais segurança.

Li a receita, pegando os ingredientes que estavam em cima da mesa. Depois, uma criança colocou o milho de pipoca no recipiente da pipoqueira e ligamos o equipamento. Quando a pipoca começou a estourar, todos observaram e ficaram curiosos. Repetimos o processo várias vezes, sempre associando a preparação da pipoca à formação das ideias em nossa cabeça. Encerramos a aula comendo a pipoca produzida durante a aula.

Com o auxílio do aparelho de som, trabalhamos as músicas "Pula, Pula Pipoquinha”, do personagem de animação Bob Zoom e "Pipoca", sucesso da apresentadora Xuxa. Com muita dança, pulos e alongamentos, todos demonstraram o processo que faz o milho se tornar pipoca.

Depois, voltamos à mesa para representar as pipocas com massinha de modelar.

Pedi que cada criança desenhasse, numa folha sulfite, tudo o que tínhamos visto e também o que ela ainda gostaria de fazer durante as aulas: brincadeiras, atividades, jogos, músicas etc.

Em seguida, passei de mesa em mesa observando e perguntando sobre os desenhos. Alguns eram evidentes, mas eu queria ouvir as histórias das crianças. Algumas crianças foram mais rápidas: parecia que a ideia fervilhava em suas cabeças, como na história de Bugrinho. Esperei que todas terminassem tranquilamente.

Levei para a sala uma caixa com a imagem da cabeça de pipoca, em referência a imagens do livro. Depois, pedi aos alunos que amassassem as folhas com os desenhos. Fizeram isso meio desconfiados. Falei que aquelas eram as ideias, e que elas iriam para a panela (a caixa) para "pipocarem".

A “caixa-panela” permaneceu em cima de uma mesa para que todos olhassem e se lembrassem de que sortearíamos uma “ideia-pipoca” por aula.

A primeira “ideia-pipoca” sorteada foi a de uma menina: fazer um piquenique embaixo da árvore da escola, comendo bolo de chocolate e tomando suco de caju.

No dia seguinte, logo depois da acolhida, a turma já mostrava interesse em saber se iríamos cumprir o combinado. Então saímos e lanchamos embaixo da árvore. Ao voltarmos para a sala, sorteamos a “ideia-pipoca” seguinte: fazer uma teia de aranha.

A sala de aula se transformou numa imensa teia de aranha. Na casa da menina que propôs a atividade, havia muitas teias de aranha. Sempre que deitava na cama, ela se imaginava andando com a musiquinha da Dona Aranha">"Dona Aranha".

Nessa atividade, tive a ajuda da professora de Educação Física, que fez uma teia com barbantes enrolados nos pés das cadeiras da sala. Colocamos ainda música no aparelho de som.

Os alunos passaram por cima e por baixo, arrastando-se, engatinhando. Todos queriam ser a aranha da vez. Nessa atividade, observei o avanço que minha turma tinha alcançado: a interação entre as crianças e a comunicação para ajudar os colegas a atravessarem para o outro lado.

Ao final da aula, fizemos mais um sorteio. Dessa vez, a ideia que saiu foi a de “brincar no parquinho”.

Para a brincadeira do parquinho, nos dividimos por brinquedos – alternando-nos entre o balanço e o escorregador.

Depois, já na classe, registramos a atividade em desenho livre.

Saiba mais

Tal proposta foi desenvolvida a partir de um livro. Mas é interessante pensar que, independentemente de termos ou não o livro no acervo da escola, as ideias pipocam nas cabeças das crianças, e elas podem ser convidadas a participar das decisões sobre o planejamento dos dias na condição de protagonistas.

Isso é muito importante porque, por meio dessa ação, é possível aprender a participar mais ativamente e a decidir sobre o uso do próprio tempo.

O planejamento das ações serve, em primeiro lugar, para que pensemos sobre como podemos usar melhor o tempo, considerando preferências, mas também o coletivo e a vontade de partilhar experiências.

Pensada dessa forma, essa proposição deixa de ser um projeto pontual, com duração predeterminada e passa a se configurar como uma estratégia de gestão do cotidiano partilhada com as crianças, como forma de assegurar participação com protagonismo nas atividades e no planejamento dos dias.

Para organizar essa proposta, é preciso ter na sala um calendário grande, no qual as crianças possam registrar as propostas que serão desenvolvidas ao longo dos dias, e uma agenda com o que precisa ser providenciado para a execução do plano definido pelo grupo.

A agenda pode ser feita pelas crianças, que ditam os textos à professora. Aos poucos, elas próprias podem assumir a tarefa, escrevendo partes das listas ou nomes de atividades, utilizando, para isso, suas próprias hipóteses de escrita.

Ao mesmo tempo em que ajuda as crianças na organização dos dias, a agenda vai se oferecendo como um suporte para a documentação do processo evolutivo das escritas.

A agenda pode ser acompanhada de um diário coletivo para o registro, com a professora como escriba, do desenrolar das propostas. Trata-se de um recurso interessante para apoiar a memória das crianças e auxiliá-las na construção de suas narrativas de vida.