"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

Podcast

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Jornal escolar: escrita significativa e formação cidadã

Área(s): Linguagens; Ciências Humanas.

Analisar as contribuições do projeto ao processo de ensino-aprendizagem da modalidade escrita e estudar gêneros discursivos necessários à elaboração de um jornal, visando ampliar a participação social do aluno.

Habilidades trabalhadas:
EF69LP03; EF69LP05; EF69LP07; EF69LP08; EF69LP13; EF69LP16; EF69LP21; EF06LP01; EF06LP02; EF67LP04; EF67LP05; EF67LP09; EF67LP10; EF89LP01; EF89LP03; EF89LP04; EF89LP10; EF08LP03; EF89LP21.
Escola:
Albino F Sanches C E EF M Profis, Londrina (PR).

Professor(a) responsável:
Ana Paula da Silva

O que é:

Vivemos numa sociedade grafocêntrica. A leitura e a escrita permeiam as interações humanas. Entretanto, na escola, ainda enfrentamos dificuldades no desenvolvimento de atividades que promovam não apenas o aprendizado sobre a linguagem, mas também a conscientização dos alunos a respeito da importância e da centralidade da escrita e da leitura na sociedade.

Pensar a linguagem como prática social é, portanto, repensar o ensino da Língua Portuguesa. Infelizmente, a concepção sócio-histórica de escrita, voltada às práticas sociais, nem sempre está presente no dia a dia da sala de aula.

A realidade das escolas públicas tem demonstrado que ainda há um longo caminho entre o que se espera do ensino e o que, de forma geral, tem-se realizado com os alunos.

Como professora da Educação Básica sempre me incomodou a forma tradicional e reprodutora de ensino existente na maioria das escolas onde lecionei.

A característica comum entre elas tem sido o distanciamento entre as práticas escolares e as práticas sociais, como se escola e sociedade fossem instâncias separadas, e não, na verdade, complementares.

Esse artificialismo no trabalho com a linguagem pouco tem contribuído para que os alunos se tornem, efetivamente, leitores e escritores. Ou seja, que consigam se apropriar, de forma crítica, de novos conhecimentos, imperativos às mudanças sociais e ao processo de transformação de uma sociedade com tantas injustiças.

O que se tem feito em sala de aula parece ter um fim em si mesmo. Após mais de uma década de ensino básico, muitos alunos estão despreparados para utilizarem a leitura e a escrita como ferramentas e para responderem às novas demandas do uso da linguagem nos mais diversos contextos.

Esse problema – o inadequado processo de escolarização na modalidade escrita e a artificialização da produção dos alunos – tem se tornado um obstáculo para uma aprendizagem significativa.

Tal situação faz parte do meu cotidiano escolar. A insatisfação com a prática docente se mostrou uma oportunidade para a busca de teorias que pudessem colaborar com a ressignificação do meu trabalho como professora de Língua Portuguesa. 

Concepções sobre letramento (Bakhtin, Kleiman, Street, Soares, Freire) me fizeram pensar sobre a minha atuação pedagógica, mostrando-se uma possibilidade concreta para um ensino-aprendizagem significativo.

Isso se explica pelo fato de que a aproximação das atividades escolares com as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.

Meu objetivo foi proporcionar aos alunos momentos de reflexão e aprendizado sobre a língua/linguagem, utilizando a escrita para um uso social e não apenas para a realização de atividades escolares.

Nesse sentido, sugeri à turma desenvolvermos um jornal escolar que representasse a voz dos alunos e trouxesse temas do seu universo, assim como questões relevantes à comunidade escolar. Dessa forma, o jornal teria função social real e leitores também reais.

Para que conhecêssemos melhor a nossa realidade, fizemos com o professor de Geografia uma caminhada pelo entorno da escola, quando abordamos os conceitos da topofobia e da topofilia.

Elaboramos uma lista de pautas sobre o que havíamos visto e percebido durante a atividade. Assim, passamos a ter material para a elaboração de muitas matérias jornalísticas.

Para a produção desses conteúdos, além do levantamento de questões sobre a escola e o entorno, estudamos gêneros textuais do jornal.

Vale ressaltar que o estudo de gêneros e regras da língua culta não se deu unicamente porque o tema constava no livro didático ou estava programado para determinada turma. O conhecimento de aspectos linguísticos partiu da necessidade real dos alunos de produzir o jornal.

Dessa maneira,

“a diferença nos dois enfoques equivale à diferença existente entre, de um lado, saber conhecer os mapas (conhecimento do gênero) e, de outro, consultar o mapa para ir, de fato a um lugar (prática social)” (KLEIMAN, 2006, p. 33).

Os alunos trabalharam em equipes e foram responsáveis por todas as etapas de elaboração do jornal. Depois do jornal pronto, os próprios alunos distribuíram os mil exemplares impressos. Para bancar a impressão (R$ 300,00), buscaram parcerias com a comunidade e criaram pequenas propagandas para veiculação no jornal. No total, foram mais de 40 horas de aulas até o jornal ser impresso. Os alunos leram muito, escreveram muito, aprenderam muito. Mas, para a produção das matérias, precisaram também desenvolver um olhar crítico sobre a própria imprensa e sobre a realidade que os cerca. Realizado entre agosto e setembro de 2017 (terceiro bimestre do ano letivo), o projeto de letramento se apoiou nas interações dos alunos e nas propostas de leitura e escrita surgidas a partir das práticas sociais nas quais estavam inseridos.

Como fazer:

Etapa 1 – Conhecer a turma:

A turma do projeto foi formada por 30 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental (período vespertino), com idades entre 14 anos e 16 anos.

Cerca de 27% dos alunos já haviam sido reprovados no Ensino Fundamental – dois deles uma vez e seis por duas vezes. Além disso, sete adolescentes (todos meninos) já tinham algum emprego.

A turma era bem agitada. Com frequência, houve a necessidade de intervenção da pedagoga e da direção da escola para mediar conflitos e situações de indisciplina e de desrespeito ao professor e às normas da escola, como ausência de uniforme, atrasos e falta de material para a realização das atividades. Também houve problemas nas relações pessoais, como a prática de bullying, discussões e agressões físicas.

De acordo com observações feitas pelos professores na reunião de Conselho de Classe referente ao 2º bimestre do ano letivo de 2017, houve melhora comportamental da turma na comparação com o período anterior.

No entanto, os problemas detectados ainda persistiam, especialmente aqueles relacionados à assiduidade e à entrega de trabalhos nas datas estipuladas.

Neste cenário, o projeto buscou estimular o protagonismo dos alunos.

Minha preocupação como professora de Língua Portuguesa foi desenvolver nos alunos a leitura e a escrita, de forma que eles pudessem compreender os mecanismos de organização da linguagem e sua função central na organização da sociedade e nas práticas sociais.

Para isso, também tive como objetivo desenvolver uma pedagogia culturalmente sensível, valorizando os saberes dos alunos e as questões importantes para eles e para a comunidade escolar.

Os alunos se animaram muito com a possibilidade de, por meio do jornal escolar, serem a voz dos outros estudantes.

Também demonstraram grande desejo de participação, de forma ativa, num projeto sobre seu universo e o da escola, com questões reais e função social. Essa disposição foi, sem dúvida, maior do que qualquer dificuldade dos alunos em relação à escrita e à leitura.

Minha preocupação como professora de Língua Portuguesa foi desenvolver nos alunos a leitura e a escrita, de forma que eles pudessem compreender os mecanismos de organização da linguagem e sua função central na organização da sociedade e nas práticas sociais.

Nos meses anteriores ao projeto, percebi em muitos alunos desinteresse pelas aulas. Eles realizavam as atividades de forma mecânica, sem um aprendizado significativo. Não havia reflexão sobre o uso da língua. O que se aprendia num dia deixava de ter sentido já no dia seguinte.

Os alunos, de forma geral, tinham muitas dificuldades na elaboração de textos coesos e coerentes e também para se posicionarem sobre assuntos importantes.

A produção do jornal foi uma estratégia para que se sentissem motivados (sabendo que o jornal circularia pela escola e pela comunidade, tendo leitores reais) e se preocupassem com a linguagem utilizada, a organização dos textos e sua função social. Esses aspectos foram importantes para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

Assim, em agosto de 2017, a turma do 9º ano e eu iniciamos a produção do jornal.

Etapa 2 – O passo a passo

Depois de apresentado o projeto, tivemos a primeira etapa de pesquisa, visando reunir questões sobre práticas cotidianas e de interesse desses jovens. Tais questões serviram de pautas para a elaboração do jornal.

A sondagem possibilitou definirmos os gêneros discursivos que seriam trabalhados e sua finalidade no jornal.

A turma foi dividida em seis equipes responsáveis pela elaboração de matérias (nos diversos gêneros selecionados) e pela produção do jornal.

Ao escreverem coletivamente, os alunos refletiram sobre a atividade, discutiram pontos que poderiam ser melhorados, tiraram dúvidas e pesquisaram sobre regras de uso da norma culta.

A produção incluiu editoriais, notícias, charges, comentários etc. Nessa linha, o jornal proposto seguiu um modelo convencional, mas com atualizações, já que foi elaborado para uso local, abordando questões de interesse da turma e referentes ao bairro, à escola e à comunidade.

Depois de selecionadas as pautas para as produções das matérias, houve o estudo sobre as características de cada gênero e atividades voltadas para uma leitura crítica das produções da imprensa, principalmente em temas relacionados ao universo dos estudantes e à realidade das comunidades.

Como os temas eram de seu interesse, os alunos se motivaram a escrever. Foram produzidas, por exemplo, matérias sobre o projeto de futsal da escola e o uso obrigatório da calça preta como parte do uniforme escolar.

Habituados a sentarem em filas e a interagirem apenas com o professor, os alunos ficaram um pouco confusos quando da formação dos grupos de trabalho.

Também tiveram dificuldades para expressar pontos de vista e entender que a produção em equipe demandava a participação de todos, cada um com suas capacidades e habilidades.

Tais questões foram trabalhadas e, depois de algumas aulas, as atividades começaram a se desenvolver melhor.

Nas primeiras aulas, os alunos manusearam jornais de circulação nacional, estadual e local, obtidos em doação. O contato com textos autênticos tornou o trabalho mais real e próximo das práticas sociais.

Matérias jornalísticas, manchetes e imagens foram analisadas e comparadas para que os alunos compreendessem o perfil editorial de cada publicação. Surgiu, então, a seguinte questão: Qual deveria ser linha do jornal dos alunos?

Chegamos à conclusão de que o jornal traria informações relevantes sobre a escola e a comunidade escolar, ajudando na divulgação de projetos, atividades e ações e dando voz aos alunos em assuntos da vida escolar, como o uso do uniforme e a prática de bullying.

Buscou-se também uma identidade e uma linha editorial para jornal. O objetivo era garantir, por exemplo, que a edição não fosse a soma de textos soltos e de qualquer tipo, ainda que bem escritos.

Nesse sentido, a linha editorial definida para o jornal teve como princípio fazer com que as informações divulgadas tivessem função social, ultrapassando os limites de um trabalho escolar.

Os alunos começaram a pensar num nome para o jornal. Todos puderam opinar e votar. O escolhido foi “Folha Albino”, em referência ao nome da escola.

Todas as questões trabalhadas no projeto demandaram discussão e posicionamento dos alunos. No início, apenas os mais falantes se posicionaram. Com o desenvolver das atividades, outros alunos começaram a assumir uma posição.

Na fase inicial do projeto, os alunos assistiram ao documentário“O mercado de notícias”, de Jorge Furtado, para compreenderem como o mercado e o capital influenciam na produção e na veiculação de matérias jornalísticas. O documentário estimulou um debate sobre o papel da imprensa na sociedade e na formação da opinião pública.

Os alunos também leram resenhas para entenderem melhor a organização de um filme. Após a exibição e o debate, cada aluno escreveu um pequeno comentário sobre a obra. Um dos textos foi selecionado para publicação no jornal.

Durante o desenvolvimento do projeto, os alunos tiveram contato com um jornalista local para que compreendessem as características e o funcionamento do jornalismo e da atividade profissional.

É importante salientar que muitos jovens – principalmente os de escolas públicas e periféricas, como a de aplicação do projeto – desconhecem profissões diferentes das dos pais ou de fora de suas comunidades. Essa situação impede que muitos anseiem por uma carreira que os ajude a reverter sua condição social e econômica.

Os alunos se prepararam para entrevistar o jornalista e professor universitário Emerson Dias. Para tanto, identificaram esse gênero em publicações da biblioteca da escola e analisaram suas características.

Também assistiram a trechos de entrevistas em vídeo, para que percebessem os gestos e o comportamento adotado nessas conversas. Elaboraram perguntas e treinaram para a conversa, que foi gravada e posteriormente transcrita e editada.

A colaboração foi um fator importante no desenvolvimento do projeto de letramento, que seria a única produção realizada por todos. Tal como o processo de letramento é social e interacional, os projetos também devem ter tais características.

Um dos processos mais importantes do projeto foi a elaboração da pauta de assuntos do jornal, pois possibilitou o desenvolvimento de um olhar mais crítico sobre a escola e seu entorno e da percepção sobre questões de relevância para a comunidade escolar.

Para a produção das pautas, os alunos assistiram a vídeos e levantaram exemplos de pautas jornalísticas. Além disso, participaram de uma atividade extraclasse interdisciplinar.

Com um mapa do bairro desenvolvido pelo professor de Geografia e munidos de cadernos e celulares, os alunos caminharam pelo entorno da escola para identificarem temas de matérias.

Nesse trabalho, foram utilizados dois conceitos: a topofobia e a topofilia, que servem para reconhecer e explicar as relações positivas e negativas que as pessoas têm com determinado espaço.

Com base nesses conceitos, os alunos assinalaram no mapa locais que geravam medo ou sensação de bem-estar e discutiram as razões da existência de tais sentimentos, observando os elementos do espaço analisado.

Após a caminhada, os alunos começaram, individualmente, a selecionar pautas potenciais para notícias. As sugestões foram compiladas e, posteriormente, houve coletivamente a definição das questões que serviriam de pautas ao jornal.

Como a produção das matérias aconteceria nas semanas seguintes, foram escolhidos temas que não tivessem relação apenas com fatos pontuais, mas que tratassem de fenômenos observáveis na escola e na comunidade.

A notícia foi o principal gênero utilizado na elaboração desse jornal. Não porque ele fizesse parte do currículo ou dos conteúdos do último ano do Ensino Fundamental.

A escolha se deveu ao papel que o jornal teria, já que a linha editorial definida privilegiaria a divulgação de informações sobre a realidade do ambiente escolar.

Para que os alunos entendessem melhor esse gênero, foram selecionadas diversas notícias veiculadas pela mídia. Nossa busca não foi por qualquer tipo de notícia ou assunto, de forma artificial e desvinculada da realidade da comunidade escolar. A seleção foi por notícias locais, relacionadas ao universo dos estudantes.

Nesse processo, examinamos também a forma como são estruturadas as notícias. Na sequência, cada equipe selecionou um assunto para ser desenvolvido como matéria jornalística.

As matérias foram produzidas no computador, o que possibilitou a correção imediata, pelas próprias equipes, de erros relacionados às regras da norma culta.

O objetivo foi  que os alunos pudessem repensar o próprio texto e, de forma consciente, buscassem alternativas para solucionar falhas da produção.

As orientações levaram em conta sempre os interesses do leitor e suas possíveis dúvidas em relação ao que iria ler.

Ao examinar os textos produzidos, procurei não apenas pelo bom uso da modalidade escrita, mas, principalmente, busquei ver se a escrita cumpria, da melhor maneira possível, sua função social.

Para a primeira edição, foram produzidas seis notícias: duas sobre a comunidade (biblioteca do bairro e reinauguração do posto de saúde) e quatro sobre a própria escola (o próprio jornal, o projeto de futsal, o projeto Médio Tec e vaga para cadeirantes).

Na elaboração, os alunos tiveram contato com muitos textos, para o reconhecimento dos diversos gêneros e suas particularidades e a seleção daqueles que melhor serviriam aos objetivos do jornal.

O trabalho com a oralidade foi frequente e constante, não só porque os alunos efetivamente realizaram entrevistas, mas também porque produzir em equipe requer negociação, posicionamento e argumentação, para que decisões sejam tomadas, como a escolha da pauta, a definição dos entrevistados, a seleção de informações e a produção de imagens e da escrita.

Uma equipe foi selecionada para a criação do editorial. Sua missão era ser a voz da turma, representando a posição dos alunos.

O tema escolhido foi o próprio jornal –  seu processo de elaboração e os objetivos como veículo inserido no âmbito escolar.

No processo de produção das matérias, aconteceu na turma um caso de bullying. Agressor e vítima eram do 9º ano. Houve intervenção da escola, e o fato desencadeou discussões sobre o tema. Para ajudar na solução do problema, sugeri aos alunos que escrevessem um artigo de opinião sobre o assunto para publicação no jornal.

Outro gênero utilizado foi a enquete. Ela surgiu por ideia de alguns alunos, que gostariam de manifestar sua opinião sobre assuntos relacionados à escola.

Optamos pela escolha de um ponto polêmico que pudesse ser publicado na sessão opinativa. O assunto definido foi o uso obrigatório da calça preta como uniforme.

Para colher informações sobre o tema, os alunos conversaram com a direção do colégio. Na entrevista, souberam que o uso da cor preta no uniforme havia sido definido numa reunião de pais no início do ano letivo.

Tal informação, além de merecer divulgação no jornal, fez com que os alunos também compreendessem a importância da participação dos responsáveis nas reuniões escolares.

Outro desafio importante foi o da impressão do jornal. Alunos e direção se mobilizaram e arrecadaram com parentes e empresas os R$ 300,00 necessários à produção. Em contrapartida, foram veiculadas propagandas de estabelecimentos e de serviços de pessoas físicas.

No total, mil exemplares foram impressos e distribuídos. A entrega foi feita pela direção da escola e pelos próprios alunos, que visitaram as salas para explicar o trabalho desenvolvido. Vários professores reservaram um período de suas aulas para a leitura do jornal.

Etapa 3 – Avaliar:

Por sua natureza prática e sua função social, o jornal escolar se revelou um recurso pedagógico viável para o trabalho com a língua portuguesa, principalmente na modalidade escrita.

Ele se mostrou também um instrumento capaz de mobilizar os alunos em torno de questões relacionadas à sua vida e ao cotidiano da comunidade, despertando interesse pela escrita como forma de participação social e autoria.

O desenvolvimento do jornal, que teve como objetivo informar os leitores sobre assuntos do colégio e da comunidade escolar, contribuiu para a formação crítica e cidadã dos jovens.

Os alunos experimentaram a escrita numa função social real, legitimada pela mídia impressa, tornando-se protagonistas do processo ensino-aprendizagem.

Nas avaliações com os alunos, as questões relacionadas ao processo de escrita e leitura ultrapassaram a visão de aprendizagem apenas metalinguística ou de atividade exclusivamente escolar.

Para eles, houve uma aprendizagem significativa que reinventou a noção da escola e do espaço escolar, tornando as atividades mais dinâmicas, participativas e relevantes. No lugar dos alunos apenas copiarem as coisas do quadro, o projeto de letramento com jornal escolar possibilitou que eles compreendessem seu papel como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem e a importância da leitura e da escrita nas ações da vida social.

Além da consciência dos alunos sobre sua importância no projeto, a iniciativa trouxe uma nova abordagem a respeito do papel do aluno e do professor no espaço escolar, que passaram a se ver como agentes de letramento (Kleiman, 2006b) .

Outras questões importantes também se destacaram, dentre elas, a percepção de melhora na escrita e o desenvolvimento do hábito da leitura.

A compreensão dos alunos em relação ao ato de ler e escrever se deveu, em parte, à forma como os gêneros textuais foram abordados dentro e fora da sala de aula.

O uso diversificado dos gêneros partiu da necessidade de produção das matérias do jornal. Além de gerarem contato com textos autênticos, as atividades foram diversificadas, buscando contemplar o propósito de elaboração e circulação do jornal.

Outras questões importantes também se destacaram, dentre elas, a percepção de melhora na escrita e o desenvolvimento do hábito da leitura.

Dessa forma, não foi o estudo do gênero o objetivo de projeto, mas sim a produção de um jornal que representasse a identidade e a voz dos alunos e da escola.

Os gêneros foram estudados para o alcance de uma prática social, com os alunos atuando na escola e na comunidade por meio da escrita. Os estudantes tiveram contato com diversos gêneros orais e escritos (Tinoco, 2008), por exemplo, documentário, aula expositiva, aula dialogada, pesquisas, entrevista oral, entrevistas escritas, vídeos, slides, documentos, bilhetes, pautas, resenhas, e-mails, enquetes, gráficos, notícia, reportagens, artigos de opinião, charges, propagandas, editoriais, debates, mapas, roteiros e exercícios do livro didático.

O trabalho com tais gêneros textuais aconteceu de forma contextualizada, relacionado com uma ação social e não apenas atrelado a atividades metalinguísticas.

Os gêneros desencadearam letramentos para a realização de uma prática de leitura e escrita. O trabalho com cada um deles não foi previamente definido, mas, sim, acionado de acordo com as necessidades de elaboração do jornal.

Os alunos leram e estudaram o que era necessário à produção jornalística, tornando o conhecimento produtivo e significativo.

Eles sabiam por que estavam estudando, lendo e escrevendo certos gêneros textuais. Sabiam ainda que tais gêneros eram usados para a elaboração das matérias.

Os estudantes e a professora-pesquisadora tiveram também de conciliar o trabalho realizado em sala com os desafios de atuar em equipe e gerir os conflitos resultantes de tal forma de organização, como ouvir e aceitar a opinião dos colegas, argumentar, dialogar e se posicionar diante das questões relacionadas às matérias.

Também precisaram assumir diversas responsabilidades, uma vez que o projeto só aconteceria se houvesse a participação efetiva de toda a sala: o jornal como resultado de um trabalho coletivo, retomando o que, de acordo com Tinoco (2008), pode-se considerar como interatividade e dialogismo nos projetos de letramento nas suas demandas de leitura e escrita como prática social.

O jornal escolar foi um trabalho conectado com a realidade dos alunos porque suas atividades partiram de situações sociais, cujos objetivos e modos de interação, determinam, em grande medida, as atividades que podem ser realizadas, os contextos a serem construídos pelos participantes e as interações possíveis  (Kleiman, 2006, p. 23-36).

O jornal escolar é também uma ferramenta pedagógica para o trabalho inter e transdisciplinar, por ser um espaço no qual se apresenta o debate de temas relacionados às experiências dos alunos e os conteúdos curriculares podem ser explorados, enriquecendo a participação dos alunos e contribuindo para uma escola conectada ao ambiente.

Uma pequena amostra dessa relação entre conteúdos e o projeto se deu com as disciplinas de Língua Portuguesa e Geografia. Outras poderiam ter contribuído, como a de História, para a discussão com os alunos sobre o processo de instauração da imprensa no Brasil e a importância da mídia na formação da opinião pública.

É necessário também destacar que a realização de um projeto por um único professor torna a tarefa exaustiva e de difícil desenvolvimento.

Esse tipo de iniciativa deve estar incorporado ao Projeto Político-Pedagógico da escola. Não deve significar uma iniciativa isolada, mas estar inserido no currículo e na política educacional, sendo assumido por todo o corpo docente e pela equipe diretiva.

Saiba mais

O trabalho teve como base os documentos oficiais que regem a educação brasileira, especificamente no que se refere ao ensino da Língua Portuguesa, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008); os Estudos do Letramento, segundo Kleiman (1995, 2000, 2005, 2006a, 2010); e os Projetos de Letramento, com base em Tinoco (2008).