"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

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A Mala Maluca da Vovó Zenilda: aprendizagem significativa e divertida

Área(s): Linguagens.

Esta prática teve como objetivo alfabetizar letrando os alunos do 2º ano, tendo como fio condutor a história “A Mala Maluca da Vovó Zenilda” e desenvolvendo as capacidades necessárias referentes ao ciclo inicial de alfabetização e resgatar os brinquedos e as brincadeiras de outros tempos.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Língua Portuguesa.

Quando:

Em qualquer momento do ano letivo.

Materiais:
  • história “A Mala Maluca da Vovó Zenilda”;
  • mala;
  • objetos constantes na história.
Habilidades trabalhadas:

EF15LP05; EF15LP07; EF15LP15; EF15LP18; EF12LP01; EF12LP02; EF12LP04; EF12LP06; EF01LP17; EF01LP20; EF02LP13; EF02LP26; EF01LP25

Professor(a) responsável:

Ellen de Paula Moreira.

Escola:

EM Santos Dumont, Juiz de Fora (MG).

O que é:

Na primeira reunião pedagógica de 2017, discutimos algumas ações que precisavam ser tomadas: resolver o problema do recreio ocioso, propondo brinquedos e brincadeiras para as crianças; e escolher o livro de literatura que utilizaríamos para sistematizar os direitos de aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética (SEA), relatados nos cadernos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

Ao pensarmos na ludicidade como instrumento facilitador no processo de alfabetização e letramento, a atividade lúdica é um princípio fundamental para o desenvolvimento das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa.

A história que dá nome ao projeto foi escrita por uma das professoras da escola. Tem como objetivo resgatar os brinquedos e as brincadeiras, trabalhar rimas e aliterações no âmbito da consciência fonológica e, como produto final, criar um livro com as ilustrações feitas pelos alunos e grafitadas no muro da escola.

Espera-se que as informações sobre este projeto didático contribuam para que os educadores repensem sua prática docente, contemplando a ludicidade como elemento importante no processo de alfabetização e letramento das crianças.

Como fazer:

Iniciamos o projeto didático já na primeira reunião pedagógica do ano, quando discutimos oportunidades de melhorias para o recreio dos alunos e o planejamento para 2017.

Normalmente, esse horário é agitado, com crianças correndo por todos os lados, gritos, brincadeiras de empurra-empurra, pique-pega.

O recreio, como destaca Neuenfeld (2003), pode ser negligenciado no contexto escolar e pode ser visto como um espaço improdutivo. Por isso, partimos do desafio de tornar aquele momento mais agradável, prazeroso e divertido, com brinquedos e brincadeiras que estimulassem a mediação de conflitos.

Queríamos também aproveitar a situação para delinear o conteúdo referente ao ano letivo.

A partir daí, surgiu a história “A Mala Maluca da Vovó Zenilda”, escrita por mim. O texto retrata uma viagem feita pela vovó para visitar os netos em Cabo Frio.

Ao chegar no destino, ela é recebida pela neta Gabriela. Seus netos, Victor Gabriel e Lucas, carregam a mala, que está muito pesada. A mala cai aberta no meio da sala, espalhando tudo pelo chão.

Todos ajudam a juntar os pertences da vovó e observam os objetos mais inusitados possíveis para uma mala de viagem. Ela trazia brinquedos, coisas engraçadas e pouquíssimas roupas.

Fizeram vários questionamentos acerca do conteúdo da mala, que tinha asa de borboleta, bolinha de gude, sapatilha de bailarina, cartola de mágico, cavalo de pau, nariz de palhaço, óculos de sol, pião de madeira, dentadura, pirulito, fantasias, camisola, sombrinha, pantufa, peruca, sanfona, apito, peteca, calçola, cachecol, boneca, biquíni, bola, maiô, chapéu e pipa.

Sabemos que a literatura infantil oferece uma grande variedade de livros que podem ser explorados em atividades de leitura e escrita na escola. Queríamos, porém, ressaltar situações construídas pelos nossos alunos, uma vez que partiria deles a ilustração das cenas da história, além de outras atividades.

No dia seguinte, antes de os alunos entrarem para sala, a "vovó" (imaginária, fictícia) espalhou todos os objetos da mala. Ela estava "procurando" por um brinquedo específico, deixando o recinto todo “bagunçado”. 

Foi um alvoroço. Todos os alunos puderam brincar, explorar e experimentar os brinquedos, as fantasias e os adereços.

Ao entrarem na classe, as crianças depararam com aqueles brinquedos e objetos espalhados. Foi um alvoroço. Todos os alunos puderam brincar, explorar e experimentar os brinquedos, as fantasias e os adereços.

Levantaram várias hipóteses acerca do paradeiro da vovó: alguns imaginaram que ela estaria escondida no buraco que ficava no teto da sala ou que ela morava pertinho da escola.

Em outro momento, as turmas escolheram quais palavras queriam aprender a escrever, tendo como referência os objetos da mala. As palavras estáveis escolhidas foram: asa de borboleta, sapatilha de bailarina, cavalo de pau, fantasia, pirulito, peteca, maiô.

Naquele momento, trabalhamos os gêneros "Entrevista", "Exposição Oral", "Instrucional" (receita, manual de construção de brinquedo), "Convite", "Cartão de Agradecimento".

Por meio do trabalho desenvolvido pelas professoras durante o projeto didático, os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver vários direitos de aprendizagem de Língua Portuguesa, referentes aos variados eixos de ensino. 

Podemos citar os seguintes direitos que foram abordados:

  • Compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentes gêneros e com diferentes propósitos.
  • Analisar a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina. 
  • Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção.
  • Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades. 
  • Revisar os textos durante o processo de escrita, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes.
  • Participar de interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala.
  • Produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes propósitos, principalmente os mais formais, comuns em instâncias públicas (debates, entrevistas, exposição, notícias, propaganda, relatos de experiências orais etc.).
  • Ativar conhecimentos prévios relativos ao texto através do preparo inicial para a contação da história e dramatização feita pela professora.
  • Após a contação, conversar com os alunos sobre a história:

- Quais são os personagens da história?

- Quantos e quais objetos a vovó Zenilda levou dentro da mala?

- Qual objeto você mais gostou e por quê?

- Você já teve algum brinquedo que a vovó Zenilda trouxe? Qual?

- Se você fosse viajar, o que levaria dentro da mala?

- “Eu vou viajar e na minha mala levarei Kiwi! (objeto que comece com a primeira letra do nome). E você, o que vai levar?”.

  • Explicar que as cenas da história serão ilustradas por eles. Posteriormente, o professor de grafite utilizaria os desenhos para compor as imagens do livro.
  • Pedir, a cada um, um desenho da capa do livro, em dupla, ilustrando as cenas da história.
  • Montar um cartaz da história já ilustrada e expor no corredor da escola.
  • Trabalhar as palavras estáveis escolhidas pelos alunos. 
  • Produzir o cartaz com as palavras estáveis; separação e contagem de sílabas; jogos: “Preguicinha”, “A palavra é”, “Eu tenho a letra... quem tem a letra...?”, alfabeto móvel, ambos feitos de material reciclado; gira-gira, jogos da caixa do CEEL.
  • Realizar uma produção textual: "A vovó Zenilda arrumou a mala para viajar e foi colocando tudo o que via. Conte o que você levaria na sua mala e para onde iria".
  • Escrever listas de brinquedos e brincadeiras de que a turma mais gosta.
  • Produzir frases dentro do contexto (brinquedos e brincadeiras). Usar o verbo "brincar".
  • Socializar no recreio, com as outras turmas, os brinquedos da mala, os brinquedos trazidos de casa e as brincadeiras de roda.
  • Dever de casa: pesquisar sobre “brinquedos e brincadeiras de ontem e de hoje: meus avós e meus pais brincavam de...”.
  • Exposição oral sobre os dados da pesquisa realizada: “Brinquedos e Brincadeiras de Ontem e de Hoje: meus avós e meus pais brincavam de...”.
  • Trabalhar gênero instrucional "Receita", para confecção da massinha de modelar e o brinquedo “Come Come”.
  • Trabalhar o gênero convite: convidar uma vovó ou vovô que queira ser entrevistado pela turma.
  • Gênero "Entrevista Formal": apresentar o vídeo “Entrevista com o Elenco Infantil do SBT”.
  • Trabalhar tipos de entrevistas.
  • Elaborar roteiro para a entrevista com a vovó, tendo o professor como escriba para anotar as possíveis perguntas.
  • Definir o papel de cada aluno na entrevista com a vovó: entrevistadores, fotógrafos, escribas (responsáveis por anotar as respostas), desenhistas, recepcionistas e plateia.
  • Ensaiar para o grande dia da entrevista.
  • Produzir cartão de agradecimento.
  • Entrevista com a vovó e, logo após, receita surpresa elaborada por ela e um “chá da tarde” com a presença de todos os vovôs e vovós das crianças.
  • Exposição: “Mostra de Brinquedos”, feitos de sucata e construídos com as famílias. e "Feira de Ciências", cujo tema “Meu Animal de Estimação” surgiu no decorrer do projeto.
  • Oficina de grafite, preparação para o dia do grafite na quadra.
  • "Dia D", em que os alunos grafitaram as páginas do livro “A Mala Maluca da Vovó Zenilda” no muro da quadra. Imagens idealizadas por eles e transpostas pela arte grafite.
  • Escrita coletiva e individual do convite e cartão de agradecimento para a vovó entrevistada.
  • Entrevista com a vovó Simone (avó do aluno João Pedro) realizada pelos alunos com as seguintes funções: entrevistadores, fotógrafos, escribas, desenhistas, recepcionistas e plateia.
  • Exposição de brinquedos de sucata.
  • Apresentação do animal de estimação na "Feira de Ciências".
  • Chá da tarde com todos os avós;
  • Pintura do livro na quadra da escola.

Todas as etapas da entrevista formal foram elaboradas e treinadas juntamente com as crianças. Cada uma tinha uma função definida. Uma das alunas ficou emocionada ao fazer a pergunta para a vovó entrevistada. Em lágrimas, disse que estava muito emocionada e feliz por participar daquele evento.

Outro momento marcante durante o projeto foi a troca de experiências entre as gerações presentes no "Chá dos Avós".

Vovôs e vovós relataram a alegria da participação e do compartilhamento aprendizagens com os netos e com as outras crianças.

Conversaram sobre modos de brincar e brinquedos, bonecas feitas de palha de milho, latas de sardinha que viravam carrinhos, carrinhos de rolimã, petecas, cavalos de pau feitos com cabo de vassoura, entre outros.

A mala maluca da vovó Zenilda passou a fazer parte dos recreios. Carregada de diversos brinquedos e objetos inusitados, ela teve um papel fundamental para o resgate e o ensino de brincadeiras antigas.

Sabemos que a organização do trabalho pedagógico por projetos possibilita um planejamento articulado entre as áreas do conhecimento e o processo de alfabetização e letramento. Por isso, procuramos realizar a intervenção pedagógica no recreio e, assim, contextualizar todo o trabalho planejado.

Os alunos não apenas participaram da execução do projeto, mas também atuaram como autores em diversas etapas, por meio da confecção dos desenhos do livro e da capa, da grafitagem do livro na quadra da escola, da escolha e formulação de perguntas à vovó entrevistada, da confecção do convite e do cartão de agradecimento, dos ensaios para o dia da entrevista etc.

O objetivo de tudo foi a ampliação da competência comunicativa das crianças, visando a uma maior participação nas práticas letradas.