"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

Podcast

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Gincana Ambiental E.E.E.M. Ildefonso Pinto 90 anos: uma nova proposta de múltiplos aprendizados

Competência 4 | Competência 3
Área(s): Ciências da Natureza; Ciências Humanas e Sociais.

Esta prática teve como objetivo realizar uma análise dos preceitos envolvendo o tema "Educação Ambiental", a partir de uma gincana multitemática.

Quando:

É necessário reservar pelo menos três meses para a realização do projeto.

Materiais:
  • materiais recicláveis;
  • hortaliças;
  • tecidos;
  • celulares;
  • garrafas pet;
  • cartolina.
Competências específicas:
CHS – Competência 4
CNT – Competência 3

Habilidades trabalhadas:

EM13CHS404; EM13CNT310;

Professor(a) responsável:

Moisés Bruno de Oliveira.

Escola:

E.E.E.M. Ildefonso Pinto, Campo Bom (PR).

O que é:

Sou um professor "gincaneiro". Participo de várias gincanas culturais no Rio Grande do Sul e vejo o quanto essa atividade nos desenvolve como pessoas, cidadãos e profissionais das mais diversas áreas.

Assim, procurei articular uma gincana sobre o tema "Educação Ambiental" para comemorar os 90 anos da Escola Ildefonso Pinto. O projeto teve como propósito desenvolver nos alunos uma atitude profissional em relação ao mundo do trabalho.

Tendo em vista o entendimento de que a escola deve preparar os alunos para o mercado profissional e fazer com que reflitam sobre valores, a gincana procurou ajudá-los, de uma forma divertida, a desenvolver várias habilidades.

Dentre elas, destaco as seguintes: organização, trabalho em grupo e sob pressão, definição de prioridades, respeito no ambiente de trabalho, definição e cumprimento de normas de conduta e persistência.

O objetivo geral do projeto foi promover uma atividade competitiva e de simulação de situações do trabalho, numa interação com conteúdos de diversas áreas do conhecimento a partir do tema "Educação Ambiental"

Os alunos foram organizados em três equipes, com seus líderes e um professor sendo escolhidos pelos membros dos times.

Diversas atividades foram realizadas, como shows, vídeos para o YouTube, elaboração de brinquedos com material reciclado, criação e manutenção de horta na escola, trabalho com uma ONG que cuida de cachorros e gatos abandonados, pesquisas e perguntas e respostas sobre os conteúdos das disciplinas do Ensino Médio.

Ao final, foi campeã a equipe que fez mais pontos. Foram premiadas também as equipes de destaque.

As tarefas foram elaboradas pela "Equipe Warner Organizadora de Gincanas", que foi responsável pela divulgação, fiscalização e avaliação das tarefas. A comissão foi liderada por mim e composta por membros da comunidade escolar.

Foram apresentadas 159 tarefas. Em vários momentos, os alunos tiveram de usar smartphones e computadores para o desenvolvimento das atividades.

As tarefas foram publicadas na página da organizadora do evento no Facebook e desenvolvidas em três meses e meio. A gincana, propriamente dita, foi realizada em dois dias (1 e 2 de setembro).

Como fazer:

Passo a Passo

Elaborei um questionário para saber como os alunos estavam percebendo as questões referentes ao tema "Educação Ambiental". As perguntas foram aplicadas também depois da gincana, para verificar mudanças na percepção dos alunos após a vivência do projeto.

As equipes receberam o regulamento da gincana e escolheram os alunos e professores líderes. No início, foi difícil engajar os jovens nas atividades. Foram realizadas várias reuniões com os líderes das equipes para esclarecimento das dúvidas e motivação. Com o tempo, a escola inteira se envolveu no projeto.

Dentre todas as tarefas, algumas foram específicas sobre a questão ambiental.

Tarefa 1:

As equipes montaram um show no estilo do festival "Rock in Rio", organizando apresentações cover de bandas ou artistas famosos que já haviam passado pelos palcos do evento. Cada show trouxe uma mensagem de conscientização ambiental.

Tarefa 3:

Essa atividade teve a participação da ONG Campo Bom para Cachorro, que cuida de cães e gatos abandonados. As equipes foram até a ONG para conhecer o trabalho. Lá, escolheram um cachorro para participar de um desfile.

O evento, que foi aberto para toda a comunidade escolar, mostrou o engajamento das equipes e o trabalho da ONG.

Tarefa 4:

As equipes produziram uma versão do clipe musical "Born This Way", da cantora Lady Gaga, que traz como mensagem principal a aceitação da diversidade e o resgate de valores sociais igualitários.

Tarefa 11:

Os times utilizaram garrafas PET para a construção de aviões de brinquedo. Com isso, puderam refletir sobre a reutilização de materiais de longa durabilidade e que são, normalmente, jogados no lixo ao invés de serem reciclados.

Tarefa 12:

Os alunos montaram cartazes sobre a letra da música “Que País é Esse?”, da banda Legião Urbana, com colagens e frases.

Tarefa 79:

As equipes se "apropriaram" de uma área da escola que estava sem uso e montaram uma horta e um pomar.

Durante os quase quatro meses de realização do projeto, as aulas ocorreram normalmente. Apenas nos dias da gincana, as atividades regulares foram suspensas.

As tarefas que deveriam ser cumpridas pelas equipes foram divididas da seguinte forma:

  • Tarefas Artísticas – As equipes precisariam confeccionar roupas, objetos, desenhos, fotos, vídeos (mídias) e realizar apresentações que estimulassem a criatividade.
  • Tarefas Esportivas – As equipes deveriam usar, desenvolver e mostrar habilidades físicas no cumprimento de objetivos.
  • Tarefas de Buscas – Os times deveriam encontrar (num tempo determinado) objetos ou pessoas nos arredores e nas dependências da escola a partir de dicas escritas, fotos e vídeos, desenvolvendo, assim, habilidades de concentração, reconhecimento e localização.
  • Tarefas Diversas – No menor tempo possível, os grupos teriam de pesquisar e entregar documentos com numerações ou características específicas e objetos determinados. Nessa tarefa, os alunos usaram ferramentas de busca.
  • Tarefas de Conhecimento – As equipes deveriam pesquisar sobre perguntas de todas as disciplinas e de algumas áreas de conhecimento.
  • Tarefas com Charadas – Usando o raciocínio lógico, os times deveriam desvendar enigmas.
  • Tarefas de "Velharias" – As equipes teriam de procurar objetos antigos e colecionáveis. Por meio de ligações, pesquisa na internet e contatos diversos. Os jovens também precisariam encontrar colecionadores.
As pessoas se viram como parte da escola e passaram a valorizá-la mais. Alunos, pais e professores começaram a enxergá-la como um ambiente familiar e a entender que poderiam ser agentes transformadores daquele espaço.

Vale salientar que, em todas as tarefas, as equipes tiveram de mostrar a habilidade de trabalhar em grupo e de forma organizada, tendo a competitividade saudável como combustível essencial.

Avaliação

No momento de avaliar o desempenho dos alunos, retomei os objetivos gerais e específicos e mapeei os resultados obtidos.

O primeiro objetivo era desenvolver nos alunos as habilidades necessárias para o mercado de trabalho. Os jovens compreenderam bem o espírito de equipe e a organização. Aprenderam a atuar com pessoas diferentes e sob pressão. Essas características são fundamentais para o mercado de trabalho.

Obviamente, alguns alunos se engajaram mais do que outros, mas ter as três equipes batalhando até o final da gincana mostrou o quanto os alunos se empenharam na atividade.

O segundo objetivo era envolver a comunidade escolar, propósito que foi alcançado com entusiasmo. Pais e alunos trabalharam juntos, e analisaram os seus respectivos desempenhos na atividade. Isso tornou a escola mais "viva".

O terceiro objetivo era propiciar um ambiente de integração na escola, o que foi possível com a superação das diferenças entre as turmas e os professores. Um clima de amizade e integração se manifestou com o projeto.

O quarto objetivo era refletir sobre a diferença entre os conceitos “rival” e “adversário”. A missão foi cumprida com êxito. No percurso, sempre enfatizei que as equipes não são rivais, mas, sim, adversárias.

Tivemos alguns momentos de tensão entre as equipes, mas sempre que o clima esquentava, sentávamos e conversávamos sobre a situação.

O quinto objetivo era promover a interdisciplinaridade, algo que aconteceu graças às diversas atividades e ao engajamento de quase todos os professores da escola.

O compromisso de refletir sobre o tema "Educação Ambiental" foi alcançado por meio de atividades específicas.

Também teve sucesso a meta de desenvolver a sensação de pertencimento à comunidade.

As pessoas se viram como parte da escola e passaram a valorizá-la mais. Alunos, pais e professores começaram a enxergá-la como um ambiente familiar e a entender que poderiam ser agentes transformadores daquele espaço.

Por fim, avaliei o objetivo geral do projeto, que foi promover uma atividade competitiva e de simulação de situações do mercado de trabalho, numa interação de conteúdos trabalhados a partir do tema "Educação Ambiental".

Esse objetivo foi alcançado em quase sua totalidade, com envolvimento de cerca de 90% dos alunos.

A escola se transformou positivamente, tornando-se mais ativa na cidade. Em alguns aspectos, os resultados superaram as expectativas. Em outros, contudo, distanciaram-se das metas, pois o medo do diferente e hábitos relacionados ao modelo tradicional de escola, desacreditado pelos próprios alunos, atrapalharam o projeto.

Foi um sonho difícil de ser realizado. Mas, com muita persistência, consegui fazer o grupo perceber que essa era uma atividade que valia a pena ser desenvolvida.

A participação e o empenho foram os elementos de avaliação. Não levei em conta a pontuação das tarefas, e sim o empenho que cada um teve para trabalhar e se integrar ao grupo.

É difícil mensurar as habilidades desenvolvidas, mas sei que os alunos aprenderam a sair da sua "zona de conforto" e ir atrás de objetivos.

Aprenderam que, sozinhos, não vão a lugar nenhum, e que, sem diálogo e empatia, o sucesso nas missões não existe.

Alguns alunos tiveram mais dificuldade em perceber isso. Alguns até hoje tentaram assimilar essas questões, mas foram visíveis o desejo e a curiosidade em compreender como aquele clima de cumplicidade se criou com o projeto.

Os desafios estavam de acordo com as possibilidades dos alunos. Sempre que percebia que alguma atividade tinha um nível muito elevado de dificuldade, dava dicas e mostrava caminhos.

Eu conversava constantemente com as equipes para que os alunos refletissem sobre as razões das atividades. Procurava mostrar o quanto cada um estava crescendo com aquilo tudo. Ao final, ver que deu certo foi recompensador.

A escola Ildefonso Pinto é umas das escolas estaduais do Rio Grande do Sul que mais cresceu recentemente, seguindo o caminho inverso da maioria das unidades escolares do estado, que tiveram diminuição no número de turmas e alunos. Algumas até fecharam.

A grande procura é um reflexo do bom trabalho que vem sendo realizado. Fazer o que amamos, por mais dificuldades que possamos ter, é o caminho para a realização em nossas vidas. É muito gratificante perceber que, mesmo com a desvalorização da educação, a escola pode ser transformadora e dar perspectiva de vida para os jovens.

Foi muito bom ouvir durante o projeto: “Bah, prof., foi muito bom ver que a gente pode aprender se divertindo” ou “Agora eu entendo que algo trabalhoso pode ser bom”.

O maior desafio é fazer novas versões deste projeto. Fazer que os alunos antigos aprofundem seus conhecimentos e motivar os novos estudantes a também investirem na ideia.

Como sempre, falo para eles: “Não basta ter uma ideia boa. É necessário saber vendê-la”.

Saiba mais

As obras e os autores nos quais me baseei para este projeto foram:

"Pertencimento Ambiental", de Cláudia Costin. Na obra, a autora afirma que "a construção do sentimento de pertencimento ao lugar, tomando como referência a noção de responsabilidade, pressupõe a possibilidade de construir uma história dos lugares que vá de encontro ao projeto de lugar planejado pelos atores hegemônicos da sociedade globalizada".

"O que é Educação Ambiental", de Marcos Reigota. O autor define meio ambiente como “um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade".

"Direito, Meio Ambiente e Cidadania: uma abordagem interdisciplinar", de Flávio Romero Guimarães e Flávia de Paiva M. de Oliveira. Nela, autores dizem que “a cidadania é o exercício pleno da participação na vida coletiva e na fruição dos direitos fundamentais do homem".