"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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A Amazônia vai à Antártica

Competência 1 | Competência 3
Área: Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais

Esta prática teve como objetivo possibilitar aos alunos a construção de respostas sobre as transformações ambientais no município, a partir de seu envolvimento com a temática numa escala espaço-temporal mais ampla e explorar como a dinâmica climática de regiões muito distintas, como a Floresta Amazônica e a Antártica, podem estar conectadas.

Quando: Um semestre letivo, no formato de curso extracurricular optativo.
Materiais:
  • laboratório de informática;
  • acesso à internet;
  • biblioteca.
Competências específicas: CHS – Competência 1 | CNT – Competência 3
Habilidades trabalhadas: EM13CNT302; EM13CNT303; EM13CNT309; EM13CHS103.
Escola: EEEFM Candido Portinari, Rolim de Moura (RO).
Professor(a) responsável: Nubia Deborah Araujo Caramello.

O que é:

“Professora, o que meu projeto de vida tem a ver com a realidade socioambiental de onde vivo?”

“Somente profissionais de áreas específicas (engenharia ambiental, sanitária, florestal, geografia, biologia etc.) discutem problemas ambientais?”

“Falta água e estamos na região considerada rica neste recurso. Onde estão os pesquisadores para resolver essa situação?”

“De quem é a culpa dessa transformação ambiental?”

“Por que está chovendo menos a cada ano?”

“Está cada dia mais quente somente em Rondônia ou no mundo todo?”

“Antes tinha muita água, rios, peixes, meus avós falam que nadavam no rio que corta a cidade, impossível acreditar vendo a situação atual”.

Essas falas ocorreram, em março de 2017, na aula de Geografia, com turmas da 1ª série do Ensino Médio. Elas se tornaram inspiradoras deste projeto eletivo.

Diante do desafio de responder a inquietações sobre mudanças climáticas e de contribuir com as diretrizes educativas da escola (que têm entre seus objetivos orientar o projeto de vida dos alunos), busquei referências em experiências pedagógicas anteriores, tendo como objetivo de fundo a construção de conhecimentos pela pesquisa científica.

As alterações climáticas como influência na disponibilidade de recursos hídricos se tornaram o tema para o diálogo com alunos do Ensino Médio. Para isso, foi instituída a disciplina optativa extracurricular “Pré-iniciação científica: Amazônia vai à Antártida”.

Essa disciplina foi oferecida no primeiro semestre de 2017, com duas horas de aulas semanais. Com ela, pude ampliar a escala espaço-temporal do diálogo e possibilitar um aprofundamento teórico dos impactos ambientais na Amazônia e no Polo Sul.

A participação em projetos ambientais alcança menos da metade dos estudantes durante os seus 12 anos de vida escolar. Essa carência foi um motivo para que eu repensasse minha prática pedagógica como professora de Geografia.

Os alunos contribuíram com propostas temáticas, entre elas, lixo marinho, estresse nas aves, ventos, o Tratado Antártico, aves antárticas, migração das aves e Brasil na Antártida.

Desse processo, resultou o tema central do nosso projeto: “A influência da Antártida na Amazônia”.

Também decidimos abordar os impactos ambientais na Amazônia, para que os alunos estudassem a região onde vivem, reconhecendo que é preciso olhar para o local com novas intencionalidades.

Como mediadora e interessada em promover a iniciação científica, fui inserindo metodologias de pesquisa e análise de dados.

E lá fomos nós, numa caminhada em busca de informações e parcerias, tentando criar uma disciplina viva e que despertasse mais do que o interesse pelo tema.

A base teórica foi extraída de uma plataforma de Educação a Distância (EAD). Entramos em contato com a instituição promotora e com cientistas que estavam na Espanha, na Coreia do Sul, na Antártida e no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).

Convidamos esses cientistas para que "visitassem" à Amazônia virtualmente, por meio de videoconferências. O objetivo era superar as barreiras financeiras de uma escola pública e ampliar a qualidade do diálogo científico, obtendo informações diretamente das fontes.

Como fazer:

O processo de captura de informação foi realizado em quatro etapas. Foram elas;

Usando uma plataforma de formação de professores de Ensino Básico, pensada para diminuir a lacuna do conhecimento polar na sala de aula, os alunos analisaram os conteúdos e fizeram uma seleção.

Ao selecionarmos os vídeos, abriu-se uma porta para o diálogo científico com os investigadores que realizaram os conteúdos, por meio de videoconferências ou de webconferências.

Os cientistas interagiram com os alunos, esclarecendo suas dúvidas e motivando-os para a pesquisa. No total, foram cinco diálogos interativos com investigadores na Coreia, na Espanha e no Brasil.

O LIE é um grande aliado pedagógico, pois possibilita a leitura de artigos sem haver a necessidade de impressão de páginas. A leitura dos textos foi importante para a aquisição de informações, que puderam ser relacionadas com os vídeos e checadas diretamente com os palestrantes virtuais e presenciais.

A participação de um pós-doutorando em Matemática trouxe a relevância da interdisciplinaridade na pesquisa.

A importância da pesquisa na Amazônia, os resíduos sólidos e o impacto ambiental foram os temas de diálogos presenciais com duas pesquisadoras regionais.

As atividades desenvolvidas e os conhecimentos adquiridos impactaram os alunos, como se pode ver nas frases seguintes, extraídas de diálogos de socialização sobre a importância da disciplina.

“Sempre pensei que a região amazônica fosse o único reservatório de água doce do mundo.”

“Nunca havia ouvido falar que o gelo da Antártida é doce e serve para o consumo.”

“Parece maluco, essa onda de que uma queimada na Amazônia pode contribuir com o aquecimento global e ser responsável por impactos ambientais na Amazônia.”

“A friagem na Amazônia ter influência da Antártida e a área do deserto do Saara tornar fértil nossas florestas, isso foi muito inovador.”(sobre a palestra virtual a respeito da influência do clima na Amazônia e do aspecto climático da Antártida)

“O lixo anda, e pouca gente sabe disso, viram a quantidade de lixo no mar e na Antártida, quem paga são os animais marinhos.”

“Pensava que pesquisadores eram inacessíveis, até [...] tem, qualquer um de nós podemos nos converter, qualquer faculdade que eu fizer posso ser pesquisador.”

Após esse momento de socialização das percepções, os alunos questionaram sobre os passos seguintes. Como consequência, construímos uma "árvore de ideias", que incluiu em seus "galhos" palestras, maquetes, jornal, desenhos, gibis e teatro.

O objetivo era passar adiante os conhecimentos obtidos. Ou seja, foi decidido que a disciplina deveria envolver também um processo de multiplicação de informação para um novo público – os alunos do 6° ao 9° anos da escola.

Para uma disciplina que não reprova, seria suficiente um relato escrito ou um produto coletivo. Mas os jovens, em grupos, criaram planos de ação para cada tópico.

Um deles decidiu multiplicar as informações sobre a Amazônia, enquanto o outro abordou a Antártida. Um terceiro grupo ficou com a função de registrar esses acontecimentos.

Em razão da falta de tempo hábil, os grupos de teatro e o que desejava fazer uma maquete acabaram não alcançando o objetivo inicial.

Outras idéias

Nas propostas extracurriculares, interdisciplinares e mulidisciplinares há sempre espaço para a produção científica – dos alunos e dos professores, que podem repensar a prática pedagógica.

A sede pela pesquisa e o desejo de ver as respostas sendo construídas despertam o surgimento de novos projetos.

O uso dessa metodologia tem se tornado comum na escola, uma vez que muitos professores já perceberam que investir em produção científica amplia a reflexão teórica e metodológica dos alunos.

No entanto, trata-se de um árduo trabalho, com horas de dedicação a leituras e releituras e o exercício do autocontrole, para não fazer correções nos textos dos alunos, mas, sim, para propor mudanças que conduzam os alunos para o amadurecimento intelectual.

Um caminho é criar na escola uma comissão temporária para formular normativas científicas a serem aplicadas na produção escrita e na apresentação oral, iniciativa que contribuirá com professores e alunos na inserção da produção científica.

Seguem algumas referências usadas para este trabalho:

- BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

- CARAMELLO, N. O conhecimento polar no currículo de uma escola pública: uma opção estudantil. Informativo APECs – Brasil, ano VIII, n. II, jan.-jun. 2017.

-FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1981.

-LIMA; E. J. V.; SANTOS, L. S.; MARTINS, T. R. M.; CARAMELLO, N. Desenho como instrumento para analise da percepção ambiental adquirida pós-palestras. In: SEABRA, G. (org.). Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas brasileiros. V Congresso Nacional de Educação Ambiental – CNEA. João Pessoa, 2017.

-MARTINS, T. R. M.; REPISO, H. C. de M.; MARQUES, G. T.; NASCIMENTO, A. K. Novos horizontes proporcionados por investigadores polares e amazônicos.Informativo APECs – Brasil, ano VIII, n. II, jan.-jun. 2017.

- OLIVEIRA, B. V.; PORTO, D. C.; KORTZ, C.; MOZER,W. F. Amazônia vai à Antártica: formação de multiplicadores ambientais. In: SEABRA, G. (org.). Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas brasileiros. V Congresso Nacional de Educação Ambiental – CNEA. João Pessoa, 2017.

- SILVA, M. J. G.; ELER, T. N.; PORTO, E. G.; MEIRA, W. Conhecimento dos alunos do 6º ao 9º ano da Escola Estadual Cândido Portinari acerca dos ambientes Amazônico e Antártico. Informativo APECs – Brasil, ano VIII, n. II, jan.-jun. 2017.

- THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1985.

- RODRIGUES, L. A. C. . Antártica no currículo formal de Ciências do Ensino Fundamental: uma análise do tema em livros didáticos. Anais do IV Congresso Nacional de Educação, 2017, João Pessoa-PB.