Metodologia de pesquisa na escola

Área(s): Linguagens; Matemática; Ciências Humanas; Ciências da Natureza.

O planejamento de uma boa ação pedagógica com metodologia de pesquisa na Educação Básica engloba múltiplos aspectos. Entre eles, um trabalho sistemático e interdisciplinar de orientação de estudo com vistas ao ensino de diferentes procedimentos de estudo que sirvam de apoio ao aprofundamento das leituras realizadas no percurso de uma pesquisa. Procedimentos como grifo, anotação de texto oral e escrito, resumo, esquema, fichamento, paráfrase, resenha e mapa conceitual, entre muitos outros.

Em geral, ao recorrermos às nossas lembranças acerca de como aprendemos a pesquisar, salvo raras exceções, a primeira lembrança que nos vem à mente é a cópia. Com o avanço tecnológico, os comandos “recortar e colar” acabou substituindo-a. De todo modo, na esfera escolar, os estudantes seguem pesquisando sem, todavia, aprender a pesquisar.

Ensinar o “comportamento pesquisador” implica o desenvolvimento da própria intelectualidade, de um exercício crítico-reflexivo que demanda uma aprendizagem ativa e, assim, exige daquele que pesquisa as capacidades de analisar, comparar, refletir, levantar hipóteses, estabelecer relações, sintetizar, generalizar etc.

Nessa perspectiva, é preciso que o ato de pesquisar seja compreendido também como uma aprendizagem a ser desenvolvida. Isso demanda, dos professores, investimento e planejamento de situações de aprendizagem que fomentem nos estudantes o desenvolvimento, entre muitas outras, das habilidades de:

  • localizar;
  • selecionar e compartilhar informações;
  • ler, compreender e interpretar textos com maior grau de complexidade;
  • consultar, de forma crítica, fontes de informação diferentes e confiáveis;
  • formar e defender opiniões;
  • argumentar de forma respeitosa;
  • sintetizar;
  • expor oralmente o que aprendeu apoiando-se em diferentes recursos;
  • generalizar conhecimentos;
  • produzir gêneros acadêmicos.

Todas essas habilidades favorecerão o avanço no processo de aprendizagem de diferentes naturezas e em diferentes campos do conhecimento. O mais importante é que os estudantes se reconheçam não como meros consumidores de conhecimento, mas como sujeitos capazes de produzi-los também.

Quando passamos a trabalhar com orientações e procedimentos de estudo, investimos no aprimoramento da expressão oral, da leitura, da escrita e da escuta ativa dos estudantes, pois, ao produzir um resumo, uma anotação, um esquema, uma resenha, um verbete ou uma nota de rodapé, por exemplo, eles desenvolvem suas competências leitora e escritora. Elaborar procedimentos de estudo variados também se configura em produção textual.

Nesse sentido, reiteramos que cabe à escola criar estratégias didático-metodológicas para que o ensino da pesquisa inclua a orientação de estudo de forma mais ampla, bem como seus procedimentos exemplificados acima. Tais procedimentos precisam ser compreendidos como recursos de apoio à leitura, na perspectiva de “ler para estudar”, e devem ser ensinados aos estudantes antes de serem cobrados deles.  

[...] cabe à escola criar estratégias didático-metodológicas para que o ensino da pesquisa inclua a orientação de estudo de forma mais ampla, bem como seus procedimentos [...]

Aprender a pesquisar é indissociável de aprender a estudar. Portanto, é condição fundamental para a ampliação do grau de autonomia dos estudantes, pois favorece o desenvolvimento do artesanato intelectual, impulsionando a construção de novos conhecimentos em qualquer área. Dessa forma, tanto a escrita quanto a leitura precisam ser compreendidas como pano de fundo para o desenvolvimento de diferentes formas de estudar.

Assim, contribuir para que os estudantes desenvolvam o hábito de estudo pressupõe, além de práticas de leituras e escritas diversificadas, boas situações de aprendizagem em sala de aula nas quais, contando com a intervenção de professores e colegas, tenham oportunidade, por exemplo, de: 

  • localizar informações em textos, em função dos seus objetivos de leitura;
  • diferenciar as informações relevantes das periféricas e sintetizá-las;
  • criar novos registros a partir das várias leituras realizadas durante a pesquisa;
  • organizar diários de pesquisa, fichamentos, resenhas, sinopses etc., por meio dos quais expressem, de diferentes maneiras, aquilo que compreenderam nas leituras realizadas, reorganizando as informações para compartilhá-las em debates, seminários, colóquios etc.

Não podemos esquecer que aprender a pesquisar também envolve diferentes práticas de linguagem, que precisam ser desenvolvidas como conteúdo de ensino. É então que se instaura o objetivo principal da orientação de estudo, que precisa ser definido a partir de sua característica de assegurar momentos específicos em que aprender a estudar ganhe centralidade nas práticas de ensino das diferentes disciplinas. Por conseguinte, é necessário ter clareza dos objetivos dessa atividade e planejar quais procedimentos de estudo serão trabalhados em cada bimestre do ano letivo.

O início do ano letivo é um bom momento para a elaboração de um plano de trabalho nesse sentido, que pode ser realizado em conjunto por professores de diferentes áreas do conhecimento, haja vista que as orientações de estudo desenvolvidas nessa atividade repercutirão favoravelmente em todos os componentes curriculares. Assim, garante-se uma progressão no ensino desses procedimentos de estudo, que poderão ser retomados e/ou aprofundados nos anos subsequentes.

A colaboração entre os professores dos diferentes componentes curriculares pode se dar também na seleção dos textos a serem estudados nas aulas, ressaltando-se que o foco não estará somente no ensino do conteúdo dos textos, mas também nos procedimentos de estudo trabalhados. Oferecer aos estudantes a oportunidade de se apropriar de diferentes estratégias de estudo aumenta a chance de eles, aos poucos, desenvolverem o hábito e o gosto pelo ato de estudar.

No caso da pesquisa, é importante começar o trabalho priorizando os procedimentos de estudo mais comumente utilizados pelos estudantes, por exemplo, exposição oral, seminário, apresentação de entrevista, participação em debate regrado. Trabalhos com procedimentos de estudo mais usuais podem ser propostos nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com gradativa complexificação ao longo dos Anos Finais e do Ensino Médio.

Ao propor uma pesquisa aos estudantes, é essencial que o primeiro passo seja compartilhar com eles por que a pesquisa será feita, que relação ela terá com o que estão aprendendo ou aprenderão e qual será o tempo estipulado para sua realização, entre outras informações que ajudem a contextualizar e problematizar a temática a ser investigada. Esse compartilhamento tem por objetivo criar nos estudantes expectativas que os ajudem a atribuir significado e sentido ao ato de pesquisar. 

É necessário explicitar didaticamente os passos que constituem uma pesquisa, desde o levantamento inicial das informações, a seleção de diversas fontes, a leitura de todo o material selecionado, a utilização dos procedimentos de estudo para aprofundamento das leituras e os registros das aprendizagens construídas, até a apresentação dos resultados obtidos [...]

O planejamento coletivo da pesquisa favorece, inclusive, a organização dos próprios estudantes em função da atividade que realizarão. A elaboração de um roteiro de pesquisa pode ser um importante instrumento de fomento à disciplina de estudo. É necessário explicitar didaticamente os passos que constituem uma pesquisa, desde o levantamento inicial das informações, a seleção de diversas fontes, a leitura de todo o material selecionado, a utilização dos procedimentos de estudo para aprofundamento das leituras e os registros das aprendizagens construídas, até a apresentação dos resultados obtidos, garantindo que existam ao longo desse processo, sobretudo, momentos de compartilhamento do que se aprendeu.

Nessa perspectiva, a estratégia de avaliação da pesquisa realizada também pode considerar cada passo da pesquisa, e pode ser utilizada também a autoavaliação. Assim, os estudantes podem se avaliar em cada etapa da realização da pesquisa, identificando suas dificuldades, os desafios do ato de pesquisar e, principalmente, seus avanços. Com essa estratégia de avaliação, é possível observar, por exemplo, que um estudante se saiu muito bem na seleção de material, porém não teve o mesmo êxito ao apresentar oralmente seus resultados; ou que teve sucesso na apresentação dos resultados, mas selecionou fontes não confiáveis. Nesse contexto, a avaliação final consideraria todas as etapas da produção da pesquisa, sem focar apenas um quesito.

Saiba mais

Ouça a entrevista sobre hábitos de estudo dada por Walkiria Rigolon para o programa Vozes da Educação, da rádio FAAP.

Leia a entrevista sobre aprender a estudar dada por Walkiria Rigolon para a Revista Ensino Superior.


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