"Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade." (BNCC, 2018, p. 36)

Podcast

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Ideias pipocam... a voz das crianças no planejamento da Educação Infantil

Explorar o direito de participação e a autonomia das crianças, evidenciar seus desejos por meio da expressão oral, do registro escrito e dos desenhos; e estimular a auto-organização, expressa no planejamento das ações cotidianas.

Quando:

De julho a outubro de 2017.

Materiais:
Materiais de uso comum das crianças no dia a dia.
Habilidades trabalhadas:
EI03EO01; EI03EO02; EI03EO04; EI03EF01; EI03EF09; EI03ET04;
Professor(a) responsável:
Debora Duarte Souza.

Escola:
EMEB Silva Freire, Cuiabá (MT).

O que é:

Sequência de atividades com contação de histórias, desenho, música, atividades físicas e piquenique.

Como fazer:

Neste projeto, começamos falando sobre o livro “Bugrinho – que menino é esse?”, uma biografia do poeta Silva Freire, patrono de nossa escola. Escrito por sua filha, Daniela Freire, a obra é adaptada para crianças e contém ilustrações de Marcelo Velasco.

No livro, o personagem conta que sua cabeça fervilhava de ideias, como se fossem pipocas estourando na panela. As crianças ouviam a história e perguntavam sobre alguns trechos, querendo saber sobre os diversos personagens do livro.

Com o uso do computador e da história do bugrinho digitalizada, as crianças reescreveram a história, introduzindo outro personagem e outras ideias.

Retomei o assunto das ideias "pipocas". De início, pensamos em levar os alunos para a cozinha da escola, mas isso não seria algo muito diferente para eles, pois já tinham visto como fazer pipoca em casa. Com a ajuda de parceiros da escola, conseguimos uma pipoqueira profissional, de vidro. Então, todo o processo pôde ser observado com mais segurança.

Li a receita, pegando os ingredientes que estavam em cima da mesa. Depois, uma criança colocou o milho de pipoca no recipiente da pipoqueira e ligamos o equipamento. Quando a pipoca começou a estourar, todos observaram e ficaram curiosos. Repetimos o processo várias vezes, sempre associando a preparação da pipoca à formação das ideias em nossa cabeça. Encerramos a aula comendo a pipoca produzida durante a aula.

Com o auxílio do aparelho de som, trabalhamos as músicas "Pula, Pula Pipoquinha”, do personagem de animação Bob Zoom e "Pipoca", sucesso da apresentadora Xuxa. Com muita dança, pulos e alongamentos, todos demonstraram o processo que faz o milho se tornar pipoca.

Depois, voltamos à mesa para representar as pipocas com massinha de modelar.

Pedi que cada criança desenhasse, numa folha sulfite, tudo o que tínhamos visto e também o que ela ainda gostaria de fazer durante as aulas: brincadeiras, atividades, jogos, músicas etc.

Em seguida, passei de mesa em mesa observando e perguntando sobre os desenhos. Alguns eram evidentes, mas eu queria ouvir as histórias das crianças. Algumas crianças foram mais rápidas: parecia que a ideia fervilhava em suas cabeças, como na história de Bugrinho. Esperei que todas terminassem tranquilamente.

Levei para a sala uma caixa com a imagem da cabeça de pipoca, em referência a imagens do livro. Depois, pedi aos alunos que amassassem as folhas com os desenhos. Fizeram isso meio desconfiados. Falei que aquelas eram as ideias, e que elas iriam para a panela (a caixa) para "pipocarem".

A “caixa-panela” permaneceu em cima de uma mesa para que todos olhassem e se lembrassem de que sortearíamos uma “ideia-pipoca” por aula.

A primeira “ideia-pipoca” sorteada foi a de uma menina: fazer um piquenique embaixo da árvore da escola, comendo bolo de chocolate e tomando suco de caju.

No dia seguinte, logo depois da acolhida, a turma já mostrava interesse em saber se iríamos cumprir o combinado. Então saímos e lanchamos embaixo da árvore. Ao voltarmos para a sala, sorteamos a “ideia-pipoca” seguinte: fazer uma teia de aranha.

A sala de aula se transformou numa imensa teia de aranha. Na casa da menina que propôs a atividade, havia muitas teias de aranha. Sempre que deitava na cama, ela se imaginava andando com a musiquinha da Dona Aranha">"Dona Aranha".

Nessa atividade, tive a ajuda da professora de Educação Física, que fez uma teia com barbantes enrolados nos pés das cadeiras da sala. Colocamos ainda música no aparelho de som.

Os alunos passaram por cima e por baixo, arrastando-se, engatinhando. Todos queriam ser a aranha da vez. Nessa atividade, observei o avanço que minha turma tinha alcançado: a interação entre as crianças e a comunicação para ajudar os colegas a atravessarem para o outro lado.

Ao final da aula, fizemos mais um sorteio. Dessa vez, a ideia que saiu foi a de “brincar no parquinho”.

Para a brincadeira do parquinho, nos dividimos por brinquedos – alternando-nos entre o balanço e o escorregador.

Depois, já na classe, registramos a atividade em desenho livre.

Saiba mais

Tal proposta foi desenvolvida a partir de um livro. Mas é interessante pensar que, independentemente de termos ou não o livro no acervo da escola, as ideias pipocam nas cabeças das crianças, e elas podem ser convidadas a participar das decisões sobre o planejamento dos dias na condição de protagonistas.

Isso é muito importante porque, por meio dessa ação, é possível aprender a participar mais ativamente e a decidir sobre o uso do próprio tempo.

O planejamento das ações serve, em primeiro lugar, para que pensemos sobre como podemos usar melhor o tempo, considerando preferências, mas também o coletivo e a vontade de partilhar experiências.

Pensada dessa forma, essa proposição deixa de ser um projeto pontual, com duração predeterminada e passa a se configurar como uma estratégia de gestão do cotidiano partilhada com as crianças, como forma de assegurar participação com protagonismo nas atividades e no planejamento dos dias.

Para organizar essa proposta, é preciso ter na sala um calendário grande, no qual as crianças possam registrar as propostas que serão desenvolvidas ao longo dos dias, e uma agenda com o que precisa ser providenciado para a execução do plano definido pelo grupo.

A agenda pode ser feita pelas crianças, que ditam os textos à professora. Aos poucos, elas próprias podem assumir a tarefa, escrevendo partes das listas ou nomes de atividades, utilizando, para isso, suas próprias hipóteses de escrita.

Ao mesmo tempo em que ajuda as crianças na organização dos dias, a agenda vai se oferecendo como um suporte para a documentação do processo evolutivo das escritas.

A agenda pode ser acompanhada de um diário coletivo para o registro, com a professora como escriba, do desenrolar das propostas. Trata-se de um recurso interessante para apoiar a memória das crianças e auxiliá-las na construção de suas narrativas de vida.


Projeto Sacola Viajante – Literatura Infantil

Esta prática propõe ampliar a imaginação e incentivar nas crianças a descoberta do universo da literatura infantil, confrontando realidade e fantasia. Além disso, ela auxilia no desenvolvimento do gosto pela leitura e por histórias, estimulando também o lúdico e o faz de conta.

Quando:

De março a maio de 2018.

Materiais:
  • sacola decorada;
  • livros de literatura infantil.
Habilidades trabalhadas:

EI02EF03; EI02EF04; EI02EO02; EI02EO03; EI02CG05; EI02EF05;

Professor(a) responsável:

Jucicleia Costa de Lima.

Escola:

Centro de Educação Infantil Primeiros Passos, Novo Progresso (PA).

O que é:

O projeto consistiu na leitura de obras literárias infantis vivenciadas pelas crianças na família e na Educação Infantil. Nessa experiência, houve a alternância do sujeito mediador da leitura: criança ou professora, na instituição escolar, e pais e parentes no contexto do lar.

Como fazer:

Todos os anos, inserimos no planejamento anual projetos relacionados à leitura, como forma de as crianças desenvolverem esse hábito desde pequenas.

Como a leitura é o caminho mais importante para chegar ao conhecimento, é necessário que as crianças se familiarizem com os livros desde o primeiro ano de vida.

Todo bebê nasce apto à fala, um processo natural do desenvolvimento humano. No entanto, ninguém nasce leitor. Para que isso aconteça, é preciso incentivar o gosto pela leitura desde a creche.

O projeto de leitura “Sacola Viajante – Literatura Infantil” teve início a partir da minha inquietação. Como professora, sempre observei resistência e falta de interesse dos alunos nos momentos de leitura de textos literários.

Pela importância do tema, o projeto também foi estendido aos pais, para que ajudassem em sua concretização.

Durante três meses, a "Sacola Viajante" seguiu para a casa dos alunos. Ela continha livros de literatura infantil, lápis de cor, desenhos dos contos literários para pintar e um pequeno relato sobre o projeto. A cada semana, três crianças das turmas da manhã e da tarde levavam para casa a sacola com livros.

Selecionados pelas professoras, os títulos dos livros eram trocados semanalmente. Havia também a verificação dos desenhos, observando-se a participação ou não das famílias na proposta de leitura.

O projeto foi apresentado aos pais numa reunião escolar. Naquele momento, discutimos também a importância do ato de ler e o papel das famílias no processo de desenvolvimento do gosto pela leitura.

Alguns combinados foram estabelecidos para que o projeto caminhasse de forma satisfatória. Os principais foram os seguintes:

  • cada “Sacola Viajante” deveria ser retirada e devolvida na escola por algum responsável pelo aluno;

  • a sacola seria de uso coletivo, sendo indispensáveis, portanto, o cuidado e o zelo com ela e com os materiais;

  • caso uma criança, por falta, não conseguisse devolver a sacola no dia definido, os responsáveis deveriam fazer a entrega na escola;

  • os livros de literatura seriam diferentes para cada criança para que se cumprisse o objetivo de ampliar o repertório de histórias;

  • a leitura deveria ser feita em casa por algum adulto. A criança acompanharia a leitura, vendo as imagens e discutindo sobre o conteúdo;

  • caso desejasse, a criança poderia tentar a leitura, mas tendo sempre um adulto a ajudá-la na interação com a história e as imagens;

  • para que fosse prazerosa, a leitura deveria ser feita num lugar aconchegante;

  • após a devolução da sacola, o aluno, caso conseguisse, poderia ler o livro para a turma. Mas essa não seria uma obrigação. Em situações de desconforto da criança, a leitura seria assumida pela professora.

Destaques da experiência

Embora o projeto tenha ocorrido ao longo de três meses, ele tem potencial para se tornar um projeto institucional, acontecendo durante todo o ano. O desenvolvimento da criança como leitora exige que a rotina pedagógica estabeleça continuidade, regularidade e condições para a aquisição do hábito.

A sacola carregava, entre outros materiais, desenhos para que as crianças pudessem colorir, mas é interessante que elas próprias decidam como fazer os registros. Podem, por exemplo, em vez de colorirem um desenho pronto, escreverem uma indicação do livro para outras crianças da turma, usando, para isso, suas próprias linguagens, hipóteses e ideias sobre como se escreve.

Tais escritas podem compor um painel, a ser colocado, por exemplo, próximo à biblioteca da sala, para que seja consultado por outras crianças leitoras.

As crianças podem desenhar apenas os personagens. Com a ajuda da professora, as figuras podem ser recortadas e fixadas em bases de palito de sorvete ou em outras estruturas que possibilitem manuseio, como em um teatro de fantoches.

Com o tempo e a regularidade, as crianças vão se tornando "frequentadoras" mais assíduas da biblioteca da creche, podendo, elas mesmas, contarem suas histórias favoritas às crianças de outras salas, sempre com o apoio das ilustrações dos livros e do suporte da professora.


Recitando e Encantando: poesias infantis

Esta prática pretendeu estimular a oralidade, a criatividade e a reflexão por diferentes aspectos da linguagem, ampliando sensivelmente as possibilidades de comunicação, criando apreço pela leitura e despertando o interesse pela escrita, por meio de situações em que a criança possa expressar suas emoções, brincando e criando com as palavras, permitindo fluir sua imaginação.

Quando:
De agosto a dezembro de 2017.

Materiais:
Títulos de algumas obras selecionadas para que as crianças lessem e escolhessem um poeta ou uma poetisa para o trabalho do projeto:
  • “Isto ou Aquilo”, de Cecília Meirelles (Editora Nova Fronteira).
  • “Quem Lê com Pressa Tropeça”, de Elias José (Editora Lê).
  • “Caixa Mágica de Surpresa”, de Elias José (Editora Paulus).
  • “Uma Cor, Duas Cores, Todas Elas”, de Lalau e Laurabeatriz (Companhia das Letrinhas).
  • “Bem-ti-vi e Outras Poesias”, de Lalau e Laurabeatriz (Companhia das Letrinhas).
  • “Poemas para Brincar”, de José Paulo Paes (Editora Ática).
  • “Lé com Cre´”, de José Paulo Paes (Editora Ática).
  • “Olha o Bicho”, de José Paulo Paes (Editora Ática).
  • “Um Passarinho me Contou”, de José Paulo Paes (Editora Ática).
  • “Fardo de Carinho”, de Roseana Murray (Editora Lê).
Habilidades trabalhadas:
EI03EF03; EI03EF08; EI03EO02; EI03EO03;
Professor(a) responsável:
Carlene Alves Cardoso.

Escola:
EMEI Monteiro Lobato, Parauapebas (PA).

O que é:

Sarau literário, com recitação de poesias, organizado pelas crianças.

Como fazer:

Levei as crianças para a sala de leitura e mostrei a elas alguns livros de grandes nomes da poesia. Os alunos folhearam o material e, com ele, puderam imaginar as mais diversas situações de leitura.

De forma lúdica, com uma pitada de brincadeira, recitei algumas poesias. Os olhinhos das crianças brilharam de encantamento, confirmando que eu estava no caminho certo.

Elas elegeram a poesia de que mais haviam gostado para ouvir a leitura mais uma vez. Decidiram por um texto do poeta José Paulo Paes.

Selecionada a poesia, dei início ao projeto. Tudo foi feito com muita dedicação e muito carinho, pensando, principalmente, em estimular aquelas crianças e toda a turma para que participassem de situações reais de leitura, oralidade e escrita, que são linguagens fundamentais para a inserção do indivíduo na sociedade.

O passo seguinte foi uma roda de conversa para que compartilhássemos a apresentação e a justificativa do trabalho, bem como as etapas, a duração e o produto final.

Deixei claro que a participação de todos seria de grande importância para cada etapa. Expliquei também as oportunidades de aprendizagens e qual seria o produto final, que teria a participação da comunidade.

O projeto foi desenvolvido em 15 etapas, com duas rodas de leitura de poesias por semana, conforme a rotina escolar. Essa divisão teve como objetivo a construção progressiva dos saberes das crianças em relação às práticas de leitura e à função social da leitura, incluindo também outras áreas do conhecimento.

De início, fiz um breve levamento das hipóteses de aprendizagem na leitura e na escrita. A continuidade do trabalho teve como princípio o respeito ao jeito, ao tempo e à necessidade de cada criança.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas foi o número reduzido de livros no acervo da escola. Busquei, então, soluções para a sequência do trabalho.

Fiz empréstimos de livros para que as crianças tomassem contato com eles no sistema de rodízio. Estabelecemos um modelo de controle, anotando os nomes das crianças e solicitando que trouxessem os livros de volta no dia combinado para que outros coleguinhas fossem contemplados.

Assim seguiu ate´ que todos tivessem acesso aos livros do projeto. Enviei um bilhete às famílias para que colaborassem na leitura e na preservação dos volumes. Organizei ainda o "Cantinho da Leitura", disponibilizando livros e cópias em xerox de poemas de outros autores.

Ao longo das semanas, garanti a leitura de poesias de forma dinâmica, lúdica e divertida. Cada texto era apresentado da maneira mais encantadora possível, para que as crianças tivessem vontade de ouvir, ler e aprender.

Com a regularidade na leitura das poesias, as crianças já conseguiam memorizar algumas. Com isso, podiam declamar os textos para os colegas da sala ou até mesmo de outra classe.

Na sequência, organizei rodas de leitura e rodas de conversas que funcionavam como ensaios e como meio de encorajar as crianças para a apresentação no Sarau Literário. Elas declamavam umas para as outras, na sala de leitura ou em outras salas, e até mesmo nas "Sextas Culturais" da escola, como convidadas. Também recebíamos outras crianças.

A turma pôde escolher duas poesias para o sarau. Ajudei fazendo a leitura de alguns textos e abordando pontos importantes que deveriam ser levados em consideração na escolha das poesias.

Duas vezes por semana, os alunos participaram de leituras de poesias, declamações, escrita, atividades artísticas para ilustrações de poesias e para o "Cantinho da Leitura". Com isso, criou-se um ambiente propício aos leitores de poesias.

Tivemos ainda o momento da preparação para o sarau. Mostrei vídeos de crianças declamando poesias, para que as nossas observassem a relevância daquela situação comunicativa e também percebessem alguns elementos da apresentação, como a postura, a vestimenta, a entonação, o entrosamento e a forma de apresentação.

A turma também foi filmada para que observássemos o que já estava bom e o que precisava ser melhorado. As próprias crianças decidiram quais ajustes seriam necessários para fazer uma boa exibição.

Foi incrível ver como o sarau mobilizou a turma. As crianças mais desinibidas formaram pares com as mais introvertidas e, com isso, construíram um ambiente de segurança e confiança, evitando, por exemplo, que aquelas com alguma dificuldade tivessem de enfrentar maiores riscos.

Outras ideias para colocar em prática

As poesias, assim com as parlendas, as brincadeiras cantadas e as adivinhas, compõem um repertório de textos que podem ser memorizados pelas crianças para brincarem com as palavras.

Esse é um recurso muito interessante para que elas iniciem sua jornada de investigação sobre o sistema de escrita alfabético e as práticas sociais de leitura e de escrita.

Instigadas a aprender mais sobre como se lê e como se escreve, as crianças observam atentamente a ocorrência da escrita em seu entorno.

Uma iniciativa interessante para alimentar a curiosidade é a organização de coletâneas individuais de poesias, para que as crianças possam, pouco a pouco, ao longo das semanas, construir seus próprios livros. Elas podem, inclusive, ilustrar as páginas, utilizando diferentes materiais para desenhar e pintar.

A coletânea traz como benefício o fato de estar disponível às crianças sempre que elas quiserem, de forma autônoma, investigar as escritas.

Como elas, nesse momento, já saberão os textos de cor, poderão se arriscar na busca pelo ajuste fino entre o falado e o escrito, observando as características e regularidades do sistema de representação da escrita.

Dessa forma, poderão observar o funcionamento da escrita num contexto especial, como o sarau, no qual a declamação de poesias se torna algo de grande sentido para elas.


Adaptação e Aprendizagem e o Método Montessoriano

Esta prática teve como objetivo vencer, desde o primeiro dia na CMEI, a dificuldade de adaptação e interação das crianças, entre choros e mordidas.

Quando:
Início do ano letivo.

Materiais:
  • brinquedos e jogos que estimulam os sentidos da audição, da visão, do olfato e do paladar;
  • brinquedos confeccionados com sucatas;
  • figuras impressas com alimentos para identificação das frutas e dos legumes;
  • diversas cores de tintas;
  • figuras e sólidos geométricos;
  • massinha de modelar;
  • tinta para pintura a dedo;
  • objetos manipuláveis que não causam riscos aos bebês.
Habilidades trabalhadas:
EI01EO01; EI01EO06; EI01ET03; EI01ET04
Professor(a) responsável:
Agda Pereira Marinho.

Escola:
Centro Municipal de Educação Infantil São Francisco de Assis, Ribeirão Cascalheira (MT).

O que é:

O trabalho consistiu na aplicação do método montessoriano, com a seleção, a preparação e a utilização dos recursos didáticos disponíveis na instituição, além de outros confeccionados pela professora. O objetivo foi apresentar às crianças uma variedade de proposições em seu período inicial na creche.

As experiências desenvolvidas contribuíram significativamente para a adaptação e a aprendizagem das crianças, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, promovendo a parceria com a família e consolidando o protagonismo dos bebês e o seu desenvolvimento social e humano.

Como fazer:

O trabalho assumiu o enfrentamento do desafio de adaptação e promoção de interações entre as crianças desde o primeiro dia na creche.

Foram duas as etapas de trabalho:

  1. Diagnóstico.

    Nessa fase, analisamos as crianças durante a realização de atividades coletivas e individuais. Observamos que algumas crianças deixadas na sala de aula choravam, ficavam estressadas e mordiam colegas. Outras não queriam participar das atividades do dia e rejeitavam a mamadeira e as refeições. Percebemos, portanto, pouca interação dessas crianças com os colegas da turma e com as professoras.

    De certa forma, minha maior dificuldade era saber lidar com essa diversidade de comportamentos e, ao mesmo tempo, desenvolver uma prática pautada no desenvolvimento integral das crianças.

  2. Adequação da rotina.

  3. A segunda etapa consistiu na adequação da rotina de acordo com as ideias de Maria Montessori. Segundo ela, na faixa etária de um a dois anos, a ênfase é na educação dos sentidos e do movimento, o que significa incluir nas atividades elementos que sirvam de estímulo para os cinco sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) e para o desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina.

No decorrer da experiência, a criança é liberada para brincar movida pela curiosidade natural, num ambiente preparado para que os estímulos sejam apropriados ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e socioafetivo. Ao final, percebe-se uma significativa melhora de adaptação e aprendizagem.

Montessori afirma, ainda, que as crianças têm uma poderosa tendência a repetir atividades que ocupam sua atenção, e é essa repetição que promove independência, coordenação, concentração e comportamento calmo.

Dentre os momentos significativos na escola, tivemos algumas atividades prazerosas, como o uso de brinquedos e livros sensoriais, a realização de brincadeiras ao ar livre, o banho nas bonecas e o circuito dos carrinhos.

Os bebês amaram os brinquedos e gostaram de fazer caminhadas, explorando o ambiente externo. Também aproveitaram bastante as aulas de artes e as atividades de motricidade fina.

Durante as atividades individuais, tive o cuidado de criar um clima agradável e motivador. O objetivo foi fazer com que cada criança se sentisse mais livre para desenvolver a escrita e seu protagonismo, e realizar descobertas pessoais, sem que eu apontasse erros ou acertos.

Busquei parceira com a instituição e com as famílias, na busca de uma solução imediata para a adaptação ao CMEI.

Em casa, as famílias deveriam criar pequenas tarefas para seus bebês. A equipe pedagógica se dispôs a ajudar, dando o suporte necessário para a compra de materiais pedagógicos e a execução do trabalho.

O diálogo com as famílias se dava no momento da chegada ou da saída das crianças. Quando não havia tempo, a comunicação acontecia por meio de recadinhos escritos e entregues ao final do expediente. Os assuntos eram os mais variados, como empréstimo de brinquedos da instituição para as crianças mais carentes e solicitação para que trouxessem bonecas para a escola.

Essa parceria contribuiu bastante para o desenvolvimento das crianças. Algumas delas não queriam fazer nada em sala de aula. Em casa, contudo, faziam várias coisas sozinhas.

Para analisar a experiência, utilizei a avaliação contínua e processual, visando obter melhores resultados. Como recurso, utilizei o registro no caderno de campo e as fichas de acompanhamento individual.

De modo geral, as expectativas de aprendizagem fluíram de forma satisfatória. As brincadeiras ao ar livre, as aulas de artes, o uso de brinquedos montessorianos e a promoção do protagonismo infantil foram metodologias imprescindíveis na execução da proposta, em que a mudança de rotina e a adequação das práticas desafiadoras possibilitaram a motivação e a interação escolar.

O período de adaptação é fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento. Dessa adaptação, dependem a consolidação de uma relação de confiança, num ambiente seguro e acolhedor, e a construção das condições adequadas para que os bebês possam interagir e explorar o ambiente com autonomia.

Por isso, é importante selecionar previamente materiais que tenham mais potencial para a exploração autônoma dos bebês.

Uma dica importante é continuar observando os bebês em suas atividades, uma vez que eles aprendem, desenvolvem-se e mudam seus interesses, o que pode levar a alterações no processo escolar.

Também é importante seguir essas dicas na adaptação da jornada das crianças na creche ao longo do ano. Muitos fatores podem exigir novas adaptações, como a conquista de uma maior autonomia (quando os bebês já podem andar), a chegada de colegas novos ou mudança de alguma professora.

Nesses casos, a sugestão é sempre equilibrar as adaptações de ambos os lados: as crianças vão se habituando aos novos tempos e espaços institucionais e a escola, por sua vez, vai se adequando às necessidades e aos novos desejos dos bebês em desenvolvimento.

É importante que as famílias façam registros sobre a primeira experiência dos bebês fora de casa. A confecção de painéis ou álbuns com fotografias das crianças ao longo do tempo ajuda na construção da narrativa e da memória das crianças. Possibilita às famílias também compartilharem os cuidados com os bebês e se manterem informadas a respeito dos processos de aprendizagem e desenvolvimento.


Paranauê: em roda de capoeira tem bebê!

Esta prática teve como objetivos desenvolver aspectos corporais, lúdicos, artísticos, estéticos e musicais, bem como aqueles ligados à oralidade, à história da população negra e à história local por meio do jogo e da roda de capoeira. Além disso, contextualizar a capoeira para as crianças bem pequenas, explorando sua potente linguagem como recurso.

Quando:

De junho a agosto de 2017.

Materiais:
  • fotografias;
  • músicas de capoeira;
  • cordão com berimbau;
  • instrumentos como pandeiro ou caxixi.
Habilidades trabalhadas:

EI02CG01; EI02CG03; EI02TS01; EI02EO06; EI02CG02; EI02CG03; EI02TS03; EI02EF05;

Professor(a) responsável:

Mighian Danae Ferreira Nunes.

Escola:

Creche Casulo Zaide Daltro Dias, São Francisco do Conde (BA).

O que é:

O projeto buscou aproximar bebês e crianças das produções culturais da população negra, tornando-as parte da prática educativa.

Nesse sentido, nossas ações estiveram sintonizadas com iniciativas de vários setores do "Movimento Negro", que priorizam a educação como importante ferramenta para a inserção da população negra em variados espaços da sociedade brasileira (Rodrigues, 2004).

Como fazer:

A aprendizagem dos bebês no trabalho com a capoeira abrangeu aspectos corporais, lúdicos, artísticos, estéticos e musicais. Além disso, envolveu a oralidade, a história da população negra e a história local.

Percebemos na capoeira uma linguagem potente para propiciar aos bebês conhecimento de si mesmos e sobre o mundo.

Os bebês sentem o mundo a partir do corpo e, por isso, devem ser estimulados a viver essa experiência de modo pleno e prazeroso (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil – DCNEI, 2009).

De acordo com a legislação brasileira, as metas de aprendizagem da Educação Infantil não devem ter caráter avaliativo (DCNEI, 2009).

Assim, buscamos apresentar a capoeira em um contexto de experiência pedagógica, reconhecendo sua importância para a história da população negra.

O trabalho foi realizado em quatro etapas, para que conseguíssemos abordar todos os conhecimentos associados à capoeira.

  • Roda de conversa sobre a capoeira.
  • Apresentação do pandeiro, instrumento utilizado na capoeira e de grande importância na marcação das cantigas e do jogo.
  • Exibição de vídeos com movimentos básicos e crianças jogando capoeira.
  • Produção de desenhos sobre a capoeira.
  • Realização do jogo de capoeira livre. Essa atividade não havia sido prevista no planejamento, mas, ao verem os vídeos, as crianças começaram a jogar capoeira entre elas, recriando os movimentos a partir de sua própria consciência corporal. Estes momentos passaram a acontecer diariamente na hora destinada à música e ao movimento.
  • Escuta de cantigas de capoeira na roda de conversa.
  • Visitas de um professor de capoeira acompanhado de crianças mais velhas.
  • Apresentação do berimbau.
  • Confecção de pandeiro e de berimbau com materiais reciclados.
  • Realização de atividades pedagógicas que estimulassem a observação do tempo rítmico das músicas da capoeira.
  • Contação da história "O Herói de Damião em A Descoberta da Capoeira", de Iza Lotito.
  • Exposição de instrumentos e roupas de capoeira para as crianças.
  • Confecção de caxixi.
  • Ensaios abertos para a apresentação das crianças na "Mostra Cultural" da Secretaria de Educação, com a participação de familiares.
  • Confecção de moldes das crianças jogando capoeira para a produção de um painel.
  • Audição da música “Oh, Berimbau”, do grupo Olodum.
  • Apresentação da roda de capoeira para a creche.
  • Apresentação das crianças na mostra cultural do span data-toggle="tooltip" data-placement="top" title="Conheça mais sobre o Projeto VoArte: nas asas da Arte Educação, da Secretaria da Educação de São Francisco do Conde (BA), clicando em Projeto VoArte">Projeto Voarte, organizado pela Secretaria da Educação.
  • Apresentação de relato de experiência na 1ª Semana de Pedagogia dos Malês, em abril de 2018.
Outras ideias para colocar em prática

O trabalho com as diferentes linguagens pode ser bastante ampliado nesse contexto no qual as crianças são convidadas a explorar objetos musicais, vídeos, instrumentos etc.

É fundamental garantir a elas tempo para explorarem mais autonomamente todos os materiais e descobrirem, por conta própria, recursos e possibilidades, antes de sua apresentação pelo professor, por um capoeirista ou por outro parceiro mais experiente.

O mesmo se pode dizer sobre a exploração das imagens e dos elementos estéticos sobre a cultura negra e a prática da capoeira. É importante ampliar as referências visuais, evitando desenhos prontos ou estereotipados, que tendem a valorizar o lado folclórico mais do que a presença cultural do negro e do capoeirista em nossa cultura.

Deve-se assegurar ainda que as apresentações sejam espontâneas, valorizando as interpretações das crianças sobre os gestos da cultura da capoeira.

Dado que o contato das crianças com as questões étnico-raciais será permanente nessa proposição pedagógica, é importante que o professor esteja atento, que tenha escuta para as percepções e para as respostas das crianças sobre a diversidade racial. Assim, por suas atitudes, por seu próprio exemplo, terá condições de mostrar às crianças atitudes de respeito e valorização das diferentes culturas.

Também é possível desenvolver um projeto com brincadeiras e brinquedos indígenas.


A dramatização como proposta de ensino para uma conscientização empreendedora na pré-escola

Esta prática pretende responder a dois questionamentos: “O que pode estar nas entrelinhas de uma simples atividade como dramatizar histórias em sala de aula?”; e “O que podemos extrair desse tipo de atividade?”.

Utiliza-se a dramatização como ferramenta pedagógica na sala de aula para enfatizar diversas atividades interdisciplinares e ampliar o universo linguístico e artístico dos alunos da Educação Infantil, constituindo várias temáticas para exploração da oralidade, da escrita e da expressão artística, além de apresentar a conscientização empreendedora por meio da atitude das personagens.

Quando:

A qualquer momento do ano letivo.


Materiais:
  • livros de histórias;
  • figurinos para apresentação.
Habilidades trabalhadas:

EI03EO03; EI03EO06; EI03EF04;

Professor(a) responsável:
Edilma Silva Santos.

Escola:
Escola Municipal Deputado Euvaldo Diniz Gonçalves, Areia Branca (SE).

O que é:

Todas as histórias que eu contava para a minha turminha tinham de ser dramatizadas, pois, além das brincadeiras, essa era a forma de abordagem preferida dos alunos. Nesse processo, passei a trazê-los para dentro das interpretações, utilizando o recurso como forma de conectá-los às histórias e gerar maior interesse pelas atividades.

O resultado foi imediato. Bastava eu dizer que iria contar uma história, e já se ouvia: “Chame eu, tia!”. Outros diziam: “Eu quero ser tal personagem!”.

Então, mesmo que fosse uma história com poucas personagens, eu precisava criar outras para ter a participação de todos. Muitas vezes, era necessário propor acordos com os alunos que se destacavam mais, para que eles deixassem os demais também participarem.

Nunca as dramatizações aconteciam numa única aula. Normalmente, duravam em torno de uma semana. As atividades que os alunos mais gostavam acabavam sendo repetidas ao longo do ano.

Para desenvolver a dramatização da história popular “O Macaco e a Viola”, solicitei aos alunos que se candidatassem aos papéis e que atuassem de maneira fidedigna em relação a cada personagem.

Primeiramente, contei a história, desenhando as cenas no quadro. Depois, chamei as crianças para representarem. Fizemos isso várias vezes durante os primeiros meses do ano letivo.

Nessa dramatização, às vezes, eu não contava a história pelo início. Pulava algumas partes e passava para uma cena específica.

Nas situações em que eu, por esquecimento, deixava de fazer, no quadro, o registro sobre os “donos” das personagens, logo os alunos, sempre atentos, vinham me lembrar.

E, quando algum deles estava ausente, logo alguém se manifestava: “Fulano faltou hoje, tia! Eu faço o papel dele!”

Outro fato interessante era a facilidade que as crianças tinham para usar qualquer coisa em substituição a um objeto necessário para a peça. Pegavam, por exemplo, um pincel grande para ser o facão do homem da carroça, um monte de lápis para a lenha ou ainda uma das mochilas como cesto.

Nessas apresentações, as crianças utilizavam a própria fala, sem ter de decorar o texto escrito por mim. Falando tudo do jeitinho delas, conforme as palavras vinham à cabecinha.

Além de trabalhar a coordenação motora, usei outros recursos para o ensino, como sequência lógica, dinheiro, instrumentos musicais, alimentação e conhecimentos sobre os diferentes animais e seus hábitos. Também abordei o tempo, falando sobre os períodos do dia: manhã, tarde e noite.

Quando percebi o maior interesse dos alunos pelas dramatizações de “O Macaco e a Viola” e de “Os Três Cabritinhos”, combinei com os alunos apresentá-las também para as outras turmas. Foi uma euforia só. O auge foi a apresentação que fizemos da peça “O Macaco e a Viola” na festa do Dia das Mães.

Nesse ponto, começamos a planejar os figurinos e o material de que iríamos precisar para a apresentação. No dia da festa, as outras crianças ficaram admiradas com a atuação dos alunos, com a maneira com que se expressavam, cheios de desenvoltura e talento.

Dias depois da apresentação para as mães, o aluno que representou o macaco reclamou que um primo dele, também aluno da escola, embora de outra turma, o havia apelidado de “macaco”.

Naquele momento, resolvi falar sobre bullying na escola, chamando também a atenção desse primo, e explicando a ele que aquela não é uma prática saudável para a vida das pessoas. Assim, lá se foi mais uma história.

Como fazer:

Este projeto foi realizado em três etapas.

O objetivo foi aproximar a turma das narrativas, fazendo com que os alunos conhecessem o repertório, e discutir os gêneros literários envolvidos no processo. Abordei ainda questões sobre a cultura regional e o ambiente de vivência dos alunos, e seus conhecimentos sobre a fauna e a flora locais.

Vale destacar que o projeto foi realizado numa escola rural, cujas vivências estão muito próximas do ambiente e do trabalho na roça e nas lavouras.

Este foi momento em que os alunos puderam se apropriar das personagens e do enredo das histórias selecionadas. A etapa foi uma oportunidade para que trabalhássemos a expressão oral, a criatividade e a imaginação dos alunos.

Por fim, realizamos diferentes apresentações das histórias selecionadas e ensaiadas pela turma.


Palavras mágicas encantando a vida

Proporcionar às crianças a oportunidade de participação em atividades diárias que despertem a amizade, a solidariedade, o amor e a união, fortalecendo os vínculos afetivos entre os envolvidos.

Quando:

Sem período específico.

Materiais:

Computador com acesso à internet.

Habilidades trabalhadas:

EI03EO07; EI03EO05; EI03CG01; EI03EO04; EI03EO01; EI03EF01; EI03EF04;

Professor(a) responsável:

Lilian Magione de Souza.

Escola:

CMEI Odila Simões, Vitória (ES).

O que é:

Este projeto surgiu do desejo de possibilitar às crianças meios para maior socialização. Para tanto, utilizamos as "palavras mágicas" e atitudes afetivas, de modo a transformar em convivência harmoniosa e saudável ações agressivas e egocêntricas que tanto causavam desconforto à turma.

Convivendo com as crianças do Grupo 5 (faixa etária entre quatro e cinco anos), percebi o quanto é difícil para elas cumprirem os combinados de convivência e compartilharem brinquedos e outros objetos.

Algumas crianças não conseguem harmonizar seu ponto de vista com o de colegas. Precisam ainda entender o que é delas, o que é do outro e o que é de todos. 

Segundo Jean Piaget, essas atitudes egocêntricas são naturais, especialmente nessa faixa etária, pois as crianças não são capazes de entender e perceber que as outras pessoas têm interesses, crenças e vontades diferentes das delas.

Na sala de aula, há situações e conflitos que precisam ser trabalhados de forma mais eficaz. É fundamental buscarmos novos caminhos que levem a família, a escola e a comunidade a assumirem seu verdadeiro papel no processo.

Como fazer:

Iniciei o diagnóstico de aprendizagem por meio das rodas de conversas e das atividades de escrita e desenho. Realizei também vários encontros com as famílias para saber um pouco mais sobre a história de cada criança.

O potencial da turma estava em sua predisposição para construir novos conhecimentos. Da mesma forma, havia maturidade na oralidade e percepção sobre a importância do bem comum.

Mais adiante, numa nova roda de conversa, surgiu o seguinte questionamento: “Como eram as crianças antigamente?” “Elas usavam as 'palavras mágicas'?”.

Sugeri, então, que visitássemos uma idosa da comunidade para conversarmos sobre o assunto. Fomos até a residência da vovó Anita. Esse foi mais um momento marcante para a turma.

Elaboramos previamente algumas perguntas para ela sobre como era vida uns 70 anos atrás. Mais uma vez, percebi o interesse de todos pela atividade proposta. Concentraram-se nas perguntas e, na visita, mantiveram-se bastante atentos às respostas da idosa. No meio da conversa, uma das crianças pediu a palavra e disse à vovó Anita: “Você é uma princesa!”.

Na visita, cantamos, demos abraços, fizemos apresentações e ouvimos o relato da vovó Anita. Quantos conhecimentos as crianças adquiriram naquele encontro!

Essa foi uma atividade extremamente produtiva! Saímos dos muros da escola e pudemos comparar a diferença da vida de hoje com a de “ontem”, por meio de uma atividade simples e prazerosa.

A visita também evidenciou os diferentes níveis de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Essa informação se mostrou importante para que as novas atividades levassem em consideração o potencial de cada aluno.

O uso das "palavras mágicas" se tornou constante em nossa rotina, por possibilitarem uma reflexão sobre a importância de agirmos de forma afetiva uns com os outros, dando o nosso melhor.

O projeto contribuiu para que as crianças vivenciassem atividades prazerosas e significativas, importantes como estímulo à mudança de comportamento. Com a evolução do trabalho, as crianças se tornaram capazes de dividir espaços e objetos, ouvir o outro, esperar a vez, usar palavras cordiais e demonstrar atitudes de afeto.

Em nossas experiências, ouvimos muito também sobre diferenças de vida na roça e na cidade. Fiz, inclusive, um recorte no trabalho, para que trabalhássemos o passado e o presente, a vida na roça e na cidade e, principalmente, a vida no morro, que é a realidade das nossas crianças. Para isso, apresentei algumas obras do artista plástico carioca Heitor dos Prazeres, cujas obras trazem cenas da vida no morro. 

Destaques da experiência

Houve participação intensa dos pais em quatro momentos: duas reuniões sobre o desenvolvimento das crianças e duas atividades com as crianças na sala de aula, vivenciando ações do projeto. O retorno das atividades enviadas para casa também foi satisfatório.

Quando conseguimos mostrar às famílias os nossos objetivos e o que queríamos com o trabalho pedagógico, conquistamos sua confiança e estabelecemos um clima favorável e de parceria.


O incentivo à leitura, valorizando a cultura sul-mato-grossense para crianças da Educação Infantil

Esta prática teve como objetivo ampliar e valorizar a cultura sul-mato-grossense, apresentando às crianças escritores regionais e suas obras e estimular a leitura de forma prazerosa.

Quando:

De fevereiro a maio de 2018.

Materiais:
  • acervo literário de autores sul-mato-grossenses;
  • folhas de registros de produção das crianças;
  • desenhos;
  • jogos.
Habilidades trabalhadas:

EI02EF07; EI02EF08; EI02EF03; EI02EF04; EI02EF05; EI02EO02;

Professor(a) responsável:

Suellen da Costa Simões.

Escola:

CEINF Paulo Siufi, Campo Grande (MS).

O que é:

Projeto de incentivo à leitura e valorização da cultura sul-mato-grossense, contextualizando experiências próximas da realidade das crianças de três anos, tornando mais prazerosos e significativos os momentos de interação e ampliando seus conhecimentos sobre os assuntos abordados.

Como fazer:

Fizemos um levantamento de autores que poderiam colaborar com o projeto. Nossa visão era de que deveria ser algo que, realmente, despertasse o interesse da turma. Encontramos nas obras da escritora Mara Calvis uma leitura prazerosa, que atendia à faixa etária e apresentava conhecimentos sobre a nossa terra, de forma lúdica e envolvente.

Desenvolvemos, então, um projeto de investigação e de leitura de histórias para que crianças pequenas conhecessem a forma de viver, pensar e agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas, a fim de estabelecer relações com seu grupo social.

O projeto “Dê asas à sua imaginação: Mara Calvis” criou momentos de incentivo à leitura pela valorização dos escritores do Mato Grosso do Sul e também pelo estímulo à linguagem oral das crianc¸as, num trabalho de construção do hábito de ouvir e de sentir prazer nas rodas de leitura. Também orientamos as crianças em relação ao cuidado que deveriam ter ao manusear os livros.

Realizamos ainda rodas de leitura para conhecer as obras da autora, confeccionamos jogos sobre os temas, criamos dramatizações, incentivamos as crianças a registrarem a experiência em desenhos, pinturas e colagens e promovemos seu contato com paisagens do Mato Grosso do Sul, por meio de passeios.

O ponto alto do projeto foi a realização da "Mostra Cultural", momento em que todas as turmas divulgaram suas produções para familiares e a comunidade. A avaliação do desempenho foi individual, por meio da observação e da elaboração de relatórios pelo professor. 

Outras ideias para colocar em prática

Para o desenvolvimento de um projeto similar, é importante que sejam feitas referências às características da cultura local, relacionando-as às experiências de vida das crianças.

Se a ideia é fazer, por exemplo, que as crianças pesquisem e explorem características da paisagem e dos modos de viver dos povos do Mato Grosso do Sul, uma forma de iniciar a investigação é convidar à escola pais e avós, para contarem suas histórias de vida na região.

Esses encontros podem ser registrados em textos produzidos pelas próprias crianças e ditados à professora, visando à criação de um portfólio ou de um caderno de pesquisa.

Pode ser interessante solicitar às famílias que emprestem objetos, instrumentos musicais, CDs, fotografias das paisagens e dos animais e outros tipos de referências da cultura sul-mato-grossense.

Pode-se pensar, ainda, na criação de um cenário para que as crianças brinquem com objetos, roupas, imagens e outros elementos da cultura local, ampliando as fontes de pesquisa e exploração.

Inspiradas nos materiais coletados e no painel da sala, as crianças também terão elementos para construir novos materiais e acessórios para suas brincadeiras de faz-de-conta relacionadas à temática do projeto. 


Boião literário no berçário

Contações de histórias que exploram as diferentes linguagens no contexto escolar e explicitam recursos lúdicos, principalmente os livros, com o propósito de favorecer momentos de prazer em socialização.

Quando:

Durante todo o ano letivo, com as leituras e as contações de histórias sendo trabalhadas pelo professor uma a duas vezes por semana.

Materiais:
  • piscina inflável;
  • almofadas;
  • livros de pano;
  • livros 3D;
  • fantoches.
Habilidades trabalhadas:

EI01EO01; EI01EO03; EI01EF03; EI01EF07; EI01EF08; EI01CG02; EI01EF06; EI01ET03;

Professor(a) responsável:

Kiaria Cavalcante Da Silva.

Escola:

Creche Renato Lucena Nóbrega, João Pessoa (PB)

O que é:

O boião é uma piscina inflável que serve como instrumento para apresentar livros, brinquedos e algumas bolinhas coloridas, favorecendo a interação das crianças com os livros, que ficam à disposição durante a realização das contações de histórias. Com isso, tem-se um ambiente aconchegante, que transmite a sensação de segurança e oferece o direito de exploração.

Como fazer:

As etapas do trabalho foram, inicialmente, a investigação e a avaliação da turma, levantando o que, de fato, os alunos já sabiam e o que ainda não sabiam. A turma do berçário I é esperta; superadas as dificuldades no período da adaptação dos bebês, notamos avanços em seu desenvolvimento.

Quando entram na instituição, os bebês têm entre seis meses e um ano e três meses de idade. Portanto, ainda não falam, têm pouco equilíbrio e reduzida coordenação motora. Nesse contexto, é importante desenvolver a oralidade, a atenção, a interação com o professor e a turma e a curiosidade em explorar e conhecer o novo.

As etapas seguintes do projeto foram encadeadas de acordo com as dificuldades encontradas nas crianças. A interação foi promovida pela curiosidade delas em querer explorar os diversos livros, brinquedos e materiais lúdicos.

Durante a contação de história, atuei em parceria com as minhas ajudantes de sala de aula. Com apoio delas, percebi que as crianças se sentiam seguras.

Trabalhamos os seguintes aspectos: criatividade, percepção visual e auditiva, expressão oral, movimentos, gestos e equilíbrio (quando o bebê entra e sai do boião).

Um dos momentos significativos foi a interação e a atenção que foram sendo construídas apesar das dificuldades iniciais. Outro momento significativo foi ver as crianças desenvolverem a linguagem oral, pela fala e pelos gestos.

As estratégias utilizadas foram, inicialmente, mostrar os brinquedos e as bolinhas coloridas, para, em seguida, deixar as crianças manusearem os livros e os brinquedos. Após essa interação, procurei fazer contações de história com os bebês dentro do boião literário, onde eles observavam os livros e os materiais lúdicos.

A partir dessas estratégias, trabalhei vários aspectos da diversidade, dentre eles:

1

saber conviver com o próximo, respeitando o seu tempo, seu limite e as diferenças;

2

desenvolver a socialização, em que bebês trocavam objetos e livros;

3

produzir e explorar materiais didáticos que valorizassem o companheirismo e as diferenças, visando a uma convivência sadia e prazerosa.

Fizemos algumas adaptações no início do projeto. Os obstáculos foram contornados com muita paciência, em busca dos ajustes necessários.

Os momentos mais significativos foram os de desenvolvimento dos bebês, quando eles passaram a interagir, a mostrar objetos e figuras e a falar pequenas palavras.

Confesso que, nos primeiros dias do projeto, senti um pouco de dificuldade com a leitura e a contação de história no Berçário I, com os bebês dentro do boião literário.

Isso porque eles estavam tão interessados em explorar os livros, os brinquedos e as bolinhas coloridas que não conseguiam prestar atenção nas histórias. Eles queriam olhar e explorar, mexer em tudo o que estava dentro do boião, jogar os brinquedos e os livros pelo chão, subir e descer.

Passei, então, a separar alguns livros. Coloquei uns dentro do cantinho da leitura e outros deixei no boião. Também separei algumas bolinhas e alguns brinquedos.

Percebi alguns bebês com dificuldades em prestar atenção, com incapacidade de se adaptarem e com propensão ao choro. Mas também vi outros já plenamente adaptados, começando a falar e sem chorar. Notei ainda que a diversidade de conhecimentos da turma era grande. Por isso, precisaria adaptar as contações de histórias.

Outras ideias para colocar em prática

Depois da etapa inicial de exploração da diversidade de materiais, é interessante organizar, no boião, materiais específicos, visando aprofundar o direito dos bebês de aprenderem e se desenvolverem, por meios cada vez mais sofisticados de exploração dos objetos.

Isso pode ser feito separando as sessões de exploração de brinquedos por tipos de objetos, como livros e materiais não estruturados para apoio ao jogo heurístico.

Os brinquedos e os demais materiais podem ser explorados autonomamente pelas crianças, mesmo porque a piscina inflável adaptada como ambiente de exploração possibilita a interação em pequenos grupos com segurança.

Já a exploração dos livros deve ser acompanhada pelos adultos, a fim de dar aos bebês um bom modelo de formas socialmente aceitas de exploração do livro, que é algo bem diferente do que ocorre com os demais brinquedos.

A escolha do acervo de exploração deve levar em conta não somente sua durabilidade, mas, principalmente, a qualidade literária.

É importante oferecer livros que contemplem narrativas, que sejam ricamente ilustrados e que ofereçam às crianças elementos para recontarem as histórias.

Outra dica importante é sempre disponibilizar, para o manuseio dos bebês e das crianças bem pequenas, os livros que acabaram de ser lidos pelo professor ou professora, assegurando, assim, um contexto mais favorável à imitação imediata.

Por fim, recomenda-se que, organizada dessa forma, de acordo com diferentes categorias de materiais, a leitura seja explorada, no mínimo, diariamente, uma vez que as narrativas das histórias têm papel importante no desenvolvimento da fala, da escuta, do pensamento e da imaginação, campos de experiências fundamentais para o desenvolvimento da linguagem nessa fase da vida. 


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