"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

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Jornal, recurso para aprender gêneros textuais

Área(s): Linguagens.

Esta prática teve como objetivo promover a aprendizagem dos diferentes gêneros textuais presentes no jornal.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Durante o ano letivo.

Materiais:
  • textos de diversos gêneros;
  • jornais (locais, estaduais ou nacionais);
  • computador;
  • folhas de papel.
Habilidades trabalhadas:
EF04LP16; EF35LP16; EF04LP14; EF35LP21; EF35LP26; EF35LP23; EF03LP16; EF05LP10;
Professor(a) responsável:
Marilice Fernandes Heidemann.

Escola:
Escola Municipal de Ensino Fundamental Albano Kanzler, Jaraguá do Sul (SC).

O que é:

A proposta pedagógica da rede municipal de educação diz que os professores de Língua Portuguesa podem desenvolver os seguintes conteúdos dos gêneros textuais: poemas, crônicas, notícias, reportagens, textos científicos, receitas, histórias em quadrinhos, charges, propagandas, classificados, encartes de preços, jogos interativos, lúdicos e pedagógicos (como sudoku), cruzadinhas e jogos dos sete erros.

Diante desse desafio, a minha preocupação era desenvolver esses conteúdos de forma interessante, sabendo que os alunos apresentavam muita resistência para ler e escrever.

Então, um recurso apareceu como um presente. A mãe de uma aluna enviou para a turma exemplares de jornais. Esse presente se tornou o nosso pote de ouro para a aprendizagem, pois analisando os jornais, percebi o quanto eles transbordavam gêneros textuais e o quanto poderiam ser valiosos. Portanto, a partir deles, busquei desenvolver os diversos gêneros textuais com os alunos.

Parti para a definição do que aquele recurso poderia ajudar na aprendizagem. Ele seria a finalização do nosso projeto? Seria um material para análise e incorporação de diversos gêneros textuais? Seria um material para escrita e reescrita de gêneros textuais?

Elenquei os conteúdos que deveriam ser trabalhados e outros que constantemente devíamos recapitular, na perspectiva linguística. Foram eles:

  • poema: composições em versos, sua distribuição na página e escrita;
  • notícia: sobre a própria escrita, a busca pela informação sobre suas partes e como escrevê-la;
  • reportagem: suas diversas fontes como pesquisas, entrevistas e investigação de acontecimentos, assim como suas formas de escritas;
  • crônica: como entendê-la, interpretá-la e escrevê-la;
  • informações científicas: como desenvolvê-las por meio da pesquisa;
  • receitas: como envolver-se com esse gênero e sua forma de escrita;
  • história em quadrinhos: criação e forma de expressão;
  • charge: interpretação da forma sátira de ilustração;
  • cruzadinhas: formas de passatempo, como sudoku e jogo dos sete erros.

Conversei com os alunos sobre o que eles conheciam desses gêneros. Com base nos conhecimentos prévios, pedi a eles que escrevessem seus primeiros textos.

Partimos para a produção coletiva. Procurei incentivá-los, organizando as falas e coordenando o grupo. Os alunos compararam os textos e, em seguida, reescreveram os conteúdos individualmente, revisando-os e os aprimorando, para fins de publicação.

Dividi os alunos para as pesquisas sobre os gêneros textuais notícia, reportagens, crônicas. Levei-os ao Núcleo de Tecnologia Municipal, onde lemos textos de alguns autores. Analisamos a parte gramatical: como o autor escreve cada parágrafo, qual enfoque dado e as características específicas de cada gênero textual.

Li os gêneros textuais, tentando passar o máximo de emoção possível, pois acredito que leitura e escrita vêm do coração, da vivência e da emoção.

Também foi realizado um trabalho com os outros gêneros textuais. Analisamos vários livros e autores de histórias em quadrinhos (gibis).

Em relação a eles, mudamos um pouco a estratégia de trabalho, transformando as histórias em quadrinhos em textos escritos e vice-versa, fazendo com que os alunos percebessem diferentes maneiras de narração da história.

Olhamos jornais da cidade e do estado para analisar sua organização (cadernos de esporte, economia, política etc.). Também avaliamos alguns suplementos infantis, a fim de perceber sua importância para a aprendizagem, sua estética, seus temas. Produzimos um suplemento para o jornal da cidade.

Como fazer:

No início do ano, recebi uma turma criativa e questionadora que demonstrava uma agitação equilibrada, e com fome de aprender. Eu não podia deixar isso morrer. Mesmo os alunos com dificuldade de compreensão e interpretação sentiam necessidade de seguir a maioria dos colegas, tentando correr atrás do prejuízo, com auxílio de recursos extras e explicação paralela.

Mas, ao fazer uma sondagem de escrita e leitura (oral e ficha de leitura de livros), percebi o quanto os alunos não participavam da ação da leitura, pois demonstravam não gostar de ler. Somente se envolviam com o necessário, fazendo de conta que tinham lido os livros ou os textos entregues.

Conversei com as professoras do ano anterior, com a coordenadora de ensino e com as bibliotecárias, buscando subsídios sobre o perfil de cada aluno. Nossa escola tem um acervo grande de livros infantis e juvenis, o que não era uma fonte rara. Se tínhamos diversos livros para os alunos, o que faltava?

Então, como já disse, a mãe de uma aluna enviou de presente para a turma exemplares de um jornal a fim de divulgar seu trabalho. Usei os exemplares para desenvolver, com os alunos, os gêneros textuais. Assim, surgiram diversas ações. Relacionei os conteúdos, organizei os gêneros textuais e fiz uma projeção do tempo de trabalho e dos recursos disponíveis.

Iniciei o trabalho com poemas (seis diversos temas, sua construção e suas formas de escrita).

Com as histórias em quadrinhos, fiz um trabalho didático e lúdico, com grande envolvimento dos alunos. Apresentei um breve histórico dos quadrinhos, as histórias nos jornais locais (o uso do humor e da ironia), o gosto pelos personagens, o uso da onomatopeia, os diversos usos de balões para transmitir as falas e a construção da história descritiva e transformada em quadrinhos.

Os alunos transformaram histórias em quadrinhos em textos escritos e vice-versa. Assim, perceberam diferentes maneiras de narração da história. Nas receitas culinárias, houve um trabalho cooperativo com as famílias. Os alunos trouxeram receitas culinárias caseiras, regionais, feitas em casa. Os contos, por sua vez, foram registrados em caderno, anexados em apostila ou colados em murais.

Todos esses gêneros textuais tiveram um desenvolvimento didático buscando despertar interesse e que os alunos conseguissem identificar seus usos nos jornais locais.

Desenvolvi, então, o estudo mais complexo da formação do jornal. Iniciei, com o apoio do livro didático, o trabalho com notícias e sobre sua formação para a escrita. Recortamos notícias para a leitura. Debatemos, interpretamos e comparamos com a aprendizagem do livro.

Os alunos pintaram partes de uma notícia: manchete, olho, lead e desenvolvimento, reconhecendo como estava escrita cada parte, para, depois, reescrevê-la com sua interpretação. Após, fizeram um mural com as notícias trabalhadas.

Os alunos também escreveram notícias de fatos narrados por jornais da TV e as apresentaram para a turma, num noticiário imaginário, confeccionado com caixas pelos próprios alunos.

Trabalhei também com a elaboração de cartões. Propus que fossem confeccionados como uma capa de jornal idêntica ao jornal da cidade, parceiro de nosso trabalho, utilizando saudações de carinho e agradecimentos pela parceria. Utilizamos diversos tipos de linhas, cores e texturas.

Parti para outra aprendizagem, segundo o direcionamento do livro didático e de materiais de apoio como os livros da "Olimpíada de Língua Portuguesa".

A missão seria produzir uma crônica, gênero textual narrativo que tem por base fatos do cotidiano, com uma visão própria do escritor.

Os alunos procuraram reconhecer, numa crônica, a visão do autor, seu comentário e sua interpretação de algo acontecido no dia a dia. Realizei leituras semanais de crônicas de jornais e de livros.

Propus a aprendizagem da reportagem. Trabalhei com duplas. Escolhemos temas diversos e fomos pesquisar no Núcleo de Tecnologia do Município (NTM).

Para reforçar o interesse dos alunos pela leitura e escrita dos gêneros textuais, passei para a etapa de organização do esboço do jornal que cada dupla iria fazer. Trabalhei com eles o nome do jornal, a data, a edição, o editorial, o ano e o número.

Os alunos pegaram folhas de jornal e colaram papéis em branco em cima das diversas matérias já existentes e produzidas em diferentes gêneros.

O objetivo era digitar e imprimir os diversos gêneros textuais trabalhados em classe e colar nas folhas do jornal. Não havendo possibilidade de digitação, deveriam escrever seus textos à mão, em letra script.

Programei uma visita ao jornal parceiro, para que a turma conhecesse a redação e fosse incentivada a dar continuidade ao trabalho. Os alunos entrevistaram a dona do jornal, editores, repórteres e fotógrafo.

Perguntaram sobre todas as etapas que envolvem a produção de um jornal até chegar às mãos dos leitores. Por fim, dedicaram atenção especial ao diagramador, para entender como colocar toda a informação colhida num pedaço de papel que, após a impressão, vira jornal.

Depois de ver o interesse dos alunos e o material do trabalho que estávamos realizando na escola, a dona do jornal lançou um desafio para a classe: escrever um suplemento "Kids", que seria editado no mês de novembro.

De início, a responsabilidade pesou, pois eu sabia o quanto de conteúdos tínhamos ainda para trabalhar.

Demos a nossa palavra sabendo que o trabalho tinha de ser cumprido! Continuar o processo de ensino e aprendizagem e finalizar daquela maneira. Esta seria a nossa joia, o nosso pote de ouro!

Analisei o tempo que tínhamos e o que poderíamos colocar no suplemento. Mas ainda era pouco diante do número de páginas que o jornal havia ofertado para a realização do nosso trabalho.

Além disso, todos os gêneros textuais trabalhados na turma passariam por uma seleção. O alcance do nosso jornal seria maior: não estava mais delimitado à sala de aula, mas se estenderia aos leitores de cinco municípios, onde o jornal seria distribuído.

Portanto, a melhor forma de arcar com essa responsabilidade seria contemplar gêneros textuais que interessassem aos leitores do jornal.

Buscamos também conhecer a opinião de colegas do 3º e do 4º anos, além da outra turma do 5º ano. Conversei com a classe e registramos o que precisávamos saber. Definimos que faríamos uma única pergunta aos colegas da escola: "O que você gostaria de ler e ver num suplemento de jornal para criança e adolescente?"

Com isso, a turma percebeu também a importância da participação coletiva e do compartilhamento do ensino e da aprendizagem com outros colegas. Os alunos das outras classes adoraram participar, sentindo-se importantes por darem suas opiniões.

Tabulamos as respostas usando gráficos de colunas. O resultado deu uma nova perspectiva ao trabalho.

Surgiram sugestões de textos sobre games, moda, animais e a escola. Recebemos também ideias de inclusão de desenhos para pintar e de dicas de livros. Refiz a organização das datas, as estratégias de atividades e a previsão de recursos para o trabalho.

Depois de uma intensa aprendizagem, distribuímos nossos gêneros textuais entre as duplas.. Fizemos uma exposição para análise dos grupos, buscando o que era melhor para inclusão no suplemento final.

Fizemos, então, cópias dos gêneros textuais escolhidos. O protótipo do nosso jornal surgiu com o nome "Eduk Kids", escolhido também em votação a partir dos títulos dos suplementos criados pelas duplas e de pesquisas extras.

Com nossa joia pronta, levei-a ao jornal parceiro. Uma semana depois, recebemos o "boneco" do suplemento para análise e leituras de correção. Corrigido e pronto, o "Eduk Kids" foi enviado para a redação e, por fim, para a diagramação e impressão.

Recebemos o jornal uma semana depois. O suplemento mereceu chamada na capa. Gritos, palmas, parabéns e muita emoção. Nosso trabalho estava pronto, e em forma de jornal! Era o trabalho de um grupo, do 5º ano, mas com a participação de colegas professores e alunos das outras classes. Processo de ensino e aprendizagem gerando emoção e garantindo conhecimento!

A turma foi de sala em sala para entregar o jornal para cada aluno. Mas o trabalho não parou. Fizemos ainda um cartão de agradecimento para o jornal parceiro, torcendo para que o projeto tomasse corpo em outras escolas, para divulgação dos seus trabalhos.

Nós nos comprometemos a continuar trabalhando com gêneros textuais no ano seguinte e criar um novo suplemento.

Utilizei na avaliação do projeto as provas escritas (com e sem consulta), a produção escrita dos alunos em diferentes gêneros textuais, as planilhas com a avaliação do professor sobre o trabalho diário, a atuação dos grupos, a visita ao jornal etc. O professor também registrou a autoavaliação oral dos alunos a respeito.

Dica!

Para executar o projeto, realizei algumas leituras.

Em primeiro lugar, busquei nossa Proposta Curricular, fonte interna da escola em que estão determinados os conteúdos de trabalho para cada ano.

Também estudei os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, as diretrizes da parte linguística, gramatical e ortográfica dos gêneros textuais que seriam trabalhados.

Busquei livros sobre didática, avaliação e estratégias de ensino, bem como pesquisei textos informativos no site da Nova Escola e no Portal do Professor.

Lembrei-me dos Cadernos do Professor da coleção "Olímpiada de Língua Portuguesa - Escrevendo o Futuro" e corri até a biblioteca da escola.

Estudei e mapeei os gêneros textuais que seriam trabalhados, segundo nosso plano de curso, e analisei o livro didático para elencar o que ele poderia oferecer ao nosso projeto.


Nós somos o Brasil!

Área(s): Linguagens.

Esta prática se propôs a incentivar o diálogo acerca da formação de mediadores de leitura com o objetivo de conhecer os alunos e seus interesses, a partir da apresentação dos livros, em toda sua magia e criação. Além disso, tornar possível a produção textual, para que os alunos pudessem dar asas à imaginação, tornando-se não só leitores, mas também escritores.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Durante o ano letivo.

Materiais:

Livros e filmes diversos.

Habilidades trabalhadas:
EF15LP01; EF15LP02; EF15LP05; EF15LP09; EF15LP10; EF15LP15
Professor(a) responsável:
Bianca de Lima Maia.

Escola:
Escola Municipal Oswaldo Cruz – Municipalizada, Duque de Caxias (RJ).

O que é:

Foi proposta uma nova perspectiva de estudo de linguagem, por meio do projeto "Ateliê dos Jovens Escritores", com os alunos das turmas de 4º e 5º ano da Escola Municipal Oswaldo Cruz – Municipalizada no início do ano letivo de 2017.

Como fazer:

Nos primeiros contatos, após as leituras compartilhadas, os alunos foram incentivados a listar os lugares para onde já tinham ido e os locais que sabiam existir em seu município.

Em seguida, conversaram sobre esses lugares, citando o nome e a história deles. Perceberam, então, que conheciam muito pouco da cidade, e que seria necessária uma pesquisa mais profunda.

A biblioteca da escola tem um acervo muito escasso. Por isso, os alunos foram ao Centro Histórico de Duque de Caxias e à Biblioteca Leonel de Moura Brizola para pesquisarem sobre o município e a região em que ele se insere. Foram apresentados a filmes e a documentários sobre Duque de Caxias, o Rio de Janeiro e o Brasil.

Pesquisamos livros da literatura que falavam sobre o desenvolvimento social do Brasil. Nessas leituras, os alunos se identificaram muito com os poemas de Elisa Lucinda.

Vislumbrando o interesse nascente, apresentei o gênero textual "Poema" e propus a produção de pequenos versos sobre o tema trabalhado. O resultado foi surpreendente. Os primeiros poemas foram coletivos, com um aluno servindo de escriba para a turma.

Isso propiciou o compartilhamento de ideias e revisão da forma textual e da escrita. Com a consolidação da aprendizagem, começamos a elaborar atividades individuais e em pequenos grupos.

A partir das leituras, os alunos produziram ilustrações ou textos relacionados às temáticas abordadas, atribuindo prática aos valores sociais identificados.

Com isso, a escolha dos livros se transformou na ação de mais importância, pois, além do trabalho pedagógico, os aspectos sociais e históricos fizeram uma diferença muito grande na aprendizagem dos alunos.

A turma fez um resgate de suas raízes e conheceu outros alicerces culturais, juntando as informações numa construção de respeito e tolerância.

Foi proposta a utilização de um caderno de leitura e escrita como prática habitual. Nele, os alunos poderiam escrever sobre si mesmos, a comunidade e a família.

Depois de escreverem seus textos, os alunos faziam a revisão, sempre com auxílio de colegas e da professora, mas sem perspectiva de atribuição de notas ou minha correção direta. Cada aluno escolheu um gênero textual para compor a escrita.

No segundo momento, observei as diferentes "bagagens" sociais, emocionais e psicológicas dos alunos, atuando para que as suas ideias fossem debatidas e escutadas, na busca pela construção de um senso comum.

Por isso, é importante selecionar materiais contextualizados com as vivências dos alunos.

Diante da diversidade em nossa comunidade, surgiu a ideia de trabalharmos a pluralidade cultural do Brasil e de Duque de Caxias.

O contato com textos clássicos favoreceu a integração dos alunos com as ações produzidas pelo texto familiar, o que forneceu oportunidades de debates e de expressão de ideias, norteando o surgimento de novos interesses.

A história em suas diferentes formas está presente em nossa cultura há muito tempo, e o hábito de contá-la e ouvi-la tem inúmeros significados. Por isso, o gênero textual é um assunto que precisa ser inserido de forma dinâmica e fluida, embarcando o leitor nas muitas possibilidades de contar uma boa história.

A cultura regional e a nacional promoveram ações de pesquisa e produção sobre a criação do município de Duque de Caxias. Os habitantes, os índios e os negros também foram de grande importância para essa história.

Para tanto, estimular a leitura de autores brasileiros como Ruth Rocha, Daniel Munduruku, Ana Maria Machado, Machado de Assis e Patativa do Assaré torna a leitura significativa e contextualizada, pois suas obras trazem valores sociais e políticos, com personagens expressivos e realistas.

Outro ponto importante foi integrar a tecnologia como recurso pedagógico motivacional. E todos os alunos participaram ativamente das construções escritas. Quando os alunos não podiam fazer uso da coordenação motora ou verbal, suas produções verbais ou gestuais eram anotadas por um escriba (a professora ou um colega).

A importância de diversificar e ampliar o repertório de leitura nasceu da necessidade de obtermos novos significados e compreendermos as inúmeras interpretações que um mesmo texto pode invocar.

Cada turma teve sua própria manifestação expressiva em relação ao texto. Debatemos os significados e suas colocações, de acordo com o enredo exposto no texto, pois as palavras possuem variações na linguística regional e cada manifestação precisa ser respeitada na sua cultura.

Nesse contexto, o Currículo Nacional lembra que a educação não corresponde à exposição de conteúdos definidos de forma rígida. Se não observarmos os temas sociais e políticos que permeiam a sociedade, corremos o risco de levar os alunos à alienação.

Educar exige cuidado. Cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar, apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da água e do planeta.

As produções formaram um portfólio de ideias e opiniões de jovens brasileiros sobre a sociedade em que vivemos. Os professores que participavam do projeto ficaram emocionados com a qualidade dos escritos e com o avanço dos alunos.

Com o prosseguimento do projeto, os alunos reuniram-se e escolheram um título para a coletânea de textos que escreveram através de votação. O título ganhador foi “Nós Somos o Brasil!”, o que foi uma surpresa, pois ficou extremamente adequado ao momento cultural em que vivemos, quando precisamos vislumbrar a diversidade como matriz da sociedade brasileira.

A avaliação foi realizada de forma interativa e dinâmica, por meio da apresentação dos textos elaborados de forma individual ou coletiva. Cada turma teve seus textos anexados ao portfólio, para que, com os professores regentes, pudessem construir um conjunto de atividades para uso cotidiano em sala de aula.

As produções textuais foram revisadas individualmente e em grupo. Os alunos fizeram as revisões com auxílio de colegas e dos professores. Cada jovem foi ativamente responsável pelas edições de seu texto e pela conservação dos materiais pedagógicos utilizados no projeto.

O projeto integrou as diversas áreas de conhecimento, como produções textuais e leituras compartilhadas sobre a história do Brasil e regionalidades, exibições multimídias de músicas e filmes nacionais e internacionais, lendas folclóricas, poemas etc.

Saiba mais

O professor poderá produzir uma ação complementar baseada em leituras escolhidas espontaneamente pelos alunos. Poderá também criar uma caixa de livros e de todas as publicações que os alunos escolherem para ler no período do projeto.

O professor também poderá solicitar resenhas orais, o que levaria ao estímulo de leitura.


Encanto em (Re)conto

Área(s): Linguagens.

O objetivo desta prática foi desenvolver em todos os alunos da escola, incluindo os alunos especiais, o gosto pela leitura, incentivando-a e fazendo dela um processo de encanto e prazer.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Em qualquer época do ano.

Materiais:
  • livros;
  • DataShow;
  • vídeos;
  • cartazes com cópia das ilustrações dos livros aumentadas;
  • fantoches;
  • instrumentos musicais;
  • materiais para confecção de cenários e figurinos.
Habilidades trabalhadas:
EF15LP03; EF15LP04; EF15LP10; EF15LP15; EF15LP16; EF15LP19
Professor(a) responsável:
Albanice Ferreira da Silva.

Escola:
EC 54, Taguatinga (DF).

O que é:

Este projeto de (re)contação de histórias teve um longo caminho. Passou por duas etapas até chegar naquilo que o define:

A sala de leitura da escola tinha um espaço reduzido por causa de pilhas de livros acumulados desde a década de 1970. Era impossível localizar as obras solicitadas por professores e alunos.

Diante desse cenário, comecei, com as colegas da biblioteca, uma reestruturação do ambiente. Foram retiradas cinco toneladas de materiais recicláveis, que resultaram na compra de uma impressora e de um leitor de código de barras, totalmente necessários para a etapa seguinte do trabalho: a informatização;

Com o apoio da direção, adquiri um computador e um programa de automação de biblioteca, que nos possibilitou ter controle sobre o acervo, os empréstimos e as devoluções das obras. Conseguimos também confeccionar as carteirinhas dos leitores e as etiquetas dos livros, com códigos de barra, e produzir relatórios.

A informatização daquele setor influenciou diretamente na qualidade do serviço prestado, otimizando o processo de atendimento.

Em abril de 2017, propus um concurso de criação do nome e da logomarca da nossa biblioteca. Todas as crianças da escola tiveram a oportunidade de participar. A sala de leitura recebeu o nome “Biblioteca Ana Maria Machado”. Quem ganhou o concurso da logomarca foi uma aluna do 2º ano.

A reinauguração da biblioteca ocorreu em 27 de abril. A partir daquela data, começamos a emprestar obras literárias para todos os alunos e servidores e, também, a atender as turmas semanalmente.

Cada uma tinha um horário fixo de 30 minutos para leitura na biblioteca. Nós, professores readaptados, atuantes na sala de leitura, temos uma responsabilidade grande de dar suporte ao professor regente. Habitualmente, atendemos a mais de 750 alunos.

Certo dia, um aluno do primeiro período abriu um livro e ficou “lendo” as páginas de cabeça para baixo. Naquele momento, percebi que não bastava o trabalho que já tínhamos realizado, faltava ainda mediação e direcionamento.

Nasceu ali um novo projeto dentro de mim. Senti a necessidade de atrair as crianças não apenas para o espaço de leitura, mas à leitura em si.

Iniciei, então, um novo desafio: a contação de histórias, usando como referência datas comemorativas ou assuntos trabalhados em sala de aula, em diversas áreas do conhecimento.

A ideia era fazer com que, a partir das histórias, os alunos desenvolvessem atividades correlatas, como produção de textos, poemas e ilustrações ou a recontação das histórias por meio de dramatizações.

A contação e a (re)contação das histórias com temas diversificados despertam o gosto pela leitura, formam leitores em potencial, aguçam a criatividade e, ainda, dão aos alunos a oportunidade de se desenvolverem artisticamente. Com a dramatização das histórias, eles se tornam personagens, o que proporciona um envolvimento ainda maior com a literatura.

As peças teatrais utilizam cenários temáticos, figurinos e adereços feitos pela equipe da biblioteca. 

Como fazer:

Quando a Biblioteca Ana Maria Machado foi reinaugurada, fizemos a contação de uma história da autora. Foi o texto Menina Bonita do Laço de Fita. Realizamos também outras atividades diferenciadas, como contação de história com fantoches e exibição de filmes, entre eles, A menina que Odiava Livros, cuja história mostra que é possível viajar no mundo da leitura e adquirir conhecimentos diversos.

Naquele dia comemorativo, distribuí, ao final de cada sessão, potinhos de algodão doce para todos os alunos da escola.

Em outra oportunidade, foi exibido um vídeo que mostrava como se comportar adequadamente numa biblioteca e, ainda, como cuidar dos livros.

O vídeo atraiu a presença das crianças, o que ainda não era uma constante naquele ambiente. Os alunos da Educação Infantil, por exemplo, não frequentavam a biblioteca porque, nela, ainda não havia atividades voltadas a essa faixa etária.

Com o atendimento regular na sala de leitura, notamos que alguns alunos ainda se mostravam desinteressados pela leitura e que a maior parte dos professores não direcionava as atividades literárias para a biblioteca. 

Constatei ainda que os alunos apresentavam dificuldades para ler, compreender e interpretar textos diversos. Com a possibilidade de as crianças levarem livros para casa, alguns professores começaram a trabalhar com fichas literárias de avaliação do que havia sido apreendido.

A partir da observação do comportamento das turmas e dos registros de empréstimos de livros, verificamos quais obras já eram conhecidas pelas crianças e identificamos as preferências literárias de cada faixa etária.

Após a reinauguração, os alunos começaram a visitar a biblioteca mais vezes. Os professores, por seu turno, perceberam as diferenças no espaço físico e também a rapidez no atendimento às solicitações de obras e empréstimos, inclusive para compor a “Caixa Literária” da sala de aula.

Semestralmente, os professores escolhem, no acervo da biblioteca, livros do interesse e da faixa etária de suas turmas. Uma vez selecionados, passam a fazer parte da “Caixa Literária” que contém livros suficientes para todos os alunos.

O professor regente faz o rodízio das obras literárias, de forma que todos os alunos tenham a oportunidade de ler todos os livros da caixa.

Com isso, incentiva-se a prática de leitura não somente no espaço da biblioteca, mas também nas salas de aula e no cotidiano dos alunos, que podem levar os livros para casa.

As turmas de Educação Infantil começaram a frequentar a biblioteca, mas ainda não havia a leitura de histórias ou outras atividades direcionadas para elas. Para as crianças, o espaço era mais um playground, onde se entretinham sozinhas, em atividades sem nenhuma relação com leitura ou literatura.

No entanto, identifiquei que havia interesse delas em conhecer as histórias contidas nos livros. Isso ficou claro quando observei um menino de quatro anos abrir um livro de cabeça para baixo e folhear as páginas com um olhar de curiosidade.

Era necessário, então, acrescentar uma nova etapa ao trabalho de revitalização da biblioteca. Pensando, inicialmente, nas crianças não alfabetizadas, que ficavam naquele espaço, mas não tinham direcionamento e contato com a leitura, surgiu em mim o desejo de fazer algo que mudasse a realidade.

Esse desejo foi mais forte do que as minhas limitações funcionais, o medo, a insegurança e a dificuldade em lidar com ambientes tumultuados, barulhentos e estressantes.

Comecei, então, a organizar a contação de histórias. Fiz também uns cartazes com imagens do livro Clic-Clic, a máquina biruta do seu Olavo. Estudei bastante a história e comecei a maratona de contação para 44 turmas.

Os alunos se mostravam surpresos e receptivos quando percebiam que eu iria contar a história de um livro da nossa biblioteca, uma obra que tinha se transformado em um livro gigante.

Quando me encontravam pela escola, comentavam sobre a história e pediam para que eu contasse outra, numa próxima oportunidade. Isso foi um grande incentivo.

Comecei a pensar na próxima contação. Como estava perto do "Dia dos Namorados", considerei contar uma história de amor que abordasse um tema de relevância para eles. Escolhi uma história leve e envolvente que abordava a aceitação das diferenças. Para essa contação, fiz um teatrinho de fantoches com palitos.

Na sequência, deparei-me com mais uma dificuldade: vários alunos especiais não estavam sendo alcançados pelas atividades. Pedi orientação aos professores especializados nesse atendimento e a resposta que obtive foi desanimadora. "É assim, mesmo", diziam. Parecia que eles não estavam prestando atenção. Mas eu acreditava que, em algum momento, esses professores ainda teriam um insight.

Chegou agosto. A escola estava perto das comemorações pela "Semana do Folclore". Resolvi, então, contar a Festa no Céu, representar o personagem "Senhor Urubu" e ainda cantar uma música sobre a história.

Vesti-me com roupa preta, coloquei um chapéu preto e levei meu violão e uma tartaruga de pelúcia. Toquei e cantei uma versão mais compacta da música da tartaruguinha.

Fiz uma contação diferenciada, mas bem simples, para os alunos especiais. Percebi que estavam entendendo. Houve interação com a história, a ponto de uma aluna tentar salvar a tartaruga na parte do enredo em que o "Senhor Urubu" a lançava pelos ares. Depois, uma das professoras me disse que as crianças haviam pedido para que eu recontasse a história na sala de aula.

A partir dali, comecei a pensar numa forma para que os alunos participassem das histórias como personagens.

Em setembro, ocorreria a "Feira de Ciências", com o tema "Família". Pedi ajuda à equipe para que montássemos o cenário de um jardim e fizéssemos os figurinos de joaninhas (mãe e filha), formiga e besouro, dentre outros, para a história Procura-se um Lar.

Contei com a ajuda de uma colega. À medida que a história ia sendo contada, os alunos iam dramatizando as cenas. Foram várias apresentações e, em todas, houve a participação de, pelo menos, um aluno especial por grupo.

A dramatização da história e a possibilidade de serem personagens geram nos alunos um envolvimento ainda maior com a literatura.

Essas práticas levam as crianças a interagir e a se relacionar umas com as outras, aprendendo a respeitar as individualidades e a diversidade. O aluno, que é protagonista nesse processo, desenvolve seu potencial criativo como coautor das histórias e ainda fortalece o companheirismo na realização das atividades.

Em outubro, com o conto oriental A Semente da Verdade, abordamos preservação da natureza, cuidado com o planeta, diversidade cultural e valores éticos. O cenário e os figurinos remetiam à cultura chinesa. Foram entregues a todos os alunos da escola sementes de girassol para que fossem plantadas.

Em novembro, começamos os ensaios para as apresentações de fim de ano. Mesclamos música, literatura e teatro. O resultado foi a "Contata de Natal", que uniria contação de histórias e música.

Ensaiei quatro grandes grupos, que se apresentaram para toda a escola. Cada aluno ganhou uma varinha de neon que brilha no escuro. Ao final das apresentações, o ambiente escurecia e as luzes brilhavam.

Abrimos a nova temporada de contação de histórias, em 2018, com Faniquito e Siricutico no Mosquito, que, de forma bem-humorada, ensinou as crianças a usar as palavras mágicas da boa educação.

Contei essa história explorando sua musicalidade e sua poesia. Utilizei um pandeiro com frases de efeito, que todos aprenderam e utilizaram depois em todas as recontações.

Confeccionamos um painel e personagens colados em palitos. Num segundo momento, houve a recontação da história por todas as turmas, em seus respectivos horários.

Propus aos alunos que fizessem produções de textos a partir daquela contação. Alguns mudaram o final da história, outros fizeram resumo. Algumas crianças citaram a parte de que mais tinham gostado. Houve até uma aluna que produziu uma poesia, contando a história em rimas.

Filmamos todas as turmas para editarmos um vídeo, valorizando o trabalho executado. Postei o conteúdo no meu canal do YouTube para conhecimento de toda a escola e da comunidade. Por fim, dois grupos, um do turno matutino e outro do vespertino, foram escolhidos para apresentar à escola a peça teatral "Faniquito e Siricutico no Mosquito".

Recebi várias mensagens do grupo da escola depois dessas apresentações. Uma professora do 2º ano escreveu: "Obrigada pela iniciativa. Esses momentos são tão valorosos! Às vezes deixamos passar despercebidos, por conta da preocupação com o conteúdo que temos que vencer. Quando alguém toma a iniciativa, temos que aproveitar ao máximo". 

Outra professora, de ensino especial, enviou a seguinte mensagem para a equipe da biblioteca: "O quanto os nossos pequenos, apesar das especificidades deles, ficaram atentos, as gargalhadas de Bruna e Vitinho foram um feedback do quanto amaram. Fernandinha até colocou a história na cartinha que escreve diariamente para a mãe. Lindo trabalho, garotas!”.

Recebi também a visita de uma aluna de classe especial que costumava dizer “não” para qualquer pergunta. Dessa vez, ela entrou na biblioteca fora do seu horário de atendimento, sentou-se no tapete e ficou olhando para mim, acenando um joia com o polegar. Entendi essa atitude como um "sim", estou pronta para ouvir. Conte-me a história.

A avaliação também faz parte do “como fazer”. Ela foi muito importante em meu processo. Segundo Luckesi, "avaliar é um meio de tornar os atos de ensinar e aprender produtivos e satisfatórios, e para isso ocorrer, é preciso associar a avaliação à prática pedagógica do professor".

A avaliação da prática pedagógica deve ser um processo contínuo. Desde o primeiro momento de ensino-aprendizagem, já é possível fazer uma investigação e buscar possíveis soluções para as dificuldades encontradas.

Na execução de um projeto tão grande e árduo, busquei em todas as etapas possibilidades novas de melhorar o meu trabalho.

Antes da reestruturação da biblioteca, os alunos especiais e os alunos de Educação Infantil não tinham acesso àquele espaço. Com a reinauguração da sala de leitura, todos os alunos da escola puderam frequentar a biblioteca. 

Ao deparar com uma criança ainda não alfabetizada tentando entender o que continha em um livro, encontrei a solução na contação de histórias.

Em outro momento, observei que não era necessário apenas ter sensibilidade para lidar com as diferenças, mas também usar estratégias com criatividade para entrar no universo dos alunos especiais.

Certo dia, estava passando num dos corredores da escola e vi, afixado no mural da porta da sala de aula do 3º ano, um desenho de nossa biblioteca.

Aquele desenho retratava uma biblioteca com vários livros organizados nas estantes e um tapete representando um cantinho da leitura.

Havia ainda um personagem vivo sobrevoando a sala de leitura. Era um inseto bonito, grande, com asas enormes, representando um personagem de alguma história.

Percebi que aquele desenho era, de alguma forma, uma avaliação positiva do trabalho desenvolvido. O desenho de um personagem literário habitando a sala de leitura me fez perceber quão vívida a leitura havia se tornado para aquela criança.

Com base no relatório de empréstimo de livros, observei aumento no interesse pela leitura. O objetivo principal, que era incentivar a leitura, estava sendo alcançado de forma processual.

A participação crescente dos alunos nas recontações da história também foi um feedback importantíssimo para mim. Antes, os alunos do 4º e 5º anos, principalmente, mostravam-se arredios e com receio das críticas dos colegas nas apresentações. No entanto, timidamente, começaram a participar e, hoje, vários alunos dessa faixa etária me procuram antes mesmo da contação para dizer que querem participar como personagens da história.

Sempre ao final de cada contação, eu avaliava o processo para ver o que poderia ser melhorado. Assim, ao longo do tempo, fiz mudanças para aperfeiçoar o meu trabalho e gerar nos alunos mais interesse e encanto.

Comecei a buscar alternativas para sempre inovar na contação das histórias. Inseri cenários e músicas, usei bichos de pelúcia e fantoches de palito e toquei instrumentos musicais como violão e pandeiro.

Para maior envolvimento dos alunos, propus a eles que fizessem dramatizações, o que possibilitou a expressão artística, cênica e musical.

Dessa forma, os alunos se tornaram protagonistas, sentindo-se parte de tudo o que estava acontecendo. Passaram também a ter um maior envolvimento com os livros literários.

Os alunos participaram de reflexões sobre temas relevantes explorados nas histórias, como a aceitação das diferenças, a valorização do meio ambiente, a preservação do planeta, as diferenças de culturas, os valores éticos e a amizade.

Com o intuito de perceber o que os alunos estavam apreendendo, propus atividades diversificadas, como ilustrações das histórias e produções de textos. Assim, eles demonstraram o que haviam compreendido de uma obra, de qual personagem haviam mais gostado ou, ainda, a parte de uma história que mais tinha chamado sua atenção.

A recontação da história, de forma geral, estimula a participação e promove integração e amizade entre os alunos. Na apresentação da peça teatral "Faniquito e Siricutico no Mosquito, que foi feita para toda a escola, os personagens da história foram representados por alunos que pertenciam a turmas diferentes.

Dessa maneira, essa recontação com dramatizações gerou uma integração das turmas e a interação de alunos que até então nem se conheciam.

A reação espontânea na hora da contação e a execução de tarefas para recontação das histórias foram um retorno imediato no processo avaliativo.

A produção de textos, especificamente, é um eficiente meio de avaliação do processo ensino-aprendizagem, pois, além de observar a leitura funcional dos alunos, possibilita sabermos mais sobre seu desempenho na linguagem escrita.

O trabalho precisa continuar para que siga estimulando e aperfeiçoando as práticas de leitura e escrita, além de desenvolver a imaginação e a criatividade.

Percebo também que preciso buscar aperfeiçoamentos diversos. Pretendo fazer cursos de contação de histórias, de imposição de voz e de recursos dramáticos que possam me auxiliar no processo. Quero continuar fazendo avaliações, a cada contação, que me levem a explorar novas possibilidades.

Como esse projeto de contação de histórias implicou um trabalho extenso e complexo, envolvendo 44 turmas da escola, fiquei bem sobrecarregada, às vezes.

Muitas vezes falta ao professor regente o entendimento de que a biblioteca é uma extensão da sala de aula e que é necessária sua intervenção para que tudo flua bem naquele espaço.

Ao longo do projeto, passei a contar com o auxílio das colegas e, dentro do possível, com a ajuda financeira da escola, ainda que eu tenha de investir recursos próprios para manter a iniciativa. Além disso, trabalho muito em casa para conseguir realizar todas as atividades.

Apesar disso, o dia da contação de história se tornou o meu melhor momento. Os alunos se aquietam para entrar num universo incomum. Eles se mostram atentos ao que tenho a dizer. Creio que o olhar diferenciado das crianças para a abordagem que faço dos livros seja o reflexo da minha paixão em realizar esse trabalho. A paixão é necessária!


Apaixonando leitores

Área(s): Linguagens.

Em face à realidade dura e de grandes desafios educacionais, surgiu o projeto “Apaixonando leitores” e, com ele, o anseio de provocar ações que despertassem o interesse dos alunos pelas aulas de Língua Portuguesa e oferecessem elementos adequados e significativos ao conhecimento e à interação escolar.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Não há um momento determinado para a realização do projeto.

Materiais:
  • DataShow;
  • caixa de som;
  • cartolina;
  • cartão;
  • material de sucata;
  • tinta;
  • E.V.A.;
  • telhas;
  • tecidos.
Habilidades trabalhadas:
EF15LP02; EF15LP03; EF15LP04; EF15LP09; EF15LP19; EF02LP26
Professor(a) responsável:
Willis Santana dos Santos.

Escola:
Escola Municipal Santa Fé, Teresina (PI).

O que é:

Nosso projeto surgiu de questionamentos dos alunos sobre por que deveriam ler os livros paradidáticos, estudar gramática e aprender os gêneros textuais. Eles não percebiam relação concreta entre o que era construído na classe e a vida cotidiana. Sentiam também uma ausência de valores humanos nas aulas. Os alunos não se sentiam motivados a aprender, e isso levava a baixos resultados.

Desse modo, resolvi partir da arte literária, das artes cênicas, da pintura, da escultura, e da música para oferecer acesso a um universo diferente, prazeroso, de boa execução e, acima de tudo, diferenciado nos resultados

O nome “Apaixonando leitores” veio do objetivo de fazer com que cada aluno se tornasse um apaixonado pela leitura e inspirasse outras pessoas. Em sua proposta, o projeto visou estabelecer relações entre teoria e prática e entre os conteúdos estudados em sala e o cotidiano dos alunos.

Mais especificamente, procurou oferecer meios para que os alunos acessassem os mais variados tipos de leitura e gêneros, envolvendo os alunos nas atividades sugeridas e, por meio delas, alargando horizontes pessoais e culturais, garantindo uma formação crítica e emancipadora.

“Apaixonando leitores” foi uma oportunidade de estímulo à leitura e instrumento para que os jovens percebessem que ler pode ser divertido e prazeroso, e não apenas uma obrigação.

Como fazer:

O diagnóstico cumpriu seu papel. Após um mês coletando informações a partir de avaliação escrita e oral, de conversas informais com alunos e pais e de anotações no diário de bordo, constatamos que a maioria dos alunos não dominava os conteúdos mínimos. Os alunos tinham dificuldades na leitura, na escrita e, consequentemente, na interpretação de textos.

Descobri que alguns viviam na pobreza extrema. Outros precisavam vender cheiro-verde à tarde para ajudar no sustento de casa. Havia alunos, ainda, que cuidavam dos irmãos mais novos. Conheci o caso de uma aluna que havia sido abusada pelo padrasto e a história de um garoto que tinha sido deixado aos cuidados da avó. Mas havia outros que moravam com os pais, eram assistidos, tinham o material necessário, moravam em casas de tijolo, diferenciando-se de grande parte do alunado. 

As crianças já tinham problemas em excesso. Eu não poderia deixar que a escola se tornasse um lugar onde nada de importante acontecia.

Mais do que transmitir conteúdos, eu precisava fazer com que os pequenos se vissem como pessoas importantes, que despertavam carinho, preocupação, cuidados e desejos de um futuro melhor

E isso poderia ser realizado se eles se enxergassem em poemas, letras de músicas etc. e em aulas pensadas para eles.

Depois de analisar o histórico escolar e familiar e os resultados dos diagnósticos, optei por uma abordagem que oferecesse intervenções pertinentes.

Para isso, recorri a metodologias que favorecessem seu desenvolvimento, mas que também respeitassem suas características individuais e necessidades, sempre com foco na leitura.

“Apaixonando leitores” consistiu na leitura de um livro e, posteriormente, na apresentação da obra aos colegas.

Após a leitura e a discussão da obra, os alunos foram desafiados a descobrir o nome do livro que seria tema da nossa aula. Um deles só seria lido após ter seu título descoberto, a partir das pistas.

Durante duas semanas, foram sendo colocados na sala diferentes pistas, como uma fechadura, xícaras, um coelho, cartas de baralho e um gato. Assim, prossegui até que a turma descobriu o nome do livro: Alice no País das Maravilhas.

Em meio às leituras, orientei os alunos a escolherem frases relacionadas a sucesso, felicidade etc. Frases estas que passaram, após discussão, a fazer parte da decoração da nossa sala.

Às sextas-feiras, na aula de recreação, fazíamos uma retrospectiva da leitura e uma reflexão do que tínhamos aprendido com a obra. Sempre encerrávamos a aula com uma frase de impacto. Às segundas-feiras, um cartaz era colocado em sala com a frase.

Ao término da leitura da obra, todos foram convidados para o “Chá da Alice”. Surgiu, então, um desafio: cada aluno deveria ler a obra para alguém, como havíamos feito durante aquele tempo, e fazer a pessoa se interessar pela história, além de convencê-la a ler para mais alguém, formando, assim, uma corrente de leitores apaixonados.

Inicialmente, o desafio foi escolher qual seria o livro, ler seu conteúdo e, posteriormente, motivar um colega de sala a fazer o mesmo. Por terem gostado da maneira como eu fazia as apresentações das obras, todos queriam mostrar seus dotes artísticos, bem como que estavam lendo aos amigos.

Na segunda etapa, a partir do momento da apresentação da segunda obra, já com maior domínio sobre o nervosismo, mais postura, entonação, dicção e alguns outros elementos necessários para se fazer bem entender, o aluno era desafiado a apresentar sua obra a colegas de outras séries.

Na oportunidade, tive de convencer um maior número de pessoas a se tornar leitores. Aceito o desafio, era acordado um momento para que a turma convidada fosse direcionada à nossa sala para ver algumas apresentações.

A exposição foi uma pequena amostra do que aconteceria até a finalização do projeto e dos resultados da turma, que alcançou as metas projetadas, graças ao redirecionamento dos conteúdos e dos esforços diários para se fazer sempre mais e melhor.

Sem perceber, os alunos ultrapassaram as barreiras que os impediam de alçar maiores voos. Por causa de suas conquistas, passaram a considerar a escola de outro jeito.

Da ideia à concretização do projeto, que se tornou grande graças às pessoas que o abraçaram, tivemos sempre o apoio e a colaboração da comunidade escolar – do agente de portaria ao diretor, de amigos professores a familiares e vizinhos, além dos responsáveis e dos próprios alunos, que contribuíram de forma significativa para a consolidação da iniciativa.

Nossos momentos cumpriram de maneira eficaz o seu propósito. As atividades desenvolvidas despertaram o interesse e fizeram com que todos os alunos da turma participassem.

Os exercícios propostos foram realizados com sucesso e, algumas vezes, em tempo menor do que havia sido planejado, comprovando, assim, a disposição dos alunos quando existem condições diferenciadas e quando se percebem como agentes ativos do meio em que estão inseridos.

As avaliações foram feitas por meio de instrumentos como provas, seminários, grupos de discussões e gincanas. A partir delas, constatei que a maioria das crianças alcançou os resultados esperados. Infelizmente, um aluno, talvez até pelas faltas frequentes, não conseguiu evoluir.

Senti a necessidade de informar a esse aluno sobre sua aprendizagem e ouvir dele o que precisaria ser feito para melhorar o processo. Também quis saber sobre suas dúvidas, seus anseios, e como ele interpretava os resultados obtidos.

Cabe ainda destacar a importância de planejar, realizar e avaliar de forma integrada a aprendizagem, num processo contínuo, no qual o sucesso e o erro são oportunidades de crescimento.

Em momentos lúdicos e dinâmicos, foi possível constatar que a aprendizagem se dá de maneira muito mais eficaz quando não é imposta.

Concluo este trabalho com a convicção de que fizemos o melhor possível, a partir das condições existentes. Sei, contudo, que muito pode ser feito e melhorado.

“Apaixonando leitores” é o resultado de uma prática que deu certo. Alguns professores da escola já abraçaram o projeto, com adaptações, obviamente.

Saiba mais

Educar requer um compromisso do educador com a tarefa de desvelar as raízes da própria prática. Os novos desafios exigem novas respostas e não apenas esforços duplicados para que sejam feitas as mesmas coisas.

Avaliar exige do educador uma postura transparente, coerente e ética, com a ressignificação holística do fazer pedagógico, do planejamento e da execução.

A avaliação que defendo valoriza a história de vida do aluno, suas experiências, seus conhecimentos, seus erros, seus questionamentos.

Avaliar exige que sejam estabelecidos critérios, que sejam criadas formas de registro, que seja oferecido feedback aos alunos e que seja dada a oportunidade para a formação reflexiva, por meio da avaliação contínua. Com isso, temos uma educação que ultrapassa os muros da escola.


De quem é este dinheiro

Área(s): Linguagens; Matemática; Ciências Humanas.

Esta prática se propôs a vincular assuntos das disciplinas de Matemática, História e Língua Portuguesa ao eixo interdisciplinar "Educação Financeira", desenvolvendo nos alunos a consciência do Sistema Monetário Brasileiro, a fim de construir uma atitude de planejamento, observação e interpretação da própria vida financeira.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
História, Matemática e Língua Portuguesa.

Quando:
Primeiro ou segundo semestre.

Materiais:
  • sala de informática;
  • material para confecção de cartazes;
  • materiais de uso cotidiano do aluno (lápis, caderno, régua, etc.).
Habilidades trabalhadas:
EF04HI01; EF04HI03; EF15LP01; EF15LP02; EF15LP04; EF15LP05; EF15LP06; EF15LP10; EF15LP18; EF04LP09; EF04LP20; EF05LP23; EF05LP24; EF04MA01; EF04MA02; EF04MA25; EF04MA28; EF05MA01;
Professor(a) responsável:
Monica Raquel Ferreira de Souza.

Escola:
EE Dr. Isidoro Boucault, Mogi das Cruzes (SP).

O que é:

O presente projeto surgiu da necessidade de trabalhar a educação financeira com as crianças do 5º ano A da EM Dr. Isidoro Boucault, da cidade de Mogi das Cruzes. A iniciativa aconteceu no início do 1º semestre de 2018, alcançando os 35 alunos da classe.

A princípio, propus aos alunos pesquisa e estudo sobre o movimento financeiro da escola, para que pudessem analisar dados reais e, por meio dessa experiência matemática, construir e ressignificar os conceitos aprendidos, de maneira cognitiva e social.

Semanalmente, realizamos na disciplina de Língua Portuguesa uma atividade do projeto "Ler e Escrever", que é uma roda de leitura e análise de jornais. Frequentemente, encontrávamos textos sobre o cenário político, e esse assunto despertava o interesse dos alunos, que sempre perguntavam sobre o que é corrupção e o que são impostos e dinheiro público.

Notei que as crianças possuíam grande dificuldade de ler os números incluídos nas matérias, geralmente apresentados na classe dos milhões. Achei necessário fazer uma avaliação diagnóstica da escrita numérica.

Para manter a curiosidade e o interesse em relação às aulas, mudamos o cenário de aprendizagem. Lancei mão da tecnologia, da história da Matemática e dos jogos matemáticos, atribuindo à disciplina importância fundamental para mudanças sociais.

Aprender sobre educação financeira possibilitou às crianças pesquisar, observar, fiscalizar, registrar e, principalmente, superar seus conhecimentos. Essa sequência proporcionou aos alunos a construção de conceitos e a captura dos conteúdos previstos no ano, como a escrita numérica. Possibilitou também a articulação de conceitos relacionads a outras disciplinas, como História e Língua Portuguesa.

Na execução do projeto, buscamos apoio em objetivos específicos, como tabular dados, entrevistar pessoas na busca de informações, organizar e selecionar a escrita numérica necessária para a composição de quantidade, estimar valores monetários e participar de ações sociais.

De acordo com as Matrizes Curriculares de Mogi das Cruzes, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e documentos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação financeira par o 5º ano deve abordar os seguintes assuntos:

Matemática:

  • sistema de numeração decimal;
  • composição e decomposição de numerais naturais;
  • porcentagem;
  • o Sistema Monetário Brasileiro.

História:

  • história do dinheiro.

Língua Portuguesa:

  • produção textual;
  • gênero textual: entrevista.

Tendo em vista essa temática, tratei de fazer alguns recortes conceituais que envolvessem a educação financeira e articulassem princípios básicos da educação fiscal.

Esses recortes poderiam garantir aos alunos vivência escolar nos atributos financeiros, analisando informações coletivamente e proporcionando a experiência necessária para comparações e modificação da realidade familiar e individual.

Para tanto, os alunos trabalharam no laboratório de informática e criaram cartazes.

Como fazer:

A avaliação diagnóstica inicial revelou que 31 dos 35 alunos da classe tinham limitações para traçarem numerais da classe da unidade de milhar em diante. Apresentavam também dificuldades para a realização de operações de cunho monetário. Demonstravam ainda baixa estimativa matemática. Além disso, apenas 45% da sala conseguia interpretar dados gráficos e tabelas.

Como atividade inicial, foi proposta uma avaliação. O objetivo não era que os alunos acumulassem notas, mas, sim, definir um ponto de partida.

Naquele momento, notei que apenas quatro alunos acertaram toda a sequência de números ditados, o que me preocupou bastante. Fiz ainda algumas avaliações sobre composição e decomposição numérica, o que revelou ainda mais a fragilidade conceitual da sala.

Para realizar essas avaliações, apresentei recortes das matérias previamente lidas nas rodas de jornal. Os alunos me questionaram por que estavam utilizando aqueles textos nas aulas de Matemática. Fiquei surpreendida com a distância existente entre a Matemática e seus usos na realidade das crianças.

Em outro momento, senti a necessidade de interrogar os alunos sobre o que achavam do ensino da Matemática e seu poder de atuação nas transformações sociais. Quis saber também qual disciplina eles consideravam capaz de fazer mudanças sociais. Fui surpreendida novamente. A que teve mais votos foi História. Ninguém havia optado pela Matemática.

Foquei, então, na aprendizagem da escrita numérica. Trabalhamos com o recurso da malha escalonada. Foi um momento extremamente rico, no qual os alunos descobriram o valor posicional do zero na sobreposição das classes e ordens.

As crianças receberam uma lista de números a compor que seguia uma ordem crescente. Embora essa atividade solucionasse boa parte das dúvidas de composição numérica, percebi que os alunos também precisavam de momentos lúdicos.

Começamos por um jogo disponível na plataforma da revista Nova Escola chamado Que número eu sou?

Durante a aplicação do jogo, circulei pela sala para observar e intervir. A classe foi dividida em trios para houvesse encontros produtivos de conhecimentos variados.

Uma das facetas mais produtivas do jogo foi a diversão, com as dificuldades sendo encaradas como desafios. Foi uma alegria geral na sala. Os alunos ficaram eufóricos. Ficou evidente que as crianças sentiam grande satisfação nas aulas diferenciadas

Como material de apoio, selecionei notícias que apresentavam números de classes altas. Tomei o cuidado para que os números fossem extraídos dos textos e tivessem relação com a realidade, embora soubesse que conceitos como tributos fiscais estavam muito distantes da realidade das crianças.

Foi quando, numa roda de conversa, um aluno perguntou quem paga o salário dos professores e, antes que eu pudesse responder, uma colega respondeu que, “com certeza”, era a diretora.

Percebi a importância daquele diálogo e tratei de fazer intervenções para fomentar as dúvidas, e não para solucioná-las. Com isso, ampliei a base para as discussões.

Produzimos um cartaz das pesquisas sobre dinheiro público (como é extraído e distribuído), levantamos valores de tributos fiscais e abordamos a importância da fiscalização e do acompanhamento desse processo.

O conceito foi trabalhado de maneira superficial, apenas como apoio, já que não era o nosso foco naquele momento.

Na busca por alternativas para fundamentar os estudos sobre números e quantidades, trabalhamos bastante com estimativas. Conduzi a conversa para que os alunos confrontassem conhecimentos prévios e suposições.

Para que a prática dialógica ganhasse forma, os alunos foram convidados a pesquisar sobre o dinheiro que circulava na escola. Naquele momento, utilizamos as aulas de Língua Portuguesa para aprender como são feitas as entrevistas (verbais e escritas), quais são seus elementos e como organizar as informações obtidas.

A sala foi dividida em grupos, que ficaram responsáveis por entrevistas com a diretora da escola, as merendeiras, a equipe de limpeza e a presidente da Associação de Pais e Mestres (APM).

Essas entrevistas serviriam para que os alunos coletassem informações e pudessem organizá-las sob a forma de dados e gráficos.

Notei que a motivação dos alunos havia aumentado. Ao participarem do processo de levantamento de dados, os alunos também demonstraram interesse em encontrar formas de exposição das informações.

Nesse trabalho, entrevistaram familiares e a comunidade sobre sua participação social nas tomadas de decisões escolares. Perceberam que a imensa maioria das pessoas não achava justa a forma com eram feitos os gastos públicos. Mas, por outro lado, notaram que poucas pessoas se interessavam em participar das reuniões financeiras da escola.

Os alunos buscaram nos arquivos da escola informações sobre o montante de verbas repassado para a escola. Em pesquisas feitas com o auxílio da equipe gestora, perceberam que existe uma regra para o gasto do dinheiro público escolar, e que os números associados ao tema, quase sempre, são expressos por meio de porcentagens.

Para entendermos o conceito da porcentagem, trabalhamos de maneira parecida com a composição e a decomposição de classes, fazendo com que as crianças estabelecessem uma relação entre os conteúdos.

Percebi que a utilização da pesquisa e o tratamento das informações auxiliaram na mudança de enfoque do aprendizado, do qual os alunos se tornaram protagonistas. Essa forma de trabalho também fortaleceu a convicção de que eram capazes de controlar os dados e manipular o conteúdo.

Trabalhamos com a sequência numérica, embora ainda houvesse certa dificuldade principalmente em reconhecer as trocas entre ordens e classes. Como exemplo disso, numa atividade verificadora de conhecimento, percebi que o exercício de decomposição de numerais era mais bem-sucedido quando as ordens apareciam embaralhadas.

Recorri novamente aos jogos matemáticos. Utilizei mais um da plataforma da revista Nova Escola, Jogo com ábaco. Mais uma vez, vi uma grande motivação nos alunos.

Numa roda de conversa, surgiram dúvidas sobre salário e origem da palavra. Os alunos discutiram sobre circulação do dinheiro e levantaram hipóteses de uso diário doméstico. Em alguns grupos, surgiu a ideia do dinheiro “privado”, que, naquele caso, era o pagamento salarial.

Utilizando a disciplina de História, buscamos compreender o sistema de trocas e o escambo. Como ele era comum e importante no desenvolvimento das civilizações, compreendemos os produtos importantes da época e como as trocas sofriam influência de acordo com o período, os governos e as necessidades de compra.

Descobrimos a origem da palavra “salário” e a necessidade da circulação do dinheiro “moeda” para facilitar e promover o comércio. Pesquisamos informações como o nome das moedas, a diferença das valorizações, a influência da economia, a lei de oferta e procura e todo o conteúdo histórico sobre os planos econômicos brasileiros.

O clima das aulas ficou tão envolvente que aumentou para quase 100% a frequência escolar nos dias do projeto. Houve também melhora gradativa e significativa no desempenho dos alunos.

Chegou, então, a hora da aplicação dos conhecimentos. Solicitei aos alunos que verificassem os gastos feitos pela escola, fiscalizando o uso do dinheiro.

Perceberam que o uso do dinheiro é dividido em gastar, poupar e investir, e que esse processo também acontecia na escola. Notaram também que o êxito nesse processo dependia de conhecimento matemático, da consciência histórica sobre seu poder de uso e, principalmente, de consciência social na administração dos valores que pertenciam à escola.

Nos estudos sobre as verbas da escola, conheceram o Conselho Escolar e a Associação de Pais e Metres (APM), bem como suas funções em relação ao uso das verbas. Os alunos começaram a questionar e a querer participar das tomadas de decisões.

Foi explicado a eles o que era a APM e por que as escolas públicas faziam ações sociais para a arrecadação de dinheiro. Numa das discussões, surgiu a pergunta sobre de quem era esse dinheiro.

Os alunos analisaram os gastos do ano anterior e, fiscalizando-os, perceberam a dificuldade financeira da escola e a necessidade da participação deles para diminuí-la, e como os conceitos da matemática financeira poderiam transformar a realidade em que vivem.

Utilizamos os computadores da escola como ferramenta para a organização e a apresentação dos dados. Construímos tabelas e gráficos com as informações das entrevistas.

Após um estudo sobre a eficiência matemática voltada ao mundo financeiro, levamos as informações da escola para a casa das crianças. Por meio de entrevistas, pesquisa e exercícios coletivos, conversamos sobre autonomia financeira das famílias e como os conceitos aprendidos poderiam ser utilizados na administração do lar.

Durante as aulas sobre a história do dinheiro, muitas crianças trouxeram moedas e cédulas antigas ou de outros países. Pesquisamos o material, a gravura, o ano de fabricação, entre outros aspectos.

Como esses momentos eram apreciados pelos alunos, propus a criação da "Feira da Matemática".

Os alunos prepararam uma apresentação sobre os conceitos aprendidos para os colegas da escola.

A turma também fez uma apresentação para os funcionários, preparou cartazes explicando termos e significados e criou um quiz para envolver a plateia.

Elaboramos um jogo matemático de equipes, com os alunos divididos em duas equipes. Os grupos receberam uma lista de numerais para organização por ordens.

Na "Feira de Matemática", apresentamos o dinheiro com legendas sobre o lugar e o ano de circulação. As crianças explicaram aos visitantes a importância do dinheiro e a influência da economia na vida das pessoas, bem como a importância da matemática na construção da vivência e da melhoria social. Um grupo de alunos ofereceu aos pais dicas sobre organização e consciência financeira.

Com o apoio da Prefeitura, visitamos, na sequência, uma escola vizinha para expor nossos conhecimentos. Um pouco nervosos, mas com bastante vontade, os alunos encantaram uma plateia mais velha e bem numerosa. Foram aplaudidos e elogiados.

Uma nova avaliação foi feita. Ela revelou que 98% dos alunos tinham melhorado a escrita numérica, avançando pelo menos duas classes numéricas em comparação com as produções iniciais. Também foi revelada boa capacidade de estimativa monetária e uma significativa compreensão de cédulas e moedas, do uso de porcentagens e da tabulação de dados.

Com as informações adquiridas no projeto, os alunos passassem a construir conceitos e a avançar em suas aprendizagens, a participar ativamente do movimento financeiro da escola.

Utilizando o recurso dos jogos matemáticos para estabelecer uma relação harmoniosa, efetiva e concreta com o cenário educacional, colocamos em ação os conhecimentos aprendidos, incutindo nos alunos uma nova visão do aprendizado.

Por fim, este projeto dialogou com outras matérias, tornando-se ponto de partida para novas aprendizagens, devolvendo o ensino à sua essência integral e interdisciplinar, facilitando relação com o que se aprende na escola e o que se aplica na vida.

Outras ideias:

A produção de gráficos e infográficos possibilitou também a interdisciplinaridade com Arte e Linguagens.

A prática do projeto é bastante flexível, possibilitando adaptações para a realidade de cada escola, com uso ou não de tecnologias digitais.

O projeto levou em conta o protagonismo dos alunos nas decisões, o que tornou a aprendizagem bem mais significativa.

Saiba mais

Os sites a seguir contribuíram na elaboração deste projeto:


Escritores mirins

Área(s): Linguagens.

Estimular a linguagem oral e escrita e a produção de textos a partir da discussão de valores como ignorância, ambição e indiferença como ameaças ao meio ambiente.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Língua Portuguesa.

Quando:
Em qualquer momento do ano escolar.

Materiais:
  • livro "Essa tal de Natureza", de Leyla Leong;
  • materiais para construção de maquete referente ao tema do livro.
Habilidades trabalhadas:
EF35LP03; EF03LP17; EF35LP21; EF04LP24; EF04GE11; EF05GE10
Professor(a) responsável:
Mychelys de Mattos Queiroz.

Escola:
Escola Municipal Nossa Senhora do Rosário, Manaus (AM).

O que é:

O projeto "Escritores mirins" partiu de uma temática interdisciplinar com foco no desenvolvimento da leitura e da escrita pelos alunos do 4º ano C do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora do Rosário.

A turma em questão tinha 25 alunos com dificuldades na produção de textos e na leitura. Chegou-se a esse número após uma avaliação diagnóstica realizada em sala no início do ano letivo.

Propondo estimular o processo de ensino, utilizamos o reconto de histórias, fazendo arte, software, criando gincanas e produzindo novas histórias.

A escola participou, juntamente com os pais dos alunos, da socialização, dos processos do projeto e dos resultados. Foram produzidos diferentes tipos de textos orais e escritos, considerando a situação de uso. Além disso, os alunos refletiram criticamente a respeito dessa prática de linguagem.

Como fazer:

Após a avaliação diagnóstica, realizamos o projeto interdisciplinar que seria imprescindível para desenvolver os escritores mirins, que, no entanto, ainda não sabiam o potencial que tinham.

O projeto "Escritores mirins" começou com um livro infantil chamado Essa tal de Natureza. A obra retrata a aventura de um pássaro muito curioso que queria saber onde a mata acabava.

Foi explorada a capa do livro sobre possíveis títulos da história. A obra é bem envolvente, fazendo com que a leitura seja prazerosa. A reação dos alunos aos acontecimentos foi automática, seguida de alegrias e surpresas. Logo, todos queriam pegar o livro para ler.

De início, pedi a eles que fizessem o reconto da história. Foram surpreendentes os detalhes na narração dos fatos. Cada um teve sua produção realizada. Na aula seguinte, estudamos sobre a paisagem natural e modificada e os impactos ambientais causados pela ação do homem. A atividade foi seguida de desenhos sobre aqueles tipos de paisagem.

Durante a semana, foram construídas maquetes em duplas. Cada aluno trouxe aquilo que mais o atraía. A cada dia, tínhamos algum novo detalhe para contribuir com o trabalho.

Na área de Geografia, os conteúdos foram sobre as paisagens e diferenças entre elas e sobre o que causa desequilíbrio ao ambiente. Trabalhamos também o tema do trânsito, por meio de discussões sobre como o homem tem se comportado e como a poluição é prejudicial ao nosso planeta.

Por meio desse tipo de trabalho, os alunos se "transportaram" para esses lugares. A cada progresso, senti a turma motivada para sempre melhorar.

A história infantil traz uma carta recebida pelo rei da Cidade de Pedras. Por isso, buscamos trabalhar o gênero textual "carta". O assunto escolhido foi o que eles gostariam de ganhar ao final do ano letivo. Para que isso acontecesse, teriam que convencer a pessoa para a qual a carta seria destinada.

Surgiram produções interessantes e criativas. Aproveitamos o momento para reconhecer a função social de uma carta, por meio de discussão oral, leitura e interpretação de diferentes modelos. Fizemos também, a partir de situações reais, a identificação das características e das partes daquele gênero textual (local e data, saudação, assunto, despedida e assinatura).

Procuramos ainda reconhecer o envelope como elemento essencial para o envio de uma carta, fazendo um link com o uso das Tecnologias da Informação, com o e-mail e com aplicativos.

Também estudamos o substantivo coletivo, pois a história fala sobre mata, e o personagem fala que mata é um conjunto de árvores – foi aí que confeccionamos um álbum seriado de coletivos.

Nas aulas de História e Ciências, falamos sobre as mudanças de paisagens e passado e presente, fazendo uma reflexão sobre o surgimento dos bairros de Manaus e observando como eles poderiam contribuir para minimizar os impactos ambientais.

Analisamos a paisagem no passado da cidade e como o homem tem interferido no ambiente. Lemos e selecionamos reportagens relacionadas às notícias sobre a cidade e o meio ambiente e confeccionamos um mural coletivo.

Em Matemática, levamos para a sala de aula situações-problema relacionadas ao meio ambiente, além de gráficos para leitura e interpretação. Na sequência, criamos uma gincana matemática.

Na aula de Arte, fizemos uma música sobre a história, orientando os alunos quanto à percepção, ao ritmo e à entonação. Os alunos escreveram suas músicas preferidas e expressaram seus gostos musicais.

O laboratório de informática foi um espaço bastante atraente para os alunos, com atividades de produção artística e os jogos matemáticos.

O projeto de leitura motivou toda a turma, mesmo aqueles alunos que estavam mais receosos para desenvolver produções escritas.

O professor teve de se mostrar aberto e afetivo, fazendo de cada aula um momento de reflexão sobre sua prontidão e espaço para que fosse colocada em prática seus conhecimentos prévios. Isso se tornou um exercício de diálogo e de troca de conhecimentos, fazendo com que os alunos se sentissem cada vez mais entusiasmados.

No decorrer da semana, pensamos sobre como socializar as atividades. Os alunos levaram bichos de pelúcia para a sala e, lá, foram preparados cartazes sobre meio ambiente e finalizadas as maquetes.

Chegou, então, o grande dia da socialização da boa prática desenvolvida em sala e da apresentação dos avanços no processo da leitura e da escrita.

Compartilhamos a história e as etapas do processo do desenvolvimento do trabalho. As crianças apresentaram a música do pássaro curioso e fizeram suas exposições de maquetes.

A palavra de incentivo é algo gratificante para o nosso crescimento profissional.


A escola deve ser palco de transformações na vida de pessoas e dentro da comunidade, tornando esses escritores mirins cidadãos conscientes dos seus direitos e deveress.

Saiba mais

O trabalho com fotografias atuais e antigas pode ser um recurso interessante para incrementar o projeto, favorecendo a diversidade de fontes de pesquisa e a leitura de paisagens, para identificação das transformações ocorridas na cidade e no meio ambiente.

Sugerimos também a leitura do livro "Correspondência", de Bartolomeu Campos Queiroz, por meio do qual os alunos podem acompanhar o fluxo de uma interação por cartas.


Projeto Cidadão Mirim: a vez e a voz da nossa comunidade

Esta prática pretendeu integrar os conhecimentos curriculares previstos para o 2º ano do Ensino Fundamental ao estudo do bairro e da comunidade, a partir das vivências das crianças, para estruturar um trabalho que abordasse esses conhecimentos de forma significativa.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
No decorrer do ano letivo.

Materiais:
  • livros;
  • materiais de pesquisa.
Habilidades trabalhadas:
EF15LP01; EF15LP02; EF12LP02; EF12LP11; EF12LP12; EF01LP21; EF02LP18;
Professor(a) responsável:
Alessandra Bremm.

Escola:
EEEF Dr. Silveira Neto, Lagoa Vermelha (RS).

O que é:

Partindo dos temas "Bairro" e "Comunidade", foram realizadas diversas atividades, como passeios, entrevistas, pesquisas, leituras, produções escritas e criação de blog, levando os alunos ao protagonismo da própria aprendizagem, proporcionando a interação entre eles e a autonomia.

O projeto também possibilitou a articulação entre a escola, as famílias e a comunidade.

Como fazer:

O trabalho começou com uma pesquisa, em forma de questionário, que as crianças levaram para casa. Elas deveriam fazer as perguntas para um morador do bairro Rodrigues. As perguntas eram:

Qual a sua idade?

Há quantos anos mora no bairro?

Na sua opinião, quais são os maiores problemas do bairro Rodrigues? (o entrevistado poderia citar até três problemas).

Após alguns dias, os alunos trouxeram os resultados de suas pesquisas, que foram compartilhados na sala de aula.

Naquele momento, precisei ajudar os alunos que ainda não estavam alfabetizados para que fosse feita leitura de seus registros.

Essa atividade promoveu a participação das crianças, que ficavam comparando respostas. Mesmo os alunos que não moravam no bairro da escola fizeram um esforço e conseguiram entrevistar moradores do local.

Em seguida, para visualizar melhor as informações obtidas, falei para a turma que iríamos construir uma tabela e um gráfico.

Primeiramente, fizemos a tabela (cartaz), com as crianças contando quantos "pontos" cada problema recebia. Depois, transformamos a tabela em gráfico. Alguns alunos disseram que já haviam feito isso, e que era igual ao livro de matemática.

Essa atividade foi muito importante, pois evidenciou, visualmente, quais eram os maiores problemas do bairro, na opinião dos moradores.  

O levantamento apresentou os seguintes problemas:

  • Falta de creche para menores de um ano.
  • Falta de espaços adequados para lazer e diversão.
  • Rede de esgoto inadequada.
  • Perturbação do silêncio.
  • Animais abandonados nas ruas.
  • Iluminação pública insuficiente ou lâmpadas quebradas.
  • Problemas com o lixo.
  • Falta de segurança/roubos e situação das ruas.

Os cartazes com o gráfico e a tabela ficaram expostos durante quase todo o período de realização do projeto e, frequentemente, recorremos a eles nas atividades posteriores.

Dando continuidade, perguntei aos alunos se eles gostariam de fazer um passeio pelo bairro, com o objetivo de observar as ruas, as casas e, eventualmente, registrar com fotos as situações relatadas pelos moradores.

As crianças vibraram com a ideia. Organizamos a atividade para a aula seguinte. No passeio, as crianças ficaram atentas aos problemas que haviam aparecido na pesquisa, como o lixo em locais inadequados, animais soltos nas ruas e buracos no calçamento.

Após o passeio, trouxe para a sala de aula o mapa do bairro. Fizemos um círculo no chão, com o mapa no meio, e as crianças localizaram e pintaram suas ruas.

Deixei que explorassem o material. Fiquei surpreso ao ver que muitos alunos usavam como referência a rua de um colega para achar a sua, demonstrando que estavam refletindo a respeito do espaço geográfico e sua representação.

Na aula posterior, retomei o tema do projeto e perguntei se poderíamos fazer algo para transformar o bairro num lugar melhor para viver. Os estudantes disseram que sim. 

A maioria deu como exemplo a questão do lixo, relatando que, em suas casas, não costumavam depositar lixo em terrenos baldios, mas os vizinhos o faziam. Então, lancei a proposta do projeto, falando no nome que pensei: "Cidadão Mirim".

Escrevi o nome no quadro, perguntando o que pensavam a respeito do título, se tinham outra sugestão. Como a turma foi receptiva ao nome, assim ele ficou. Questionei se sabiam o que significava a palavra "cidadão". Um aluno disse que era quem morava na cidade. Respondi que sim, a origem da palavra era aquela, mas que havia um significado maior, relacionado aos direitos e deveres das pessoas que vivem em uma comunidade/sociedade.

Definido o nome do projeto e a razão da escolha, continuamos com as atividades. Pensando em aproveitar as atividades para trabalhar a alfabetização, imprimi as fotos tiradas durante o passeio pelo bairro e agrupei os alunos em duplas, considerando o nível de aprendizagem de cada um (pré-silábico, silábico, alfabético), de forma que todos conseguissem produzir legendas de acordo com as imagens.

No meio tempo, criei o blog do projeto e o apresentei às crianças, que mais tarde ajudaram a atualizar as postagens, digitando as legendas criadas para as fotos.

Prosseguindo, questionei a turma em relação aos problemas do bairro. Quais deles eram causados ou agravados pelos próprios moradores? Para minha surpresa, as crianças identificaram facilmente três deles: a questão do lixo, dos animais abandonados ou soltos nas ruas e o barulho excessivo causado por alguns moradores.

Lancei a proposta de criarmos um folheto informativo para conscientizar as pessoas a respeito desses problemas. Os alunos adoraram a ideia, mas queriam saber como faríamos isso. Expliquei que, primeiro, precisávamos estudar um pouco cada item.

Essa etapa do projeto foi importante também por retomar um trabalho feito pela escola em anos anteriores, chamado "Lixo que não é Lixo", no qual os alunos cuidavam da limpeza do pátio da escola e precisavam observar a separação de lixo seco e orgânico nas lixeiras apropriadas.

Assim, nas aulas seguintes, lemos textos sobre coleta seletiva e reciclagem do lixo, realizamos a leitura de um livro sobre a temática estudada, acessamos o portal do município para descobrir os dias da coleta no bairro, conversamos e lemos sobre a responsabilidade de ter um bichinho de estimação e os cuidados que ele demanda e, finalmente, discutimos sobre a vida em comunidade e o respeito necessário com os vizinhos, principalmente em relação ao barulho que pode incomodar os outros.

Além das leituras, conversas e debates, também usei alguns jogos dos computadores da escola e de sites educativos como "Escola Games". Após termos aprendido um pouco mais sobre os assuntos que estariam nos folhetos, pedi ideias para a escrita e as registrei no quadro. Posteriormente, ampliei essas ideias, construindo o texto dos folhetos com base nelas.

Por fim, cada criança fez uma ilustração e finalizei o material. A turma ficou maravilhada com os folhetos, lendo-os, comentando sobre as ilustrações dos colegas. Cada aluno levou um exemplar para casa, para compartilhar com a família. Também distribuímos para as demais turmas da escola. Voltamos ao bairro e entregamos cerca de 60 folhetos aos moradores.

Essa atividade promoveu a autonomia e a iniciativa das crianças, além da oralidade, pois elas precisaram abordar as pessoas e explicar do que se tratava o material.

Naquele ponto, o blog do projeto já tinha algumas publicações. Criei ainda uma página no Facebook para ajudar na divulgação. Assim, houve maior interação com as famílias e a comunidade, que acessaram, curtiram e compartilharam o conteúdo. Isso gerou grande interesse por parte da turma, que viu o seu trabalho valorizado.

No entanto, ainda havia os problemas citados pelos moradores. Por exemplo, alguns citaram que a rede de esgoto do bairro era inadequada, mas durante as visitas ao bairro não conseguimos identificar isso.

O ideal seria voltar ao bairro e tentar registrar essas situações. Convidei uma liderança do bairro para ser entrevistada pelos alunos. A atividade já estava prevista no planejamento inicial, mas ganhou ainda mais importância, pois a entrevistada poderia esclarecer pontos sobre os quais ainda tínhamos dúvidas.

Como tarefa de casa, cada aluno registrou uma pergunta que gostaria de fazer à entrevistada, podendo pedir sugestões para a família.

No dia da entrevista, muitos alunos demonstraram desenvoltura, questionando a entrevistada com segurança. Outros, um pouco tímidos e inseguros, esqueceram o que iam dizer, e eu precisei auxiliar nesse momento.

O objetivo principal, que era buscar mais informações a respeito dos problemas do bairro, foi alcançado. A convidada reforçou algo que era objetivo do projeto: contemplar a participação, o engajamento dos alunos, que serão os futuros moradores do local, na solução de problemas e na busca do bem comum.

Ela relatou que poucas pessoas participam das reuniões que ela organiza e que muitas situações poderiam ser resolvidas com a união dos moradores. Durante a entrevista, nossa convidada enfatizou a responsabilidade da administração municipal em resolver alguns problemas do bairro.

Retomei essa questão com os alunos nas aulas subsequentes, sugerindo que escrevêssemos uma carta aos vereadores, contando sobre o nosso projeto e os problemas que havíamos estudado.

Os alunos nunca haviam escrito ou lido uma carta. Esse foi o primeiro contato deles com esse tipo de texto e forma de comunicação.

Não foi uma simples atividade, foi um evento. Escrevi a carta no quadro, com a participação de todos, atuando como escriba, orientando sobre as características do texto que eles desconheciam. Durante esse processo, usando a letra cursiva, as crianças ficaram atentas ao uso da letra maiúscula no início das frases, nos substantivos próprios.

Todos assinaram a carta, depois de revisada e digitada por mim. Foi a primeira vez que as crianças assinaram seus nomes completos, usando letra cursiva, algo que considero muito simbólico.

A carta foi entregue à Câmara Municipal e todos os alunos receberam uma cópia para levar para casa e ler com seus familiares.

Assim que divulgamos a carta no blog e na página do Facebook, recebemos retorno: uma vereadora comentou sobre o projeto e se colocou à disposição para ajudar. O presidente da Câmara Municipal pediu para ir até a escola e falar com os alunos, o que foi muito importante, pois valorizou ainda mais o trabalho desenvolvido. 

A carta também foi lida, posteriormente, por outro vereador, numa sessão da Câmara, e as crianças puderam conferir isso em vídeo.

Ao final do projeto, realizei uma avaliação escrita com os alunos, na qual eles demonstraram, por meio de desenhos e palavras, o que havia sido mais significativo durante o processo.

Uma das maiores aprendizagens da turma foi a busca por informações em diferentes fontes. Isso rompeu com a ideia de que o professor é a única referência na sala de aula, a única fonte de informação.

Outro fator de avanços na aprendizagem foram as atividades de produção escrita, nas criações de legendas para fotos, nas postagens do blog, na elaboração do folheto informativo, na escrita da carta.

Em todos os momentos, os alunos foram capazes de criar, interagir e produzir textos contextualizados, individualmente e coletivamente, o que contemplou os diversos níveis de aprendizagem.

A escrita da carta exemplificou para as crianças o uso da letra cursiva, bem no momento em que estava sendo feita a transição da letra caixa alta para cursiva.

Acredito que a aproximação e a articulação entre escola, família e comunidade, que perpassou todo o projeto, serviram para a importância do estudo, da pesquisa e da divulgação do conhecimento, que partiu de uma problemática real.

Quanto aos meios utilizados para avaliar os alunos, penso que o acompanhamento diário durante o processo e a observação constante do envolvimento da turma nas atividades foram suficientes para considerar o resultado satisfatório.

Desenvolver um projeto é diferente de planejar, aplicar e avaliar uma aula tradicional, "normal" ou necessariamente expositiva. A aula tradicional acontece, com o aluno participando ou não, pois está centrada na ação do professor.

O projeto, por sua vez, não pode ser realizado sem o engajamento e a participação direta dos alunos. Então, se for possível realizar o projeto, desenvolvendo as atividades propostas com a colaboração dos alunos, isso já denota o sucesso do trabalho.





Dica!

O professor poderá produzir, com os alunos, um álbum imagético dos problemas, utilizando, por exemplo, recortes de revista, e organizando uma espécie de "antes e depois" dos problemas e suas soluções.


Do campo para a cidade

Área(s): Ciências Humanas.

O objetivo desta prática foi promover a compreensão de que os alunos e suas famílias se relacionam cotidianamente com os ciclos de produção – de alimentos, roupas, calçados etc.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Geografia.

Quando:

No decorrer do ano letivo.

Materiais:
  • livros;
  • laboratório de informática;
  • materiais de arte em geral.
Habilidades trabalhadas:

EF04GE01; EF04GE04; EF04GE07; EF04GE08

Professor(a) responsável:

Janice Bastos Ribeiro.

Escola:

Escola Mathias A Bohn e M Pref. EI EF, Rio Negro (PR).

O que é:

O projeto "Do campo para a cidade" foi desenvolvido com alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, a partir de um conteúdo curricular e da curiosidade dos alunos em relação à origem do milho de pipoca.

Como fazer:

Para abordar com os alunos o conteúdo “produtos industrializados”, levei para a sala de aula espigas de milho. O objetivo era que eles visualizassem o milho ainda na espiga.

Na roda de conversa, comparamos a espiga e o milho empacotado, os alunos relataram experiências com pipoca de micro-ondas e variações de pipoca: doce, salgada, colorida. 

Num segundo momento, utilizamos o livro didático de Geografia, que traz o texto “O Milho”. Os alunos viram que muitos produtos contêm ingredientes originados do milho, e que isso pode ser identificado no rótulo das embalagens.

Ainda na roda de conversa, uma aluna relatou sobre o plantio de morangos realizado pelos pais na propriedade onde moravam, na zona rural. Contou como era o cultivo, desde a compra das mudas até a entrega do produto na cidade. As informações despertaram muita curiosidade na turma.

Identifiquei, então, que a maioria dos alunos vivia na cidade e não tinha noção da origem dos produtos que consumiam.

Após essa identificação, trabalhamos a integração entre o campo e a cidade. Esses espaços (o rural e o urbano) estão bem mais próximos do que imaginamos, integrados à produção e ao consumo urbano. 

Planejei várias atividades com o objetivo de conhecer mais sobre o cultivo do morango, sua produção, industrialização e o consumo. Decidi, então, levar a turma para uma visita à propriedade da aluna cuja família produz o morango.

Antes da visita, utilizamos nosso horário no laboratório de informática para pesquisas na internet sobre o morango. Imprimimos as informações que os alunos julgaram mais relevantes. Realizamos leitura coletiva, diálogo e interpretação escrita sobre os conteúdos.

Com base na pesquisa, elaboramos coletivamente uma entrevista, que seria feita com os produtores de morango. Cada aluno levou um bloco para anotar as respostas da entrevista. Feita a entrevista, descobrimos que, além de morangos, havia no local a produção de tempero verde (cebolinha e salsa). Do plantio, sete quilos eram vendidos por semana a um mercado da zona urbana.

Após a visita, em sala de aula, abriu-se um leque muito grande de possibilidades de trabalho interdisciplinar.

No outro dia, conversamos muito sobre o passeio. Cada aluno produziu um texto com suas observações e aprendizados. Percebi mudanças positivas no comportamento das crianças, principalmente dos mais tímidos, que quase não se manifestavam ou interagiam com os demais.

Na empolgação, participaram na troca de ideias e escreveram os textos com detalhes. Lemos as perguntas e as respostas da entrevista e produzimos um texto coletivo.

Durante a visita, chamou muito a atenção dos alunos o fato de que as mudas utilizadas vinham do Chile, e que cada muda era cotada em dólar. Eles tinham algum conhecimento do país, mas queriam saber sua localização. Então, levei para a sala de aula um mapa-múndi para a localização do Chile. Depois, pesquisamos o valor do dólar em relação ao real e calculamos o custo de cada muda (cerca de R$ 0,90). Com certeza, os alunos não irão mais esquecer a localização do Chile e sua moeda.

O produtor também relatou que não utilizava agrotóxicos na produção, o que favorece a degustação logo após a colheita, pois quando são utilizados produtos químicos, os cuidados com a higienização da fruta devem ser maiores.

Novamente, utilizamos o laboratório de informática para pesquisar informações sobre os alimentos com os maiores níveis de contaminação por agrotóxicos. Depois da pesquisa, voltamos à roda de conversa para troca de ideias e informações sobre o tema.

O produtor informou que, além do morango, vendia também geleia e polpa. Questionei os alunos sobre que outros produtos tinham como ingrediente o morango. Eles citaram alguns: bala, chiclete, iogurte.

Sugeri, então, uma visita ao mercado para uma pesquisa sobre produtos industrializados que têm o morango como ingrediente. Um aluno levantou a questão de como eles identificariam os ingredientes.

Foi aí que entraram em pauta a leitura e a análise dos rótulos e das embalagens.

Aproveitei também para enfatizar o prazo de validade constante nos rótulos e nas embalagens. Como era de se esperar, alguns alunos relataram que nunca haviam lido um rótulo ou uma embalagem, e que, a partir dali, passariam a fazê-lo, sugerindo aos pais a mesma coisa.

Fomos, então, ao mercado para identificarmos o maior número possível de produtos industrializados com morango como ingrediente.

Retornei à escola com os alunos. Como de costume, voltamos para a nossa roda de conversa. Os alunos ficaram admirados com a quantidade de produtos industrializados que utilizam o morango como ingrediente, ou seja, como matéria-prima.

Com os dados citados na entrevista, elaboramos situações-problema envolvendo vários conteúdos, como raciocínio lógico, cálculo, medidas de tempo e de massa.

A filha dos agricultores trouxe para a escola várias folhas dos pés de morango. Isso, novamente, favoreceu a interdisciplinaridade: a professora de Arte realizou uma atividade com os alunos utilizando a técnica de impressão de folhas com morangos de EVA representando os pés. Essa atividade foi muito prazerosa aos alunos, que demonstraram grande interesse pela técnica utilizada.

O projeto proporcionou ambientes de aprendizagem e vivência que consolidaram a apreensão dos conteúdos abordados de maneira prazerosa e com grande empolgação. Instigou-se a curiosidade em querer saber mais e mais sobre o assunto.

Ao avaliar os resultados dessa experiência, percebi que todas as atividades proporcionaram aos alunos condições de observar, registrar, trabalhar com gráficos e tabelas, organizar dados, investigar, planejar, perceber e mudar atitudes, além de ampliar o vocabulário específico de forma contextualizada.

Os professores que se desafiarem a trabalhar com essa experiência terão a possibilidade de abordar de forma lúdica e prazerosa os conteúdos acadêmicos das diferentes disciplinas, contribuindo para um ensino-aprendizagem mais significativo.

Dica!

O professor poderá realizar atividades investigativas para prospectar, com o auxílio dos alunos, quais atividades econômicas são desenvolvidas em sua região e quais contemplam os objetivos da prática descrita.

Que atividades econômicas vão do campo à cidade na nossa região? Este pode ser um problema inicial para que os alunos pesquisem, utilizando, para isso, mídias e entrevistas. A atividade pode inspirar a coleta de dados em campo e motivar a turma na elaboração de um roteiro de entrevistas com produtores.


Juntos pela paz: é tempo de semear

Área(s): Linguagens.

Esta prática se propôs a desenvolver valores relativos à paz e a não violência, despertando nos alunos o desejo de serem semeadores da paz por meio de diversos gêneros textuais e discursivos.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Língua Portuguesa.

Quando:

A qualquer momento do ano letivo.

Materiais:

Não foram indicados.

Habilidades trabalhadas:

EF05LP16; EF03LP20; EF35LP15; EF04LP19; EF35LP17; EF04LP21; EF05LP24; EF35LP18; EF35LP20

Professor(a) responsável:

Patricia Regina Wanderlinde Alves.

Escola:

EB Professora Judith Duarte de Oliveira, Itajaí (SC).

O que é:

Todos nós queremos alcançar a paz. Desejamos ter paz interna, interpessoal, no trabalho, em nossas famílias e comunidades.

Mas, para que isso aconteça, a paz precisa se tornar mais do que apenas uma palavra. Foi acreditando nisso que desenvolvi um projeto para motivar as futuras gerações a construírem um mundo mais solidário e sustentável, onde encontraremos respeito, segurança e dignidade para todos.

Tudo começou no início de 2017, enquanto eu realizava uma roda de leitura com os alunos do 5º ano. Um fato chamou a atenção de todos: um aluno havia trazido um texto jornalístico que falava sobre a morte de um idoso numa discussão de trânsito.

Os alunos manifestaram indignação e revolta em relação ao caso e por várias outras manifestações de violência que estavam acontecendo na escola, na comunidade, no município e em outros lugares.

Eles questionaram sobre como poderíamos contribuir para promover uma mudança na situação que estávamos vivendo. Foi nesse contexto que surgiu o projeto "Juntos pela Paz: é tempo de semear".

O projeto, iniciado com os alunos do 5º ano e ampliado para os demais alunos da escola, buscou desenvolver valores relativos à paz e à não violência por meio de experiências significativas, pois, em tempos de tantas guerras, conflitos e intolerância, nada melhor do que despertar nas pessoas o desejo de se tornarem semeadoras da paz.

Ao selecionar as atividades, procurei resgatar o saber do educando e contextualizar os conteúdos com as suas vivências e realidade, não deixando de analisar, criticamente, cada uma delas, tanto em relação à aprendizagem, quanto em relação à construção de valores, como respeito, amor e amizade.

À medida que as atividades foram sendo desenvolvidas, houve uma melhora significativa na aprendizagem e uma mudança no modo como os alunos analisavam tudo à sua volta.

Eles começaram a ser mais parceiros da escola, sinalizando problemas que observavam no ambiente escolar e sugerindo ações para o despertar de atitudes pacíficas, solidárias e contra o bullying.

Além disso, houve um grande envolvimento de famílias, empresários, comunidade e meios de comunicação.

Verifiquei também que, por meio do diálogo e da investigação, os alunos se envolveram numa trajetória de aprendizado compartilhado, assumindo a responsabilidade pelo próprio crescimento.

Isso ficou evidenciado na confecção de livros, audiolivros e aplicativos sobre cinco pacificadores que fizeram diferença e deixaram a sua marca na história e, principalmente, na produção de um informativo escolar, com tiragem mensal de 3 mil exemplares.

Como fazer:

Sendo conhecedora da importância de haver na escola um espaço adequado para a realização de leitura, criei um cantinho na minha sala onde os alunos interagem com diversos materiais e gêneros textuais. Neste espaço, busquei organizar estratégias que favorecessem a interação entre língua e linguagem nas diferentes situações de leitura.

Dentre elas, a organização de rodas de leitura diárias ou semanais, com aproximadamente 30 minutos de duração, buscando desenvolver, nesses momentos, habilidades de leitura.

O espaço tem um sofá, almofadas, tapete, estantes e livros variados, sendo que tudo está disponível aos alunos no momento em que eles quiserem, nas rodas de leitura, no recreio ou quando estiverem ociosos após o fim das atividades.

Foi justamente num momento de análise de um texto jornalístico que os alunos se motivaram para promover uma mudança na situação de violência e de falta de respeito.

Após conhecer a concepção dos alunos, na realização do diagnóstico, senti a necessidade de despertar neles o desejo de se tornarem participantes ativos do projeto, interagindo e contribuindo com sugestões. Aproveitei a oportunidade e fiz a leitura e a interpretação oral do conto O Jovem e as Estrelas do Mar. O texto mostra um exemplo de como, com pequenas atitudes, podemos fazer a diferença onde quer que estejamos.

Os alunos compreenderam a mensagem. O que, no início, era uma simples ideia de fazer uma pesquisa sobre a cultura da paz, refletir sobre ela, conhecer suas características e identificar suas influências, tornou-se um grande desafio, pois o interesse dos alunos aumentou e novas ideias foram surgindo.

Dando sequência ao projeto, fizemos a leitura e interpretação de um pequeno texto e da música A Paz, do grupo Roupa Nova. Após cantarem várias vezes a música, os alunos foram divididos em equipes para que representassem cada estrofe com desenhos. Com as ilustrações concluídas, fariam uma apresentação para os demais grupos.

Foram realizados, também, atividades de interpretação escrita da música e o "Jogo dos Sete Erros", bem como um estudo da Declaração e Programa de Ação Sobre uma Cultura de Paz, da Assembleia Geral da ONU.

Comecei também a enviar, semanalmente, uma frase de Martin Luther King e Mahatma Gandhi para os alunos lerem em casa e discutirem com seus pais.

Sempre no dia seguinte ao envio das frases, discutia com a turma sobre a reflexão realizada em família.

Dando continuidade às atividades, utilizei um projetor para apresentar aos alunos a obra Guerra e Paz, do pintor brasileiro Candido Portinari.  

Já com algum conhecimento sobre a cultura de paz, os alunos escreveram uma poesia. Fiquei feliz com o resultado, pois, de modo geral, a escrita refletiu os novos conhecimentos, inclusive daqueles que estão em processo de alfabetização.

Usando um projetor, apresentei para os alunos o clipe oficial da música Heal the World ("Cure o Mundo"), do cantor Michael Jackson. Após o vídeo, entreguei a letra da música em inglês, com a tradução.

Fizemos a leitura e a interpretação oral da canção, fazendo uma comparação com a versão "A Paz", do grupo Roupa Nova.

Os alunos perceberam as semelhanças e as diferenças entre as duas versões. Identificaram que a essência das duas era a mesma.

Como os alunos tinham diferentes níveis de conhecimento, procurei diversificar os desafios.  

Por isso, comecei a fazer a leitura compartilhada do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Todos os dias, antes do início das atividades, eu lia para os alunos alguns capítulos. É importante ler para os alunos, mesmo que eles já saibam fazer isso sozinhos, pois continua sendo um prazer para a criança.

Vale a pena destacar, também, a importância da leitura compartilhada para a formação de leitores.

Enquanto fazíamos a leitura do livro, realizamos reflexões bastante significativas, inclusive sobre bullying. Isso me levou a pesquisar e a organizar uma série de atividades a partir de um dos capítulos que os alunos mais haviam apreciado: "O Diálogo do Príncipe e a Raposa".

Os alunos também realizaram entrevistas sobre amizade com pessoas de seu relacionamento.

Enquanto fazíamos a leitura do livro, realizamos reflexões bastante significativas, inclusive sobre bullying. Isso me levou a pesquisar e a organizar uma série de atividades a partir de um dos capítulos que os alunos mais haviam apreciado: "O Diálogo do Príncipe e a Raposa".

Os alunos também realizaram entrevistas sobre amizade com pessoas de seu relacionamento.

A partir disso, foi retomada uma frase de O Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos". Reforcei que essa atitude dos alunos era essencial para ajudar a construir uma vida melhor e mais digna para todos.

Além de acompanhar as dificuldades e os avanços de cada aluno em todos os momentos do trabalho, fazendo a análise de produções, comentários, descobertas e dúvidas, senti a necessidade de ampliar ainda mais o projeto.

Para isso, iniciei a confecção de livros sobre pacificadores que deixaram a sua marca no mundo. Levei os alunos ao laboratório de informática para que pesquisassem e conhecessem alguns pacificadores.

Depois de nomes terem sido listados, os alunos fizeram a escolha de cinco para conhecerem melhor: Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá e Anne Frank. A turma foi dividida em cinco equipes.

Após a pesquisa, entreguei para cada grupo um bloco de papel e expliquei como montar um livro. Também orientei o passo a passo de como deveriam escrevê-lo: capa, contracapa, folha de rosto, introdução, referências.

Após terem concluído a história dos pacificadores, solicitei que elaborassem uma seleção de frases conhecidas e criassem um quiz, com dez perguntas e respostas sobre os personagens para que também fossem incluídos no livro.

Depois dos rascunhos prontos, os alunos digitaram os textos no laboratório de informática e eu os ajudei na escolha das imagens.

Levei para um técnico em computação realizar a arte e imprimir os livros, que hoje fazem parte da "Coleção Semeadores da Paz".

Além da produção escrita dos livros, questionei os alunos sobre como levar o conhecimento daqueles pacificadores para as pessoas que não sabiam ler ou que tinham algum problema de visão.

Foi aí que surgiu uma grande inquietação: como aproximar as pessoas daquelas histórias tão inspiradoras? Como proporcionar o encantamento pela leitura com tamanhas dificuldades?

Resolvemos, então, produzir, junto com os livros impressos, audiolivros das histórias, todas lidas pelos alunos e gravadas em CDs.

Nossa produção foi apresentada na exposição “Leitura na Qualidade de Vida”, que foi organizada pela escola para abrigar os trabalhos realizados por todas as turmas.

Depois da exposição, fui convidada para apresentar o projeto no Conselho de Classe da escola, a fim de mobilizar os professores para que também trabalhassem com a temática.

Consegui o apoio do professor do laboratório de informática, que topou fazer um aplicativo com a “Coleção Semeadores da Paz”. Hoje, o app tem todos os livros digitais com áudios, frases, imagens e o quiz.

Em parceria com os alunos do 4º ano, do qual eu também era professora, foram realizadas pesquisas, em casa e no laboratório de informática, sobre curiosidades do meio ambiente.

Foram selecionadas as melhores informações para o painel "Você Sabia? S.O.S. PlanetaTerra", contendo perguntas e respostas sobre temas ambientais como poluição, água e lixo.

Antes de montar o painel, escaneei todas as ilustrações que formariam um livro com o mesmo nome. A obra também foi apresentada na exposição "Leitura na Qualidade de Vida".

Conforme as atividades foram sendo desenvolvidas, senti a necessidade de organizar um espaço na biblioteca escolar sobre cultura de paz.

Solicitei doações a diversos órgãos e entidades que desenvolvem projetos humanitários, como a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que enviou diversos livros e materiais informativos.

Um caso de racismo contra duas professoras negras de uma escola de Minas Gerais chamou a nossa atenção. Fiquei impressionada com a reação dos alunos após conhecerem a notícia sobre o episódio.

Houve muita indignação. Uma aluna fez um comentário alegando que o “Esquadrão da Paz” tinha que ir conversar com essas professoras para dizer que elas são importantes e que não deveriam ficar tristes.

Eu achei a fala muito interessante. Disse à turma que não tínhamos como ir até lá, mas que poderíamos enviar nossas palavras. Sugeri que escrevessem uma mensagem para elas e fizessem um desenho. Montaríamos uma carta gigante e a enviaríamos pelo correio. Todos amaram a ideia.

A turma do 4º ano também participou da atividade. Nela, busquei resgatar valores de compaixão e solidariedade.

Depois de alguns dias, a professora para qual enviamos a carta gigante compartilhou no meu Facebook uma mensagem de agradecimento pelo apoio, com fotos e vídeo. Dezenas de pessoas amigas delas também escreveram mensagens para mim e para meus alunos. Essa foi mais uma experiência gratificante.

Na sequência, criamos um logo para uso num evento em comemoração ao Dia Internacional da Paz, em 21 de setembro.

Também escolhemos a música Sou da Paz, do grupo Cia. Tribo de Dança. Disse aos alunos que ela seria ensaiada para uma apresentação de dança. A maioria dos alunos disse que seria algo muito difícil de ser feito.

Além de participarem do projeto "Juntos pela Paz", desenvolvido na escola, os alunos também atuaram no projeto internacional de arte e alfabetização Pinwheels for Peace (Cata-ventos pela Paz).

A crianças "plantaram" cata-ventos com mensagens de paz nos jardins de nossa cidade. Nós confeccionamos mil exemplares. Contamos com a ajuda de todos os alunos da escola.

Além disso, foram realizadas apresentações artísticas sobre a temática, declamação de poesias, distribuição de folhetos com frases dos pacificadores pesquisados, distribuição de balões brancos a gás, pinturas no rosto e distribuição de mudas de árvores frutíferas.

Paralelamente ao evento, nossa escola fez reflexões sobre a paz e um minuto de silêncio em seu favor. Em seguida, foi realizado um abraço coletivo em prol da paz no mundo. O evento foi um sucesso e teve uma grande divulgação na imprensa.

Conforme o tempo foi passando, novas alegrias foram surgindo com o projeto. Fui a primeira colocada na categoria Ensino Fundamental, no "Prêmio Mérito Educacional – Boas Práticas em Educação", promovido pela Rede Municipal de Ensino de Itajaí.

Tive também a oportunidade de compartilhar informações sobre o projeto com educadores de outras nações, participando da "II International Conference Peace Education For Peacebuilding ("2ª Conferência Internacional Educação de Paz para a Construção da Paz"), que ocorreu em dezembro de 2017, na Armênia.

Com tudo o que foi desenvolvido e vivenciado, percebi que o projeto não poderia ser finalizado em 2017. Por isso, teve continuidade em 2018, com o envolvimento de toda a escola. Em sua nova fase, ganhou o nome de "Leitura na Qualidade de Vida: Ciranda pela Paz".

Em abril de 2018, aproveitando a proximidade do Dia Nacional do Livro Infantil (18 de abril), organizei, com os alunos do 5º ano, a feira de troca "Ciranda do Livro". A ideia era aproveitar um livro que já tinha sua história conhecida pelos alunos e trocá-lo por outro e, assim, as histórias transitariam entre as crianças e suas famílias. 

Essa troca, além de incentivar a leitura como fonte de conhecimento, prazer e entretenimento, ajudou os alunos a aprenderem a importância de compartilhar e reaproveitar.

Para a realização dessa feira, eu, junto com alguns alunos, passei em todas as turmas da escola, do pré ao 9º ano, solicitando que trouxessem livros de literatura para troca. Todos os dias, eu passava nas salas de aula para recolher os livros e entregava uma ficha para cada exemplar entregue, para que fosse trocada por outro livro no dia da feira.

Conversei com a coordenadora da creche CEI Nilton de Andrade, que fica localizada próxima da escola, para que também participasse da feira com seus alunos. Após duas semanas de coleta, foram arrecadados 1.177 livros.

No dia da feira de troca, foi organizado um espaço no pátio da escola. Em parceria com a professora de Língua Portuguesa, os alunos do 8º e 9º anos apresentaram peças teatrais de histórias da literatura infantil e de Monteiro Lobato.

No início de 2018, também concretizei um sonho acalentado havia muito tempo: a criação do "Informativo Semeadores da Paz".

A ideia havia surgido da observação de notícias negativas na mídia – crimes, corrupção, drogas, falsificação, abusos, bullying, dentre outras. A violência se tornou comum e aceita como parte de nossa sociedade, e, para alguns, é um modo de vida. 

A geração dos nossos alunos, dos nossos filhos está crescendo acreditando que o mundo é só isso. Eles não têm referências e inspirações boas como exemplo. Precisam saber que, para cada pessoa que faz o mal, existem milhares que fazem o bem e que suas histórias não são compartilhadas.

Com tiragem mensal de 3 mil exemplares, com 12 páginas, e também no formato digital, o "Informativo Semeadores da Paz" aborda diversas temáticas nas seções "Qualidade de Vida", "Saúde", "Espaço Família", "Ecologia", "Sustentabilidade", "Entrevistas com Pessoas Inspiradoras", "Viajando na História com Pacificadores" e "Notícias da ONU".

Além disso, busca valorizar e estimular a leitura e a produção textual dos alunos, oportunizando melhoria da qualidade da leitura e escrita através da divulgação impressa, acessível a toda a comunidade, e por meio da divulgação on-line.

Para apoiar essa missão, consegui estabelecer parcerias com empresários. Na criação do informativo, visitamos as dependências de um jornal do município, onde os alunos acompanharam todas as etapas de execução – da criação ao transporte.

Foram elaboradas atividades de consulta, pesquisa, entrevistas, fotografias e visitas, buscando material para compor o informativo.

Com a equipe de responsáveis pelas seções, selecionamos, para o primeiro número, os assuntos e os conteúdos sugeridos e enviados por diversos alunos.

Os alunos de todas as turmas, professores, pais e colaboradores se envolveram ativamente na confecção do informativo.

Desde então os informativos são distribuídos gratuitamente a toda a comunidade e, para cada um dos 20 patrocinadores, são enviados 100 exemplares para distribuição a clientes, amigos e funcionários.

Saiba mais

O trabalho possibilita a abordagem de diversos gêneros textuais. sendo a "Biografia" o mais evidente. A escolha desse gênero como objeto de ensino pode ser uma importante oportunidade de estudo.

Além disso, o projeto dá margem à entrada de diversos outros gêneros multimodais, como "Panfleto" e "Documentário", que podem ser inseridos como variações dos produtos de divulgação, de acordo com as diferentes realidades das escolas.


Empreender para compreender: educação financeira na prática

Área(s): Matemática.

O objetivo desta prática foi possibilitar aos alunos o desenvolvimento de atitudes conscientes e uma relação saudável com o dinheiro no dia a dia e a disseminação desse conhecimento às famílias.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Matemática.

Quando:

Ao longo do ano letivo, com duração aproximada de um bimestre.

Materiais:
  • materiais de uso cotidiano;
  • recicláveis;
  • dinheiro de mentirinha;
  • sala de informática com acesso à internet (desejável).
Habilidades trabalhadas:

EF04MA03; EF04MA04; EF04MA06; EF04MA13; EF04MA25

Professor(a) responsável:

Priscila Brandão Casado.

Escola:

Escola Estadual Professor Francisco Portugal, Aracaju (SE).

O que é:

O presente projeto foi desenvolvido com uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental, num total de 25 alunos, com idades entre 8 e 12 anos.

Com base nos diálogos dos alunos sobre mudanças na situação financeira de suas famílias, vitimadas pelo desemprego, e sobre o impacto dessa nova realidade na vida escolar da turma, surgiu o projeto “Empreender para compreender: educação financeira na prática”.

Como fazer:

Foi a partir de 2017 que começamos a observar mudanças no perfil dos alunos matriculados na escola. Gradativamente, ingressavam estudantes provenientes de instituições particulares de ensino, em virtude da impossibilidade dos pais de manterem o pagamento das mensalidades.

Essa mudança no perfil das turmas gerou algumas disparidades nas salas de aula, com níveis de aprendizagem diversos, participação e comprometimento das famílias de forma diferenciada e realidades sociais e culturais distintas.

À medida que fui conhecendo a turma, consegui observar, por meio de avaliações diagnósticas, que uma parcela significativa dos alunos apresentava dificuldades significativas em Matemática, principalmente sobre noções e conceitos básicos, interpretação de problemas matemáticos e resolução de cálculos.

O que chamou bastante a atenção foi o fato de dificuldades permearem todas as realidades naquele espaço. Tanto alunos oriundos da rede particular quanto os da rede pública se igualavam nas dificuldades com a Matemática.

O trabalho foi pensado para ser desenvolvido entre setembro e novembro de 2017. Alguns meses antes, eu havia buscado apoio da representação de Sergipe do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A instituição disponibilizou alguns materiais gráficos e didáticos para crianças sobre empreendedorismo. No entanto, essa era apenas uma pequena parte do que eu precisava. Como não tinha muito conhecimento sobre a temática, necessitava de meios para adequar o assunto à faixa etária e à realidade da turma.

O ponto de partida foi a aquisição de um cofrinho. Nele, guardaríamos o dinheiro arrecadado para a compra de materiais para a culminância do projeto, no mês de novembro.

Em conversa com a turma, chegamos ao acordo de que todos colaborariam com a quantia de R$ 1,00 por semana, e que essa quantia seria utilizada como investimento. Enviei pedido de autorização aos pais explicando o intuito da arrecadação. Todos concordaram com a proposta.

Num segundo momento, após trabalharmos alguns conceitos norteadores como poupança, investimento e rendimento, propus à turma que pensássemos em alternativas para fazer o dinheiro render.

Durante as discussões, surgiu a ideia de vender algo na escola. Era necessário que fosse algo simples e prático, além de criado pelos próprios alunos.

Depois de várias propostas, definimos o “Geladinho Gourmet” como produto para comercialização no ambiente escolar.

Tudo foi previamente acordado com a equipe diretiva e explicado aos outros professores e respectivos alunos.

A proposta visava estimular o empreendedorismo, com os alunos ampliando o relacionamento com a comunidade escolar e desenvolvendo estratégias criativas para atrair "clientes".

Fazia parte desta etapa também aprender a calcular e a ter noções de custo, lucro e prejuízo. Isso era importante porque, a cada dia de venda, fazíamos o somatório dos gastos com base em notas fiscais de compra. Também contávamos o dinheiro arrecadado e finalizávamos com os cálculos para verificar se tínhamos alcançado lucro ou prejuízo.

Esta foi uma das etapas de maior envolvimento e empolgação. A cada jornada de vendas, era uma euforia para saber quem seriam os próximos sorteados para vender o produto. Foram formados pequenos grupos, que se alternaram ao longo das semanas.

Nas equipes, havia função para todos: um realizava a venda, o segundo ajudava a conferir o dinheiro e a passar troco e um terceiro auxiliava com a divulgação, atraindo os clientes.

Alguns alunos mais tímidos se recusaram nas primeiras tentativas, mas o envolvimento da escola foi tão grande que os colegas das outras turmas começaram a vir todos os dias, bem cedo, à nossa porta para “reservar” os geladinhos, que eram vendidos, sempre, no horário do recreio, e acabavam em poucos instantes.

Todos os dias de venda eram marcados por muita expectativa; os alunos disputavam para contar até as moedas arrecadadas.

No entanto, em dias mais chuvosos, as vendas caíam, e a turma passou a visualizar a ocorrência de prejuízos.

Mas eram necessárias persistência e perseverança para empreender, mesmo diante de adversidades. Assim, demos continuidade ao projeto.

Concomitante a essa etapa, outras atividades foram sendo realizadas. Com uma parte do dinheiro, comprei cédulas de brinquedo para dar suporte às atividades em sala de aula (problemas, cálculos matemáticos etc.).

Foi possível verificar que o trabalho com base no "concreto" gerou uma experiência mais significativa e efetiva. O uso do dinheiro tornava as atividades uma verdadeira brincadeira, e a aprendizagem começou a ocorrer de forma gradativa e leve.

Jogos como “O Pequeno Empresário”, uma versão simplificada do "Banco Imobiliário", agregaram mais significado às atividades matemáticas, estimulando noções de soma e subtração de valores e aguçando o raciocínio, a concentração e desenvolvendo a tolerância à frustração.

Aliando o trabalho a outras disciplinas, fizemos ainda uma "viagem histórica" para compreender a origem do dinheiro, sua evolução e produção no mundo e no Brasil. Falamos sobre escambo, processo de cunhagem e evolução cronológica do dinheiro no Brasil. Para isso, utilizei vídeos como recurso para as atividades.

Assim, os alunos conheceram um pouco do trabalho desenvolvido na Casa da Moeda, além de um passo a passo sobre como identificar cédulas falsas.

A história do dinheiro aguçou bastante a curiosidade das crianças, principalmente porque a maioria não conhecia as cédulas de R$ 1,00.

Pedi que conversassem em casa com os familiares sobre o tema. Muitos alunos acabaram descobrindo que os pais guardavam essas notas antigas, e as trouxeram para a escola para compartilhar o conhecimento com os outros colegas.

Em outro momento, partimos do questionamento “Dinheiro Nasce em Árvore?” para uma reflexão na roda de conversa sobre a importância do dinheiro em nossa vida e os sonhos que ele não compra. Temas como ética e valores também foram englobados nas discussões. 

Fé, saúde, paz e felicidade foram palavras apontadas pela turma.

Os alunos interagiram, discutiram, discordaram e, por fim, escolheram uma palavra que deveria ser colocada numa nuvem representando os sonhos que o dinheiro não compra. Fé, saúde, paz e felicidade foram palavras apontadas pela turma.

Trabalhamos ainda com as temáticas da economia doméstica e da economia sustentável, por meio das quais abordamos questões sobre reciclagem, sustentabilidade etc.

A culminância do projeto foi pensada para ser realizada na "Mostra do Conhecimento" da escola, evento muito esperado pelos alunos e pela comunidade escolar.

Por essa razão, demos início à organização e produção de materiais cerca de um mês antes do evento. Mesmo com as produções voltadas para a culminância, a venda dos geladinhos continuou até o encerramento do projeto.

A proposta para a culminância foi elaborada para que os alunos pudessem transmitir tudo aquilo que haviam aprendido e também para que mostrassem, na prática, como o empreendedorismo é possível e a educação financeira é a chave para um futuro melhor.

Na "Mostra do Conhecimento", os visitantes passaram por uma primeira etapa de exposição e explanação teórica. Em seguida, eram convidados a sacar dinheiro em nosso “caixa eletrônico”, para que pudessem interagir comprando produtos dos grupos de empreendedores.

Cada grupo teve de pensar no seu negócio, respeitando gostos e interesses. Coube a eles elaborar todas as etapas de criação, desde o nome até a forma de organização, distribuição das tarefas e execução. Os negócios ficaram assim divididos:

  • "Oficina Sustentável": produção de cofrinhos com garrafas PET.
  • "Bazar da Economia": roupas, brinquedos e acessórios que as crianças não usavam mais.
  • "Lanchonete Coma Mais e Pague Menos": alimentos preparados pelas crianças, e suas mães.
  • "Supermercado Ki Barato: os alunos ficaram responsáveis por confeccionar toda a estrutura do supermercado com material reciclado, além de fazerem estantes com caixas de papelão e construírem o caixa eletrônico.Também juntaram embalagens, colocaram os preços. 

Este foi o negócio que mais recebeu a participação dos pais, já que alguns trabalhavam em supermercados da região e auxiliaram os filhos trazendo anúncios, placas de preço, folhetos e estantes.

O dia da culminância foi o momento em que os alunos visualizaram, de forma ampla e interligada, tudo o que tinha sido abordado e trabalhado durante os dois meses.

Para muitos, era a primeira experiência de falar em público, o que gerou bastante ansiedade e nervosismo. Para outros, o momento era de euforia.

À medida que relatavam as experiências vivenciadas e executavam as atividades de compra e venda, eram nítidos o envolvimento, o comprometimento e a felicidade de todos.

No evento, tivemos participação significativa das famílias, que vieram contemplar e apoiar seus filhos. Em seus relatos, pais e professores demonstraram admiração por verem as crianças explicando os conceitos com tanta propriedade, destacando que os alunos estavam seguros de suas explicações. Nos relatos, diziam estar surpresos e que aprenderam coisas que nunca imaginaram aprender com os alunos.

Esse apoio e incentivo foram de fundamental importância, tendo contribuído ainda mais para a autoestima dessas crianças.

A avaliação esteve presente durante todo o processo de execução do projeto, pois entendo que ela precisa ocorrer de forma processual e diagnóstica.

Sendo assim, a cada etapa desenvolvida, uma análise da aprendizagem dos alunos era feita. Usava como base a observação dos relatos e o envolvimento da turma.

E, como avaliação final, a apresentação de todos os subtemas trabalhados e unificados na Mostra do Conhecimento realizada na escola.

Foi possível verificar um grande engajamento da turma, principalmente no momento de venda dos geladinhos. Essa iniciativa também despertou o interesse de alguns alunos, que começaram a pensar em vender algo para que pudessem poupar dinheiro.

A iniciativa ganhou amplitude, e alguns alunos de outras turmas começaram a vender outros produtos na escola, como palha italiana e brigadeiros.

O dinheiro sempre foi algo presente no cotidiano desses alunos. Muitos deles já auxiliavam os pais indo a padarias, mercearias etc.

No entanto, o dinheiro até aquele momento não era visto como algo que lhes pertencesse, pois a maioria não recebia mesada. Por isso, o processo de poupar e fazer render o dinheiro arrecadado gerou um sentimento de pertencimento, cuidado e responsabilidade. 

Eram visíveis nas atitudes da turma a alegria e a euforia nos momentos em que contávamos o dinheiro e víamos aquela quantia inicial aumentar.

A partir de pequenas atitudes dos alunos, como reduzir o consumo de balas para poupar o dinheiro recebido dos pais ou a atenção com a economia de energia e de água em casa, comprovou-se que os alunos passaram a compreender a importância do dinheiro em suas vidas, mas, muito mais do que isso, passaram a perceber o impacto de suas atitudes no futuro.

O projeto “Empreender para Compreender: educação financeira na prática” possibilitou não só aos alunos, mas especialmente a mim, a vivência com uma temática pouco comum na rotina da sala de aula, embora imersa por completo na vida pessoal.

Buscar alternativas para trabalhar este tema com as crianças foi um de meus maiores desafios. Tive de sair de minha zona de conforto, da sala de aula e da frente do computador para ir além.

Foram necessários muitos momentos de pesquisa, reflexão e de adaptação de conteúdos à realidade da sala de aula. Discutir e praticar o empreendedorismo entre crianças era algo que poucos acreditavam ser possível.

Dica!

O protagonismo dos alunos na decisão sobre quais produtos comercializar é fundamental nesta atividade, por serem eles mesmos os potenciais consumidores.

A vivência do “negócio” implica aprendizagens significativas e contextualizadas que, de outra forma, poderiam se perder com facilidade. Empreender, nesse contexto, significa “envolver-se” na aprendizagem necessária para o sucesso do empreendimento.

Conceitos como lucro, prejuízo e investimento são difíceis até mesmo para alunos de séries mais avançadas, mas podem ser compreendidos de forma concreta nesta prática.

O “dinheiro de mentirinha” pode ser facilmente produzido com um computador, acesso à internet e uma impressora, não havendo a necessidade de comprar essas cédulas.

Muito sobre a história do dinheiro e o empreendedorismo na escola pode ser pesquisado e encontrado na internet.

Este projeto sobre educação financeira pode ser executado por qualquer professor em sua realidade de sala de aula. Trata-se de um tema que pode ser adaptado a realidades diversas e que sempre será um assunto atual e importante, pois está intrinsecamente ligado à vida de todos.

Sendo assim, é mais do que possível abordar este tema na Educação, inclusive nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

A proposta não requer altos custos. Ela deve ser feita de acordo com o que cada comunidade tem a oferecer. O segredo é utilizar o potencial criativo de cada indivíduo e as peculiaridades de sua região para empreender. Com certeza, esse é o ingrediente mais importante para o sucesso do projeto.

Aos professores que utilizarem esta proposta como inspiração para desenvolver o próprio projeto, tenham certeza de que estarão proporcionando aos alunos uma ocasião para se tornarem protagonistas de sua aprendizagem, além de cidadãos conscientes das próprias atitudes e disseminadores desses ideais dentro de casa e da comunidade.


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