"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

Podcast

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TVcentrinho, um canal de comunicação dos alunos

Área(s): Linguagens.

Esta prática possibilitou a criação de canais de comunicação entre alunos, professores, escola e comunidade.

Componente(s):

Arte, Língua Portuguesa.

Quando:

O projeto, sem contar com a montagem do espaço, pode ser realizado em qualquer época do ano letivo.

Materiais:
  • celular;
  • notebook;
  • teleprompter;
  • gravador de som;
  • se possível, equipamentos mais profissionais, como microfones direcionais, câmeras, sistemas de iluminação, materiais para elaboração de cenários e filmadoras.
Habilidades trabalhadas:

EF15AR19; EF15AR04; EF15AR26; EF69AR06; EF69AR18.

Professor(a) responsável:

Marcus Martins Macedo.

Escola:

CEF 01 de Planaltina, Brasília (DF).

O que é:

Vivemos hoje na sociedade da comunicação, que é baseada em imagens e conexão em redes.

Na comunidade onde leciono, há carência generalizada de bons serviços sociais de comunicação. As circunstâncias me ofereceram uma área coberta dentro da escola (uma edícula, para depósito de mesas e cadeiras quebradas). Percebi que poderia montar ali um estúdio de TV: a “TVcentrinho”!

Muitos conteúdos programáticos poderiam ser contemplados com a criação da “TVcentrinho”, entre eles a teoria das cores, a teoria da comunicação, a produção de textos e a inclusão participativa na vida da escola.

Além disso, poderíamos retratar os “causos” de cada um, por meio da produção de “histórias inventadas”. Elas seriam a base para roteiros de programas de TV, filmes, clips musicais, podcasts, e programas de rádio para a web.

Os alunos logo se identificaram com as diversas funções no estúdio, formando equipes distintas e assumindo as funções de produção.

O projeto “TVcentrinho” foi desenvolvido em sala de aula com todas as turmas do período vespertino. Foram sete turmas do 6º ano e cinco do 7º ano, com cerca de 320 alunos.

As turmas eram bastante heterogêneas, com jovens pequenos vindos das séries iniciais e jovens adolescentes repetentes e em situação de risco.

Trabalhamos, nos dois casos, a autoestima dos alunos, por conta de sua condição de baixa renda e instabilidade familiar recorrentes.

A potencialidade dos alunos é imensa. Logo, todos se identificaram com as diversas funções existentes no estúdio: gravação de imagem, iluminação, gravação de som, direção de âncora, maquiagem, operação de teleprompter, claquete, direção de estúdio etc. Os jovens formaram equipes distintas e assumiram as funções de produção.

A estratégia para avaliar os conhecimentos adquiridos foi quantificar o sucesso da publicação, no YouTube, dos audiovisuais produzidos na “TVcentrinho”.

A atividade de criação das “histórias inventadas” também foi avaliada: cada aluno criou sua história, escreveu, transcreveu e enviou o conteúdo para o grupo de WhatsApp de cada turma.

Com isso, todos tiveram acesso aos textos publicados. Pela qualidade de cada texto, foi possível avaliar a bagagem de conhecimento de cada participante.

Os alunos se sentiram empoderados com o canal de comunicação aberto pela “TVcentrinho”. Perceberam que, de fato, a escola é um ambiente disponível e que eles são os principais componentes do sistema educacional público.

Como fazer:

A primeira etapa do projeto “TVcentrinho” foi a construção física do estúdio. O lugar disponível inicialmente estava abandonado. Não tinha piso, nem porta, nem instalação elétrica. Buscamos alguns objetos de descarte da escola para montar a estrutura e equipar o que viria a ser o estúdio.

Enquanto as estruturas físicas eram providenciadas, em sala de aula, foi aplicado o ensinamento sobre a “Teoria das Cores”, utilizando as bandejas de ovos como suporte das experimentações harmônicas e, ao mesmo tempo, construindo o revestimento acústico do futuro estúdio.

Durante 2017, montamos e desmontamos o estúdio várias vezes, mas sempre preparando as equipes para a produção de programas de TV.

Desmontamos uma vez para fazer o piso, outra vez para colocar a instalação elétrica, mais uma vez para colocar o revestimento acústico, depois para o arredondamento dos cantos para produzir o “fundo infinito” e, novamente, para a pintura e a instalação do sistema de iluminação.

Paralelamente, estávamos em sala de aula produzindo textos: as “Histórias Inventadas”, que podem se tornar poesia, letra de música, filme, podcast, depoimento.

Ensaiamos a interpretação dos textos, com o uso do teleprompter, enquanto as equipes de gravação estavam sendo treinadas para realizar a gravação.

Antes ser escolhido para se tornar público, cada texto passava por um tratamento colaborativo, em sala de aula, para que todos melhorassem a narrativa, propondo palavras, situações ou enredos.

Continuamos o projeto de realização de um filme, com novos alunos e alguns remanescentes. Todos participaram. Havia um aluno surdo controlando a gravação de som. Como o gravador tinha níveis de barra visuais, ele conseguiu monitorar a gravação.

Alunos que escreviam muito mal puderam transcrever suas histórias faladas por meio de aplicativos de celular.  Outros cuidaram da entrada e da saída do estúdio e do uso da claquete ou da maquiagem. 

Aos poucos, os jovens perceberam que era uma oportunidade de apresentar algo bem-feito, de qualidade, que pudesse valorizá-los e melhorar a sua autoestima.

O primeiro sinal de que o trabalho daria certo foi a criação, por um aluno, de um rap que, pela qualidade da mensagem, emocionou todo mundo. Em seguida, uma poesia foi declamada e foi elaborado um programa explicando sobre os diversos tipos de drogas.

Houve a percepção, pela maioria dos alunos, de que uma mensagem gravada em vídeo e postada no canal da “TVcentrinho” permaneceria. Por isso, o conteúdo precisaria ter um caráter mais sóbrio, mais responsável.

O trabalho começou, quase sempre, com dificuldades. Mas fizemos uma reflexão mostrando que aquele trabalho refletia o modo como eles próprios se apresentavam à sociedade. Aos poucos, os jovens perceberam que era uma oportunidade de apresentar algo bem-feito, de qualidade, que pudesse valorizá-los e melhorar a sua autoestima.

Houve casos emblemáticos de superação: um aluno, com diversas deficiências, que mal conversava, foi estimulado a escrever uma letra de música, e, por fim, criou várias. Hoje, ele é requisitado pelos demais alunos e alunas da escola a escrever letras românticas! Outro caso foi o de uma dupla de garotos indisciplinados que passou a ser exemplo para os mais jovens como cantores de rap.

Esse projeto está apenas começando. A possibilidade de continuar o sucesso é enorme, pois os alunos cuidam com imenso carinho do estúdio da “TVcentrinho”.

Isso prova que ele vem ao encontro dos desejos e das expectativas dos alunos por uma escola mais inclusiva e capaz de suprir as demandas de uma sociedade cada vez mais conectada em redes e fornecer conteúdo, e não apenas consumir o que é oferecido pela internet.

O projeto requer do professor habilidade na construção de textos dramáticos. Demanda também que receba apoio interdisciplinar e que tenha habilidades como liderança e conhecimento da linguagem audiovisual, da linguagem cinematográfica e das plataformas e programas de imagens digitais e das leis que regem a edição das imagens e dos sons.

Saiba mais

A demanda das novas gerações por produção audiovisual é imensa. O trabalho em equipe tem o poder de agregar habilidades diversas. Numa produção audiovisual, há função para todos: do impetuoso líder aos que precisam de comandos precisos para a realização efetiva de tarefas objetivas – e todos se realizam satisfeitos!

As mudanças demandadas pelo projeto “TVcentrinho” são de ordem pedagógica e material. As pedagógicas se referem à quantidade de alunos por sala de aula, ao horário destinado para o desenvolvimento do projeto e à necessidade da existência de um professor de apoio para absorver as demandas dos alunos que não estão no estúdio, como tratamento de textos, ensaios, criação de diálogos, criação das “Histórias Inventadas” etc.

Já as mudanças materiais têm relação com a necessidade de equipamentos, como microfones direcionais, câmeras, sistemas de iluminação, materiais para elaboração de cenários, filmadoras, gravadores de som, além de um teleprompter.