A água de nosso bairro, um aprendizado além da sala de aula
O objetivo desta prática foi, de modo interdisciplinar, fazer com que os alunos conhecessem melhor seu local de vivência e refletissem sobre como ajudar na construção de um ambiente melhor.
Quando: No período mais úmido e quente do ano.
Materiais: Não há descrição detalhada.
Habilidades trabalhadas: EF15LP01; EF15LP05; EF15LP07; EF15LP10; EF15LP11; EF12LP04; EF02LP13; EF12LP05; EF35LP23; EF05CI04; EF05CI05
Professor(a) responsável: Sandra Maria Buchmann.
O que é:
O projeto foi desenvolvido visando garantir aprendizado e prazer no aprendizado. Suas atividades aconteceram dentro e fora da sala de aula. Tudo o que foi aprendido teve real significado para os alunos, graças às vivências práticas.
Além dos avanços observados em todas as disciplinas, o projeto despertou nos alunos o gosto pelos estudos e pelo aprendizado de coisas novas, tornando-os mais motivados e interessados. Houve cooperação e todos caminharam juntos, crescendo em todos os sentidos.
Como fazer?
Na primeira etapa, fiz uma roda de conversa, sugerindo aos alunos que falassem sobre seus bairros. Em seguida, pedi que desenhassem o que mais gostavam no lugar.
Deixei, então, que pesquisassem sobre seus bairros no Google, utilizando o computador escola. A turma não encontrou nenhuma informação. Então, instiguei-os a pensarem: como as pessoas faziam para saber das coisas antes da chegada do computador e da internet?
Em seguida, perguntei se conheciam alguma pessoa "de idade" e que sempre tivesse na comunidade. Todos sugeriram alguém. Selecionamos o avô de um aluno e resolvemos convidá-lo para participação no projeto. Para tê-lo conosco, trabalhei com a turma o gênero textual "Convite".
Nos dias que antecederam à conversa com o avô do aluno, trabalhamos o gênero textual "Entrevista". Em conjunto, os alunos do 4º e 5º anos elaboraram perguntas sobre a água do bairro. Na data agendada, arrumaram a sala e tiveram a ideia de gravar a entrevista no celular.
No dia seguinte à atividade, os alunos fizeram a escrita da entrevista.
Na sequência, propus às crianças que, em duplas, pesquisassem os temas abordados.
Também pedi a outros alunos da escola que resgatássemos fotos antigas do nosso ribeirão. Trabalhei o gênero textual "Bilhete" e distribuímos a mensagem para todos na escola. Escaneadas, as fotos trazidas serviram para a criação de um banner.
A problemática do projeto surgiu durante a entrevista, com a pergunta:
Fomos averiguar quem eram os responsáveis pela questão do borrachudo na Secretaria do Meio Ambiente do município. Também reunimos agrônomos da unidade local da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) para uma palestra sobre o borrachudo. Os convidados se ofereceram para levar os alunos até o ribeirão.
De volta à escola, os estudantes pesquisaram sobre o assunto. As informações foram impressas e colocadas em seus portfólios. No dia seguinte, numa roda de conversa, relembramos o que aprendemos com a palestra e com a visita ao ribeirão. Então, perguntei: “Agora que sabemos o que causa o aumento do borrachudo, o que podemos fazer? O que vocês, como alunos, podem fazer?”
Várias ideias surgiram das reflexões.
Um aluno disse que temos que avisar todo mundo do bairro para cuidar do ribeirão.
E eu perguntei: “Como podemos fazer isto?”.
Os jovens apresentaram várias ideias. Listei todas elas. A solução escolhida foi a criação de um panfleto. Antes da elaboração, trabalhamos esse gênero textual, coletando, inclusive, vários exemplares – em casa, na rua etc.
A professora de Artes apoiou a ideia e pediu aos alunos que trouxessem materiais recicláveis para a criação do mascote e a posterior inclusão de sua imagem em nosso panfleto.
Após a impressão, os alunos levaram os panfletos para casa e os distribuíram pelo bairro. Uma versão maior do panfleto, colorida, ficou no mural da escola.
Após essa etapa, lancei outro desafio: "O que mais podemos fazer?".
Os agrônomos da EPAGRI voltaram à escola para acompanhar a evolução do projeto. Ouviram os alunos e sugeriram a eles que vendessem mudas de árvores frutíferas na comunidade.
Foi o que fizemos. Vendemos cerca de 200 mudas de árvores frutíferas e flores. Pedimos aos compradores que plantassem as mudas nas proximidades dos ribeirões, para que as árvores, no futuro, servissem de sombra e de alimento aos peixes e outros animais.
Sugeri ainda que plantássemos sementes e produzíssemos mudas na escola para distribuição à comunidade. Pedimos a colaboração de todos os alunos da escola e dos professores. Todos trouxeram caixinhas de leite limpas e furadas.
O avô de um aluno forneceu esterco e barro. As frutas escolhidas para plantio foram a nona e fruta do conde. Os agrônomos nos orientaram sobre o preparo das sementes. Plantamos cerca de 100 caixas com sementes de nona.
Eles também ensinaram os alunos a fazer a quebra de dormência das sementes e a técnica de mergulhia e alporquia.
O crescimento das mudas passou a ser acompanhado diariamente pelos alunos. Surgiu como proposta para o futuro a criação de um mutirão para que alunos, pais e pessoas da comunidade, num sábado, fizessem o plantio das árvores ao redor do ribeirão, compondo uma mata ciliar.
Dando sequência ao projeto, perguntei aos alunos se os esgotos de suas casas iam para um sumidouro ou para o ribeirão. Eles disseram que não sabiam. Mostrei um texto sobre como deveriam ser feitas as fossas na área rural, que não conta com rede de esgoto instalada.
Elaboramos um questionário para as famílias. Queríamos que nos dissessem para onde ia o esgoto de suas casas e se, de alguma forma, ele chegava até o ribeirão.
Também perguntamos de onde vinha a água usada em casa – se era da cachoeira ou do poço artesiano. Nessa etapa, aproveitei para trabalhar o manuseio de tabelas e gráficos.
Os alunos perceberam que deveríamos orientar a comunidade sobre o problema. Para isso, pensamos em buscar orientações com funcionários da Secretaria do Meio Ambiente sobre como fazer fossa com sumidouro, para que o esgoto não fosse despejado no ribeirão. Para esse fim, uma palestra foi agendada.
Os alunos tiveram várias ideias para atrair pessoas à escola. Sugeriram atrações e uma mostra de seus trabalhos. Nessa etapa, trabalhei o gênero textual "Paródia", usando a música Planeta Azul, de Chitãozinho e Xororó. Sugeri que mudássemos a letra da música, incluindo informações obtidas durante o projeto. A paródia ganhou o nome "Nosso Ribeirão" e foi apresentada no dia da mostra dos trabalhos. Na atividade, tivemos a ajuda do professor de Ensino Religioso, que montou um DVD com a paródia, a música original e fotos do projeto. Ficou muito bom.
Nessa época, apresentei aos alunos o gênero textual "Poesia". Todos disseram que detestavam poesia, que era algo muito meloso, sem graça. Mostrei a eles que a poesia poderia ser interpretada de várias formas.
Os alunos declamaram e, entre uma estrofe e outra, fizeram, com o uso de garrafas, ritmos inspirados no som da música Terra, Planeta Água, de Guilherme Arantes. No início e no fim do jogral, eles cantaram um refrão da música. A poesia falava da importância da água para nossas vidas e pedia às pessoas que cuidassem dela, diminuindo seu consumo. Ao final, os alunos disseram que já estavam gostando de poesia.
O jogral também foi apresentado no dia da mostra de trabalhos para a comunidade. Foi mais uma forma de os alunos divulgarem as informações obtidas durante o projeto. Com isso, demonstraram estar no caminho para se tornarem cidadãos dinâmicos, capazes de pensar, agir e transformar a realidade.
Nós devemos ser agentes de mudanças sempre.
A troca de ideias com profissionais saídos das universidades traz uma nova visão de educação, aliada à prática.
O celular e a internet são ferramentas riquíssimas.
O professor, mesmo o que está quase se aposentando, como eu, não pode deixar de se atualizar, de se informar, de se desafiar e de proporcionar aos alunos acesso às informações. Mas, isso, no tempo dos alunos e não no tempo do professor.