"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

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Alúmen: uma proposta escolar de intervenção socioambiental

Área(s): Linguagens; Ciências da Natureza.

Esta prática teve como objetivo promover a intervenção socioambiental, com um mutirão contra a dengue para a coleta e latas de alumínio, evitando que elas se tornassem potenciais criadouros do mosquito da dengue, bem como a redução do impacto ambiental ocasionado pelas latinhas. Além disso, conscientizar a comunidade escolar sobre a importância da preservação e da conservação ambiental global, partindo de seu próprio meio social.

Componente(s): Ciências.
Quando: Sem período específico.
Materiais:
  • textos instrucionais;
  • computadores com acesso à internet.

Habilidades trabalhadas: EF05CI05; EF01CI01; EF15LP05; EF02LP24.
Escola: Escola Municipal Professora Izaltina Mendonca Meireles, Pará de Minas (MG).
Professor(a) responsável: Sérgio José Batista Gomes.

O que é:

Nossa escola sempre se preocupou com a transmissão de saberes vinculados à realidade social dos alunos.

Em 2017, a partir da constatação da existência de um grande número de casos de dengue no bairro, incluindo alunos, engajamos a escola num projeto de o combate à enfermidade.

Numa perspectiva interdisciplinar, desenvolvemos ações que geraram impactos positivos no ambiente escolar e na comunidade.

Numa delas, motivamos os alunos para que saíssem da escola e colocassem em prática o que haviam aprendido sobre o assunto nas aulas de Ciências. Com base em seus conhecimentos sobre gêneros textuais, propus que confeccionássemos panfletos educativos para distribuição pelo bairro.

Durante essa atividade, os alunos propuseram a organização de um mutirão de limpeza em áreas potenciais de proliferação do mosquito Aedes aegyptim, causador da dengue.

Em meio a essa ação, os alunos notaram a existência de um grande número de latas de alumínio (do latim alúmen) jogadas nas ruas, em lotes vagos e áreas próximas da escola.

A inquietação dos alunos me levou a criar o projeto “Alúmen: uma proposta escolar de intervenção socioambiental”. A iniciativa teve como objetivo coletar as latas de alumínio, que antes eram focos de dengue, para posterior venda, constituindo fonte de renda para a manutenção de outros projetos escolares.

Os conhecimentos adquiridos no projeto mudaram a forma de pensar e agir dos alunos, como parte do esforço escolar para a formação de cidadãos mais conscientes em relação à problemática ambiental e à necessidade de redução do consumo e de reaproveitamento de materiais, contribuindo para a redução do impacto ambiental e a ocorrência de doenças.

Com o projeto, percebi a importância de associar uma visão empreendedora e a temática ambiental à produção de conhecimentos pelos alunos. Ficou claro que a participação dos jovens na pesquisa e na descoberta de conceitos é fator importante para o alcance efetivo dos objetivos e a consolidação de mudanças comportamentais, não apenas nos alunos, que passam a agir como empreendedores, multiplicadores e mediadores, mas também em toda a comunidade.

Como fazer:

Por meio de sondagem (atividades semiestruturadas), investiguei os conhecimentos prévios dos alunos sobre a dengue e sobre a consciência ambiental, no que dizia respeito ao tempo de decomposição dos materiais e seus impactos na natureza.

O diagnóstico durou um mês e cumpriu seu propósito. Percebi a necessidade de mudanças no planejamento inicial do projeto, uma vez que meu público-alvo eram os 269 alunos do Ensino Fundamental Anos Iniciais e Anos Finais. Ou seja: tive de repensar as ações de acordo com a faixa etária dos alunos.

Registramos o diagnóstico num diário de bordo. Nele, foram anotadas as observações sobre os conhecimentos prévios.

Com a direção da escola e os demais envolvidos neste trabalho, realizamos encontros quinzenais para criar estratégias de aprimoramento dos conhecimentos e de descoberta de perspectivas para novas ações.

A estratégia conscientização visou modificar atitudes e práticas pessoais por meio da utilização do conhecimento sobre o meio ambiente, para a adoção de novas atitudes na escola, em casa e na comunidade.

De fevereiro a dezembro de 2017, os alunos receberam orientações sobre comportamento empreendedor, coleta seletiva e impactos da poluição no meio ambiente e na saúde. Foram instruídos também a respeito da importância de recolher, descartar e acondicionar adequadamente materiais recicláveis.

Nesse contexto, a escola desenvolveu com os alunos e a comunidade escolar as seguintes metas de natureza cognitiva, atitudinal e operacional:

  • estabelecimento de correlação entre cultura social e ecossustentabilidade;
  • posicionamento autônomo e criativo diante de situações que estimulem a consciência ambiental;
  • adoção de uma postura de convivência ética, cidadã e empreendedora com o ambiente e as pessoas ao seu redor;
  • predisposição para a adoção de práticas ecossustentáveis e empreendedoras.
  • tomada de decisões para alcançar os objetivos propostos;
  • planejamento de todas as etapas para o desenvolvimento do projeto;
  • monitoramento e avaliação do planejamento realizado, com foco na preservação e na conscientização socioambiental;
  • uso de diferentes estratégias para resolver situações-problema (capacidade de solucionar as adversidades, caso ocorressem).

O cumprimento das metas e o avanço das relações de parceria geraram nos alunos a percepção de que reciclar é sempre vantajoso: a natureza é preservada, postos de trabalho são criados, energia é economizada e o meio ambiente é conservado, além de se tornar fonte de renda para muitas pessoas.

A seguir, são descritas as etapas do trabalho encadeadas em nível de necessidade.

A primeira ação foi uma dinâmica de integração, acompanhada de debates, conversas, e apresentação de slides, vídeos temáticos, do documentário "Ilha das Flores" e de vídeos motivacionais.

Tivemos o apoio do Grupo Teatral Colibri, formado por alunos da rede municipal, que fez a apresentação da peça "Acabe com a Dengue, Antes que ela Acabe com Você". Essas ações tiveram como objetivos motivar os alunos para a temática do projeto escolar comunitário e estimular a cultura ambiental e sustentável, além de incentivar o planejamento para combater os focos locais de dengue.

Para não limitar o projeto ao ambiente escolar, buscamos parceria na comunidade. Elaboramos e distribuímos convites para o lançamento do projeto, na quadra da escola.

O projeto foi lançado para os pais e a comunidade escolar, com a presença de agentes de saúde do bairro e de um agente de combate a endemias, da Vigilância Sanitária do município.

No lançamento, tivemos também uma dinâmica de integração, debates e conversas. Houve ainda a apresentação de slides e vídeos e a realização de atividades reflexivas. Com essa ação, buscamos motivar os pais, formar redes de contatos, estimular a cultura ambiental e sustentável, alcançar parcerias e conquistar multiplicadores.

Essa ação destaca a importância de se tratar a questão ambiental no ambiente escolar já que as crianças se bem informadas sobre essas questões, se tornarão adultos mais conscientes e serão transmissores detes conhecimentos adquiridos na escola.

Em parceria com os professores de Ciências e palestrantes convidados (parceiros da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Pará de Minas e da Secretaria do Meio Ambiente), apresentamos slides, vídeos e textos instrucionais dissertativos e argumentativos sobre coleta seletiva, sustentabilidade e meio ambiente. Criamos ainda um festival de paródias sobre reciclagem.

Os alunos e os professores de Língua Portuguesa confeccionaram panfletos com a apresentação do projeto e dos locais de coletores de latas de alumínio, previamente criados e autorizados pelos moradores do bairro, em parceria com a Secretaria de Planejamento do município.

Os objetivos desta fase foram planejar ações sistemáticas para o envolvimento da comunidade e definir iniciativas de marketing de divulgação do projeto. Faixas foram confeccionadas e colocadas em várias ruas do bairro, chamando a atenção dos moradores para o projeto.

Diante da ideia de confecção de camisas e bonés, buscamos patrocinadores. Na aula de Arte, o professor propôs um concurso para a criação do logotipo do projeto. O vencedor teve sua arte estampada em todos os materiais de divulgação do projeto.

Apesar da dificuldade em encontrar parceiros a contribuir para a educação, a direção da escola conseguiu arrecadar R$ 1.650,00 para a confecção das camisas e dos bonés. No total, 15 parceiros contribuíram com o projeto.

Chegou o grande dia. O nervosismo e a ansiedade dos alunos eram visíveis em seus rostos. Torciam para que tudo desse certo porque queriam mudar a realidade pelo esforço. Sentiam-se como artistas ao se prepararem para um grande espetáculo.

No nosso caso, foi a passeata de conscientização, que teve a participação de todos os alunos e professores, da equipe diretiva e de parceiros.

Todos os envolvidos distribuíram panfletos pelas ruas do bairro e participaram de um mutirão para a eliminação de focos de dengue e da primeira coleta de latas de alumínio.

A iniciativa visou estimular a prática reciclável, sustentável e ambiental e o comprometimento comunitário, fortalecendo o trabalho em equipe.

Graças ao apoio de uma empresa local, a direção da escola adquiriu dois coletores internos e, também, dois coletores externos, que foram instalados nos pontos de definidos pela Prefeitura.

Com a ajuda da Prefeitura, os coletores foram instalados nos locais autorizados, num esforço para estimular a prática sustentável e ambiental e ampliar o comprometimento local.

Turmas de alunos alternadas e autorizadas por seus responsáveis passaram a realizar, semanalmente, um mutirão de eliminação de focos de dengue no caminho até os pontos de coleta de latas de alumínio. Nessa ação, os alunos usaram as camisas do projeto para aumentar a mobilização e a sensibilização local.

Depois da coleta, os alunos venderam as latinhas. Os recursos foram usados no apoio à manutenção dos outros projetos ambientais da escola, entre eles a horta escolar e os jardins escolares, na valorização da comunicação e na busca por novas oportunidades de empreendedorismo sustentável.

Em suas pesquisas de campo, os alunos nas aulas de Ciências levantaram dados comparativos da quantidade de latinhas encontradas nas ruas e nos coletores. Aprenderam também sobre a decomposição do alumínio, que leva de 200 anos a 500 anos. Souberam ainda que 67 latinhas de alumínio correspondem a um quilo, e que cada mil quilos de alumínio reciclados correspondem a 5 mil quilos de minério bruto (bauxita) poupados. Descobriram também que, para reciclar o alumínio, são gastos apenas 5% da energia utilizada na extração.

De posse desses dados, criaram com o professor de Matemática gráficos comparativos entre latas coletadas e latas jogadas nas ruas. Fizeram cálculos sobre a diminuição dos impactos ambientais graças à reciclagem.

O projeto se tornou uma ação permanente da escola. Mas, devido ao surgimento de outras necessidades, uma nova ação foi criada no âmbito do projeto. Usando os quatro coletores instalados, criamos uma gincana de desempenho para as turmas responsáveis pelos equipamentos. O coletor que apresentasse o maior número de latinhas agregaria pontos à equipe correspondente.

Como parte do processo ensino-aprendizagem, o projeto privilegiou a aquisição de um saber vinculado à realidade social dos alunos.

No desenvolvimento dos conteúdos, estimulamos estratégias que favorecessem os quatros pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser. Com isso, mobilizamos a comunidade escolar num importante processo de formação e conscientização ambiental.

O processo de avaliação do projeto abrangeu quatro vertentes. Foram elas: avaliação diagnóstica (averiguação dos conhecimentos prévios), avaliação formativa (conhecimento de informações para um possível replanejamento), avaliação somativa (identifição, ao final do processo, do conhecimento assimilado pelos alunos) e autoavaliação (análise crítica dos alunos e dos professores).

O monitoramento e as avaliações dos trabalhos foram realizados em reuniões mensais com professores, alunos, comunidade e parceiros, palestras com profissionais da área e entrevistas com especialistas ambientais.

Como avaliação positiva, segundo dados do posto de saúde, os casos de dengue no bairro caíram 75% após a implantação do projeto. Esse número foi alcançado também graças ao apoio da Prefeitura, que realizou mutirões de limpeza nos lotes vagos e locais ermos do bairro.

Os conhecimentos adquiridos com o projeto mudaram a forma de pensar e agir, ajudando a formar cidadãos mais conscientes com relação à problemática ambiental e à necessidade de reduzir o consumo, reciclar ou reaproveitar materiais.

Este projeto mostrou também a importância da prática da visão empreendedora na produção do conhecimento.

Saiba mais

A seguir, algumas orientações para que o projeto seja implementado em outras escolas:

  • mostrar aos alunos exemplos de bons trabalhos ambientais;
  • criar regras claras para cada ação e para a avaliação;
  • enfatizar como o trabalho contribuirá para o aprendizado interdisciplinar;
  • demonstrar empolgação com o trabalho para que os alunos percebam a convicção do professor.