"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

Ouça o podcast sobre os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Baú dos avós: aprendendo na interdisciplinaridade

Área(s): Linguagens; Ciências Humanas.

O objetivo desta prática foi promover uma aproximação entre os membros da família, por meio de experiências e histórias e o conhecimento da história dos próprios alunos e da comunidade, suprindo um aspecto não contemplado pelo livro didático para o ensino de História.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Geografia, História e Língua Portuguesa.

Quando:

Em qualquer época do ano letivo.

Materiais:
  • objetos das famílias;
  • documentos dos alunos;
  • fotografias.
Habilidades trabalhadas:

EF01GE01; EF01GE02; EF01GE06; EF01GE07; EF02GE08; EF03GE03; EF02HI02; EF02HI03; EF03HI02; EF15LP01; EF15LP03; EF12LP04; EF01LP18; EF02LP15; EF02LP16

Professor(a) responsável:

Roselaine Xavier dos Santos Galo.

Escola:

Conrado Caldeira CEL Escola Municipal Ensino Fundamental, Bebedouro (SP).

O que é:

Este foi um projeto didático criado em 2012, com a intenção de trabalhar, de forma interdisciplinar, conteúdos das disciplinas História e Geografia em salas do 2º ano.

O que motivou sua criação foi a abordagem existente nos livros didáticos, que ignoravam a realidade individual e as histórias de cada criança.

Como fazer:

Este projeto vem sendo desenvolvido desde 2012. De lá para cá, tem alcançado a maioria dos seus objetivos, com boa aceitação dos alunos, familiares e da comunidade escolar.

O projeto foi aplicado por mim até 2017. Em 2018, uma colega deu continuidade à iniciativa, já que eu havia decidido acompanhar a minha turma do ano anterior – do 2º ano para o 3º ano.

Tal como planejei e com as alterações que a cada ano eu e a minha companheira de trabalho realizamos, o tempo necessário de execução deste projeto é de, no mínimo, três bimestres. Ou seja: praticamente um ano letivo.

Do seu início até o seu término, o projeto passou por várias etapas.

Inicialmente, apresentei-o aos meus alunos. Somente depois de terem conhecido, aprovado e aceitado o propósito é que levei a iniciativa ao conhecimento dos pais. Acertamos os detalhes e definimos o que deveríamos esperar das famílias, dos alunos e da professora.

Procurei iniciar pela história das crianças, com a procura dos dados de seu nascimento, como data, peso, médico que havia feito o parto, hospital e cidade em que ocorreu.

Esse trabalho de pesquisa abrangeu também outros períodos de vida, até os sete ou oito anos de idade.

Ao final dessas pesquisas, que consumiram oito semanas, iniciei a coleta de informações sobre os pais e os avós. Esses dados deram origem a registros diversos, como tabelas e gráficos, criados a partir de contagens feitas pelos alunos.

Cada criança registrava as informações ao seu modo, contando sempre com o meu auxílio.

Na condição de escriba, fiz várias tabelas e gráficos em folhas sulfite A3, que foram afixadas do lado de fora da minha sala.

Assim, quando os pais vinham buscar os filhos, no término das aulas, podiam ver as informações coletadas. Como complemento aos dados familiares, também confeccionamos as árvores genealógicas dos alunos, com nomes e fotos.

Toda semana, um novo estudo era apresentado como tema de pesquisa, como as brincadeiras e cantigas preferidas dos avós. Essas informações também foram utilizadas nas aulas de Educação Física e de Arte.

Propus ainda pesquisas sobre os animais de estimação, manuseio de certidões de nascimento e carteirinhas de vacinação do SUS, dentre outros documentos. Suas informações foram copiadas para uso nas aulas de Ciências.

Com foco também na alfabetização, as aulas foram utilizadas para a leitura de poemas, cantigas, verbetes e cruzadas, constituindo mais um momento de reflexão sobre o sistema de escrita.

As disciplinas de História e Geografia sempre estiveram vinculadas ao meu trabalho, como nos desenhos, feito pelas crianças, das fachadas de suas casas, das plantas baixas de seus quartos e da nossa sala de aula. Utilizamos também cópias do mapa do Brasil para localizar e registrar a origem das famílias.

Além das breves entrevistas feitas com os pais e avós, solicitei às crianças que procurassem e colassem fotos da infância dos pais, avós, irmãos, tios etc. Algumas mães não tinham fotos ou optaram por não anexar imagens no "Caderno de Memórias".

Nesses casos, as crianças deveriam observar alguma fotografia selecionada e, a partir dela, fazer um desenho. Podiam, ainda, fazer um desenho com base nas informações de memória de seus familiares.

No final do mês de setembro, solicitei às crianças que trouxessem uma foto de suas famílias para inclusão no mural “Retratos de Família”.

E, assim, o "Caderno de Memórias" foi se transformando numa espécie de livro manuscrito da história real de cada criança, com fotos ou desenhos que ilustravam cada etapa de suas vidas, além de dados, contagens, tabelas e gráficos sobre os familiares.

O caderno foi exposto no encerramento no projeto para que, além das próprias famílias outras pudessem ter acesso ao desenvolvimento dos coleguinhas de seus filhos.

Como gosto de trabalhar com projetos, desenvolvi outros para as demais disciplinas.

Em Língua Portuguesa, criamos um projeto de leitura e escrita sobre a "Dona Baratinha". Como produto final, fizemos a dramatização de sua história.

Em Ciências, por sua vez, trabalhei um projeto com informações sobre animais chamado "Bichonário". As pesquisas foram realizadas na sala de aula com o uso de um computador com acesso à internet

Os produtos finais também foram apresentados no evento de encerramento do projeto.

Convidados de honra, os avós adoraram a dramatização das histórias, aprenderam sobre animais em risco de extinção, ouviram poemas de Cecília Meireles e cantaram a cantiga mais apreciada por eles, segundo as pesquisas dos alunos.

Confeccionado pelos alunos, o convite com o local e o dia do evento, trouxe ainda um pedido especial aos avós: que trouxessem para a escola algum objeto de valor sentimental.

Todos que fizeram isso, depositaram seus objetos em nosso baú: uma caixa especialmente enfeitada para receber os tesouros.

No final, os avós que acharam que apenas veriam seus netos se apresentarem, vivenciaram uma surpresa especial. Cada um deles teve de pegar o seu tesouro e explicar para todos os presentes quando aquele objeto tinha entrado em sua vida, por qual motivo havia se tornado um tesouro e por que, em sua visão, tinha um valor inestimável.

Aquele foi o momento mais emocionante da minha vida como professora e, provavelmente, da vida dos meus alunos, pois muitos se emocionaram junto com os avós.

Após estarmos recompostos, apreciamos o mural “Retratos de Família”. Todos ficaram felizes ao se verem ali representados, O mesmo aconteceu quando as famílias folhearam os "Cadernos de Memórias" e examinaram outros trabalhos realizados no decorrer do ano.

Por se basear na pedagogia de projetos, o trabalho viabiliza a alfabetização paralelamente à ampliação dos letramentos dos alunos, respeitando o tempo de cada criança.

O trabalho com documentos possibilita a viabilização da escrita até os níveis mais avançados. Os nomes próprios, que aparecem nos documentos, são referências importantes para as crianças em processo de construção da escrita.