"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

Ouça o podcast sobre os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.


Apaixonando leitores

Área(s): Linguagens.

Em face à realidade dura e de grandes desafios educacionais, surgiu o projeto “Apaixonando leitores” e, com ele, o anseio de provocar ações que despertassem o interesse dos alunos pelas aulas de Língua Portuguesa e oferecessem elementos adequados e significativos ao conhecimento e à interação escolar.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Não há um momento determinado para a realização do projeto.

Materiais:
  • DataShow;
  • caixa de som;
  • cartolina;
  • cartão;
  • material de sucata;
  • tinta;
  • E.V.A.;
  • telhas;
  • tecidos.
Habilidades trabalhadas:
EF15LP02; EF15LP03; EF15LP04; EF15LP09; EF15LP19; EF02LP26
Professor(a) responsável:
Willis Santana dos Santos.

Escola:
Escola Municipal Santa Fé, Teresina (PI).

O que é:

Nosso projeto surgiu de questionamentos dos alunos sobre por que deveriam ler os livros paradidáticos, estudar gramática e aprender os gêneros textuais. Eles não percebiam relação concreta entre o que era construído na classe e a vida cotidiana. Sentiam também uma ausência de valores humanos nas aulas. Os alunos não se sentiam motivados a aprender, e isso levava a baixos resultados.

Desse modo, resolvi partir da arte literária, das artes cênicas, da pintura, da escultura, e da música para oferecer acesso a um universo diferente, prazeroso, de boa execução e, acima de tudo, diferenciado nos resultados

O nome “Apaixonando leitores” veio do objetivo de fazer com que cada aluno se tornasse um apaixonado pela leitura e inspirasse outras pessoas. Em sua proposta, o projeto visou estabelecer relações entre teoria e prática e entre os conteúdos estudados em sala e o cotidiano dos alunos.

Mais especificamente, procurou oferecer meios para que os alunos acessassem os mais variados tipos de leitura e gêneros, envolvendo os alunos nas atividades sugeridas e, por meio delas, alargando horizontes pessoais e culturais, garantindo uma formação crítica e emancipadora.

“Apaixonando leitores” foi uma oportunidade de estímulo à leitura e instrumento para que os jovens percebessem que ler pode ser divertido e prazeroso, e não apenas uma obrigação.

Como fazer:

O diagnóstico cumpriu seu papel. Após um mês coletando informações a partir de avaliação escrita e oral, de conversas informais com alunos e pais e de anotações no diário de bordo, constatamos que a maioria dos alunos não dominava os conteúdos mínimos. Os alunos tinham dificuldades na leitura, na escrita e, consequentemente, na interpretação de textos.

Descobri que alguns viviam na pobreza extrema. Outros precisavam vender cheiro-verde à tarde para ajudar no sustento de casa. Havia alunos, ainda, que cuidavam dos irmãos mais novos. Conheci o caso de uma aluna que havia sido abusada pelo padrasto e a história de um garoto que tinha sido deixado aos cuidados da avó. Mas havia outros que moravam com os pais, eram assistidos, tinham o material necessário, moravam em casas de tijolo, diferenciando-se de grande parte do alunado. 

As crianças já tinham problemas em excesso. Eu não poderia deixar que a escola se tornasse um lugar onde nada de importante acontecia.

Mais do que transmitir conteúdos, eu precisava fazer com que os pequenos se vissem como pessoas importantes, que despertavam carinho, preocupação, cuidados e desejos de um futuro melhor

E isso poderia ser realizado se eles se enxergassem em poemas, letras de músicas etc. e em aulas pensadas para eles.

Depois de analisar o histórico escolar e familiar e os resultados dos diagnósticos, optei por uma abordagem que oferecesse intervenções pertinentes.

Para isso, recorri a metodologias que favorecessem seu desenvolvimento, mas que também respeitassem suas características individuais e necessidades, sempre com foco na leitura.

“Apaixonando leitores” consistiu na leitura de um livro e, posteriormente, na apresentação da obra aos colegas.

Após a leitura e a discussão da obra, os alunos foram desafiados a descobrir o nome do livro que seria tema da nossa aula. Um deles só seria lido após ter seu título descoberto, a partir das pistas.

Durante duas semanas, foram sendo colocados na sala diferentes pistas, como uma fechadura, xícaras, um coelho, cartas de baralho e um gato. Assim, prossegui até que a turma descobriu o nome do livro: Alice no País das Maravilhas.

Em meio às leituras, orientei os alunos a escolherem frases relacionadas a sucesso, felicidade etc. Frases estas que passaram, após discussão, a fazer parte da decoração da nossa sala.

Às sextas-feiras, na aula de recreação, fazíamos uma retrospectiva da leitura e uma reflexão do que tínhamos aprendido com a obra. Sempre encerrávamos a aula com uma frase de impacto. Às segundas-feiras, um cartaz era colocado em sala com a frase.

Ao término da leitura da obra, todos foram convidados para o “Chá da Alice”. Surgiu, então, um desafio: cada aluno deveria ler a obra para alguém, como havíamos feito durante aquele tempo, e fazer a pessoa se interessar pela história, além de convencê-la a ler para mais alguém, formando, assim, uma corrente de leitores apaixonados.

Inicialmente, o desafio foi escolher qual seria o livro, ler seu conteúdo e, posteriormente, motivar um colega de sala a fazer o mesmo. Por terem gostado da maneira como eu fazia as apresentações das obras, todos queriam mostrar seus dotes artísticos, bem como que estavam lendo aos amigos.

Na segunda etapa, a partir do momento da apresentação da segunda obra, já com maior domínio sobre o nervosismo, mais postura, entonação, dicção e alguns outros elementos necessários para se fazer bem entender, o aluno era desafiado a apresentar sua obra a colegas de outras séries.

Na oportunidade, tive de convencer um maior número de pessoas a se tornar leitores. Aceito o desafio, era acordado um momento para que a turma convidada fosse direcionada à nossa sala para ver algumas apresentações.

A exposição foi uma pequena amostra do que aconteceria até a finalização do projeto e dos resultados da turma, que alcançou as metas projetadas, graças ao redirecionamento dos conteúdos e dos esforços diários para se fazer sempre mais e melhor.

Sem perceber, os alunos ultrapassaram as barreiras que os impediam de alçar maiores voos. Por causa de suas conquistas, passaram a considerar a escola de outro jeito.

Da ideia à concretização do projeto, que se tornou grande graças às pessoas que o abraçaram, tivemos sempre o apoio e a colaboração da comunidade escolar – do agente de portaria ao diretor, de amigos professores a familiares e vizinhos, além dos responsáveis e dos próprios alunos, que contribuíram de forma significativa para a consolidação da iniciativa.

Nossos momentos cumpriram de maneira eficaz o seu propósito. As atividades desenvolvidas despertaram o interesse e fizeram com que todos os alunos da turma participassem.

Os exercícios propostos foram realizados com sucesso e, algumas vezes, em tempo menor do que havia sido planejado, comprovando, assim, a disposição dos alunos quando existem condições diferenciadas e quando se percebem como agentes ativos do meio em que estão inseridos.

As avaliações foram feitas por meio de instrumentos como provas, seminários, grupos de discussões e gincanas. A partir delas, constatei que a maioria das crianças alcançou os resultados esperados. Infelizmente, um aluno, talvez até pelas faltas frequentes, não conseguiu evoluir.

Senti a necessidade de informar a esse aluno sobre sua aprendizagem e ouvir dele o que precisaria ser feito para melhorar o processo. Também quis saber sobre suas dúvidas, seus anseios, e como ele interpretava os resultados obtidos.

Cabe ainda destacar a importância de planejar, realizar e avaliar de forma integrada a aprendizagem, num processo contínuo, no qual o sucesso e o erro são oportunidades de crescimento.

Em momentos lúdicos e dinâmicos, foi possível constatar que a aprendizagem se dá de maneira muito mais eficaz quando não é imposta.

Concluo este trabalho com a convicção de que fizemos o melhor possível, a partir das condições existentes. Sei, contudo, que muito pode ser feito e melhorado.

“Apaixonando leitores” é o resultado de uma prática que deu certo. Alguns professores da escola já abraçaram o projeto, com adaptações, obviamente.

Saiba mais

Educar requer um compromisso do educador com a tarefa de desvelar as raízes da própria prática. Os novos desafios exigem novas respostas e não apenas esforços duplicados para que sejam feitas as mesmas coisas.

Avaliar exige do educador uma postura transparente, coerente e ética, com a ressignificação holística do fazer pedagógico, do planejamento e da execução.

A avaliação que defendo valoriza a história de vida do aluno, suas experiências, seus conhecimentos, seus erros, seus questionamentos.

Avaliar exige que sejam estabelecidos critérios, que sejam criadas formas de registro, que seja oferecido feedback aos alunos e que seja dada a oportunidade para a formação reflexiva, por meio da avaliação contínua. Com isso, temos uma educação que ultrapassa os muros da escola.