"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

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Jornal, recurso para aprender gêneros textuais

Área(s): Linguagens.

Esta prática teve como objetivo promover a aprendizagem dos diferentes gêneros textuais presentes no jornal.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):
Língua Portuguesa.

Quando:
Durante o ano letivo.

Materiais:
  • textos de diversos gêneros;
  • jornais (locais, estaduais ou nacionais);
  • computador;
  • folhas de papel.
Habilidades trabalhadas:
EF04LP16; EF35LP16; EF04LP14; EF35LP21; EF35LP26; EF35LP23; EF03LP16; EF05LP10;
Professor(a) responsável:
Marilice Fernandes Heidemann.

Escola:
Escola Municipal de Ensino Fundamental Albano Kanzler, Jaraguá do Sul (SC).

O que é:

A proposta pedagógica da rede municipal de educação diz que os professores de Língua Portuguesa podem desenvolver os seguintes conteúdos dos gêneros textuais: poemas, crônicas, notícias, reportagens, textos científicos, receitas, histórias em quadrinhos, charges, propagandas, classificados, encartes de preços, jogos interativos, lúdicos e pedagógicos (como sudoku), cruzadinhas e jogos dos sete erros.

Diante desse desafio, a minha preocupação era desenvolver esses conteúdos de forma interessante, sabendo que os alunos apresentavam muita resistência para ler e escrever.

Então, um recurso apareceu como um presente. A mãe de uma aluna enviou para a turma exemplares de jornais. Esse presente se tornou o nosso pote de ouro para a aprendizagem, pois analisando os jornais, percebi o quanto eles transbordavam gêneros textuais e o quanto poderiam ser valiosos. Portanto, a partir deles, busquei desenvolver os diversos gêneros textuais com os alunos.

Parti para a definição do que aquele recurso poderia ajudar na aprendizagem. Ele seria a finalização do nosso projeto? Seria um material para análise e incorporação de diversos gêneros textuais? Seria um material para escrita e reescrita de gêneros textuais?

Elenquei os conteúdos que deveriam ser trabalhados e outros que constantemente devíamos recapitular, na perspectiva linguística. Foram eles:

  • poema: composições em versos, sua distribuição na página e escrita;
  • notícia: sobre a própria escrita, a busca pela informação sobre suas partes e como escrevê-la;
  • reportagem: suas diversas fontes como pesquisas, entrevistas e investigação de acontecimentos, assim como suas formas de escritas;
  • crônica: como entendê-la, interpretá-la e escrevê-la;
  • informações científicas: como desenvolvê-las por meio da pesquisa;
  • receitas: como envolver-se com esse gênero e sua forma de escrita;
  • história em quadrinhos: criação e forma de expressão;
  • charge: interpretação da forma sátira de ilustração;
  • cruzadinhas: formas de passatempo, como sudoku e jogo dos sete erros.

Conversei com os alunos sobre o que eles conheciam desses gêneros. Com base nos conhecimentos prévios, pedi a eles que escrevessem seus primeiros textos.

Partimos para a produção coletiva. Procurei incentivá-los, organizando as falas e coordenando o grupo. Os alunos compararam os textos e, em seguida, reescreveram os conteúdos individualmente, revisando-os e os aprimorando, para fins de publicação.

Dividi os alunos para as pesquisas sobre os gêneros textuais notícia, reportagens, crônicas. Levei-os ao Núcleo de Tecnologia Municipal, onde lemos textos de alguns autores. Analisamos a parte gramatical: como o autor escreve cada parágrafo, qual enfoque dado e as características específicas de cada gênero textual.

Li os gêneros textuais, tentando passar o máximo de emoção possível, pois acredito que leitura e escrita vêm do coração, da vivência e da emoção.

Também foi realizado um trabalho com os outros gêneros textuais. Analisamos vários livros e autores de histórias em quadrinhos (gibis).

Em relação a eles, mudamos um pouco a estratégia de trabalho, transformando as histórias em quadrinhos em textos escritos e vice-versa, fazendo com que os alunos percebessem diferentes maneiras de narração da história.

Olhamos jornais da cidade e do estado para analisar sua organização (cadernos de esporte, economia, política etc.). Também avaliamos alguns suplementos infantis, a fim de perceber sua importância para a aprendizagem, sua estética, seus temas. Produzimos um suplemento para o jornal da cidade.

Como fazer:

No início do ano, recebi uma turma criativa e questionadora que demonstrava uma agitação equilibrada, e com fome de aprender. Eu não podia deixar isso morrer. Mesmo os alunos com dificuldade de compreensão e interpretação sentiam necessidade de seguir a maioria dos colegas, tentando correr atrás do prejuízo, com auxílio de recursos extras e explicação paralela.

Mas, ao fazer uma sondagem de escrita e leitura (oral e ficha de leitura de livros), percebi o quanto os alunos não participavam da ação da leitura, pois demonstravam não gostar de ler. Somente se envolviam com o necessário, fazendo de conta que tinham lido os livros ou os textos entregues.

Conversei com as professoras do ano anterior, com a coordenadora de ensino e com as bibliotecárias, buscando subsídios sobre o perfil de cada aluno. Nossa escola tem um acervo grande de livros infantis e juvenis, o que não era uma fonte rara. Se tínhamos diversos livros para os alunos, o que faltava?

Então, como já disse, a mãe de uma aluna enviou de presente para a turma exemplares de um jornal a fim de divulgar seu trabalho. Usei os exemplares para desenvolver, com os alunos, os gêneros textuais. Assim, surgiram diversas ações. Relacionei os conteúdos, organizei os gêneros textuais e fiz uma projeção do tempo de trabalho e dos recursos disponíveis.

Iniciei o trabalho com poemas (seis diversos temas, sua construção e suas formas de escrita).

Com as histórias em quadrinhos, fiz um trabalho didático e lúdico, com grande envolvimento dos alunos. Apresentei um breve histórico dos quadrinhos, as histórias nos jornais locais (o uso do humor e da ironia), o gosto pelos personagens, o uso da onomatopeia, os diversos usos de balões para transmitir as falas e a construção da história descritiva e transformada em quadrinhos.

Os alunos transformaram histórias em quadrinhos em textos escritos e vice-versa. Assim, perceberam diferentes maneiras de narração da história. Nas receitas culinárias, houve um trabalho cooperativo com as famílias. Os alunos trouxeram receitas culinárias caseiras, regionais, feitas em casa. Os contos, por sua vez, foram registrados em caderno, anexados em apostila ou colados em murais.

Todos esses gêneros textuais tiveram um desenvolvimento didático buscando despertar interesse e que os alunos conseguissem identificar seus usos nos jornais locais.

Desenvolvi, então, o estudo mais complexo da formação do jornal. Iniciei, com o apoio do livro didático, o trabalho com notícias e sobre sua formação para a escrita. Recortamos notícias para a leitura. Debatemos, interpretamos e comparamos com a aprendizagem do livro.

Os alunos pintaram partes de uma notícia: manchete, olho, lead e desenvolvimento, reconhecendo como estava escrita cada parte, para, depois, reescrevê-la com sua interpretação. Após, fizeram um mural com as notícias trabalhadas.

Os alunos também escreveram notícias de fatos narrados por jornais da TV e as apresentaram para a turma, num noticiário imaginário, confeccionado com caixas pelos próprios alunos.

Trabalhei também com a elaboração de cartões. Propus que fossem confeccionados como uma capa de jornal idêntica ao jornal da cidade, parceiro de nosso trabalho, utilizando saudações de carinho e agradecimentos pela parceria. Utilizamos diversos tipos de linhas, cores e texturas.

Parti para outra aprendizagem, segundo o direcionamento do livro didático e de materiais de apoio como os livros da "Olimpíada de Língua Portuguesa".

A missão seria produzir uma crônica, gênero textual narrativo que tem por base fatos do cotidiano, com uma visão própria do escritor.

Os alunos procuraram reconhecer, numa crônica, a visão do autor, seu comentário e sua interpretação de algo acontecido no dia a dia. Realizei leituras semanais de crônicas de jornais e de livros.

Propus a aprendizagem da reportagem. Trabalhei com duplas. Escolhemos temas diversos e fomos pesquisar no Núcleo de Tecnologia do Município (NTM).

Para reforçar o interesse dos alunos pela leitura e escrita dos gêneros textuais, passei para a etapa de organização do esboço do jornal que cada dupla iria fazer. Trabalhei com eles o nome do jornal, a data, a edição, o editorial, o ano e o número.

Os alunos pegaram folhas de jornal e colaram papéis em branco em cima das diversas matérias já existentes e produzidas em diferentes gêneros.

O objetivo era digitar e imprimir os diversos gêneros textuais trabalhados em classe e colar nas folhas do jornal. Não havendo possibilidade de digitação, deveriam escrever seus textos à mão, em letra script.

Programei uma visita ao jornal parceiro, para que a turma conhecesse a redação e fosse incentivada a dar continuidade ao trabalho. Os alunos entrevistaram a dona do jornal, editores, repórteres e fotógrafo.

Perguntaram sobre todas as etapas que envolvem a produção de um jornal até chegar às mãos dos leitores. Por fim, dedicaram atenção especial ao diagramador, para entender como colocar toda a informação colhida num pedaço de papel que, após a impressão, vira jornal.

Depois de ver o interesse dos alunos e o material do trabalho que estávamos realizando na escola, a dona do jornal lançou um desafio para a classe: escrever um suplemento "Kids", que seria editado no mês de novembro.

De início, a responsabilidade pesou, pois eu sabia o quanto de conteúdos tínhamos ainda para trabalhar.

Demos a nossa palavra sabendo que o trabalho tinha de ser cumprido! Continuar o processo de ensino e aprendizagem e finalizar daquela maneira. Esta seria a nossa joia, o nosso pote de ouro!

Analisei o tempo que tínhamos e o que poderíamos colocar no suplemento. Mas ainda era pouco diante do número de páginas que o jornal havia ofertado para a realização do nosso trabalho.

Além disso, todos os gêneros textuais trabalhados na turma passariam por uma seleção. O alcance do nosso jornal seria maior: não estava mais delimitado à sala de aula, mas se estenderia aos leitores de cinco municípios, onde o jornal seria distribuído.

Portanto, a melhor forma de arcar com essa responsabilidade seria contemplar gêneros textuais que interessassem aos leitores do jornal.

Buscamos também conhecer a opinião de colegas do 3º e do 4º anos, além da outra turma do 5º ano. Conversei com a classe e registramos o que precisávamos saber. Definimos que faríamos uma única pergunta aos colegas da escola: "O que você gostaria de ler e ver num suplemento de jornal para criança e adolescente?"

Com isso, a turma percebeu também a importância da participação coletiva e do compartilhamento do ensino e da aprendizagem com outros colegas. Os alunos das outras classes adoraram participar, sentindo-se importantes por darem suas opiniões.

Tabulamos as respostas usando gráficos de colunas. O resultado deu uma nova perspectiva ao trabalho.

Surgiram sugestões de textos sobre games, moda, animais e a escola. Recebemos também ideias de inclusão de desenhos para pintar e de dicas de livros. Refiz a organização das datas, as estratégias de atividades e a previsão de recursos para o trabalho.

Depois de uma intensa aprendizagem, distribuímos nossos gêneros textuais entre as duplas.. Fizemos uma exposição para análise dos grupos, buscando o que era melhor para inclusão no suplemento final.

Fizemos, então, cópias dos gêneros textuais escolhidos. O protótipo do nosso jornal surgiu com o nome "Eduk Kids", escolhido também em votação a partir dos títulos dos suplementos criados pelas duplas e de pesquisas extras.

Com nossa joia pronta, levei-a ao jornal parceiro. Uma semana depois, recebemos o "boneco" do suplemento para análise e leituras de correção. Corrigido e pronto, o "Eduk Kids" foi enviado para a redação e, por fim, para a diagramação e impressão.

Recebemos o jornal uma semana depois. O suplemento mereceu chamada na capa. Gritos, palmas, parabéns e muita emoção. Nosso trabalho estava pronto, e em forma de jornal! Era o trabalho de um grupo, do 5º ano, mas com a participação de colegas professores e alunos das outras classes. Processo de ensino e aprendizagem gerando emoção e garantindo conhecimento!

A turma foi de sala em sala para entregar o jornal para cada aluno. Mas o trabalho não parou. Fizemos ainda um cartão de agradecimento para o jornal parceiro, torcendo para que o projeto tomasse corpo em outras escolas, para divulgação dos seus trabalhos.

Nós nos comprometemos a continuar trabalhando com gêneros textuais no ano seguinte e criar um novo suplemento.

Utilizei na avaliação do projeto as provas escritas (com e sem consulta), a produção escrita dos alunos em diferentes gêneros textuais, as planilhas com a avaliação do professor sobre o trabalho diário, a atuação dos grupos, a visita ao jornal etc. O professor também registrou a autoavaliação oral dos alunos a respeito.

Dica!

Para executar o projeto, realizei algumas leituras.

Em primeiro lugar, busquei nossa Proposta Curricular, fonte interna da escola em que estão determinados os conteúdos de trabalho para cada ano.

Também estudei os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, as diretrizes da parte linguística, gramatical e ortográfica dos gêneros textuais que seriam trabalhados.

Busquei livros sobre didática, avaliação e estratégias de ensino, bem como pesquisei textos informativos no site da Nova Escola e no Portal do Professor.

Lembrei-me dos Cadernos do Professor da coleção "Olímpiada de Língua Portuguesa - Escrevendo o Futuro" e corri até a biblioteca da escola.

Estudei e mapeei os gêneros textuais que seriam trabalhados, segundo nosso plano de curso, e analisei o livro didático para elencar o que ele poderia oferecer ao nosso projeto.