"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

Podcast

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Chá Literário: conto e encontro

Área(s): Língua Portuguesa; Matemática.

Esta prática teve como objetivo incentivar a leitura literária, despertando o interesse dos alunos pela literatura regional de modo a valorizá-la e aproximar leitores e escritores. Além disso, incentivar, também, a escrita literária dos alunos.

Componente(s): Língua Portuguesa; Matemática.
Quando: A qualquer momento do ano letivo.
Materiais:
  • obras literárias regionais;
  • autores regionais;
  • lembrancinhas para autores visitantes;
  • material para produção e encadernação (que pode ser artesanal) de livros produzidos pelos alunos.

Habilidades trabalhadas: EF69LP44; EF69LP46; EF69LP49; EF69LP53; EF69LP51; EF67LP31; EF89LP35; EF06MA33.
Escola: EE Professor João Batista, Tangará da Serra (MT).
Professor(a) responsável: Angela Maria da Silva Elias.

O que é:

Este projeto de literatura na escola visou despertar hábitos de leitura e escrita. Para que isso acontecesse, elegi as turmas de 9º ano, por apresentarem um quadro de desinteresse muito grande na leitura e na produção textual.

Os resultados retirados do Projeto Político-Pedagógico (PPP) das turmas de 1ª série do Ensino Médio com alto índice de reprovação mostraram despreparo dos alunos do 9º ano ao chegarem ao Ensino Médio. Diante dessa realidade, propus o projeto intitulado “Chá Literário: conto e encontro”.

No início do ano, enquanto fazia o planejamento anual, defini que um dos objetivos seria apresentar a literatura regional aos alunos. Portanto, escolhi algumas obras de contos para trabalhar em sala de aula e, assim, dar o pontapé inicial no incentivo à leitura.

As atividades foram desenvolvidas durante todo o ano. Entre as ações, algumas se destacaram, como a Feira do Conhecimento, o “Chá Literário”, encontro de leitores e autores regionais no chão da escola, uma visita à Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) para conhecer o acervo regional, e, por fim, a “Noite de Autógrafos”, com o lançamento do livro “Contos e Encontros Mato-grossenses”.

Diante dos desafios previstos, tive o apoio da sala de recurso multifuncional, para atender aos alunos especiais; e do laboratório de aprendizagem, para atender aos estudantes com defasagem de aprendizagem.

A prática não envolveu muitos recursos financeiros; tive o gasto apenas com as lembrancinhas aos autores, pois a publicação do livro se deu com recursos do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE).

Os livros adquiridos foram doações dos autores, o “Chá Literário” foi realizado com a ajuda das famílias da comunidade escolar e a decoração dos eventos teve o apoio do banco pedagógico escolar.

O resultado foi surpreendente, e rendeu, dos alunos, frases como: “Aprendi a lidar com minhas emoções e minha vida mudou com a literatura”; “É gratificante ter um texto publicado em livro e ser imortal”. A mais significativa das falas talvez tenha sido esta: “Hoje eu tenho sede de literatura”.

Com isso, finalizei o projeto de 2017 e ampliei a proposta para 2018, desta vez com a inclusão de todo o Ensino Médio e de todos os professores de Língua Portuguesa.

Viva a literatura no chão da escola!

Como fazer:

O projeto “Chá Literário: conto e encontro” surgiu para refletir sobre propostas de estudo da literatura na escola e em sala de aula.

Nesse sentido, eu me propus a romper com práticas tradicionais, buscando desenvolver uma iniciativa diferente, amparada na teoria da estética da recepção (Jauss, 1994).

Num primeiro momento, trabalhei os contos da literatura regional, escolhidos por serem curtos, uma vez que os alunos não tinham o hábito da leitura.

No decorrer do ano, eles tiveram a oportunidade de frequentar mais a biblioteca e de participar de experiências concretas, como o “Chá Literário”.

Na oportunidade, os alunos apresentaram poesias, músicas e contos e fizeram questionamentos sobre a escrita do autor, pedindo, inclusive, dicas.

Houve também exposição dos trabalhos desenvolvidos na Feira do Conhecimento, espécie de mostra literária aberta ao público de todo o município. Além disso, foi realizado um passeio à Unemat.

Durante todo o ano, trabalhei com as produções dos alunos, fazendo correções. Quando alguém não alcançava o objetivo previsto, era convocado para um apoio pedagógico individual.

Por fim, em dezembro, aconteceu a “Noite de Autógrafos”, a mais significativa para a comunidade escolar.

No lugar da formatura, as turmas do 9º ano optaram por fazer uma festa de gala, com apresentações culturais. Em substituição aos diplomas, os pais foram até os filhos com o livro publicado por eles e receberam um autógrafo.

Essa troca de ideias, informações e experiências visou enriquecer valores comuns e despertar novos. O impacto causado pela leitura, pelo diálogo, pelos questionamentos e pelas experiências resultou de um recorte fundamental: a produção escrita.

O maior objetivo era desenvolver hábitos de leitura e escrita, o que foi alcançado por meio dos contos produzidos e publicados em livro.

Nas aulas de Língua Portuguesa, a professora fez a leitura de contos em voz alta e declamou poesia. Com base nesses textos, foram trabalhadas a gramática e a produção textual.

O professor de História, por sua vez, levou os alunos à universidade para pesquisar a biografia e a obras dos autores regionais com os quais trabalhávamos.

Em Matemática, a professora desenvolveu atividades com gráficos e maquetes dos diferentes gêneros textuais registrados na literatura regional.

Todas as atividades instigaram os alunos a conhecerem, buscarem, lerem e a chegarem ao produto final, que foi a escrita.

No percurso da produção, alguns desistiram. Naquele momento, recorri à ajuda dos pais para encaminhar aqueles alunos ao atendimento individual. Com ajuda e a motivação do professor, eles retomaram a escrita.

Alguns, porém, não conseguiram alcançar o objetivo, pois trabalhavam no contraturno e não conseguiam estar presentes no apoio pedagógico.

O que mais me orgulha, contudo, é que até os alunos especiais puderam publicar seus textos, com a ajuda das professoras da sala de recurso multifuncional e do laboratório de aprendizagem.

Tive o apoio total da gestão escolar e do Conselho Deliberativo na realização dos eventos. A Universidade Estadual de Mato Grosso também foi parceira no projeto, levando os autores até a escola e disponibilizando recursos.

Diante desse cenário, compreendi a importância das parcerias para se alcançar o sucesso. Com o resultado positivo do projeto em 2017, outros professores resolveram aderir à proposta para que, em 2018, ela fosse ampliada, envolvendo os alunos de todas as turmas de 9º ano e do Ensino Médio.

Em 2018, tivemos a publicação do livro “Mato Grosso em Prosa e Verso“. O trabalho foi dividido da seguinte forma: os alunos de 9º ano produziram contos; os da 1ª série do Ensino Médio, as poesias; e os da 3ª série, um artigo de opinião. Esses diferentes gêneros textuais foram lidos e produzidos no decorrer do ano.

Tal abrangência tem movimentado bastante a escola. A universidade tem nos procurado para firmar parcerias em projetos de extensão, uma vez que está formando professores para atuar no chão da escola e gostaria que seus futuros alunos estivessem envolvidos nesses projetos como estagiários.

A mídia também tem divulgado o trabalho, que ganha, assim, maior credibilidade.

Saiba mais

Paralelamente à realização do trabalho de formação literária e valorização da cultura local, recomendo o estudo sistematizado de alguns dos gêneros literários encontrados na pesquisa, de acordo com o que está previsto para o ano escolar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Sugiro ainda o estudo da introdução às propriedades da biografia.

Vale a pena aproximar os alunos da cultura dos saraus, observando sua importância até os dias de hoje, com destaque para seu crescimento como manifestação cultural das periferias das grandes cidades.

Para o envolvimento dos alunos na organização do “Chá Literário”, sugiro inseri-los na produção de textos periféricos, como cartazes de divulgação, formulários de inscrição para apresentações, dedicatórias, convites e os discursos de abertura e de encerramento.