"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

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Os desafios e as vitórias da bolsa de leitura

Área(s): Linguagens; Ciências Humanas.
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Esta prática teve como objetivo contribuir para a formação de alunos leitores, críticos, participativos e capazes de interagirem na realidade como cidadãos conscientes de sua atuação na sociedade.

Componente(s): Língua Portuguesa, História.
Quando: Em qualquer momento do ano letivo, considerando que o tempo de leitura para cada obra e suas atividades correlatas foi de aproximadamente dois meses.
Materiais:
  • sala de leitura, biblioteca e laboratório de informática;
  • datashow;
  • slides;
  • vídeos;
  • livros;
  • textos impressos;
  • folhas de papel A4;
  • envelopes.

Habilidades trabalhadas: EF69LP44; EF69LP45; EF69LP46; EF69LP47; EF69LP49; EF67LP28; EF67LP29; EF89LP33; EF67LP28.
Escola: Escola Estadual Reinaldo Maurício Golbert Damasceno, Macapá (AP).
Professor(a) responsável: Iane Augusta Carvalho da Conceição

O que é:

Desenvolvido desde 2015, o projeto “Os desafios e as vitórias da bolsa de leitura” integra o macroprojeto “Uma viagem ao mundo mágico e maravilhoso da leitura com recursos multimídia”.

Ele surgiu como recurso para mudar o cenário de dificuldade dos alunos na leitura e na escrita. A ausência dessa prática no núcleo familiar e a consequente falta de incentivo em casa eram as razões do pouco interesse pela leitura.

Essa situação repercutia no desempenho escolar. Era comum termos alunos com vocabulário parco, reduzido e informal, limitações na compreensão, reduzida produção textual e erros ortográficos.

O estímulo à leitura ocupa lugar fundamental na missão da escola de proporcionar aos alunos o acesso ao conhecimento.

O público-alvo do projeto são as turmas do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental, pois é perceptível, nesses grupos, o número reduzido de jovens adeptos à leitura.

A partir dessa lacuna na aprendizagem, desenvolvemos atividades de letramento para que fossem desenvolvidas a leitura e, consequentemente, a escrita.

As atividades são vinculadas às práticas sociais e aos gêneros textuais, tendo como base os conhecimentos prévios dos alunos.

De modo geral, as práticas contemplam a apresentação do projeto às turmas, as aulas e a resolução dos trabalhos propostos.

Como parte do projeto, são entregues bolsas de leitura, contendo as seguintes obras: “A Bolsa Amarela” (de Lygia Bojunga),“Extraordinário” (de R.J. Palácio), “A Mão e a Luva” (de Machado de Assis) e “O Diário de Anne Frank” (Anne Frank).

Como fazer:

A metodologia do projeto consiste na cooperação entre os ambientes multimídia e componentes curriculares como Língua Portuguesa e História. As atividades são interligadas e adequadas às especificidades pedagógicas e lúdicas.

As bolsas com o livro indicado para cada turma e a ficha de leitura são levadas para casa pelos alunos, com o compromisso de que utilizem o material para a resolução das atividades, que podem ser discutidas com algum membro da família.

O tempo estipulado para leitura varia entre sete e dez dias, dependendo da obra selecionada. Alguns alunos, contudo, levam mais tempo para concluir a tarefa.

Como desfecho são feitas competições nas quais são avaliados o tempo utilizado para a leitura, o bom estado do livro lido e a resolução das atividades solicitadas.

O livro escolhido em 2017 para o 6º ano foi “A Bolsa Amarela”. Como atividade, foi pedido aos alunos que escrevessem uma carta pessoal.

Os textos deveriam trazer um resumo da leitura e também informações sobre a vida e os sonhos dos jovens. Guardadas numa cápsula do tempo, as cartas serão abertas em 2020, quando os alunos estarão no 9º ano.

Na execução do projeto, a biblioteca solicitou a ficha de leitura, que serve para a identificação das características da obra lida e o relato dos temas abordados.

O Laboratório de Informática Educativa (LIED) trabalhou com grupos visando à produção, pelo celular, de um vídeo-resenha de 60 segundos sobre algum trecho da obra.

Para o 7º ano, foi escolhido o livro “Extraordinário”, que aborda o preconceito e o bullying. A sala de leitura propôs aos alunos um debate sobre situações que evidenciassem preconceito e desrespeito ao indivíduo, com a expectativa de gerar nos alunos reflexão, mudança de comportamento e aceitação do outro.

A atividade foi dividida nas seguintes etapas: aula sobre o gênero debate, organização dos grupos, divisão de temas, construção de argumentos escritos e orais para a defesa de uma posição e realização de um debate.

A atividade da biblioteca estimulou a leitura, a compreensão, a interpretação e a identificação das principais caraterísticas do romance e dos temas abordados.

”A Mão e a Luva” foi o livro selecionando para a bolsa de leitura do 8º ano. As atividades propostas pela sala de leitura foram o estudo do gênero resenha e escrita e a construção de uma resenha crítica sobre a obra.

A biblioteca trabalhou com leitura, interpretação e compreensão do texto, atuando também sobre a ampliação do vocabulário e as principais características do romance. Nessa turma, o LIED atuou com o gênero textual paródia.

Respeitando o enredo da obra, os alunos produziram algumas paródias.

“O Diário de Anne Frank” foi reservado à bolsa de leitura do 9º ano. As expectativas eram grandes, pois seria a primeira experiência da escola com a obra.

As atividades selecionadas pela sala de leitura foram o estudo do gênero textual diário e a produção de diários, respeitando-se os critérios de originalidade, coesão e coerência. Para sua execução, foram definidos três temas: aspecto pessoal e/ou familiar, aspecto social (problemas no bairro, estado ou país) e aspecto literário (escrita sobre a compreensão do texto).

A biblioteca selecionou questões que favorecessem a compreensão e a interpretação da obra, bem como os principais temas abordados. Foi produzido ainda um resumo.

O LIED propôs a exibição de um vídeo-resenha de 60 segundos sobre fatos da obra.

Ao longo dos anos de execução do projeto, surgiram diversos desafios e foram obtidas muitas vitórias.

O primeiro grande desafio foi, exatamente, começar o projeto. Tínhamos sete bolsas e sete exemplares do livro “A Mão e a Luva” para duas turmas, num total de 32 alunos.

Levamos dois bimestres para concluir essa atividade, pelo número reduzido de livros e pela necessidade de adaptação dos alunos ao projeto.

Passei nas salas diariamente, estimulando a rapidez na leitura e na produção das atividades para que o cronograma não atrasasse.

No segundo ano (2016), graças à colaboração de colegas de trabalho, amigos e familiares, adquirimos 15 exemplares do livro “Extraordinário” e mais dez bolsas. Assim, ficamos com dois conjuntos de bolsas de leitura para duas turmas, num total de 53 alunos. Em dois meses, todos os alunos conseguiram ler os livros indicados.

Para 2017, adotamos o livro “A Bolsa Amarela”. Por meio de doações, conseguimos 20 exemplares. A escola, por sua vez, comprou 30 bolsas. Dessa forma, passamos a realizar o projeto com três grupos de bolsas de leitura. Os 55 alunos concluíram a leitura no prazo de dois meses.

Naquele ano, as bolsas atenderam a quatro turmas, num total de 116 alunos.

Numa das turmas, havia uma aluna com síndrome de Down, não alfabetizada. Tivemos de adaptar as atividades para que ela não fosse prejudicada. Conseguimos um audiolivro e, com a ajuda da professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE), a garota também realizou a atividade.

No quarto ano (2018), conseguimos mais colaboradores e compramos 33 exemplares do livro “O Diário de Anne Frank”, além de ganharmos seis doações. Foi um sonho realizado, pois os alunos receberam, ao mesmo tempo, o livro para a leitura e as atividades. O 6º, o 7º, o 8º e o 9º anos participaram do projeto.

Como dependemos de recursos próprios e de colaborações, fizemos bazares para ajudar na compra das premiações dos alunos, que, além de receberem notas nas disciplinas, também participaram de uma competição de leitura rápida e proficiente.

Outro desafio tem sido o controle do número de bolsas disponíveis. Tivemos casos de alunos que saíram da escola e não devolveram suas bolsas. Perdemos diversas delas – algumas temporariamente e outras, infelizmente, de forma definitiva.

Atualmente, quatro bolsas de leitura estão sendo utilizadas. Os alunos do 6º ano serão os primeiros a participar de todas as bolsas de leitura até o 9º ano. O número de alunos leitores aumenta a cada ano. Além disso, os empréstimos de livros na biblioteca também cresceram.

Há ainda relatos de alunos sobre a agradável surpresa que tiveram com a leitura, pois achavam que não iriam gostar da atividade. Temos alunos do 4º e do 5º anos que nos perguntam: “Quando receberemos a bolsa?”.