Robótica com sucata, promovendo a sustentabilidade
O objetivo desta prática é expor os alunos a uma prática pedagógica significativa, envolvente e que lhes possibilite atribuir sentido à escola e ao currículo, envolvendo-se e intervindo num um problema social, que é a questão do lixo. Além disso, introduzir e ampliar o conhecimento sobre robótica, elaborando construções, levantando e testando hipóteses, aguçando a curiosidade, trabalhando com a resolução de problemas e estimulando a criatividade e a inventividade, a partir de um trabalho colaborativo entre equipes.
Ciências; Matemática; Língua Portuguesa; Geografia;
Quando:A qualquer momento do ano.
Materiais:Os materiais utilizados não foram descritos de forma detalhada.
Habilidades trabalhadas:EF07CI06; EF08CI02; EF06MA24; EF06MA32; EF06MA33; EF69LP22; EF06GE04; EF06GE11.
Debora Denise Dias Garofalo.
Escola:EMEF Almirante Ary Parreiras, São Paulo (SP).
O que é:
O projeto “Robótica Sucata” possibilitou a construção de utensílios reciclados do lixo retirado das ruas de São Paulo como forma de mediar a construção de conhecimento sobre conteúdos curriculares, eletrônica e robótica.
O trabalho foi organizado para mobilizar uma prática pedagógica e formativa, que incentivasse a aprendizagem dos alunos pela sua criatividade e os estimulasse na experimentação de ideias e na exploração de pesquisas, visando propor soluções locais à comunidade. Uma das soluções foi a reciclagem de lixo, que deu origem à construção de robôs e materiais de eletrônica.
Como fazer:
O diagnóstico inicial teve três etapas: observação, roda de conversa sobre o uso das tecnologias e a questão social do lixo, possibilitando a participação dos alunos.
Estabeleceu-se um roteiro e, para compreender os conhecimentos prévios, envolvendo questões norteadoras, foi feita uma avaliação diagnóstica por meio do Google Forms. Isso garantiu que todos os alunos respondessem, gerando, de maneira instantânea, o resultado para a conversa e os próximos passos do trabalho.
Foram realizadas também pesquisas para conhecer o repertório dos alunos e sua percepção sobre o meio ambiente e tecnologias de auxílio.
Numa aula externa, levei os alunos para conhecer o problema do lixo. Indaguei como eles poderiam utilizar tecnologias para solucionar a questão.
No início, eles tiveram dificuldades para compreender a proposta. Por isso, foram necessárias mais aulas externas na comunidade da Vila Babilônia, onde está localizada a escola, para que os alunos pudessem sentir e imaginar o problema.
Fotografamos pontos críticos da comunidade e recolhemos materiais recicláveis, como garrafa plástica, tampinhas, canudos, palitos, brinquedos quebrados, papelão e rolinhos.
Levamos esses materiais à escola para que os alunos sentissem e imaginassem a intervenção que poderíamos realizar.
Conversamos com moradores da comunidade, sensibilizando-os sobre a questão de descartar o lixo em lugar adequado.
Fizemos um ofício à Prefeitura Regional do Jabaquara para que cuidasse e zelasse pelas áreas públicas necessitadas do bairro. Para isso, utilizamos uma carta formal e os conhecimentos de Língua Portuguesa. O conteúdo foi feito de forma coletiva, num exercício de cidadania e uso social da língua.
Trabalhamos os conteúdos de Ciências no estudo do meio ambiente, do problema do lixo e dos danos causados como alagamento e doenças.
Discutimos sobre como melhorar essa situação, criando campanhas e também usando os canais de comunicação da escola e as redes sociais. Enfatizamos a importância dos 3R (Reduzir, Reutilizar e Reciclar).
Em Geografia, abordamos a questão do córrego e dos cuidados com a água. Aproveitamos para estudar o que é um lençol freático. Em nossa visita à mina de água local, observamos no entorno uma quantidade muito grande de lixo. Enfatizamos isso aos órgãos públicos em nossa carta.
Um grupo de alunos foi eleito para entrar em contato com com a Prefeitura Regional do Jabaquara. Também encaminhamos reivindicações de melhoria nas condições do bairro.
Essa etapa consistiu em estimular e aguçar a criatividade dos alunos, associando o currículo de Matemática com os materiais arrecadados na comunidade.
Em leituras e pesquisas, assistimos a vídeos de protótipos construídos com sucata. Com os materiais recolhidos nas aulas externas, colocamos a mão na massa para criar um carrinho movido a balão de ar.
Com esse protótipo, trabalhamos os conhecimentos de sólidos geométricos, noções espaciais, medidas, interpretação e resoluções de problemas. Levei uma bexiga à sala de aula e provoquei os alunos com alguns questionamentos. “O que ocorre quando enchemos a bexiga?”, “Se nós a soltarmos o que ocorre?”, “O que podemos construir com isso?”
Em resposta, um aluno falou: “carrinho”. Apresentei, então, materiais como tampinhas, palito de churrasco, canudo, elástico, bexiga e rolinho de papel. “O que precisamos para fazer o carrinho?”, questionei. “Quais formas geométricas?” “O que é um círculo?” “Quanto material é necessário para a construção do carrinho?” “Como uma roda anda?” “O que é um eixo?”.
Para registrar os passos do trabalho, criamos um diário de bordo em áudio, por meio do software Audacity.
Foi proposto que, a cada aula, um aluno se encarregasse de fazer o relatório. Os alunos foram orientados sobre o que o diário deveria conter: objetivo da atividade, critérios adotados, avanços, o que deu certo, o que deu errado.
Fizemos uma divisão por grupos de trabalho. Transmiti aos jovens os subsídios necessários à elaboração dos protótipos.
Foram cinco os grupos criados. Ofereci a eles problemas com base em conteúdos da Matemática: operações aritméticas, identificação de figuras espaciais, interpretações e resoluções de problemas envolvendo as quatro operações, grandezas e medidas, aritmética, espaço e forma, cálculo mental, cálculo aproximado e socialização de estratégias.
Também discutimos a linguagem de programação, com apoio aos estudantes na produção de jogos e animações, como funciona o arduíno (plataforma para a criação de protótipos), como acende um led e para que serve um sensor, entre outras atividades.
Aproveitei ainda para explicar conceitos básicos de elétrica, circuito aberto, circuito fechado e noções da física.
Ao apresentar seu trabalho, cada grupo explicou quais conhecimentos haviam sido aplicados na construção. Tivemos mão robótica de canudos que reproduziam articulações humanas, robô que acendia os olhos e imitava o movimento de piscar e mexer os braços, barco motorizado com hélice giratória, avião também com hélice, circuito elétrico e mesa de hóquei.
Meu papel foi o de mediar os trabalhos, tirando dúvidas e propondo soluções. Nessa etapa, houve o desafio da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, a JAM de Robótica, que estimulou as escolas a produzirem um vídeo.
Como prêmio, as escolas selecionadas ganharam um kit de robótica e participaram de uma vivência sobre o tema.
Nossa escola ganhou um dos kits oferecidos na JAM de Robótica. Mas ele permitia a experimentação por apenas cinco alunos de cada vez. Portanto, foi necessário mesclar o trabalho com sucata com o uso do kit, que tinha um arduíno de código-fonte aberto, o que possibilita a “conversa” com a sucata.
Nessa etapa, foram aprofundadas as noções de elétrica e de circuito aberto e circuito fechado. Em seu trabalho, os alunos construíram protótipos como robôs, barcos e submarino, além de aviões com acendimento de led, hélice e força de motor, todos eles feitos com os materiais recicláveis.
Minha função também foi a de mediadora, orientando os alunos para a melhoria dos trabalhos. Houve um grande avanço com os jovens mais indisciplinados, que despertaram para a aprendizagem criativa e significativa, envolvendo-se nas atividades. Para continuar a estimular esses alunos, muitos trabalhos foram expostos na escola.
A proposta foi estimular os alunos a continuarem suas criações e invenções, associando as operações matemáticas à prática com a sucata, testando os conhecimentos adquiridos e trazendo novos materiais, como sensores, leds em RGB e potenciômetro.
O objetivo foi estimular a criatividade, a inventividade e a capacidade de elaborar protótipos com funcionalidades específicas.
Realizamos a nossa Feira de Ciências e Tecnologias, uma oportunidade para incentivar os alunos a aumentarem a complexidade da aprendizagem, por meio dos protótipos, e para aproximar os pais do trabalho realizado.
Uma das ações foi apresentar a quantidade de lixo recolhido das ruas (500 quilos pesados, transformados e reaproveitados dentro da escola), criando a cultura do reciclar.
Os alunos escolheram o que gostariam de realizar, sempre associando o trabalho com as áreas do conhecimento. Adicionalmente, preencheram fichas de investigação.
Essa fase foi a de retomada das etapas anteriores, para a análise dos trabalhos realizados e verificação de como o projeto havia transformado a realidade. Os alunos conseguiram alcançar os objetivos. Avaliamos também como o trabalho poderia ser ampliado.
Novas aulas externas foram realizadas. Nelas, verificamos a questão do lixo. O descarte em local inapropriado continuava, mas em volume menor.
Os alunos desenvolveram outras ações e decidiram organizar a Feira de Robótica, utilizando sucata para demonstrar o que haviam aprendido em Matemática e o que tinham realizado com os materiais reciclados, traduzindo em números a quantidade de material retirado da comunidade e convidando a população a refletir sobre essa questão.
A prática pedagógica só tem um ciclo completo quando é realizada a avaliação. Ela é a essência para qualquer prática educativa.
O olhar reflexivo possibilitou a sistematização do que foi realizado e a absorção do que foi aprendido, não só na atividade individual de cada aluno, mas também em todo o processo, com diversas intervenções.
O erro também teve um lugar de destaque, ao possibilitar novos desafios na aprendizagem, impulsionando os alunos a criarem e a aprenderem com os enganos.
O maior desafio foi unir os atores da educação na realização de parcerias e de um currículo interdisciplinar que transcendesse e integrasse a aprendizagem.