"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

Podcast

Ouça o podcast sobre os Anos Finais do Ensino Fundamental.


Florescendo às margens do Caiçá

Área(s): Ciências Humanas.

Esta prática teve como objetivos desenvolver uma ação de reflorestamento em área da microbacia do Rio Caiçá situada na área rural, conhecer os princípios da educação ambiental, sensibilizando a comunidade para a problemática e propiciar aos alunos mudança de atitude em seu conhecimento sobre o meio ambiente e de suas nuances, por meio da criação de uma mentalidade ética e sustentável, ensinando o valor da convivência harmônica com a natureza, por meio de produções textuais e artísticas ou de cada muda plantada, entre outros aspectos.

Componente(s):

Geografia.

Quando:

Sem período específico.

Materiais:
  • lápis de cor;
  • tecido TNT;
  • caneta "piloto";
  • emborrachado;
  • isopor;
  • tintas;
  • grampeador;
  • cola;
  • roupas;
  • microfone;
  • carro de som.
Habilidades trabalhadas:

EF09CI12; EF09CI13; EF06GE01; EF06GE04; EF06GE07; EF06GE11; EF06GE12.

Escola:

Escola Municipal Maria Rabelo Barreto, Simão Dias (SE).

Professor(a) responsável:

Andreia Reis Fontes.

O que é:

É consenso que a água é fonte de vida e um bem essencial à sobrevivência humana e ao desenvolvimento das mais variadas atividades.

A exemplo do que acontece em boa parte do Brasil, os municípios sergipanos têm graves problemas ambientais, decorrentes, em muitos casos, da ausência de planejamento governamental.

Essa situação impacta, por exemplo, rios e afluentes de diversas localidades, que veem seus cursos d’água serem progressivamente degradados pela poluição.

Simão Dias também sofre com os vários impactos sobre seus recursos hídricos, principalmente na microbacia do Rio Caiçá. Esse curso d'água tem forte ligação com o processo colonizador, pois foi em suas margens que teve início o povoamento que, anos depois, deu origem à cidade.

Logo, é evidente o traço histórico, identitário e simbólico do rio com o povo simão-diense. Mas o que se tem não é uma relação cordial e amigável entre a sociedade e o rio, pois temos habitações construídas praticamente dentro do leito, com despejo de esgoto doméstico e de resíduos do matadouro público municipal, descarte de lixo, derrubada da mata ciliar, pastagens e cultivos agrícolas.

O Rio Caiçá clama por ajuda e vê sua morte próxima. O rio que gerou a cidade é o mesmo que vem sendo por ela destruído.

Pela gravidade da situação, tornou-se obrigatório ir além das discussões teóricas em sala de aula. Como professora, eu tinha de mostrar como atuar na realidade dos meus alunos.

Para isso, nada melhor do que incentivar a recuperação do Rio Caiçá, que nasce na zona rural, atravessa o município e outros povoados e chega à sua foz, na cidade de Lagarto.

Sendo assim, definimos as seguintes metas de atuação:

  • desenvolver uma ação de reflorestamento em área da microbacia do Rio Caiçá localizada num trecho rural;
  • conhecer os princípios da educação ambiental, sensibilizando a comunidade para a problemática;
  • arborizar a área com espécies nativas da região;
  • zelar pelo monitoramento e pela fiscalização da área.

Tendo como base as orientações dos professores em sala de aula, os alunos se dedicaram ao estudo da água e sua relação com a questão ambiental – qualidade, mata ciliar, reúso, combate ao desperdício, educação e impactos ambientais e desenvolvimento sustentável.

Como educadora, acredito que a escola é o espaço adequado para o fomento das atitudes socioambientais, por sua capacidade em promover a formação de indivíduos críticos.

Com base nesse pressuposto, passamos a adotar a causa ambiental, difundindo a relevância da sustentabilidade a partir de uma situação local concreta: a melhora da qualidade hídrica no trecho do Rio Caiçá situado no povoado Ilhotas, distante apenas seis quilômetros da escola, que está localizada no povoado Salobra.

O objetivo final era contribuir para o bem-estar social no médio e longo prazos.

Realizado em 2018, o trabalho foi dividido em três etapas. A primeira delas consistiu na distribuição, entre os professores, de conteúdos que deveriam ser trabalhados nas aulas para preparar os alunos.

A segunda fase abrangeu a realização de um “dia ambiental” na comunidade.

A fase final foi a da ação prática de reflorestamento nas margens do rio.

Para o desenvolvimento das atividades, algumas canções serviram de referência aos alunos: “3ª do Plural”, da banda Engenheiros do Hawaii; “Planeta Água”, de Guilherme Arantes; e “Planeta Azul", da dupla Chitãozinho e Xororó.

Para a execução do projeto, tivemos a colaboração de integrantes da direção, docentes, palestrantes e funcionários da escola. Contamos ainda com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) e da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), parceiros que acreditaram no projeto.

Como fazer:

Tanto em nossa escola como em boa parte da rede pública de ensino, os alunos apresentam deficiências de aprendizagem e ausência de sonhos e perspectivas. Muitos deles, inclusive, permanecem na escola apenas por obrigação ou por causa do Programa Bolsa Família.

O projeto buscou fazer algo concreto para que os alunos se sentissem importantes e agentes transformadores da sociedade.

A minha disciplina, Geografia, possibilita, porém, expandir os horizontes dos alunos, oferecendo meios para que possam aplicar na realidade o que é trabalhado em sala de aula.

E foi exatamente isso que o projeto buscou: fazer algo concreto para que os alunos se sentissem importantes e agentes transformadores da sociedade.

E nada melhor do que começar salvando o rio, utilizando potencialidades dos alunos, como a capacidade de criar, encenar e ser prático na mudança da problemática, influenciando a comunidade e o futuro.

Para verificar o nível de conhecimento, apresentei aos alunos diversas perguntas sobre a temática: meio ambiente, a importância da água, como se reaproveita o recurso hídrico, o papel da mata ciliar para os rios, educação ambiental e sustentabilidade.

Uma das falas que chamou a minha atenção foi a de uma aluna do 7º ano (Mariana).  Segundo ela, “nem sempre entendemos o ser humano como parte do meio ambiente. Entendemos o meio ambiente “só” como natureza.”

A partir daí, e com base no diagnóstico de conhecimento realizado nas duas primeiras semanas de aula, foi possível avançarmos na apresentação de alguns assuntos.

O projeto envolveu toda a comunidade escolar. Ainda em março, a equipe docente começou a trabalhar a temática e seus desdobramentos, orientando os alunos na preparação das tarefas que deveriam ser executadas posteriormente.

As turmas assumiram o desenvolvimento de três atividades, entre paródias, poemas, danças, teatros, textos e cartazes.

Cada aluno escolheu a tarefa de sua preferência, o que se mostrou importante estratégia para gerar interesse e fomentar a diversidade de experiências na turma.

A fase seguinte foi a de abertura do projeto. Tivemos a realização de um evento na escola, com exposições, e uma palestra sobre meio ambiente e recursos hídricos ministrada por uma doutoranda da Universidade Federal de Sergipe.

Houve ainda uma caminhada ambiental pelas ruas do povoado, com paradas em alguns pontos para a leitura de textos e apresentações artísticas produzidas pelos alunos. A atividade teve o apoio de um carro de som com músicas sobre o meio ambiente.

A última etapa do projeto foi o reflorestamento das margens do Rio Caiçá, com o plantio de mudas de espécies nativas da região (ipê-amarelo, aroeira-vermelha, tamboril, ingá, pau-viola, oiti).

O quadro a seguir mostra o período de realização do trabalho:

ATIVIDADE RESPONSÁVEIS COMO QUANDO
Observação da área Comunidade escolar Visitas in loco Março de 2018
Aquisição das mudas Equipe diretiva SMMA Abril de 2018
Perfuração das covas Membros da escola Emdrago-Mutirão Maio de 2018
Plantio das mudas Comunidade escolar Mutirão Maio de 2018
Controle e fiscalização Emdagro e SMMA Visitas periódicas Maio de 2018 e 2019

O esboço do projeto previa um diagnóstico mais rápido. Porém, nem todos os alunos tinham a noção básica do tema meio ambiente. Foi necessário mudar alguns objetivos para acompanhar o ritmo dos alunos.

O momento mais significativo do projeto foi o das produções dos alunos.

O projeto foi além da recuperação florestal das margens do rio: significou despertar os alunos para uma nova ação, uma visão ambiental e sustentável diante de um planeta pautado por interesses econômicos.

Os estudantes compreenderam a importância da mata ciliar para os cursos fluviais e colocaram a “mão na massa” para modificar a sua realidade, atendendo aos objetivos do projeto. Segundo a aluna Eduarda, do 7º ano, “os rios vão despoluir se cada um fizer sua parte, eu farei a minha”.

Por seu formato prático, o projeto fez com que alunos geralmente desinteressados por ações daquele tipo se engajassem e utilizassem suas habilidades e seus conhecimentos no trabalho no campo, como na perfuração das covas e na colocação de adubos.

Mas nem tudo saiu da forma planejada, particularmente nas parcerias com os órgãos municipais. Tivemos, por exemplo, problemas com a quantidade de mudas disponibilizadas, a logística de transporte dos alunos no dia da ação e a obtenção de adubo.

Como desafio futuro, temos ainda a fiscalização do trabalho realizado, para que não se percam o cuidado e o zelo com que tudo foi feito.

Para ampliar essa prática, é possível aprofundar a interdisciplinaridade com Ciências, em um trabalho sobre as relações ecológicas existentes no entorno do Rio Caiçá, para que não sejam introduzidas espécies invasoras, por exemplo.

Dessa forma, pode ser muito rica a exibição de vídeo com um especialista abordando a complexidade do entorno de um rio e as relações entre as espécies.

Além disso, o professor pode incluir, como atividade de pesquisa, o mapeamento das espécies da região.