"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

Ouça o podcast sobre os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.


Alunos escritores de HQ e informação

Área(s): Linguagens.

O projeto não especifica uma época do ano escolar para seu desenvolvimento. No entanto, são necessárias, pelo menos, oito etapas. Sugere-se que seja trabalhado num bimestre ou mesmo num semestre letivo.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Língua Portuguesa.

Quando:

O projeto não especifica uma época do ano escolar para seu desenvolvimento. No entanto, são necessárias, pelo menos, oito etapas. Sugere-se que seja trabalhado num bimestre ou mesmo num semestre letivo.

Materiais:
  • sala de informática e/ou acesso a computadores;
  • impressões e material para finalizar editoração dos produtos (espirais, capas etc.).
Habilidades trabalhadas:

EF15LP01; EF15LP02; EF15LP03; EF15LP04; EF15LP05; EF15LP06; EF15LP07; EF15LP08

Professor(a) responsável:

Maria de Fátima Oliveira Santos.

Escola:

EMEIF e EJA Paulo Jorge Rodrigues de Lima, Santa Rita (PB).

O que é:

As práticas de ler e escrever são essenciais em nossa vida para o exercício e o fortalecimento da cidadania. Dessa forma, percebi a necessidade de a leitura e a escrita serem desenvolvidas cotidianamente, de acordo com as situações sociocomunicativas e o nosso contexto sócio-histórico.

Diante disso e levando em conta as tecnologias digitais na aquisição dessas habilidades, adotei estratégias afirmativas visando harmonizar as tecnologias e a prática de ler e de escrever e promover o letramento digital dos alunos.

Nesse contexto, resolvi desenvolver um projeto de oficinas semanais sobre temas da comunidade para que os alunos desenvolvessem as habilidades de leitura e escrita e de interpretação de textos.

A solução visou, de forma lúdica, motivar a aprendizagem e o desenvolvimento dessas habilidades e do letramento digital, para que os alunos não ficassem à margem do exercício de sua cidadania.

Mas que tema da comunidade abordar nas HQs?

Para essa seleção, promovi uma conversa informal para saber sobre quais assuntos da comunidade os alunos gostariam de escrever.

Eles sugeriram assuntos como a questão da falta de coleta do lixo na comunidade, a falta de saneamento básico e a história do menino Pedro, uma criança que teve mielorradiculopatia por esquistossomose, doença que causou nela paralisia dos membros inferiores.

Pelo entusiasmo da turma, ficou evidente que gostariam de escrever sobre a história de Pedro. O menino havia contraído a doença num banho de rio, costume comum na comunidade. 

Pelo fato de, na localidade, existirem diversos rios utilizados pelas famílias para lavar roupas e louças, a questão ganhou relevância, não apenas como estudo de caso, mas como elemento de formação para os alunos e seus familiares.

Assim, construímos uma coletânea de HQs contando a história de Pedro. Fizemos isso em diferentes versões, que foram socializadas na comunidade escolar e local para alertar a população para a prevenção e os cuidados com doenças causadas por verminoses.

Para a produção das nossas histórias, usamos vários recursos tecnológicos como o software "HagáQuê". Com esse recurso, as habilidades de leitura e de produção de texto foram desenvolvidas de forma significativa e prazerosa.

Como fazer:

Apresentei aos estudantes o projeto de produção das histórias em quadrinhos baseado no potencial dessa ferramenta para o estabelecimento de uma melhor compreensão dos conteúdos e também por acreditar em sua boa aceitação.

A história em quadrinhos é um gênero sedutor. A linguagem imagética, as cores, os balões, as onomatopeias e os textos curtos, que trazem humor, informação e reflexão, são elementos importantes das HQ. 

No nosso caso, essas características possibilitariam trabalhar, de forma eficiente, temas das diversas disciplinas, assim como os temas transversais, do cotidiano e da comunidade.

A execução do projeto foi baseada em oficinas, que tiveram o seguinte desenvolvimento:

Na primeira oficina, os alunos tiveram o contato com o gênero "História em Quadrinhos". Foram distribuídas HQs da Turma da Mônica jovem e HQs da Turma da Tina, que estavam disponíveis no acervo da biblioteca da escola. Essas HQs abordavam a prevenção do uso de álcool e outras drogas, assuntos que fazem parte do cotidiano da comunidade e da vida da turma.

Feita a leitura silenciosa, propus uma leitura oral, dramatizando as falas das personagens. E assim ocorreu. Cada aluno escolheu o personagem de sua preferência para as devidas interpretações. A atuação aconteceu de forma tímida, mas efetiva. Após a encenação, discutimos sobre a temática abordada e o seu gênero textual, por meio de uma conversa informal.

Em seguida, fizemos os seguintes questionamentos sobre a temática abordada: “De que assunto tratava a história?”, “Quais eram os personagens envolvidos?”, “Qual era a problemática da história?”, “Se houve solução, qual foi?”

Com base nas indagações, houve uma discussão bastante produtiva, pois os alunos responderam, a contento, todos os questionamentos. Elencaram o tema alcoolismo, citaram os personagens envolvidos e narraram os fatos acerca do conflito, bem como do seu desfecho, de acordo com os textos explorados.

Após os comentários, solicitei que mencionassem quais elementos são utilizados para o entendimento e a compreensão do gênero HQ e qual a linguagem empregada nos quadrinhos. As respostas foram unânimes: os desenhos e as palavras nos balões, respectivamente.

Nesta oficina, iniciei as atividades solicitando aos alunos que observassem atentamente as histórias e descrevessem quais elementos estavam presentes na construção do gênero. As respostas foram os desenhos, as palavras e os balões.

Na sequência, expliquei que a HQ é composta de quadrinhos, e esses, por sua vez, são constituídos de texto e imagem que narram, quadro a quadro, uma história com um enredo e com personagens (envolvidos ou não na solução de um conflito num determinado espaço).

Dando continuidade à explicação, ressaltei que a narração nesse gênero ocorre por meio dos balões, que representam as falas ou os pensamentos das personagens.

Expliquei que a outra forma de narrar os fatos nas histórias em quadrinhos é pela legenda, que pode representar a voz do narrador.

Após a explanação, solicitei aos alunos que descrevessem algumas situações em que a onomatopeia é necessária nas HQs.

Em resposta, elencaram como exemplos o "barulho das coisas" (como eles chamaram), o toc-toc da batida numa porta, o tic-tac do relógio, o co-co-ri-có do galo, animal bastante comum na comunidade, entre outros.

O tema escolhido pelos alunos em processo de discussão coletiva foi a falta de saneamento básico na distribuição de água nas residências locais, com a história do menino Pedro, uma criança que teve mielorradiculopatia por esquistossomose, o que lhe causou paralisia dos membros inferiores.

Para melhor compreensão da discussão nesta oficina, ressaltamos a fala de alguns alunos, que diziam que deveríamos mostrar a história às pessoas, dizendo que quando a gente sabe de alguma coisa que faz mal, a gente toma cuidado e não faz, por isso era importante que as pessoas soubessem, e que assim poderiam se cuidar melhor.

Concluímos a oficina e solicitei aos alunos que levantassem informações a respeito da temática escolhida: nome da doença, como é transmitida, os sintomas, o tratamento. Sugeri também que começassem a planejar sobre o que escreveriam referente ao tema, pois na oficina seguinte essas informações e as ideias iriam para o papel.

Chegou a hora da construção do repertório de informações. Nessa etapa, discutimos o assunto para que os participantes tivessem informações suficientes.

Para complementar, convidamos a mãe de Pedro, que nos contou sobre a doença do menino. Pedimos a ela autorização para a divulgação da história do filho na comunidade, por meio das HQs.

A mãe relatou, com detalhes, todo o percurso da história. Ela afirmou que seu filho era saudável e adorava brincar e correr, como qualquer criança.

Acrescentou ainda que o lazer preferido da família era tomar banho nos rios das redondezas, e que foi num desses rios que Pedro foi contaminado.

As crianças ouviram atentamente a história, fizeram alguns questionamentos sobre os sintomas, perguntaram o nome do hospital em que o menino havia sido tratado e o nome do médico que havia cuidado do caso.

A mãe prontamente respondeu a todos os questionamentos. A narração desses fatos foi gravada para que, mais tarde, pudéssemos ouvir e sanar dúvidas ou relembrar informações.

Prosseguindo com a oficina, exibi o vídeo As Aventuras de Super-Sabão contra as Parasitoses, que trouxe informações sobre a esquistossomose e a "barriga d'água", doenças também causadas pela transmissão do Schistosoma.

No vídeo, o Super-Sabão salva uma criança de ser contaminada pelo verme, que estava alojado num caramujo no rio onde ela iria tomar banho.

Salvo do perigo, o personagem perguntou ao Super-Sabão por que ele a havia impedido de tomar banho no rio. O protagonista aproveitou para explicar sobre a transmissão do Schistosoma e o desenvolvimento da doença nas crianças. Esse episódio, que foi associado ao depoimento da mãe, ajudou na compreensão da turma sobre a temática.

Encerrei a oficina solicitando aos alunos que escrevessem a história de Pedro em tópicos e que formulassem frases referentes a cada etapa, com base em suas reflexões e no vídeo.

Essa oficina foi dedicada ao início da nossa produção textual. Acompanhei os alunos ao laboratório de informática para interação com o "HagáQuê".

Fiz a demonstração do software, com o uso do DataShow, apresentando à turma o funcionamento da ferramenta.

Além disso, mostrei seus mecanismos de produção textual e os ícones disponíveis para a produção das histórias em quadrinhos digitais.

Durante a apresentação, foi perceptível o interesse de todos em conhecer os mecanismos de produção das histórias em quadrinhos. Na sequência, os alunos foram convidados a produzir suas HQs digitais, quadro a quadro.

No primeiro contato com o software, eles demonstraram facilidade e familiaridade em seu manuseio. Não tiveram grandes dificuldades em utilizar os ícones da ferramenta, exceto na digitação dos textos.

Foi um momento bastante significativo, de muita curiosidade e aprendizagem recíproca. Apesar de conhecer a ferramenta, fui surpreendida com a aplicabilidade de alguns ícones do software, pois os alunos fizeram uso deles de forma diferente da que eu lhes havia apresentado.

Um aluno quis colocar em sua HQ o som de um cachorro latindo, mas a ferramenta não tinha esse áudio disponível. Então, ele baixou o som da internet e inseriu na história.

Quando os outros alunos tomaram conhecimento disso quiseram também colocar sons que não estavam disponíveis na barra de som da ferramenta.

Não imaginei que tivessem tal habilidade no manuseio das tecnologias, principalmente por serem de uma área rural.

Os alunos concluíram suas produções. Fiz, então, uma impressão e entreguei o material aos alunos, que foram convidados a uma leitura atenta e silenciosa dos textos.

Foi visível a socialização das produções entre eles. Diante dos textos produzidos, ouvimos algumas sugestões de mudanças, acréscimos e exclusão de informações.

Este encontro foi dedicado às correções e à reescrita das produções. Os alunos fizeram as revisões de seus textos de forma detalhada. Reviram o que haviam escrito, observaram se suas histórias em quadrinhos estavam de acordo com o que haviam pensado e identificaram desvios cometidos.

O intuito naquele momento foi conduzi-los a constatar se as ideias pensadas estavam expressas de modo organizado, claro e coerente, mantendo o sentido global do texto.

Cada aluno pôde acrescentar, substituir ou retirar sentenças. Assim, as crianças se transformam em leitoras delas mesmas, demonstrando preocupação em adequar seu texto para o leitor.

Realizadas as correções e a reescrita, selecionamos os textos para publicação e divulgação na comunidade escolar e local.

Essa oficina foi direcionada à publicação das histórias em quadrinhos. A empolgação tomou conta dos alunos quando viram as HQs saírem da forma digital para o papel.

Eles escolheram o título e a sistematização da capa a partir do tema central “A História de Pedro”.

Na sequência, houve a escolha de um desenho para a capa. Esse momento foi de grande euforia e muito importante para eles, pois tornaram público o que criaram, socializando suas produções com outros leitores da comunidade escolar e da comunidade local. 

Saiba mais

O software HagáQuê foi elaborado com fins educativos pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Unicamp, em parceria com a CNPq e a FAPESP.