"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

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Do campo para a cidade

Área(s): Ciências Humanas.

O objetivo desta prática foi promover a compreensão de que os alunos e suas famílias se relacionam cotidianamente com os ciclos de produção – de alimentos, roupas, calçados etc.

Componente(s) curricular(es) envolvido(s):

Geografia.

Quando:

No decorrer do ano letivo.

Materiais:
  • livros;
  • laboratório de informática;
  • materiais de arte em geral.
Habilidades trabalhadas:

EF04GE01; EF04GE04; EF04GE07; EF04GE08

Professor(a) responsável:

Janice Bastos Ribeiro.

Escola:

Escola Mathias A Bohn e M Pref. EI EF, Rio Negro (PR).

O que é:

O projeto "Do campo para a cidade" foi desenvolvido com alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, a partir de um conteúdo curricular e da curiosidade dos alunos em relação à origem do milho de pipoca.

Como fazer:

Para abordar com os alunos o conteúdo “produtos industrializados”, levei para a sala de aula espigas de milho. O objetivo era que eles visualizassem o milho ainda na espiga.

Na roda de conversa, comparamos a espiga e o milho empacotado, os alunos relataram experiências com pipoca de micro-ondas e variações de pipoca: doce, salgada, colorida. 

Num segundo momento, utilizamos o livro didático de Geografia, que traz o texto “O Milho”. Os alunos viram que muitos produtos contêm ingredientes originados do milho, e que isso pode ser identificado no rótulo das embalagens.

Ainda na roda de conversa, uma aluna relatou sobre o plantio de morangos realizado pelos pais na propriedade onde moravam, na zona rural. Contou como era o cultivo, desde a compra das mudas até a entrega do produto na cidade. As informações despertaram muita curiosidade na turma.

Identifiquei, então, que a maioria dos alunos vivia na cidade e não tinha noção da origem dos produtos que consumiam.

Após essa identificação, trabalhamos a integração entre o campo e a cidade. Esses espaços (o rural e o urbano) estão bem mais próximos do que imaginamos, integrados à produção e ao consumo urbano. 

Planejei várias atividades com o objetivo de conhecer mais sobre o cultivo do morango, sua produção, industrialização e o consumo. Decidi, então, levar a turma para uma visita à propriedade da aluna cuja família produz o morango.

Antes da visita, utilizamos nosso horário no laboratório de informática para pesquisas na internet sobre o morango. Imprimimos as informações que os alunos julgaram mais relevantes. Realizamos leitura coletiva, diálogo e interpretação escrita sobre os conteúdos.

Com base na pesquisa, elaboramos coletivamente uma entrevista, que seria feita com os produtores de morango. Cada aluno levou um bloco para anotar as respostas da entrevista. Feita a entrevista, descobrimos que, além de morangos, havia no local a produção de tempero verde (cebolinha e salsa). Do plantio, sete quilos eram vendidos por semana a um mercado da zona urbana.

Após a visita, em sala de aula, abriu-se um leque muito grande de possibilidades de trabalho interdisciplinar.

No outro dia, conversamos muito sobre o passeio. Cada aluno produziu um texto com suas observações e aprendizados. Percebi mudanças positivas no comportamento das crianças, principalmente dos mais tímidos, que quase não se manifestavam ou interagiam com os demais.

Na empolgação, participaram na troca de ideias e escreveram os textos com detalhes. Lemos as perguntas e as respostas da entrevista e produzimos um texto coletivo.

Durante a visita, chamou muito a atenção dos alunos o fato de que as mudas utilizadas vinham do Chile, e que cada muda era cotada em dólar. Eles tinham algum conhecimento do país, mas queriam saber sua localização. Então, levei para a sala de aula um mapa-múndi para a localização do Chile. Depois, pesquisamos o valor do dólar em relação ao real e calculamos o custo de cada muda (cerca de R$ 0,90). Com certeza, os alunos não irão mais esquecer a localização do Chile e sua moeda.

O produtor também relatou que não utilizava agrotóxicos na produção, o que favorece a degustação logo após a colheita, pois quando são utilizados produtos químicos, os cuidados com a higienização da fruta devem ser maiores.

Novamente, utilizamos o laboratório de informática para pesquisar informações sobre os alimentos com os maiores níveis de contaminação por agrotóxicos. Depois da pesquisa, voltamos à roda de conversa para troca de ideias e informações sobre o tema.

O produtor informou que, além do morango, vendia também geleia e polpa. Questionei os alunos sobre que outros produtos tinham como ingrediente o morango. Eles citaram alguns: bala, chiclete, iogurte.

Sugeri, então, uma visita ao mercado para uma pesquisa sobre produtos industrializados que têm o morango como ingrediente. Um aluno levantou a questão de como eles identificariam os ingredientes.

Foi aí que entraram em pauta a leitura e a análise dos rótulos e das embalagens.

Aproveitei também para enfatizar o prazo de validade constante nos rótulos e nas embalagens. Como era de se esperar, alguns alunos relataram que nunca haviam lido um rótulo ou uma embalagem, e que, a partir dali, passariam a fazê-lo, sugerindo aos pais a mesma coisa.

Fomos, então, ao mercado para identificarmos o maior número possível de produtos industrializados com morango como ingrediente.

Retornei à escola com os alunos. Como de costume, voltamos para a nossa roda de conversa. Os alunos ficaram admirados com a quantidade de produtos industrializados que utilizam o morango como ingrediente, ou seja, como matéria-prima.

Com os dados citados na entrevista, elaboramos situações-problema envolvendo vários conteúdos, como raciocínio lógico, cálculo, medidas de tempo e de massa.

A filha dos agricultores trouxe para a escola várias folhas dos pés de morango. Isso, novamente, favoreceu a interdisciplinaridade: a professora de Arte realizou uma atividade com os alunos utilizando a técnica de impressão de folhas com morangos de EVA representando os pés. Essa atividade foi muito prazerosa aos alunos, que demonstraram grande interesse pela técnica utilizada.

O projeto proporcionou ambientes de aprendizagem e vivência que consolidaram a apreensão dos conteúdos abordados de maneira prazerosa e com grande empolgação. Instigou-se a curiosidade em querer saber mais e mais sobre o assunto.

Ao avaliar os resultados dessa experiência, percebi que todas as atividades proporcionaram aos alunos condições de observar, registrar, trabalhar com gráficos e tabelas, organizar dados, investigar, planejar, perceber e mudar atitudes, além de ampliar o vocabulário específico de forma contextualizada.

Os professores que se desafiarem a trabalhar com essa experiência terão a possibilidade de abordar de forma lúdica e prazerosa os conteúdos acadêmicos das diferentes disciplinas, contribuindo para um ensino-aprendizagem mais significativo.

Dica!

O professor poderá realizar atividades investigativas para prospectar, com o auxílio dos alunos, quais atividades econômicas são desenvolvidas em sua região e quais contemplam os objetivos da prática descrita.

Que atividades econômicas vão do campo à cidade na nossa região? Este pode ser um problema inicial para que os alunos pesquisem, utilizando, para isso, mídias e entrevistas. A atividade pode inspirar a coleta de dados em campo e motivar a turma na elaboração de um roteiro de entrevistas com produtores.