"A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo." (BNCC, 2018, p. 58)

Podcast

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Educação Física inclusiva: despertando novas habilidades

Área(s): Linguagens.

Esta prática teve como objetivo auxiliar o desenvolvimento e o aprimoramento psicomotor de alunos com deficiência, transtornos ou síndromes globais de desenvolvimento, potencializando a evolução, por meio de atividades físicas voltadas especificamente a deficiências individuais, de acordo com a necessidade singular de cada aluno.

Componente(s): Educação Física.
Quando: No decorrer do ano letivo.
Materiais: Os utilizados habitualmente nas aulas de Educação Física.
Habilidades trabalhadas: EF12EF07; EF12EF08; EF35EF05; EF35EF07; EF35EF12.
Escola: Escola Municipal Maria Rufina de Almeida, Manaus (AM).
Professor(a) responsável: Ana Rita Lima de Castro.

O que é:

A prática deste projeto propiciou benefícios concretos para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo dos alunos com deficiência, tendo sido possível realizar sua real inclusão.

Como fazer:

Primeiramente, verifiquei quais eram os alunos com deficiência matriculados entre o 1º e o 3º anos do Ensino Fundamental. O contingente era formado por 19 estudantes, entre sete anos e dez anos de idade. Depois, solicitei à Secretaria da escola os respectivos laudos médicos disponíveis.

Os responsáveis dos alunos foram chamados pela diretora da escola para uma reunião. O encontro possibilitou conhecermos um pouco mais o desenvolvimento dos alunos fora do ambiente escolar, seu comportamento, sua alimentação, o relacionamento com os demais familiares e que tratamentos ou acompanhamentos eram feitos para assisti-los.

Posteriormente, observei como era a participação desses alunos durante as aulas de Educação Física, quais dificuldades apresentavam e quais eram seus interesses.

Só após reunir todas essas informações é que comecei a elaborar o planejamento das atividades. É importante salientar que os alunos não deixaram de fazer as aulas regulares de Educação Física. Realizadas individualmente, as aulas do projeto fucionaram como complemento às atividades habituais da disciplina.

O cronograma da Educação Física individualizada incluiu uma aula semanal de 40 minutos, num total de dez aulas para cada um.

O conteúdo escolhido foi o mesmo aplicado às aulas regulares de Educação Física no 1º bimestre: a psicomotricidade (lateralidade, coordenação motora, orientação tempo e espaço e esquema corporal).

As aulas de lateralidade tiveram atividades para os dois lados do corpo, com movimentos em diferentes direções: com a mão direita e esquerda, com o pé direito e esquerdo, e para a direita e para a esquerda, com o intuito de identificar a lateralidade dominante.

Nas aulas de coordenação motora foram realizados transportes de objetos com a cabeça, mãos, pés e tronco, explorando as diferentes partes do corpo.

Também foram feitos exercícios de receber, arremessar, rolar, manusear, chutar e lançar bolas ou objetos, propiciando coordenação motora seletiva.

Nas aulas de orientação tempo e espaço, as atividades propiciaram localização (à frente, atrás, do lado, à direita, à esquerda, embaixo, em cima, acima), percepção de movimentos sucessivos no tempo (primeiro, seguinte e último).

Houve também atividades de andar, correr e saltar em diferentes direções e planos (para frente, para trás, para o lado, para cima e para baixo, para dentro e para fora, para perto e para longe).

Nas aulas de esquema corporal foram feitos alongamentos, atividades rítmicas para explorar as possibilidades dos movimentos globais e segmentares, e jogos que propiciaram a assunção de posições globais e de partes do corpo.

Os recursos utilizados foram variados: bolas de diferentes tamanhos e pesos, arcos, cones grandes e pequenos, colchonetes, cordas individuais e elásticas, barbante, balões, túnel lúdico (minhocão), material psicomotor de madeira, caixa de som e pen-drive.

Para fazer que os alunos realizassem as atividades, tive de respeitar suas limitações, variações de comportamento e humor, e a disposição para a prática da atividade física.

Os alunos com autismo, Síndrome de Down e deficit de atenção, algumas vezes, não queriam fazer o que era proposto, não conseguiam se concentrar ou cansavam rápido. Então, era necessário parar com a atividade, fazer algo lúdico, propor um jogo ou apenas deixá-los descansar, para depois estimulá-los a se concentrarem e retomarem a atividade.

Os alunos com deficiência física, deficiência intelectual e paralisia cerebral apresentaram maior disposição para participar das aulas, maior concentração na execução de movimentos e atividades e maior determinação em realizar corretamente os movimentos solicitados.

Durante as observações sobre esses alunos nas aulas regulares de Educação Física percebi que eles tinham, algumas vezes, receio em realizar as atividades, dizendo que não conseguiam ou que não queriam fazê-las.

Depois que iniciaram as aulas individuais, notei que eles passaram a se recusar menos a realizar as atividades. Começaram a ter mais segurança nos movimentos e a se divertir mais com os outros alunos.

Avaliação:

Neste projeto, a avaliação foi realizada por meio da participação, da colaboração, do interesse e da assiduidade dos alunos durante as aulas e as atividades propostas. Fizemos também um teste psicomotor.

A inclusão é uma realidade em todas as escolas da rede municipal. Por isso, acredito que este projeto possa ser replicado em outras escolas sem nenhuma dificuldade – suas etapas, seu desenvolvimento, os recursos e as avaliações são os mesmos das aulas de Educação Física. A única diferença está na organização e no estabelecimento de um horário determinado para o atendimento individual ao aluno.

O processo de ensino e aprendizagem dos estudantes selecionados apresentou dificuldades relacionadas às suas deficiências. Sendo assim, é preciso estudá-las e conhecer a personalidade de cada um, modificando o pensamento de que esses alunos são limitados e que, por isso, não conseguirão realizar as atividades, dependendo sempre de ajuda de outras pessoas para fazê-las.

É necessário mudar o olhar. Deixar de encarar esses alunos como “indivíduos incapazes”, passando a vê-los como “indivíduos independentes”, dentro de suas capacidades e das possibilidades que lhes são oferecidas.

Outras ideias:

O professor, sensível ao atendimento de alunos com necessidades especiais, poderá propor a formação de um comitê escolar que pense em melhorias e adequações no espaço físico, como também em outras práticas que possam colaborar para a real inclusão dos alunos com necessidades especiais.