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Nas rodas do saber: uma prática inovadora no desenvolvimento do gosto pela leitura
LGG - Competência 1 | Competência 3 | Competência 6 | Competência 7
Promover o hábito da leitura nos alunos, bem como o gosto pela literatura por meio das tecnologias de informação e comunicação.
Durante o ano escolar.
Materiais:- carrinho de supermercado;
- livros;
- celular;
- materiais de artes plásticas;
- projetor de vídeo.
LGG – Competência 1; Competência 3; Competência 6; Competência 7
Habilidades trabalhadas:EM13LP46; EM13LP47; EM13LP52; EM13LP54; EM13LGG603
Martos Silveira.
Escola:E.E.B. Prof. Maria Amalia Cardoso, Governador Celso Ramos (SC).
O que é:
O Projeto “Nas rodas do saber” teve como proposta principal mostrar que o uso das novas tecnologias pode transformar um conteúdo, no caso, a literatura, num processo dinâmico e criativo, com a leitura se tornando a base para o desenvolvimento de produções visuais, os curta-metragens.
Todo o trabalho, desde a criação dos roteiros até a produção final, envolveu a tecnologia disponível nos celulares dos próprios estudantes e outras existentes na escola.
O projeto também teve a particiipação de mais disciplinas. Por exemplo, na elaboração dos efeitos especiais, usamos os conceitos de Física e Química. Já Filosofia e Sociologia colaboraram na reflexão das questões trazidas pelas obras literárias.
O projeto teve início com a circulação do carrinho, aulas de leitura e a escolha das obras literárias. Passou pela apresentação de resenhas, seminários e avançou até a elaboração dos roteiros para curtas-metragens, ao longo do primeiro bimestre.
A etapa das filmagens seguiu por mais dois bimestres, bem como a elaboração dos painéis de artes para a realização do "Sarau de Poesia".
O projeto foi desenvolvido em 2017 e 2018. As ações foram planejadas em consonância com a equipe pedagógica da escola.
Em 2018, foram incorporadas ao projeto alterações sugeridas no ano anterior, como a inserção de obras da literatura contemporânea, contemplando a interdisciplinaridade com Língua Inglesa, além de contos populares brasileiros.
Na edição de 2018, tivemos algumas inovações como visita às universidades que têm curso de mídias, visita ao Museu de Literatura e criação de painel de exposições dos seminários realizados nas salas de aula.
Como fazer:
Os livros do nosso carrinho foram selecionados a partir do programa curricular de Português. Incluíram obras relacionadas ao Realismo, ao Romantismo, ao Modernismo etc. No projeto, uma vez por semana, os estudantes escolheram uma obra e a levaram para casa.
Depois, apresentaram-na à turma, informalmente, numa roda de leitura. Foi realizada ainda uma apresentação por bimestre, proporcionando, assim, desinibição e o exercício da comunicação.
Os participantes tiveram de elaborar uma resenha. Os trabalhos foram apresentados por meio de um projetor de vídeo.
Durante a realização do projeto, sempre estivemos abertos a ouvir as propostas dos estudantes, tanto de sugestão de obras como de uso de recursos de multimídia para as apresentações dos trabalhos.
Dentre essas propostas, um estudante do 3º ano sugeriu, por exemplo, que os curtas-metragens fossem produzidos com seus recursos de mídia disponíveis. Assim, durante os dois bimestres, os alunos produziram os curtas usando celulares, aplicativos e mídias alternativas.
Os jurados tiveram um mês para analisar os trabalhos e, no último bimestre, foi feita a apresentação final para toda a comunidade escolar na "Noite do Oscar".
Foram produzidos curtas das obras "Jeca Tatu", "A Hora da Estrela", "Escrava Isaura", "Clarissa", "O Pagador de Promessas", "Helena", "Capitães de Areia, "Triste Fim de Policarpo Quaresma" e "O Tempo e o Vento".
Os estudantes viajaram no mundo da pesquisa. Buscaram trilhas sonoras, procuraram novos sons, assistiram aos filmes produzidos sobre os temas escolhidos, criaram efeitos especiais, elaboraram seus próprios figurinos, pesquisaram sobre a realidade do lugar em que vivem. Enfim, fizeram um trabalho surpreendente, com muita criatividade e inovação.
Tivemos também o "Sarau de Literatura", que antecedeu à "Noite do Oscar". No sarau, houve a integração dos temas das disciplinas Matemática, Sociologia, Filosofia e Artes. Um desses temas foi a violência contra a mulher e o preconceito de raças.
Os curtas foram exibidos para os pais, em sessões exclusivas, e também para os estudantes das outras turmas.
Realizada no fim do ano, a "Noite do Óscar" foi um evento fantástico. Nela, foram premiados os melhores curtas, em dez categorias. As produções foram divulgadas no YouTube, no Facebook e no blog da escola.
O projeto alcançou o objetivo proposto. Mais do que ser mostrada como um conteúdo, a literatura foi trabalhada como algo prático, por meio da inovação tecnológica, gerando uma ação pedagógica atual e interdisciplinar. A criatividade dos trabalhos trouxe o novo, sem dispensar a essência da literatura brasileira.
Desenvolver o gosto pela leitura e pela literatura nos adolescentes de hoje é um enorme desafio, pois o mundo da tecnologia digital é muito sedutor.
Em grande parte do tempo, os estudantes ficam conectados em jogos, redes sociais etc. Cabe a nós, profissionais da educação, despertá-los para uma compreensão maior da importância de usar bem os recursos tecnológicos em favor da ampliação dos conhecimentos, e não somente como um meio de entretenimento.
Jogos, ludicidade, inclusão: ressignificando do processo de ensino-aprendizagem em matemática
O objetivo desta prática foi ressignificar o aprendizado dos conceitos de probabilidade e análise combinatória de modo interdisciplinar e inclusivo, estimular a criatividade e o trabalho em grupo na construção do conhecimento coletivo desenvolvendo o aprendizado por meio de metodologia ativas no processo de ensino.
Materiais:
- Jogos físicos e digitais que envolvem o fator "sorte”, como dados, cartas, loteria, bingo, roleta e moedas;
- Materiais recicláveis diversos para a confecção dos jogos.
Competências específicas: MAT – Competência 3; Competência 4; Competência 5
Habilidades trabalhadas: EM13MAT310; EM13MAT311; EM13MAT312; EM13MAT315; EM13MAT408; EM13MAT511
Escola: EEFM Beni Carvalho, Aracati (CE)
O que é:
Durante as minhas vivências no ensino de Matemática no 2º ano do Ensino Médio, observei que os conceitos sobre probabilidade são difíceis de serem discutidos, pois os livros apresentam situações que dificultam a interação com os alunos.
Eu precisava, portanto, de estratégias de ensino que promovessem interações práticas com os conceitos abordados na disciplina.
A utilização dos jogos de azar como estratégia de ensino despertou a curiosidade e o interesse dos alunos, tornando-se uma metodologia efetiva para o processo de ensino-aprendizagem.
Durante o projeto, desenvolvi um estudo sobre os conceitos teóricos e sua aplicabilidade no cotidiano dos alunos. Os jovens foram convidados a participar da construção dos jogos de azar, utilizando materiais recicláveis e de baixo custo.
Os alunos montaram uma sala temática, onde foram expostos os jogos para experimentação e compartilhamento com alunos de outras salas.
Os principais resultados foram:
- ressignificação de conceitos previamente aprendidos de uma forma motivadora para os alunos;
- exploração prática de conceitos de difícil compreensão;
- interdisciplinaridade, inclusão, criatividade, interação social e conscientização sobre a importância do trabalho em grupo;
- participação ativa dos alunos na construção do seu próprio conhecimento.
Essa metodologia de ensino trouxe dinamismo à abordagem dos conceitos em Matemática, gerando uma forma ampliada de construção coletiva do aprendizado.
Como fazer:
Ao iniciar o estudo da teoria das probabilidades, percebi a apatia e o desinteresse dos jovens pelo tema. Eles só estavam preocupados em copiar as fórmulas e os modelos das questões que poderiam ser cobradas nas avaliações, no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e nos vestibulares.
Não estavam interessados em compreender a lógica de cada situação e desenvolver efetivamente o aprendizado e o pensamento matemático.
Alguns alunos deficientes auditivos também demonstraram pouco envolvimento com as aulas.
Diante dessa realidade, percebi que, por meio dos jogos, poderia despertar a curiosidade dos alunos e instigar o envolvimento coletivo.
Como ferramenta de ensino, o lúdico proporciona maior integração interpessoal, além de estimular a imaginação, a concentração e o raciocínio lógico, gerando dinamismo na abordagem dos conceitos matemáticos e uma forma mais ampliada de avaliação do aprendizado.
As atividades lúdicas propiciam o acompanhamento integral do conhecimento. A partir das atividades desenvolvidas, os alunos socializam e trocam vivências, construindo, de maneira dinâmica, seu conhecimento.
Escolhi a temática pela proximidade das ideias envolvidas na realização dos "jogos de azar" com os temas praticados em sala de aula.
Escolhi alguns jogos que colaborassem para o ensino da análise combinatória e probabilidade, demonstrando matematicamente os conceitos abordados.
Os jogos de loteria e os bingos trouxeram os conceitos de análise combinatória, o cálculo de probabilidades de cada cartela e o conjunto de números a serem sorteados. Os jogos com as cartas trabalharam a dinâmica de agrupamento das cartas.
A roleta, por sua vez, evidenciou os agrupamentos e as probabilidades de resultados. E os jogos com dados e moedas demonstraram, de forma prática, as probabilidades de se achar um determinado resultado.
Os jogos desenvolveram várias habilidades nos alunos, fazendo com que o processo de aprendizagem fosse otimizado. Esses elementos contribuíram para que os adolescentes interagissem e, de forma relaxada, compreendessem novos conceitos.
Vale ressaltar que a divisão e a organização das etapas não foi uma tarefa fácil, pois ocorreram de forma dinâmica, interpessoal e integrada. Todas as etapas do planejamento foram desenvolvidas em conjunto com os alunos.
Para a confecção dos jogos e a ornamentação da sala temática, foram utilizados materiais recicláveis, como garrafas PET, caixas de papelão, papel e materiais de baixo custo (tecidos, cartolinas e tintas etc.).
Durante o planejamento e a implementação das ações propostas, tive a colaboração de uma intérprete de LIBRAS, que me auxiliou na identificação das necessidades de aprendizado dos alunos com deficiência auditiva, facilitando sua interação com os colegas.
As atividades foram desenvolvidas e organizadas de acordo com um nível crescente de dificuldades. O processo teve três etapas:
O conhecimento foi compartilhado de forma lúdica, dinâmica e interativa, com trocas de saberes entre alunos e professores, numa ressignificação do processo de ensino e aprendizagem.
A estratégia para incentivar o interesse dos alunos foi o estudo teórico, a confecção dos jogos e o próprio ato de jogar. Esses elementos fizeram com que se responsabilizassem pela organização do jogo, estudando e compreendendo seus objetivos e a relação com a teoria estudada, ampliando as concepções sobre os conceitos discutidos.
Todos os alunos compartilharam o aprendizado. Alguns atuaram como monitores da disciplina, ajudando colegas que apresentavam dificuldades de compreensão, explorando, assim, a construção do conhecimento individual e coletivo.
Ao longo do projeto, surgiram novos aspectos que não haviam sido planejados inicialmente. Foram necessárias algumas adaptações, dentre elas:
- a implementação de ações com maior grau de complexidade;
- a oferta de jogos mais atraentes;
- a realização de demonstrações práticas mais atrativas e a apresentação de questões relacionadas à logística da sala temática.
O momento mais significativo do projeto foi quando percebi que os alunos haviam evoluído de uma prática simples e divertida para uma experimentação de uma teoria matemática complexa e abstrata.
Dicas
Além dos jogos de tabuleiro, que podem ser comprados a preços relativamente baixos ou feitos com materiais baratos ou reciclados, há também uma enorme gama de jogos on-line para utilização, caso a escola disponha de computadores e acesso à internet.
Possibilitar que os alunos criem e modifiquem regras promove o protagonismo e a criatividade, além de despertar ainda mais o interesse pelas atividades.
Formação superior e carreira profissional
Esta prática se propôs a ampliar o debate acerca da formação superior e da atuação profissional e a promover a importância da função social e da ética no exercício das profissões.
Materiais: Computadores com acesso à internet.
Competências específicas:
LGG – Competência 7
CHS – Competência 4
Habilidades trabalhadas: EM13CHS401; EM13CHS404; EM13LGG703
Professor(a) responsável: Maria de Fatima Farias.
O que é:
Em 2017, assumi a regência de Química em turmas do Ensino Médio de uma das maiores escolas estaduais de Goiânia. Como professora recém-chegada, não conhecia os alunos. As primeiras aulas foram, portanto, destinadas ao diagnóstico dos conhecimentos relacionados aos conteúdos do currículo e dos interesses, das potencialidades e das necessidades dos estudantes.
Como parte desse processo de investigação, questionei os alunos sobre suas pretensões em relação ao futuro acadêmico e profissional. Chamou-me bastante atenção o fato de que, nas sete turmas, quase todos estudantes declararam ter interesse pelos cursos de Direito, Medicina e Engenharia. Dos quase 200 alunos, apenas três afirmaram interesse pelos cursos de História, Letras e Pedagogia.
A hipótese que me ocorreu foi que a preferência tivesse relação com o reconhecimento, a remuneração e o status atribuídos àquelas profissões. Por outro lado, o pouco interesse pelas áreas de licenciatura era, para mim, um reflexo da falta de prestígio dos professores e das professoras no Brasil.
As decisões quanto ao futuro profissional fazem parte, naturalmente, das preocupações dos alunos do Ensino Médio. Por sua importância na vida dos adolescentes, a escola se torna ambiente propício para o diálogo sobre o assunto.
A temática do projeto e seu vínculo com a atuação profissional me estimularam na oferta de orientação aos alunos e no estabelecimento de um diálogo sobre a função social das profissões, sua importância para o bem-estar coletivo e a ética no mundo do trabalho.
A execução do projeto demandou estudo e pesquisa para que as informações subsidiassem o confronto, o compartilhamento, a reelaboração e a articulação dos conhecimentos.
Esse processo viabilizou a construção de aprendizagens e o desenvolvimento da capacidade de estabelecer “sínteses e análises, abstrações e generalizações” (Hernández, 1998).
Como fazer:
O projeto ocorreu entre agosto e dezembro de 2018. Foi desenvolvido em etapas: diagnóstico inicial, fase de estudo, pesquisa e exposição de dados sobre o tema, apresentação de diferentes profissões na perspectiva dos profissionais das áreas e, por fim, a culminância.
O diagnóstico inicial serviu para identificar as expectativas e as necessidades de aprendizagem dos alunos relativas ao tema. Foi nessa etapa que percebi os anseios, as dúvidas e as incertezas dos estudantes.
A grande expectativa dos alunos em relação ao ingresso na universidade foi outro elemento que contribuiu para que o projeto ganhasse relevância pedagógica.
A meu ver, esse interesse tem origem, principalmente, no histórico de aprovações de nossos ex-alunos, inclusive em universidades federais. A escola, em função dessa característica, atrai alunos de várias regiões da cidade, todos em busca de um ensino que subsidie a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Foi feita, então, uma pesquisa inicial sobre as pretensões dos estudantes em relação à escolha do curso superior e ao futuro profissional. Ao serem questionados, 36% dos alunos declararam interesse pelo curso de Direito, 24% manifestaram o desejo pelo de Engenharia e 22% afirmaram querer Medicina, ou seja, 82% dos alunos estavam voltados para apenas três cursos.
A investigação sobre os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do tema se deu também em rodas de conversa, momentos nos quais os estudantes puderam expressar suas dúvidas, opiniões e impressões.
Ao dialogar com os estudantes, percebi que a maioria não tinha ideia do que é estudado nos cursos pretendidos ou das possibilidades de atuação profissional.
Também ficou nítida a falta de conhecimento a respeito da estrutura dos cursos e das possibilidades de formação superior e atuação profissional. Nenhum dos meus alunos tinha o conhecimento de que só a Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia e na região metropolitana, oferece mais de 90 cursos em diversas áreas.
Os alunos trouxeram perguntas como:
- “Que curso tenho que fazer para ser delegada?"
- "Pediatria é muito concorrido?"
- "Como funciona o mestrado e o doutorado?"
- "Na UFG tem engenharia elétrica?"
- "Pra ser juiz tem que ser advogado?"
- "Qual a diferença entre psicólogo e psiquiatra?"
- "História só serve pra dar aula?"
A partir desse diagnóstico, foi possível selecionar as informações, direcionar as discussões e planejar as atividades.
Num segundo momento, foi feita uma exposição sobre dados e informações a respeito de cursos e universidades, formas de ingresso, financiamento estudantil e modalidades de bolsas e de programas de incentivo à formação.
Para tanto, utilizei a metodologia de aula expositiva dialogada, com o recurso de projetor de slides. A fim de complementar o acervo de informações, orientei os alunos para a pesquisa pela internet. Ensinei-os ainda a buscarem informações nos sites das universidades.
Estimulei também o debate a respeito das questões sociais, econômicas e culturais relacionadas ao exercício das profissões, suscitando questões sobre os motivos da desvalorização de algumas profissões, o status atribuído a outras, a influência da mídia em nossas escolhas e percepções, a necessidade de formação continuada e a importância e a função social de cada profissão.
A fase de apresentação exigiu esforço para que tivéssemos a participação de um profissional diferente a cada semana.
O contato com os alunos foi por meio de palestras. Os convidados abordaram questões relacionadas à formação superior e à atuação profissional. Ao final, sempre ocorria uma entrevista para que os alunos esclarecessem dúvidas.
Isso aconteceu durante oito semanas seguidas, com a presença de profissionais das áreas de Psicologia, Biomedicina, Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), Arquitetura, Direito, Medicina, Administração de Empresas e Fonoaudiologia.
Para ampliar os conhecimentos dos alunos sobre formas de acesso e financiamento universitário, fizemos estudos e pesquisas em sites de busca, de universidades, do Ministério da Educação e de instituições não governamentais. Houve também a distribuição de catálogos, folhetos, jornais e revistas.
A culminância do projeto se deu a partir de um vídeo com depoimento dos alunos sobre sua participação no projeto e o impacto das atividades em sua percepção sobre o tema, com destaque para a informação sobre se o projeto tinha ajudado na formação e na escolha do curso superior.
A avaliação é, muitas vezes, confundida com prova, teste e nota. Essa é uma visão tradicional dos processos educativos. Está associada a meios de aprendizagem mecânicos e unilaterais, baseados na memorização e na repetição.
As concepções de homem, sociedade e conhecimento determinam a concepção avaliativa. Alguém que conceba o ser humano como pronto e acabado, que tenha uma compreensão determinista sobre os processos sociais e que entenda o conhecimento como verdade absoluta, verá, muito provavelmente, na avaliação, uma possibilidade de certificação e controle.
Por outro lado, uma visão mais dialética implica enxergar a avaliação como “mecanismo potencializador da aprendizagem” (Esteban, 2002).
A avaliação, nessa lógica, é elemento constitutivo da prática pedagógica e se dá no decorrer do processo educativo. Tem como objetivo oferecer evidências para as reflexões e mediações necessárias ao favorecimento do ensino e da aprendizagem.
Um projeto como este não poderia se pautar por uma concepção avaliativa que não fosse processual, diagnóstica, descritiva, contínua e qualitativa.
Uma das principais necessidades de aprendizagem identificada no diagnóstico foi a ampliação da percepção sobre as possibilidades de escolha do curso superior.
Antes do projeto, como foi dito, os cursos de Medicina, Direto e Engenharia eram a preferência de 82% dos alunos. Ao final, representavam a opção de apenas 33% dos estudantes.
Outro dado que, inicialmente, havia chamado atenção era a baixíssima alusão aos cursos de licenciatura e Pedagogia, com 1,5% das escolhas. Com a evolução do projeto, a escolha por esses cursos alcançou 23% dos alunos.
Surgiram também referências a outros cursos, como Arte, Nutrição, Fisioterapia, Geografia, Educação Física, Contabilidade, Comunicação Social, Biomedicina, Biologia e Administração de Empresas. Esses nomes não haviam sido mencionados no diagnóstico inicial.
A falta de conhecimento quanto ao currículo e à estrutura dos cursos foi sendo superada no decorrer do projeto.
Como exemplo, recordo da pergunta de uma aluna, ainda na fase de diagnóstico, sobre a concorrência no "curso de pediatria". Ela não sabia que a pediatria é uma especialidade da medicina e não uma opção de curso superior.
Mais adiante, na palestra realizada por um médico, a mesma aluna fez diversas perguntas sobre a residência em pediatria: "Como é a seleção?"; "Quanto tempo dura?"; "Quanto custa?"; "Acontece no hospital ou na faculdade?". Esses questionamentos evidenciaram a ampliação de seu conhecimento.
Em diversos momentos do projeto, foram feitas discussões sobre a necessidade de formação continuada na atuação profissional. Ficou claro para os estudantes que os cursos de pós-graduação servem não apenas à carreira acadêmica, mas também configuram uma forma de aperfeiçoamento profissional.
A ética no exercício profissional foi um tema recorrente em todas as palestras e entrevistas, com a apresentação de diversas situações e experiências vividas pelos convidados em suas carreiras.
O contato com essas experiências e a mediação promovida nas discussões ajudaram a construir nos alunos uma visão crítica sobre a ética no exercício profissional. Isso ficou evidenciado em dois momentos do projeto.
O primeiro ocorreu após a palestra de um médico, que fez referências ao salário de sua profissão. Ele contou que, no primeiro mês de formado, já recebia R$ 13.000,00 de salário. O irmão, que se formou três anos depois, "só" recebeu R$ 8.500,00 no mês inicial como médico.
Ele relacionou essa "baixa" salarial com o aumento na oferta de cursos de Medicina, transparecendo uma visão elitista da profissão. Além disso, fez várias comparações entre o salário de um médico e o de astros da TV e dos esportes.
Nos dias seguintes, vários alunos me procuraram relatando uma certa decepção com a palestra do médico, uma das mais aguardadas pelos jovens, dizendo coisas do tipo: "Professora, ele deu aula foi de contabilidade pra gente"; "Nossa, professora, esse médico só pensa em dinheiro! Acho que quando ele atende um paciente vê uma cifra na cara da pessoa".
O segundo momento deixou clara a formação de uma consciência crítica, humana e solidária. Ocorreu na palestra de uma fonoaudióloga. Na conversa, ela expôs a seguinte situação aos estudantes:
"Imaginem que sua mãe está bastante debilitada, se alimentando por sonda e que depende do trabalho de um fonoaudiólogo para restabelecer, minimamente, a capacidade de deglutição para não morrer asfixiada com a própria saliva. Imaginem que a vida da sua mãe, um ente tão querido, dependa do meu trabalho. Você pagaria qualquer valor para salvar sua mãe, não é?".
Naquele momento, alunos se viraram em minha direção como se quisessem dizer: “E, agora, você não vai falar nada?”.
Eu entendi que aqueles olhares cobravam de mim um posicionamento. Sem ser deselegante com a convidada, mas ao mesmo tempo fazendo um contraponto àquela fala, eu disse apenas: "Mas você não cobraria qualquer valor, pois, afinal, trata-se de uma vida e não apenas de uma transação comercial, não é mesmo?".
Percebi claramente a aprovação e até um certo alívio nas expressões dos estudantes. Após a palestra, alguns comentaram que tinham ficado chocados com o exemplo dado pela fonoaudióloga.
A função social das profissões foi outro assunto sempre presente nas discussões. Os alunos compreenderam que todas elas têm a sua importância para a manutenção do bem-estar social. Perceberam que o status é uma condição construída e que a desvalorização de determinadas profissões é injusta e perversa.
Isso pôde ser observado em falas de estudantes como "Todas as profissões são importantes para o bem das pessoas"; "É injusto um médico ganhar tão mais do que um professor, porque sem o professor não teria o médico"; "Cada profissão tem sua função para o bem coletivo".
Por tudo isso, acredito que o projeto tenha cumprido a função de promover aprendizagens e vivências para a ampliação da percepção dos estudantes sobre a escolha do curso superior, suas implicações na atuação profissional e as perspectivas do mercado de trabalho.
A metodologia e as atividades propostas contribuíram de forma significativa para o alcance dos objetivos, uma vez que possibilitaram um ambiente favorável à reflexão, ao questionamento e ao diálogo.
A observação das falas e atitudes demonstra que os alunos desenvolveram a capacidade de análise crítica, identificando as possibilidades e os desafios inerentes à formação acadêmica e à atuação profissional.
Numa possível reedição do projeto, pretendo acrescentar às atividades uma feira das profissões para incentivar o protagonismo e a autonomia.
Nessa atividade, os alunos poderão compartilhar com a comunidade escolar, de forma sistematizada, planejada e organizada, o resultado das aprendizagens e das vivências experienciadas durante o projeto.
Por fim, saliento que conduzir esse projeto foi uma enorme satisfação profissional. Poder, de alguma forma, contribuir com a formação humana desses alunos foi enriquecedor e gratificante, na expectativa de ter colaborado para a formação de profissionais mais éticos, humanos, solidários e conscientes de sua função social.
Saiba mais
Esse projeto pode ser reproduzido em outras escolas e por outros professores.Por suas características, talvez ele tenha mais relevância para turmas do Ensino Médio,mas acredito ser viável também sua realização nos anos finais do Ensino Fundamental.
Promover esse tipo de discussão, principalmente na escola pública, é uma possibilidade enriquecimento curricular para além dos conteúdos formais e de contribuição com uma formação integral dos estudantes.
A principal condição para a realização do projeto é a disposição do professor. É necessário ver sentido e significado nas práticas, para que elas sejam significativas e tenham resultados positivos.
Acreditar no potencial dos alunos e em seu direito a uma educação crítica, reflexiva e humanizadora também é requisito indispensável.
Além disso, é imprescindível haver um planejamento adequado. Mesmo que a escola não conte com uma grande diversidade de espaços físicos e recursos materiais e tecnológicos, é possível adaptar o projeto ao ambiente da sala de aula.
A maior dificuldade na condução do projeto é a presença voluntária dos profissionais para a realização das palestras e entrevistas, já que é preciso conciliar as agendas com a dinâmica escolar.
É de se esperar que os alunos que participem da experiência tenham sua capacidade de análise e escolha potencializada.
O contato com experiências e pontos de vistas diferentes subsidia a ampliação da percepção da realidade e auxilia no processo de construção de identidade.
O debate, o confronto com opiniões diversas e a reflexão auxiliam na construção da autonomia e do autoconhecimento. Os alunos se tornam mais aptos e empoderados em suas escolhas, o que tem reflexos positivos em suas vidas, principalmente nos aspectos acadêmico e profissional.
A formação de uma consciência crítica, capaz de perceber as nuances sociais e éticas relacionadas ao exercício das profissões, é talvez a contribuição mais importante desse projeto na formação humana dos estudantes.
Referências Bibliográficas
ESTEBAN, Maria Tereza. Pedagogia de projetos: entrelaçando o ensinar, o aprender e o avaliar à democratização do cotidiano escolar. In: SILVA, J. F.; HOFFMANN, J.; ESTEBAN, M. T. (orgs.). Práticas avaliativas e aprendizagens significativas: em diferentes áreas do currículo. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, 2004.
HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues.
Aplicativo da cultura PaiterSurui
O objetivo desta prática foi desenvolver um aplicativo que mostrasse um pouco da cultura indígena da tribo Paiter Surui e, por meio de novas formas de usar a tecnologia, valorizar a identidade cultural dos alunos.
Em qualquer momento do ano letivo.
Materiais:
- tablets;
- celulares.
LGG – Competência 1; Competência 7
CHS – Competência 2
Habilidades trabalhadas:
EM13CHS202; EM13CHS205; EM13LGG105; EM13LGG701; EM13LGG703
Luiz Weymilawa Surui.
Escola:
EIEEFM Sertanista José do Carmo Santana, Cacoal (RO).
O que é:
Desenvolvi com meus alunos o projeto “Aplicativo da cultura PaiterSurui”, com conteúdos específicos para tablets e celulares, sobre a cultura indígena.
A iniciativa trouxe uma reflexão sobre quem somos e sobre a perda de muitos aspectos da nossa cultura.
Meus alunos estavam apáticos e desanimados, usavam aplicativos somente para baixarem músicas e não aproveitavam, de forma positiva, a tecnologia em suas mãos. Havia reclamações dos professores e certa acomodação dos alunos em suas tarefas diárias, numa visível perda de identidade e interesse sobre o modo de vida Paiter.
Esse projeto trouxe um novo fôlego e a valorização da nossa identidade, de forma prática e com a participação de todos.
Realizamos pesquisas com as pessoas mais velhas e sábias de nossa comunidade, discutimos o uso da tecnologia de forma positiva e como um instrumento de luta e preservação da nossa identidade Paiter. Aprendemos a desenvolver tecnologia social e a usá-la a nosso favor para divulgação da nossa cultura.
Com essa experiência, saímos da condição de consumidores passivos e nos tornamos produtores culturais.
O êxito no uso dessa ferramenta tecnológica nos fez pensar em novos projetos, como a criação de um app para vender nossos artesanatos e gerar renda para a comunidade.
Como fazer:
Temos pouco tempo de contato com a sociedade não indígena, aproximadamente 50 anos. A nossa comunidade tenta manter a forma de vida tradicional. Temos roças com vários tipos de alimentos, pescamos e fazemos grande parte do nosso artesanato tradicional.
Nossa escola é bilíngue. Falamos a língua materna Paiter, que pertence ao tronco linguístico Tupi Mondé, e a Língua Portuguesa. Temos cinco salas de aula para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, com aproximadamente 120 alunos, e uma cozinha pequena. A escola não tem internet, linha telefônica, biblioteca ou sala de informática.
A turma com a qual trabalhei, 3ª série do Ensino Médio, era composta por nove alunos, sendo três garotas e seis rapazes entre 16 anos e 22 anos. Na classe, havia uma aluna com necessidade educacional especial (surdez).
Apesar das dificuldades e da falta de interesse em alguns momentos, meus alunos eram assíduos e disciplinados na execução das tarefas.
Quando da realização do projeto, éramos, no Ensino Médio, três professores indígenas e quatro não indígenas. Havia muitos desafios, principalmente em relação ao uso da Língua Portuguesa.
Desenvolver novas metodologias de ensino com material próprio bilíngue seria uma ótima alternativa a médio prazo, uma vez que já existem alguns livros publicados pelos professores Paiter.
Na concepção do projeto, o plano foi desenvolver nos alunos o senso crítico, a criatividade e a disciplina, pois a turma tinha grande potencial.
Com isso, eles teriam mais ferramentas para enfrentar o cotidiano e as dificuldades da cidade, já que a maioria tinha planos de ir para faculdades de cidades próximas.
Percebi logo o interesse dos jovens por aplicativos e redes sociais, o que me deu pistas para o desenvolvimento do projeto.
O trabalho durou três meses e foi desenvolvido em 15 etapas sequenciais. Após apresentar a proposta, discuti com a turma o conceito de tecnologia e como ela está presente em nossa vida cotidiana.
Conversamos sobre as várias formas de gerar tecnologia e sobre o uso positivo e negativo da internet. Os alunos fizeram muitas perguntas sobre a utilização de recursos e o funcionamento das redes sociais, o que gerou uma discussão sobre identidade.
Depois dessa primeira etapa, pedi a eles que fizessem uma redação em português para diagnosticar o que realmente haviam entendido da nossa discussão.
Quando conversamos, usamos a língua materna. Quando escrevemos, empregamos a língua portuguesa.
Falando sobre tecnologia, expliquei o que é um aplicativo. Mostrei que existem conteúdos específicos para tablets e celulares. Falei sobre os sistemas operacionais (Android e iOS) e sobre aplicativos existentes.
Na ocasião, destaquei que seria possível montarmos um app sobre a cultura Paiter, por meio da plataforma “Fábrica de Aplicativos”, disponível na internet.
Isso foi fundamental para prender a atenção dos alunos, despertando neles a curiosidade e estimulando sua criatividade.
Embora os alunos fizessem uso de tablets, a maioria não conhecia, de forma técnica, as funções básicas.
Como parte do aprendizado, os alunos fizeram selfies, editaram, gravaram as próprias vozes, fizeram vídeos uns dos outros e realizaram inúmeros testes.
Eu havia programado duas aulas para essa etapa. Mas, para deixá-los à vontade, estiquei a atividade para quatro aulas.
Sabendo o que seria possível fazer para que tivéssemos o app sobre a cultura Paiter, passamos a discutir qual seria o conteúdo do nosso aplicativo.
Chegamos ao consenso de que ele deveria ter palavras na nossa língua, a história e a participação dos sabedores Paiter. Nesse ponto, mudei a ordem das etapas, para que os alunos ficassem mais livres para o trabalho.
O trabalho fluiu com leveza e se tornou cada vez mais divertido. Eu contei um pouco da história Paiter. Apesar de ser um professor jovem, cresci ouvindo relatos sobre a nossa cultura, contados por meu pai, um dos mais antigos Paiter em nossa comunidade.
Convidamos dois sabedores para realizar uma palestra. Os alunos, atentos e preparados, tiraram fotos e gravaram histórias sobre nossa origem, usando o tablet. Comecei a visualizar os primeiros resultados, o que me deixou ainda mais motivado para continuar o trabalho. Os alunos também ficaram entusiasmados por terem nas mãos um registro tão valioso.
Na sequência, andamos pela aldeia e registramos as mulheres trabalhando no pátio das casas e fazendo artesanato, as crianças brincando, os homens indo para a roça. Tudo isso aconteceu no contraturno escolar.
Em seguida, cada aluno fez o mapa da aldeia. Os desenhos, expressivos, fortaleceram os vínculos ancestrais e a noção de pertencimento.
Os jovens entrevistaram seus parentes mais velhos e ouviram deles opiniões sobre a vida, hoje, e histórias de como era o cotidiano no passado.
Era preciso registrar esse momento com o uso da tecnologia, mas os próprios alunos queriam também escrever sobre a pesquisa. Foi difícil separar o que iria para o aplicativo.
Nossa trajetória é feita de alguns episódios tristes, e os nossos sabedores pediram para que alguns trechos não fossem do conhecimento de não índios.
Isso nos trouxe reflexões e uma discussão muito interessante. Mesmo jovens, já estávamos percebendo a nossa importância como seres humanos e como indígenas.
Com todo o conteúdo das pesquisas e das produções, decidimos o que entraria no app. Para tanto, separamos imagens do cotidiano, desenhos, textos etc.
A partir daquele ponto, precisaríamos da internet para alimentar a plataforma base do nosso aplicativo. Eu fiquei responsável por colocar os dados na plataforma, seguindo o conteúdo que os alunos haviam escolhido.
Com o app pronto, fizemos alguns ajustes. Ele está hoje na plataforma da "Fábrica de Aplicativos", mas disponível somente para os alunos.
Saiba mais
Para conhecer ferramentas de criação de um aplicativo: https://canaltech.com.br/apps/como-criar-um-aplicativo/
Geração@.com Atitudes
Esta prática se propôs a discutir e refletir sobre cidadania, democracia, leis, poderes constituídos, funções do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, voto, entre outros temas, a fim de despertar o interesse dos alunos pelas questões nacionais e elaborar um projeto de lei para o município.
Sem período específico.
Materiais:
- artigos e textos de educação, mídias e tecnologias;
- livros de educação, mídias e tecnologias;
- Constituição Federal.
LGG – Competência 1
CHS – Competência 1
Habilidades trabalhadas:
EM13LP02; EM13LP03; EM13LP23; EM13LP49; EM13CHS101;
Vera Beatriz Hoff Pagnussatti.
Escola:
Colégio Estadual Eron Domingues, Marechal Cândido Rondon (PR).
O que é:
O “Projeto Geração@.com Atitudes” foi desenvolvido com quatro turmas de 3° série do Ensino Médio – duas em 2017 e duas em 2018 – na disciplina de Língua Portuguesa. Foi um trabalho que incluiu também as disciplinas de História e Sociologia.
O projeto foi pensado a partir da constatação do descaso e do desinteresse dos jovens em relação à política.Muitos jovens pensam que política é sinônimo de partido político, abominam quase tudo relacionado ao tema, comentam e compartilham, nas redes sociais, posts sem o mínimo de senso crítico, desconhecendo, por exemplo, a importância e a função dos três poderes.
E, principalmente, não se dão conta da necessidade da participação de todos na vida política e nas decisões.
Como já mencionado, nossa maior dificuldade é incentivar os alunos para que ampliem seus horizontes sobre as questões políticas e sejam participantes das decisões.
Como trabalhar a cidadania de forma plena? Quais práticas desenvolver que levem à educação para a democracia? Como formar cidadãos ativos, participantes, que saibam julgar e escolher?
A partir de indagações desse tipo, busquei fontes, subsídios e dinâmicas para motivar meus alunos.
Salientei, logo no início dos períodos letivos, que somente pela política é possível construir e manter a cidadania e a democracia.
Debatemos sobre a nossa realidade, de professores e alunos de escola pública, e a função da escola como instrumento de persuasão e esclarecimento. Discutimos também que tudo é fruto de decisões políticas, pois nada acontece sem o envolvimento político.
Nas conversas, citei, como exemplo, uma frase de Platão:
“O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”.
Como fazer:
A partir da temática escolhida, selecionamos alguns conteúdos.
- Gêneros discursivos: contos, poemas, cartas do leitor, charges, cartoons, leis, projetos de leis, artigos de opinião, reportagens e comentários críticos.
- Esferas de circulação: política, midiática, jurídica, literária, escolar e cotidiana, perpassando pela leitura, oralidade, escrita e análise linguística, conforme as necessidades coletivas e individuais.
Definimos também as expectativas de aprendizagem, que, em termos concretos, envolviam muitas tarefas. Destaques:
- escrever com clareza, coesão e coerência, utilizando as normas ortográficas e de acentuação, os conectores e os articuladores textuais e afins;
- expressar e registrar suas ideias com propriedade, argumentação e objetividade;
- reconhecer os efeitos de sentido decorrentes do tratamento estético do texto literário;
- identificar as condições de produção do gênero, trabalhando enunciador, interlocutor, finalidade, época, suporte;
- reconhecer as diferenças entre textos que tratam do mesmo tema em função do leitor-alvo, da ideologia, da época em que foram produzidos e de suas intenções comunicativas;
- explorar as temáticas e especificidades das produções do ENEM;
- analisar propostas de diferentes vestibulares e gêneros mais solicitados nos vestibulares;
- desenvolver o senso crítico e utilizar com responsabilidade os diferentes aparatos tecnológicos e as redes sociais, de forma colaborativa e ética.
Fiz um diagnóstico com questões pertinentes aos objetivos já elencados. Ficou claro que o desafio era grande.
Os alunos envolvidos no projeto – que durou cinco meses, em 2017, e também cinco, em 2018 – foram bastante ativos quando instigados, desafiados e lembrados de que precisavam dominar diferentes gêneros discursivos.
Desenvolvimento das atividades:
Etapa 1 – Problematização e Sensibilização:
Logo nas primeiras aulas, instiguei os alunos para que pensassem sobre as seguintes questões:
"O que é ser jovem nos dias de hoje? Quais suas aspirações, seus sonhos, seus medos, suas inquietações, cobranças, conflitos e desafios?
"O que eles esperam do ‘mundo’, e o que o ‘mundo’ espera deles?”.
Conversamos sobre a postura do jovem hoje, sobre as enxurradas de informações a que são submetidos diariamente pelas mais diferentes mídias sociais, pela família, pela escola, pela comunidade.
Lancei, então, as perguntas:
"O que é ter atitude?"
"Como dar respostas aos problemas que surgem?"
"Como participar ativamente como alguém que muda o que está errado?"
E foi a partir das respostas que idealizamos o projeto “Geração@.com Atitudes”.
Além dessas questões, propus também outras perguntas:
"Quem gosta de política?"
"O que entendemos por política?"
Como previa, alguns poucos, timidamente, manifestaram-se. Os demais responderam que não gostavam de política, pois “todos os políticos são corruptos”, “os partidos não valorizam o povo”, em suma, a reprodução de um discurso cristalizado e arraigado na família e na sociedade.
Expliquei para as turmas envolvidas que, juntos, construiríamos o projeto e que, depois de pesquisas, leituras, debates, análises e produções, teríamos exploração e a participação deles no programa "Parlamento Jovem Brasileiro".
O projeto seria construído tendo como objetivo/foco principal instigá-los a conhecer a política de forma mais abrangente, começando pela municipal.
Salientei que utilizaríamos as mídias sociais, trabalharíamos com diferentes aparatos tecnológicos, faríamos grupos individualizados no Facebook (para agilizar as pesquisas e troca de informações) e atuaríamos de forma colaborativa e interdisciplinar.
Na sequência, informei que utilizaríamos metodologias diferenciadas e inovadoras, compatíveis com as exigências da sociedade do conhecimento, e sempre a partir de pesquisas.
Etapa 2 – Sequência Didática e Encaminhamentos Metodológicos:
Solicitei aos alunos que pesquisassem em casa uma definição e a função do gênero "Mito". Discutimos a partir das informações coletadas e recordamos alguns mitos estudados em anos anteriores.
Alguns lembraram do mito envolvendo Teseu e Procusto, e que trata da questão da não aceitação das diferenças entre os cidadãos.
Li sobre o "Mito da Caverna", de Platão. Disponibilizei o texto nos grupos de Facebook. Alguns alunos já o conheciam, e debatemos sobre as possíveis "leituras" daquele texto, tão antigo e atual ao mesmo tempo.
Comentei que o indivíduo que consegue se “libertar das correntes” e vivenciar o mundo exterior é aquele que vai além do pensamento comum, criticando e questionando a sua realidade. Instiguei-os sobre a necessidade de “sairmos da caverna”, de “quebrarmos as correntes”.
Na sequência, pedi que discutissem, para posterior plenária, sobre “as cavernas contemporâneas”. Fiz isso porque muitas vezes não saímos da "zona de conforto" ou nos negamos a enxergar um mundo além daquele com o qual estamos acostumados.
Pergunte ainda sobre o que pensavam a respeito do papel da escola pública como instrumento de socialização, de espaço de cidadania e de democracia. Os debates e os registros sobre o assunto foram satisfatórios, com argumentos e exemplos a partir da interpretação do texto.
Como segunda atividade, apresentei aos alunos o poema “Analfabeto Político”, de Bertold Brecht, e o artigo “O Analfabeto Midiático”, de Celso Vicenzi. Após a leitura, analisamos a correlação/intertextualidade entre eles, as ideias presentes no artigo retiradas do poema e os argumentos utilizados para evidenciar a temática mídia x analfabetismo.
Discorremos sobre postagens e compartilhamentos em redes sociais, totalmente infundadas ou desconectadas da realidade e da história.
Debatemos também sobre as fake news. Os alunos entenderam a importância de se tomar cuidado ao compartilhar ou comentar posts, sob pena de responsabilização judicial ou mesmo ridicularização.
Pesquisamos sobre os crimes virtuais e as mudanças no Código Penal sobre os referidos crimes.
Disponibilizei para discussão uma reportagem sobre a dificuldade de se classificar as gerações. Apresentei uma tabela com características, gostos, músicas, diversões, sonhos de cada geração, desde 1900. Os próprios alunos discutiram sobre sua geração e a questão da política.
Como um dos gêneros textuais solicitados no Vestibular da Universidade Estadual do Oeste do Paraná havia sido a "Carta do Leitor", mostrei aos alunos um artigo sobre analfabetismo midiático para que estudássemos a especificidade daquele gênero.
Apresentei também algumas cartas de leitores. Como tarefa eles produziram uma carta como resposta à leitura do artigo.
Os textos foram corrigidos e avaliados conforme os critérios existentes no "Manual do Candidato".
Exibi na classe o conto “O Dicionário”, de Machado de Assis, que trata da questão poder x povo.
Ouvimos o conto e realizamos uma leitura comentada, observando os personagens, o conflito, o enredo, o papel e os desmandos do rei, os decretos em benefício próprio, a passividade do povo diante das arbitrariedades, os bajuladores etc. Analisamos ainda a linguagem ímpar de Machado de Assis no início do conto:
“Era uma vez um tanoeiro, demagogo, chamado Bernardino, o qual em cosmografia professava a opinião de que este mundo é um imenso tonel de marmelada, e em política pedia o trono para a multidão”.
Muitas indagações vieram à tona, como as sobre o termo demagogia/demagogo. Os alunos buscaram na internet algumas definições.
Como produção escrita, realizaram um quadro comparativo entre o texto literário em estudo e a realidade política do país.
Na sequência, as conclusões foram expostas, tendo como argumentos de sustentação exemplos de leis que haviam sido aprovadas, na visão dos alunos, por interesse dos legisladores.
Retomamos o conteúdo estudado no 2ª série sobre política e ética. Como atividade complementar, os alunos pesquisaram algumas leis consideradas “ridículas” ou estranhas.
Entre elas, apareceram as leis “Pare de tomar a pílula”; “Proibição do Comércio, por Ambulantes, de Revistas Pornográficas”; “Aeroporto para Alienígenas” etc.
Na sequência, os alunos realizaram uma pesquisa sobre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e sobre leis. Nesse trabalho, consideraram as seguintes questões:
"Qual a função de cada poder?"
"Como são organizados nas três esferas: municipal, estadual e federal?"
"O que são leis? Como são aprovadas?"
"Qual é o papel do Senado Federal? Quantos senadores temos no país? Quantos temos em cada estado? Como é feita a troca de senadores?"
"Qual a importância do voto?"
"Que projetos de leis estão em vigência e que, de certa forma, amparam/auxiliam o aluno da escola pública?"
Naquele momento, a participação da professora de História foi muito significativa, pois complementou as discussões.
Para este tema, escolhi o artigo de opinião da revista Veja “Cotas, o Justo e o Injusto”, de Lia Luft. Ele tratava da questão das cotas para alunos oriundos das escolas públicas e para negros.
Examinamos a Lei nº 3627/2004, que instituiu o “Sistema Especial de Reserva de Vagas para estudantes egressos de escolas públicas, em especial negros e indígenas, nas instituições públicas federais de educação superior”
Analisamos o artigo de opinião também em relação às especificidades do gênero discursivo, com ênfase na argumentação da autora.
Os alunos fizeram uma ampla interpretação a respeito do assunto. Muitas foram as discussões, com boas argumentações (contra e a favor) sobre as cotas atuais.
Todos foram unânimes, contudo, quanto a necessidade de uma educação de qualidade, para que o preconceito gerado pelas cotas seja extinto.
Os alunos começaram a entender melhor o que é um projeto de lei e a importância de conhecer os meandros da política.
Instiguei para que buscassem mais subsídios sobre como estavam as discussões a respeito do projeto de lei “Escola sem Partido” – proposta para que as escolas não ofertem disciplinas com o conteúdo de “gênero" ou “orientação sexual” e para que os temas educação sexual, educação moral e educação religiosa fiquem a cargo da família e não das instituições de ensino.
Para instigar o debate, usamos uma reportagem da revista "Nova Escola" (“Escola sem Partido: menor do que parece”) e também um artigo utilizado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná no vestibular de 2016.
Os alunos pesquisaram formas de introdução, desenvolvimento e conclusão de um artigo. Complementei a pesquisa com exemplos e soluções.
Nessa etapa, comecei indagando:
"O que é um projeto de lei?"
"Quais já foram comentados aqui?"
"Como organizar uma ementa ou uma emenda?"
"Qual a diferença entre elas?"
"O que são artigos que esmiúçam uma ementa ou emenda e quais as suas especificidades? Que linguagem utilizar?"
Para fundamentação teórica, recorri ao próprio material disponibilizado aos professores pela Câmara dos Deputados.
Sabia dos desafios que teríamos para a criação de projetos de lei. Dei aos alunos alguns dias para que conversassem com suas famílias sobre os problemas cotidianos (do bairro, da cidade, do estado, do país etc).
Convidei uma ex-aluna, classificada ao "Parlamento Jovem", programa da Câmara dos Deputados, para que comentasse sobre sua experiência e sobre o projeto de lei de sua autoria.
Na sequência, trouxe dois projetos de lei, elaborados por outros dois alunos do colégio selecionados para o Parlamento Jovem.
Em seguida, cada participante, em sala de aula, começou a esboçar seu projeto.
Foram momentos de dúvidas, troca de ideias, discussões e pesquisas. Algumas aulas foram disponibilizadas para essa atividade.
Como mediadora, fui corrigindo e analisando cada projeto, bem como sugerindo links e livros para que elaborassem uma justificativa coerente, com dados, argumentos e citações.
Expliquei aos alunos as diferentes competências exigidas, utilizando para isso o material disponibilizado pelo Exame Nacional do Ensiono Médio (ENEM) e exemplos de redações "Nota Mil."
Trouxe para a sala de aula simulados sobre homofobia e escassez de água. Discutimos os diferentes gêneros textuais. Os alunos optaram entre os dois temas. Os textos foram corrigidos conforme requisitos do ENEM.
Os alunos postaram seus projetos no grupo do Facebook da sala. Assim, todos puderam ler os conteúdos e fazer observações. Dois projetos foram eleitos. Eram os que tinham condições de concorrer na fase estadual do programa da Câmara dos Deputados.
Feito isso, criamos um grupo dos 20 alunos selecionados para a primeira fase.
A sequência didática, até o envio dos projetos de leis, durou cerca de cinco meses, envolvendo muitas pesquisas, discussões, produções, retomadas, correções, troca de ideias e desafios.
Em 2018, comecei a esmiuçar o tema "Fake News". Penso que a temática é pertinente pelo contexto social. Quero que meus alunos eleitores não sejam analfabetos políticos nem midiáticos, tampouco disseminadores de notícias falsas ou similares.
Ainda em 2018, retomamos o projeto coletivo sobre a água, elaborado em 2017.
Aprendizagem, pesquisa e avaliação
Concordo com a ideia de Cipriano Luckesi sobre as questões relacionadas ao processo aprendizagem e avaliação, quando sugere: "Proponho que as escolas invistam em uma prática pedagógica construtiva e paralelamente treinem para o vestibular com simulados como os feitos pelos cursinhos”.
Tenho adotado, em minhas práticas pedagógicas, a postura descrita pelo estudioso. Como docente, tenho a liberdade e o dever de criar e explorar diferentes metodologias, práticas pedagógicas construtivas e/ou dinâmicas, de acordo com as expectativas de aprendizagem traçadas, os objetivos elencados em consonância com o conteúdo estruturante e básico da disciplina e da série.
Ainda segundo Luckesi: “A avaliação é constituída de instrumentos de diagnóstico, que levam a uma intervenção visando à melhoria da aprendizagem... Avaliação não precisa ser por observação direta, mas por instrumentos como teste, questionário, redação, monografia, participação em uma tarefa, diálogo...”.
Neste contexto, utilizei diferentes instrumentos avaliativos durante todo o processo de ensino-aprendizagem. De forma geral, considerei como muito bom e envolvente todo o trabalho desenvolvido.
A sequência didática, construída de forma gradativa e contextualizada, foi bem fundamentada e bem planejada.
A pesquisa como princípio pedagógico gera, sem dúvida, conhecimento durante o percurso e não somente na aula. Há tempos, sabemos que a escola não é mais o único espaço de saberes e informações e que os professores não devem ser “transmissores”, mas sim mediadores e facilitadores.
Dessa forma, o aluno se vê como alguém que tem a informação, torna-se responsável pela socialização das pesquisas e, consequentemente, constrói gradativamente o conhecimento ao buscar respostas para suas inquietações.
Ser pesquisador é, sem dúvida, um bom “ensaio” para o exercício da cidadania e a participação no processo democrático nos diferentes ambientes.
Muitas foram as atitudes desenvolvidas em cada etapa do projeto, entre elas, a responsabilidade com as pesquisas, o comprometimento com os resultados esperados, a tolerância com os colegas nos trabalhos de equipe, o respeito à diversidade de opiniões, senso de justiça, solidariedade e engajamento para socializar o que havia sido apreendido.
As estratégias metodológicas utilizadas propiciaram aos alunos vivenciarem todo o processo: a problematização inicial (ancorada em pesquisas individuais), a coleta de dados, a comparação de conteúdos (textos, músicas, vídeos etc.), a postagem em redes sociais, blogs e fanpages.
Tudo isso possibilitou um “conhecimento de mundo” e da organização política e histórica do Brasil.
Nas práticas pedagógicas priorizei as ações coletivas. Como exemplos, tivemos a organização de um projeto coletivo em nome do colégio, a participação em sessões da Câmara Municipal e em audiência pública com o prefeito e a organização e a socialização dos projetos de leis e a produção de postagens, comentários e compartilhamentos em redes sociais.
As expectativas de aprendizagem traçadas no início do projeto foram contempladas de forma satisfatória.
Em relação à oralidade, os alunos apresentaram suas ideias com mais clareza e fluência, defendendo-as com argumentos coerentes e bem fundamentados. Foram objetivos em suas colocações, respeitando opiniões diferentes.
De forma gradativa, foram ampliando e aprimorando o repertório de vocábulos. Alguns alunos ainda demonstraram dificuldades com a dicção e a postura na oralidade.
No que diz respeito à leitura, houve um maior entendimento dos diferentes gêneros textuais, das esferas de circulação e funções e da ideia principal dos textos lidos. Percebi, em particular, um aprofundamento na compreensão sobre os gêneros literários solicitados por diferentes vestibulares.
Além disso, os alunos entenderam as diferenças entre o uso de palavras/expressões conotativas e regionalismos, bem como o momento histórico/contexto e estilo de produção de cada conto ou romance lido em sala e em casa.
Acredito que o aspecto de maior evolução tenha sido a escrita. A maioria dos alunos “cresceu” em suas produções. A começar pelo registro das ideias, com mais clareza e coerência.
Outro aspecto foi a assimilação de diferentes tipos de argumentos para sustentação das propostas.
A coesão textual foi um desafio identificado já nas primeiras produções. Muitos estudantes desconheciam os articuladores textuais sua importância para “amarrar” as partes de um texto.
Para amenizar o problema, utilizei os próprios textos dos alunos, mostrando a ausência de elementos coesivos e como melhorar as construções. A referência foram os contos de Machado de Assis.
Além disso, os alunos pesquisaram a função e os diferentes tipos de pronomes e as conjunções. Passei a eles também os critérios utilizados para corrigir os textos de vestibulares e do ENEM.
"A visão de Paulo Freire sobremenciona que o ensinoprofessor precisa "saber que ensinar não ser uma transferência de transferir conhecimento, mas uma criação de oportunidades decriar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção (FREIRE, 1997)" é muito atual, verdadeira e provocadora. Temos de refletir, estudar e discutir sobre como reinventar práticas.
Esse enunciado é muito atual, verdadeiro e provocador. Temos de refletir, estudar e discutir sobre como reinventar práticas.
A construção da autonomia, para que o aluno se torne sujeito da aprendizagem, não é um processo simples. Requer envolvimento dos pedagogos e professores.
Uma democracia precisa de cidadãos autônomos, que tomem decisões e cumpram seu papel social. Mas é preciso que a escola/professores/comunidade ofereça condições para isso.
O currículo, por exemplo, deve estar voltado ao contexto escolar, priorizando os temas que mais interferem no espaço e rendimento escolar ou ainda na comunidade.
Portanto, é importante a inclusão de assuntos como diversidade, choque de culturas, sexualidade, drogas, discriminação, meio ambiente, violência contra a mulher, trânsito, redes sociais, cidadania, direitos e deveres e ética e política. Ações efetivas e mudanças de comportamento, não só dos alunos, mas das famílias e da comunidade.
O caminho é dar voz aos alunos, aos pais, aos professores, aos auxiliares e à direção.
Como explica Paulo Freire, não há neutralidade em relação às práticas educativas. Logo, pensar diferente, faz parte do processo democrático. Pensar diferente é enriquecedor e contribui para fazer da escola um espaço de crescimento intelectual e afetivo.
Mas, como dizia Pecheux, “não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia”.
Logo, se a escola quer um aluno crítico e participativo, é impossível pensá-la distanciada dos discursos midiáticos e das novas tecnologias, como instrumentos para uso crítico, criativo e reflexivo.
Ao rever opiniões de alunos sobre o trabalho realizado, registro aqui algumas que comprovam e validam o que foi alcançado.
- “Foi um momento ímpar para conhecermos a política e, dentro desta, as leis que regem meu país”.
- “Seremos jovens que teremos a voz mais ativa na sociedade”.
- “Interação de alunos com as leis e a política”.
- “Possibilidade de entrar no mundo das leis e da política com projetos de lei e abrir os caminhos do conhecimento”.
- “Diversas formas de descobrir nosso papel na sociedade”.
- “Uma experiência inovadora e necessária sobre cidadania, política e democracia”.
- “Mudando o presente, pensando no futuro”.
- “O projeto que vou levar para a vida e lembrar sempre”.
- “Essencial para formar jovens mais ligados nos assuntos ligados à cidadania e democracia”
Quando li sobre as experiências, com o objetivo de fazer este relato, encontrei a fala de um aluno, antes desmotivado, faltoso, repetente do noturno. Ele disse: “Professora, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Obrigado por ter acreditado em mim, ter me incentivado a escrever, ter enviado meu Projeto de Lei para Brasília. Nunca pensei que um dia viajaria de avião, que iria ser deputado por uma semana representando meu estado... Nunca mais serei o mesmo”.
Só quem vivencia a sala de aula sabe o que significa ouvir isso de um aluno. Quando, em 2012, optei por duas turmas do noturno, não sabia dos desafios que iria enfrentar. Os alunos não eram receptivos, eram faltosos. Nada parecia convencê-los de que estudar era preciso.
Mudei de estratégia, abandonei o livro didático e comecei a trabalhar com os jornais, ferramentas on-line, revistas e redes sociais para colocá-los em sintonia com o mundo. Foi neste contexto que lancei o desafio: "Se não gosto das coisas como estão, o que tenho feito para mudar?
E foi assim, pesquisando leis e projetos, que descobri o programa "Parlamento Jovem Brasileiro".
Estudamos leis e os alunos produziram projetos. Como resultado, em 2015, dois jovens da mesma sala foram classificados para irem a Brasília.
Entre 2016, 2017 e 2018, dos 60 projetos paranaenses pré-selecionados para a fase nacional do programa, 27 foram de meus alunos.
Acredito que somente pela aquisição de informações e construção do conhecimento é possível acontecer uma mudança na política e na sociedade.
Como bem enfatiza Albert Einstein: “O meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”.
É preciso disposição, tempo e fundamentação teórica para organizar projetos – com suas etapas, materiais, suportes tecnológicos, encaminhamentos metodológicos e resultados.
O fundamental é instigar os alunos e mostrar a importância do tema, deixando claro que o projeto será construído por todos.
Em nosso projeto, os alunos organizaram um portfólio com as diferentes atividades e pesquisas realizadas, como forma de visualizar o processo desde o início.
As dificuldades mais significativas foram corrigir as produções, fazer a devolutiva, reescrever o mesmo texto ou outra proposta do mesmo gênero.
Os alunos precisam ter clareza sobre o que não dominam na leitura, na oralidade e, principalmente, na escrita.
Cabe ao professor mostrar o que é considerado pelos corretores do ENEM e quais competências os alunos precisam apresentar em seus textos.
Com os jovens explorei diferentes gêneros textuais, observando as características peculiares a cada um, em especial as cartas de leitores, artigos de opinião, comentários interpretativos, resenhas, resumos, textos dissertativos/argumentativos, charges, cartoons, gráficos e reportagens.
Na elaboração do projeto, utilizei como fundamentação teórica o livro Educ@r a (R)evolução Digital na Educação, de Martha Gabriel.
Outro referencial teórico utilizado foi o artigo “Metodologia de Projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão complexa”, de Marilda Aparecida Behrens.
Saiba mais
CABRAL, João Francisco Pereira. "Mito da caverna de Platão”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-caverna-platao.htm. Acesso em 12 de dezembro de 2018.
Conto “O dicionário”, de Machado de Assis. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EXCEklg0aCQ . Acesso em 12 de dezembro de 2018.
Projeto de Lei nº 3627/2004 – Cotas. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ref_projlei3627.pdf
Para acompanhar o apoio teórico usado pela autora do projeto, o professor poderá fazer a leitura do livro “Letramento Literário: teoria e prática”, de Rildo Cosson, com destaque para o capítulo “Sequências Didáticas para o Oral e a Escrita: apresentação de um procedimento”.
Gincana Ambiental E.E.E.M. Ildefonso Pinto 90 anos: uma nova proposta de múltiplos aprendizados
Esta prática teve como objetivo realizar uma análise dos preceitos envolvendo o tema "Educação Ambiental", a partir de uma gincana multitemática.
É necessário reservar pelo menos três meses para a realização do projeto.
Materiais:- materiais recicláveis;
- hortaliças;
- tecidos;
- celulares;
- garrafas pet;
- cartolina.
CHS – Competência 4
CNT – Competência 3
Habilidades trabalhadas:
EM13CHS404; EM13CNT310;
Moisés Bruno de Oliveira.
Escola:E.E.E.M. Ildefonso Pinto, Campo Bom (PR).
O que é:
Sou um professor "gincaneiro". Participo de várias gincanas culturais no Rio Grande do Sul e vejo o quanto essa atividade nos desenvolve como pessoas, cidadãos e profissionais das mais diversas áreas.
Assim, procurei articular uma gincana sobre o tema "Educação Ambiental" para comemorar os 90 anos da Escola Ildefonso Pinto. O projeto teve como propósito desenvolver nos alunos uma atitude profissional em relação ao mundo do trabalho.
Tendo em vista o entendimento de que a escola deve preparar os alunos para o mercado profissional e fazer com que reflitam sobre valores, a gincana procurou ajudá-los, de uma forma divertida, a desenvolver várias habilidades.
Dentre elas, destaco as seguintes: organização, trabalho em grupo e sob pressão, definição de prioridades, respeito no ambiente de trabalho, definição e cumprimento de normas de conduta e persistência.
O objetivo geral do projeto foi promover uma atividade competitiva e de simulação de situações do trabalho, numa interação com conteúdos de diversas áreas do conhecimento a partir do tema "Educação Ambiental"
Os alunos foram organizados em três equipes, com seus líderes e um professor sendo escolhidos pelos membros dos times.
Diversas atividades foram realizadas, como shows, vídeos para o YouTube, elaboração de brinquedos com material reciclado, criação e manutenção de horta na escola, trabalho com uma ONG que cuida de cachorros e gatos abandonados, pesquisas e perguntas e respostas sobre os conteúdos das disciplinas do Ensino Médio.
Ao final, foi campeã a equipe que fez mais pontos. Foram premiadas também as equipes de destaque.
As tarefas foram elaboradas pela "Equipe Warner Organizadora de Gincanas", que foi responsável pela divulgação, fiscalização e avaliação das tarefas. A comissão foi liderada por mim e composta por membros da comunidade escolar.
Foram apresentadas 159 tarefas. Em vários momentos, os alunos tiveram de usar smartphones e computadores para o desenvolvimento das atividades.
As tarefas foram publicadas na página da organizadora do evento no Facebook e desenvolvidas em três meses e meio. A gincana, propriamente dita, foi realizada em dois dias (1 e 2 de setembro).
Como fazer:
Passo a Passo
Elaborei um questionário para saber como os alunos estavam percebendo as questões referentes ao tema "Educação Ambiental". As perguntas foram aplicadas também depois da gincana, para verificar mudanças na percepção dos alunos após a vivência do projeto.
As equipes receberam o regulamento da gincana e escolheram os alunos e professores líderes. No início, foi difícil engajar os jovens nas atividades. Foram realizadas várias reuniões com os líderes das equipes para esclarecimento das dúvidas e motivação. Com o tempo, a escola inteira se envolveu no projeto.
Dentre todas as tarefas, algumas foram específicas sobre a questão ambiental.
Tarefa 1:
As equipes montaram um show no estilo do festival "Rock in Rio", organizando apresentações cover de bandas ou artistas famosos que já haviam passado pelos palcos do evento. Cada show trouxe uma mensagem de conscientização ambiental.
Tarefa 3:
Essa atividade teve a participação da ONG Campo Bom para Cachorro, que cuida de cães e gatos abandonados. As equipes foram até a ONG para conhecer o trabalho. Lá, escolheram um cachorro para participar de um desfile.
O evento, que foi aberto para toda a comunidade escolar, mostrou o engajamento das equipes e o trabalho da ONG.
Tarefa 4:
As equipes produziram uma versão do clipe musical "Born This Way", da cantora Lady Gaga, que traz como mensagem principal a aceitação da diversidade e o resgate de valores sociais igualitários.
Tarefa 11:
Os times utilizaram garrafas PET para a construção de aviões de brinquedo. Com isso, puderam refletir sobre a reutilização de materiais de longa durabilidade e que são, normalmente, jogados no lixo ao invés de serem reciclados.
Tarefa 12:
Os alunos montaram cartazes sobre a letra da música “Que País é Esse?”, da banda Legião Urbana, com colagens e frases.
Tarefa 79:
As equipes se "apropriaram" de uma área da escola que estava sem uso e montaram uma horta e um pomar.
Durante os quase quatro meses de realização do projeto, as aulas ocorreram normalmente. Apenas nos dias da gincana, as atividades regulares foram suspensas.
As tarefas que deveriam ser cumpridas pelas equipes foram divididas da seguinte forma:
- Tarefas Artísticas – As equipes precisariam confeccionar roupas, objetos, desenhos, fotos, vídeos (mídias) e realizar apresentações que estimulassem a criatividade.
- Tarefas Esportivas – As equipes deveriam usar, desenvolver e mostrar habilidades físicas no cumprimento de objetivos.
- Tarefas de Buscas – Os times deveriam encontrar (num tempo determinado) objetos ou pessoas nos arredores e nas dependências da escola a partir de dicas escritas, fotos e vídeos, desenvolvendo, assim, habilidades de concentração, reconhecimento e localização.
- Tarefas Diversas – No menor tempo possível, os grupos teriam de pesquisar e entregar documentos com numerações ou características específicas e objetos determinados. Nessa tarefa, os alunos usaram ferramentas de busca.
- Tarefas de Conhecimento – As equipes deveriam pesquisar sobre perguntas de todas as disciplinas e de algumas áreas de conhecimento.
- Tarefas com Charadas – Usando o raciocínio lógico, os times deveriam desvendar enigmas.
- Tarefas de "Velharias" – As equipes teriam de procurar objetos antigos e colecionáveis. Por meio de ligações, pesquisa na internet e contatos diversos. Os jovens também precisariam encontrar colecionadores.
Vale salientar que, em todas as tarefas, as equipes tiveram de mostrar a habilidade de trabalhar em grupo e de forma organizada, tendo a competitividade saudável como combustível essencial.
Avaliação
No momento de avaliar o desempenho dos alunos, retomei os objetivos gerais e específicos e mapeei os resultados obtidos.
O primeiro objetivo era desenvolver nos alunos as habilidades necessárias para o mercado de trabalho. Os jovens compreenderam bem o espírito de equipe e a organização. Aprenderam a atuar com pessoas diferentes e sob pressão. Essas características são fundamentais para o mercado de trabalho.
Obviamente, alguns alunos se engajaram mais do que outros, mas ter as três equipes batalhando até o final da gincana mostrou o quanto os alunos se empenharam na atividade.
O segundo objetivo era envolver a comunidade escolar, propósito que foi alcançado com entusiasmo. Pais e alunos trabalharam juntos, e analisaram os seus respectivos desempenhos na atividade. Isso tornou a escola mais "viva".
O terceiro objetivo era propiciar um ambiente de integração na escola, o que foi possível com a superação das diferenças entre as turmas e os professores. Um clima de amizade e integração se manifestou com o projeto.
O quarto objetivo era refletir sobre a diferença entre os conceitos “rival” e “adversário”. A missão foi cumprida com êxito. No percurso, sempre enfatizei que as equipes não são rivais, mas, sim, adversárias.
Tivemos alguns momentos de tensão entre as equipes, mas sempre que o clima esquentava, sentávamos e conversávamos sobre a situação.
O quinto objetivo era promover a interdisciplinaridade, algo que aconteceu graças às diversas atividades e ao engajamento de quase todos os professores da escola.
O compromisso de refletir sobre o tema "Educação Ambiental" foi alcançado por meio de atividades específicas.
Também teve sucesso a meta de desenvolver a sensação de pertencimento à comunidade.
As pessoas se viram como parte da escola e passaram a valorizá-la mais. Alunos, pais e professores começaram a enxergá-la como um ambiente familiar e a entender que poderiam ser agentes transformadores daquele espaço.
Por fim, avaliei o objetivo geral do projeto, que foi promover uma atividade competitiva e de simulação de situações do mercado de trabalho, numa interação de conteúdos trabalhados a partir do tema "Educação Ambiental".
Esse objetivo foi alcançado em quase sua totalidade, com envolvimento de cerca de 90% dos alunos.
A escola se transformou positivamente, tornando-se mais ativa na cidade. Em alguns aspectos, os resultados superaram as expectativas. Em outros, contudo, distanciaram-se das metas, pois o medo do diferente e hábitos relacionados ao modelo tradicional de escola, desacreditado pelos próprios alunos, atrapalharam o projeto.
Foi um sonho difícil de ser realizado. Mas, com muita persistência, consegui fazer o grupo perceber que essa era uma atividade que valia a pena ser desenvolvida.
A participação e o empenho foram os elementos de avaliação. Não levei em conta a pontuação das tarefas, e sim o empenho que cada um teve para trabalhar e se integrar ao grupo.
É difícil mensurar as habilidades desenvolvidas, mas sei que os alunos aprenderam a sair da sua "zona de conforto" e ir atrás de objetivos.
Aprenderam que, sozinhos, não vão a lugar nenhum, e que, sem diálogo e empatia, o sucesso nas missões não existe.
Alguns alunos tiveram mais dificuldade em perceber isso. Alguns até hoje tentaram assimilar essas questões, mas foram visíveis o desejo e a curiosidade em compreender como aquele clima de cumplicidade se criou com o projeto.
Os desafios estavam de acordo com as possibilidades dos alunos. Sempre que percebia que alguma atividade tinha um nível muito elevado de dificuldade, dava dicas e mostrava caminhos.
Eu conversava constantemente com as equipes para que os alunos refletissem sobre as razões das atividades. Procurava mostrar o quanto cada um estava crescendo com aquilo tudo. Ao final, ver que deu certo foi recompensador.
A escola Ildefonso Pinto é umas das escolas estaduais do Rio Grande do Sul que mais cresceu recentemente, seguindo o caminho inverso da maioria das unidades escolares do estado, que tiveram diminuição no número de turmas e alunos. Algumas até fecharam.
A grande procura é um reflexo do bom trabalho que vem sendo realizado. Fazer o que amamos, por mais dificuldades que possamos ter, é o caminho para a realização em nossas vidas. É muito gratificante perceber que, mesmo com a desvalorização da educação, a escola pode ser transformadora e dar perspectiva de vida para os jovens.
Foi muito bom ouvir durante o projeto: “Bah, prof., foi muito bom ver que a gente pode aprender se divertindo” ou “Agora eu entendo que algo trabalhoso pode ser bom”.
O maior desafio é fazer novas versões deste projeto. Fazer que os alunos antigos aprofundem seus conhecimentos e motivar os novos estudantes a também investirem na ideia.
Como sempre, falo para eles: “Não basta ter uma ideia boa. É necessário saber vendê-la”.
Saiba mais
As obras e os autores nos quais me baseei para este projeto foram:
"Pertencimento Ambiental", de Cláudia Costin. Na obra, a autora afirma que "a construção do sentimento de pertencimento ao lugar, tomando como referência a noção de responsabilidade, pressupõe a possibilidade de construir uma história dos lugares que vá de encontro ao projeto de lugar planejado pelos atores hegemônicos da sociedade globalizada".
"O que é Educação Ambiental", de Marcos Reigota. O autor define meio ambiente como “um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade".
"Direito, Meio Ambiente e Cidadania: uma abordagem interdisciplinar", de Flávio Romero Guimarães e Flávia de Paiva M. de Oliveira. Nela, autores dizem que “a cidadania é o exercício pleno da participação na vida coletiva e na fruição dos direitos fundamentais do homem".
A pesquisa científica em sala de aula como prática de aprendizagem, inovação e transformação social
Estimular o desenvolvimento de projetos de pesquisa por alunos do 3ª série do Ensino Médio.
Ao longo do ano letivo.
Materiais:
- materiais de uso comum do aluno (caderno, caneta, etc.);
- conexão com a Internet para viabilizar pesquisas on-line;
- home office para a produção dos textos finais e apresentações.
CHS – Competência 1
CNT – Competência 3
Habilidades trabalhadas:
EM13CNT301; EM13CNT302; EM13CNT303; EM13CHS103;
Leandro Silva Costa.
Escola:
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Ceará-Mirim (RN).
O que é:
A demanda por práticas pedagógicas que estimulem o aprendizado dos estudantes vem ganhando a atenção de pesquisadores nos últimos anos. Dentre elas, destacam-se o uso do método científico e a elaboração de pesquisa científica em sala de aula. Essas atividades proporcionam aos alunos a aquisição de novos conhecimentos, que passam a pensar de maneira lógica sobre os fatos cotidianos e a resolução de problemas práticos.
Esta experiência teve como intuito avaliar as melhores condições de inserir a prática da pesquisa no currículo anual da disciplina de Biologia e as suas contribuições ao processo de ensino-aprendizagem.
O público-alvo foram 52 alunos de duas turmas do 3º ano do curso integrado de Informática que estavam cursando a disciplina Biologia I. A maioria das atividades foi realizada em sala de aula, em horários antes destinados à abordagem de outros conteúdos.
Foram necessárias 12 horas de aulas para explanações teóricas, oficinas, encontros e reuniões de orientação, em etapas colocadas em práticas ao longo do ano letivo.
Treze projetos abordando problemáticas locais relacionadas a conteúdos da Biologia foram criados e desenvolvidos pelos alunos. Os resultados mostraram uma série de benefícios ao processo de ensino-aprendizagem, como valorização da experiência cotidiana dos alunos, estímulo à leitura, análise e interpretação de textos e letramento científico, além de desenvolvimento de competências de investigação e compreensão.
Vale destaque para as premiações recebidas por alunos em eventos científicos de abrangência nacional e a apresentação dos resultados de um dos projetos numa mostra de projetos realizada em Hong Kong.
Como fazer:
O projeto foi desenvolvido durante todo o ano letivo, suas etapas e metas divididas por bimestre:
- "Definição do Problema Científico pelos Alunos" (1º bimestre);
- "Elaboração e Apresentação do Projeto Científico" (2º bimestre);
- "Experimentação, Coleta e Análise de Dados (3º bimestre);
- "Elaboração do Relatório Final do Projeto" (4º bimestre).
O projeto buscou inserir a pesquisa científica no currículo da disciplina Biologia I, evitando que o tema fosse abordado em apenas parte do conteúdo. Somente assim seria possível aos alunos compreenderem, de forma mais aprofundada, a importância do método científico e seu papel na aquisição de um comportamento crítico e reflexivo.
Desde os primeiros encontros, os alunos foram estimulados a observar de forma mais crítica os problemas ambientais. Percebeu-se a vantagem de inserir a prática da pesquisa em sala de aula, numa valorização da experiência cotidiana dos alunos.
Os três primeiros encontros foram utilizados para introduzir conceitos de ciências, tecnologia, metodologia científica e métodos de pesquisa, além de ajudar os alunos na definição dos problemas científicos que eles trabalhariam ao longo do ano.
Para minimizar as dificuldades no levantamento e na definição dos problemas, foi construída a ferramenta de apoio “Oficina de Pesquisa Científica no Ensino Básico”, adaptada da obra "Metodologia Científica ao Alcance de Todos", da professora Celicina Azevedo, transformada para uma fácil aplicação nas aulas com os alunos e replicada em outras escolas públicas.
Nessas etapas, muitos questionamentos foram levantados, mostrando que os alunos se interessaram pela metodologia. Como consequência, surgiram 14 projetos. Foram eles:
- "Educoambiental: construção e uso de um aplicativo Android na reeducação ambiental" (dois alunos);
- "Análise dos Parâmetros Fisicoquímicos e Biológicos dos Recursos Hídricos Armazenados nas Cisternas dos Municípios Localizados na Região do Mato Grande" (quatro alunos);
- "AgroVerdes" (cinco alunos);
- "Eletropan: desenvolvimento de aplicativo para conscientização e coleta de lixo eletrônico em Ceará-Mirim" (três alunos);
- "Web Saúde: uma conexão informativa" (quatro alunos);
- "Conscientização sobre o Descarte do Lixo Através da Robótica" (cinco alunos);
- "Saneamento Básico na Cidade de Ceará-Mirim" (quatro alunos);
- "Website para o Parque Municipal Boca da Mata: tecnologia a favor da preservação" (dois alunos);
- "Desenvolvimento de Aplicativo Android para Auxílio de Oficinas de Metodologia Científica em Escolas Públicas de Ceará-Mirim" (três alunos);
- "Saúde Dinâmica" (três alunos);
- "Casa Ideal (três alunos);
- "Velho Amigo" (três alunos);
- "Medidor Digital" (cinco alunos);
- "De que Maneira Podemos Implantar a Reeducação Ambiental numa Geração Tecnológica?" (seis alunos).
Concluídas as etapas de definição do problema científico, deu-se início à elaboração do projeto. Com base nas observações e no desempenho dos alunos durante os encontros de orientação, percebeu-se uma grande dificuldade da maioria com a escrita, o que, de certo modo, já era esperado.
As escolas municipais de Ceará-Mirim, apesar da constante evolução observada nos últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ainda estão aquém das metas nacionais almejadas e também abaixo da média para as escolas do Rio Grande do Norte, mostrando uma formação insuficiente de seus alunos.
A solução para resolver ou, pelo menos, amenizar essas dificuldades foi o estímulo à busca por referenciais teóricos relacionados aos projetos, o que se mostrou relativamente eficiente.
Particularmente apoiado nos temas e objetivos de cada projeto, busquei artigos científicos e os compartilhei com os grupos de alunos antes das reuniões de orientação.
Além disso, foram apresentadas aos jovens plataformas especializadas e de fácil acesso para a busca de textos científicos, como o Google Scholar. Essa solução se mostrou, na medida do possível, bastante eficiente. Os alunos que responderam ao questionário de avaliação declararam ter lido inúmeros artigos relacionados aos seus problemas de pesquisa.
A etapa seguinte, de experimentação e coleta de dados, ficou marcada pelo notável envolvimento da maioria dos estudantes.
Houve participação efetiva de grande parte dos componentes dos grupos visando alcançar as metas propostas nas pesquisas iniciais. Além disso, em alguns projetos, ocorreu um esforço adicional que os alunos respondessem às propostas apresentadas pelo professor no início do ano letivo.
Duas dessas metas ganharam destaque. Foram elas:
- preenchimento do diário de bordo, com o registro detalhado de datas e locais de todos os fatos, passos, investigações, descobertas, entrevistas e observações, bem como as reflexões surgidas durante toda a pesquisa;
- envolvimento de outras disciplinas e professores no projeto. Como resultado, quatro docentes se engajaram como orientadores ou coorientadores: dois de Informática, um de Química e um de Sociologia.
As etapas seguintes, de análises dos dados e de elaboração do relatório final, foram particularmente mais simples, provavelmente porque os estudantes já estavam familiarizados com a metodologia e já observavam alguns resultados para os seus questionamentos do início do ano letivo.
Mais uma vez, destacamos os benefícios da prática, como a capacidade para desenvolver o raciocínio e aprender, interpretar e criticar resultados a partir de experimentos e demonstrações e entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências. Todas essas habilidades são sugeridas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), dentro da competência de Investigação e Compreensão.
De todos os projetos desenvolvidos, apenas dois não alcançaram nenhuma das metas propostas, sendo necessárias intervenções e modificações dos objetivos.
Um deles foi projeto "De que Maneira Podemos Implantar a Reeducação Ambiental numa Geração Tecnológica?", que tinha como objetivo incentivar crianças e jovens à preservação ambiental por meio de um jogo digital. Por falta de comprometimento de parte dos alunos do grupo, ele não foi finalizado. Alguns membros foram remanejados para outros grupos, enquanto outros tiveram de desenvolver novas atividades para a composição de suas notas.
Em quatro projetos não se conseguiu alcançar a totalidade das metas, especialmente a de aplicação das propostas de intervenção nas comunidades e nos públicos pesquisados. Entretanto, vale dizer que as pesquisas iniciais que comprovaram cientificamente o problema levantado nos projetos foram concluídas.
É de se destacar também que, em sete projetos, todos os objetivos foram concluídos. Mais do que isso, o envolvimento dos alunos em alguns deles ultrapassou os limites da sala de aula, com dedicação integral, no contraturno das aulas, à resolução dos questionamentos levantados.
Como resultado, alguns projetos foram inscritos em eventos científicos, com produção de textos aprovados por seus pares acadêmicos, premiações e reconhecimento de sua importância pela comunidade escolar.
Saiba mais
Sugestão de questionário para avaliação do projeto pelos alunos.
A metodologia de pesquisa pode ser utilizada por disciplinas como Física, Química e Biologia, dentre outras. A prática aqui descrita, levada a cabo na disciplina de Biologia, pode facilmente ser adaptada.
Aprender Inglês: meu novo mundo
Despertar nos alunos o desejo de aprender dinamicamente a língua inglesa por meio de atividades pedagógicas lúdicas e descontraídas.
Sem período específico.
Materiais:- livros didáticos;
- computadores.
LGG – Competência 4
Habilidades trabalhadas:EM13LGG401; EM13LGG402; EM13LGG403
Eder Jose Monte de Araujo.
Escola:Escola Estadual Professora Risalva Freitas do Amaral, Macapá (AP).
O que é:
A possibilidade de usar uma língua estrangeira para se comunicar é uma necessidade nos dias de hoje. É também uma forma de encurtar distâncias e conhecer novas culturas.
O tema deste projeto surgiu não só porque existe uma expectativa social estimulada para o crescimento dos intercâmbios culturais e a circulação de informações e conhecimentos, mas também porque o aprendizado de uma língua estrangeira tem contribuído para a formação educativa.
Os recortes dessa aprendizagem propiciam aos alunos a oportunidade de engajamento e interação no mundo social (acadêmico, científico, tecnológico, humano). Também possibilitam contato com outras civilizações e culturas, competência enfatizada como um dos principais eixos do ensino.
Por isso, é necessário incentivar os estudantes, desde o princípio, a observarem as diferenças de valores e costumes que permeiam textos, diálogos, histórias, mensagens eletrônicas etc.
O entendimento dessas diferenças pode interferir de forma positiva ou negativa na comunicação e na harmonia entre os povos ou, até mesmo, entre os grupos sociais de um país, pois a língua é usada no mundo social como reflexo de crenças e valores.
O enfoque interacional oferece uma melhor compreensão da importância da pluralidade cultural que hoje direciona o ensino de inglês. Além de se comunicarem em inglês, os alunos precisam se inteirar dos valores que norteiam outras culturas.
O projeto “Aprender inglês: meu novo mundo” surgiu para oferecer o ensino da Língua Inglesa aos estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental II e da 2ª série do Ensino Médio, fora horário escolar habitual.
Assim, em vez de ficarem em casa assistindo televisão ou na rua, sujeitos a diversos riscos, os alunos aproveitaram o tempo na escola para aprender e desenvolver habilidades específicas, buscando melhoria no rendimento e transformando sua realidade social.
Com essa solução, os pais puderam trabalhar tranquilos, sabendo que seus filhos estavam dentro da escola, que é um espaço seguro e acolhedor.
Como fazer:
Inicialmente, foi feito um diagnóstico prévio, por meio de exercícios e entrevistas. Percebeu-se que a maioria dos alunos nunca havia tido contato com o Inglês. Esse diagnóstico foi muito importante para a realização de acertos no planejamento inicial. O diagnóstico final se deu por meio de observações nas aulas e pelas primeiras produções escritas e faladas.
O projeto foi lançado por edital, e muitos pais vieram até a escola para fazer a inscrição dos filhos, momento em que trouxeram um quilo de alimento não perecível para ajudar uma instituição carente, despertando também, nos alunos, o espírito da solidariedade.
Os pais ficaram muito contentes por conseguirem colocar seus filhos no projeto, que era totalmente gratuito.
Um dos momentos mais significativos foi a realização de uma gincana em que os alunos puderam demonstrar em pouco tempo de curso os primeiros conhecimentos adquiridos em sala de aula.
Durante a execução do projeto, foram avaliados o desempenho e o empenho de cada aluno nas atividades propostas, como prática oral, interesse e participação no decorrer das aulas. Os meios utilizados foram exercícios, leituras, diálogo, conversação e gincana.
Os resultados alcançados mostraram o êxito da iniciativa, com os alunos passando a falar e a escrever em inglês.
A aprendizagem se deu de forma extraordinária. Hoje, os alunos já estão exercitando o idioma com excelência, desenvolvendo, assim, a autonomia, a conversação e a fluência.
Ler Liberta: arrecadação de livros literários para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal
O objetivo desta prática foi arrecadar livros literários para dar continuidade aos projetos de leitura realizados com estudantes e não estudantes e internas da Penitenciária Feminina do Distrito Federal.
Em qualquer momento do ano letivo.
Materiais:- recipientes para pontos de coleta de livros;
- banners;
- livros.
LGG – Competência 1; Competência 2; Competência 3; Competência 6
Habilidades trabalhadas:EM13LGG601; EM13LGG602; EM13LP47; EM13LP51; EM13LP52
Gislene Silva Fernandes Teixeira.
Escola:Centro Educacional 01 de Brasília, Núcleo Rural (DF).
O que é:
A leitura possibilita às pessoas compreenderem os fatos, a história e a vida, tendo, portanto, papel fundamental na formação dos indivíduos.
No caso específico deste trabalho, a leitura ajudou na preparação das internas da Penitenciária Feminina do Distrito Federal para a volta ao convívio social.
Mesmo privadas da liberdade, as internas podiam pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos e descobrir novos conceitos e novas ideias que fizessem a diferença no trajeto de superação rumo à socialização.
O projeto “Ler Liberta: arrecadação de livros para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal” buscou coletar livros de literatura (brasileira e mundial) para uso pelas internas.
Ele surgiu para contornar a situação de escassez de livros literários na biblioteca do Núcleo de Ensino da Penitenciária. Como resultado, o acervo aumentou, bem como cresceram os empréstimos de livros, passando de 20 para 500 exemplares por mês.
A participação das internas foi espontânea. Houve um natural aumento da sociabilidade, do gosto pelos livros, da concentração nos estudos e da participação em outras atividades desenvolvidas na Penitenciária.
A necessidade de realizar uma campanha de arrecadação de livros surgiu após as internas terem participado de rodas de leitura, de discussões e de terem ouvido depoimentos sobre a importância e os efeitos da leitura sobre os indivíduos, principalmente em pessoas privadas de liberdade.
Porém, a quantidade de livros existentes na biblioteca do Núcleo de Ensino da Penitenciária Feminina do Distrito Federal era insuficiente para desenvolver a rotatividade de livros entre internas, que, estimuladas pelo que tinham ouvido, não queriam mais ficar sem ler.
A cobrança das internas por livros diferentes era muito grande. Como não recebemos verbas suficientes para adquirir novos livros e de maior interesse, planejei uma campanha de arrecadação.
Com isso, não apenas o acervo da biblioteca do Núcleo de ensino cresceria, mas também seria possível a disponibilização de obras literárias para outros blocos do sistema prisional.
Nesse contexto, diversas ações foram planejadas, entre elas:
- pedir autorização à direção da Penitenciária Feminina do Distrito Federal para a realização e divulgação da campanha de arrecadação de livros;
- apresentar o projeto da campanha à direção do Centro Educacional 01 de Brasília;
- buscar parceria com pontos comerciais para facilitar a coleta dos livros em várias cidades-satélites do Distrito Federal;
- construir o banner de divulgação da campanha com o nome e o endereço do ponto de coleta nas cidades-satélites de Brasília;
- divulgar a campanha nas redes sociais e em grupos (Facebook, Instagram, WhatsApp etc.);
- divulgar o projeto em rede de televisão;
- buscar todos os livros nos pontos de coleta, semanalmente;
- selecionar os livros;
- adequar os livros às regras e medidas de segurança definidas pela direção da Penitenciária Feminina do Distrito Federal. Esse processo contou com a ajuda de cinco internas matriculadas no CED 01.
Como fazer:
A primeira atividade foi a realização de um sarau cultural para o Dia das Mães, envolvendo todos os professores e as alunas interessadas.
Cada turma apresentou duas atividades diferentes, como teatro, varal de poesias com dedicação às mães, recitação de poemas, cartas, bilhetes, depoimentos, cartazes ilustrativos e biografia de alguns autores.
Todo o trabalho foi desenvolvido no pátio da Penitenciária, com o apoio dos professores.
Logo após a realização do sarau, para despertar o interesse pela leitura, desenvolvi um miniprojeto, oferecendo um kit de produtos de higiene pessoal à aluna que mais livros literários tivesse lido num semestre. O compromisso era que, a cada livro lido, ela entregasse um resumo da história.
Finalizei o projeto num ano letivo. O interesse em continuar lendo foi só aumentando, mesmo sem qualquer premiação.
Para incentivar o uso da biblioteca e executar atividades pedagógicas, como as rodas de leitura, a campanha "Leitora do Mês" e outras ações, listei os livros de interesse.
Num contexto de maior diversidade literária, avançamos no projeto, com a realização de novas atividades.
Foram elas:
- sensibilização das alunas sobre a importância da preservação dos livros didáticos;
- incentivo do uso da biblioteca;
- disponibilização e preparação de espaços para leitura nos blocos;
- promoção de grupos de leitura;
- promoção de campanhas "Leitora do Mês";
- criação do "Passaporte da Leitura";
- realização do sarau cultural e poético;
- oferta de música e leitura;
- escolha de "Livros 5 Estrelas";
- confecção de cartas e bilhetes;
- realização de concurso de redação com tema específico.
Mesmo antes da campanha de arrecadação de livros, as internas matriculadas e as que trabalhavam nas oficinas próximas do Núcleo de ensino já me pediam livros para levarem às celas.
Foi valioso chegar ao fim do turno e ver todas as internas do setor com um ou dois livros em mãos para serem lidos nas celas após as aulas ou o trabalho.
A campanha inspirou o planejamento de novas ações, como a ampliação do acervo da biblioteca do Núcleo de Ensino e a montagem de uma minibiblioteca, em cada bloco, com livros literários apropriados à mudança de pensamento e atitude.
Os livros recebidos na campanha e que não estavam de acordo com as normas de segurança da direção do presídio foram adaptados pelas alunas. Os livros jurídicos desatualizados foram reciclados. Livros com apologia ao sexo e ao crime, por exemplo, foram descartados.
O planejamento e a campanha de arrecadação de livros aconteceram entre outubro de 2017 e maio de 2018. As internas estudantes e não estudantes, por medida de segurança, não participaram da arrecadação de livros. Porém, tudo aconteceu devido à interação e à aceitação das atividades.
No decorrer do projeto, cada interna foi avaliada pela escolha e pela quantidade de livros lidos mensalmente, tendo sempre, como referência, a meta de transformação da vida pela leitura.
Sobre isso, uma das internas apresentou um depoimento muito importante:
“Nos momentos mais difíceis da minha vida, quando eu estava sofrendo muito, eu me deparei com a literatura, na qual eu comecei a observar que ela poderia mudar a minha forma de pensar, minha forma de viver”.
Outra colega buscou inspiração na biografia de Machado de Assis e de Eça de Queiroz, para escrever uma nova história de vida:
“Todo esse sofrimento que a gente vem passando no presídio, a melhor coisa que a gente tem que fazer é adquirir o gosto pela leitura, aprender a se comunicar com as pessoas, adquirir o gosto pelo trabalho e vencer na vida da mesma forma que Machado de Assis venceu”.
A ideia é que o contato com a literatura chegue para mais internas de outros blocos e melhore a disciplina no presídio, como melhorou para as que já participaram.
O desejo mais amplo é que essa relação com os livros ultrapasse as portas do presídio e mostre, também para as famílias e para a sociedade, que as internas têm condições de serem reinseridas e de mudarem sua realidade de sua vida.
Com o projeto, os sonhos vão se tornando realidade. “Pretendo retornar à sociedade e, mais para a frente, quem sabe, fazer uma faculdade”, disse uma interna.
“Eu gosto deste projeto, porque ele nos proporciona aprender cada vez mais. A cada dia lendo o livro, eu aprendo e fico com mais vontade de me aprofundar nos assuntos”, disse outra interna.
A leitura dá liberdade para a mente, além de ser um momento de aprendizado. A leitura transforma a vida das pessoas, melhorando os níveis de alfabetização, de criticidade, ressignificando a própria vida.
Após a campanha, com a diversidade de obras literárias disponíveis na biblioteca, o interesse pela leitura aumentou 100%.
No total, foram comprados mais de 10 mil livros literários para atender à ampliação da biblioteca existente e a construção de bibliotecas em outros blocos do Presídio.
O desafio ainda continua. Após a montagem dos novos espaços de leitura em outros blocos, será preciso iniciar o resgate de novas internas ao projeto de leitura.
Sociedade x Meio Ambiente: discutindo o futuro
Desenvolver o espírito crítico e analítico dos alunos, considerando o uso sustentável dos recursos naturais e a qualidade de vida das pessoas da região. Além disso, promover a interação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Sem período específico.
Materiais:
- Livros didáticos;
- Computadores;
- WhatsApp;
- Acesso à internet.
CHS - Competência 3;
CNT - Competência 3;
Habilidades trabalhadas:
EM13CHS302; EM13CHS304; EM13CHS306; EM13CNT309
Escola: EEEM Waldemar Maues, Belterra (PA).
O que é:
O desflorestamento da Amazônia, principalmente para o plantio de soja, vem aumentando consideravelmente. Essa ocorrência se estende ao município de Belterra, área de realização do trabalho e situado na parte oeste da Amazônia paraense, onde existe um cultivo muito grande de soja.
Tal atividade representa uma forte ameaça às populações, que ficam expostas aos efeitos dos agroquímicos. Sua utilização provoca a contaminação dos solos, dos recursos hídricos e da fauna e da flora, podendo resultar em efeitos catastróficos para o bioma amazônico e também, por extensão, para todo o planeta.
Nos últimos anos, o uso de agroquímicos em plantios de soja e milho chegou a comunidades rurais e ao centro urbano do município de Belterra.
Na cidade, temos a Escola Estadual de Ensino Médio Waldemar Maués, que, como parte de sua matriz curricular para o Ensino Médio, oferece a disciplina Ecologia, voltada às turmas da 2ª série. Isso se dá porque a escola acredita ser importante trabalhar temas transversais de forma interdisciplinar.
A questão ambiental é cada vez mais destaque no meio científico e na mídia. Crescem também as discussões sobre temas como o equilíbrio entre o desenvolvimento e a qualidade de vida, e os impactos do progresso no planeta.
A partir da década de 1990, o agronegócio ganhou força no país, com ênfase na cultura da soja, que logo se estendeu por toda a Amazônia.
A soja transgênica desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e adaptada ao clima quente e úmido da região contribuiu para o aumento da produtividade agrícola nacional e para que o Brasil se tornasse o 2º maior produtor mundial desse grão.
Nesse contexto, surge o questionamento: "Até que ponto vale a pena desflorestar a Amazônia para a ampliação das fronteiras agrícolas?"
O desenvolvimento de extensas áreas de monocultura na região mais biodiversa do planeta se dá num cenário com uma imensa fauna de insetos.
Essa situação impõe a necessidade de aplicação de mais agroquímicos para as lavouras que se mantenham produtivas. Tal ocorrência afeta, por exemplo, as abelhas, que são essenciais na polinização das espécies vegetais nativas. Os insetos sobreviventes migram para as culturas dos pequenos produtores, causando a eles prejuízos irreparáveis.
Vale destacar também a questão dos dessecantes, que são substâncias químicas capazes de absorver água. Esses agentes, que têm sido utilizados nas plantações de soja e milho, acabam, também, secando e matando plantações dos pequenos produtores da região, comprometendo sua principal fonte de renda.
No que se refere à saúde, devemos mencionar também o aumento do número de casos de leishmaniose. A doença é transmitida pelos carapanãs do gênero Phlebotomus, que têm sido "expulsos" do meio rural para as áreas urbanas por causa da destruição de seu habitat pelo uso intensivo de agroquímicos.
Entretanto, observa-se uma desvalorização de todo o bioma amazônico, com risco real de perda dessa biodiversidade.
No que diz respeito à escola, torna-se fundamental a discussão sobre as questões ambientais ainda no Ensino Médio. Essa temática representa hoje cerca de 40% dos conteúdos de ciências da natureza exigidos pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Em nosso projeto, a dinamização do conhecimento sobre o tema se deu por meio de participação em palestras, da realização de uma audiência pública, da organização de seminários e oficinas de produção audiovisual e metodologia em pesquisa e do desenvolvimento de pesquisa científica.
A entrevista foi escolhida como ferramenta de coleta de informações. Para tanto, elaboramos um questionário domiciliar com 48 itens, cujas questões abordaram assunto relacionados à investigação sobre aspectos sociais, econômicos e de saúde.
Sempre em equipes, e sob a supervisão da professora coordenadora do projeto, os alunos visitaram residências da cidade para a aplicação da pesquisa. Esse trabalho durou dez meses, entre agosto de 2017 e maio de 2018.
Os resultados foram tabulados e apresentados na escola e à comunidade local.
A escolha das áreas de pesquisa levou em consideração a localização dos plantios de grãos, com prioridade às residências e aos logradouros mais vulneráveis à exposição e à contaminação por agroquímicos.
Como fazer:
O início das atividades se deu com a verificação dos conhecimentos dos alunos sobre como conciliar desenvolvimento, progresso, sustentabilidade, equilíbrio da floresta e qualidade de vida. Para tal, consideramos o atual cenário de depredação antrópica, que beneficia grandes empreendimentos agrícolas e reduz, cada vez, mais as perspectivas dos amazonenses de usufruírem do tal “desenvolvimento”.
O projeto alcançou, inicialmente, 37 alunos, que participaram de palestras, oficinas de iniciação científica e audiovisuais, pesquisa de campo, seminários, rodas de conversa e mesas redondas.
Os primeiros debates serviram para que tivéssemos uma noção dos conhecimentos dos alunos sobre as temáticas em discussão e verificássemos o seu interesse pelos assuntos. Nessa etapa, ficou claro que o nível de informação ainda era baixo.
Como parte do projeto, os jovens foram a campo para a realização de entrevistas em instituições de pesquisa, órgãos federais e com pessoas da comunidade, incluindo lideranças de movimentos sociais.
Na sequência, surgiram como ideias a produção de um jornal audiovisual e o incentivo à pesquisa científica, já que, em Belterra, não havia nenhum dado sobre o uso de agrotóxicos na cultura da soja.
Como a escola, por si só, não teria condições de realizar as atividades propostas, buscamos o apoio de outras instituições, como o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará, o Instituto Evandro Chagas, a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, a Embrapa e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Belterra, Mojui dos Campos e Santarém.
Em maio de 2017, participamos, com 30 alunos e quatro professores, da audiência pública de instalação do Fórum Permanente de Combate aos Agrotóxicos e Audiências Públicas sobre os Direitos Territoriais na Região do Baixo Amazonas.
Este foi o nosso primeiro contato com um pesquisador do Instituto Evandro Chagas, que passou a nos ajudar no desenvolvimento da pesquisa com os moradores locais. Esse trabalho se mostraria muito importante, dado o quadro de subnotificações de intoxicações por agrotóxicos, o que revelava desconhecimento da população e dos profissionais da saúde sobre sintomatologia e sobre os problemas no organismo humano causados pela crescente exposição aos agroquímicos.
Ainda em maio, a Câmara Municipal aprovou o desmembramento de 2.600 hectares da Área de Proteção Ambiental (APA) Aramanaí com a finalidade de consolidar ainda mais o agronegócio, com a instalação de portos graneleiros.
Esse fato causou grande descontentamento na população, e foi determinante para que a escola realizasse, em 5 de junho, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, uma audiência pública.
O objetivo foi esclarecer a comunidade escolar e a população sobre os impactos socioambientais daquela decisão dos vereadores locais.
Participaram o prefeito, o presidente da Câmara Municipal, a secretária de Meio Ambiente, um representante do Conselho Gestor da APA, um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), um representante do Ministério Público Estadual, um engenheiro ambiental, um representante do Movimento Tapajós Vivo e uma representante da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. O evento, que reuniu cerca de 300 pessoas, foi também transmitido pela rádio comunitária local.
Posteriormente, o Ministério Público ajuizou Ação Civil Pública para que Belterra e o Pará não emitissem e suspendessem qualquer licenciamento ambiental na APA Aramanaí até que fosse implementado o Plano Diretor de Gestão Ambiental para a área.
Na sequência de nosso projeto, realizamos na escola a palestra “Danos Ambientais Amazônicos e suas Consequências na Saúde Humana: desafios para um modelo metodológico para seu enfrentamento”. O evento teve a presença de 242 pessoas.
Organizamos ainda, nas férias de julho, uma oficina formativa audiovisual sobre o uso de tecnologias. A atividade foi importante como preparação para a iniciativa seguinte: o "Jornal Bela Terra", produção audiovisual dos alunos.
A gravação das entrevistas para o audiovisual foi feita com telefones celulares. Os alunos ouviram instituições e órgãos de fiscalização, ensino, pesquisa e saúde pública e agricultores.
O "Jornal Bela Terra" foi finalmente apresentado em classe no final de setembro. A produção também foi divulgada pelo Movimento Tapajós Vivo.
Ainda durante as férias escolares de julho, teve início uma articulação com instituições, órgãos de governo, sindicatos e associações para a realização de um seminário sobre agrotóxicos e suas influências na saúde humana e no bioma amazônico.
O evento aconteceu em agosto, atraindo 188 pessoas. A atividade teve duas mesas redondas: "Agronegócio, Legislação, Saúde e Economia" e "Atual Panorama do Agronegócio na Região e Possíveis Alternativas Econômicas para o Desenvolvimento".
Como consequência da evolução do projeto, ganhou força o interesse pela iniciação científica.
Como exemplo, realizamos a pesquisa “Diagnóstico Socioeconômico e de Saúde das Pessoas Vulneráveis à Contaminação pela Exposição ao uso de Agrotóxicos na Área Urbana e Adjacências no Município de Belterra-PA”.
Nesse trabalho, a escola contou com o apoio do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal do Oeste do Pará.
A realização da pesquisa foi um grande desafio para os alunos, que tiveram de usar suas horas vagas, muitas delas nos fins de semana, para a aplicação dos questionários domiciliares.
As primeiras entrevistas foram marcadas pela timidez da turma e dos entrevistados. De um lado, os agricultores tinham receio de retaliações por informarem dados que, possivelmente, colocariam grandes produtores em situação desfavorável diante da comunidade. De outro, os jovens estudantes se viam diante de uma atividade diferenciada, que exigia postura de pesquisadores e preparo para absorver reações inesperadas dos entrevistados, dada a delicadeza do tema.
Cada aluno realizou, em média, dez entrevistas. No total, excluídas as famílias que não quiseram, 387 agricultores participaram da pesquisa.
Foi uma experiência fantástica para mim e para os estudantes. Os relatos influenciaram significativamente os alunos, que participaram ativamente, também, da tabulação dos dados.
Além dos problemas causados pelos agroquímicos, a região também se vê sob a ameaça dos metais pesados, em especial o mercúrio, muito utilizado na extração de ouro na região do Rio Tapajós.
Sobre esse tema, houve em setembro, na escola, palestra sobre os efeitos da exposição mercurial para a saúde humana, realizada por pesquisadoras do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará. Participaram 143 alunos.
Por causa das atividades desenvolvidas, a escola começou a se destacar no cenário local, fato que resultou no estabelecimento de uma parceria com a equipe do documentário norte-americano "Beyond Fordlandia", que cedeu um link na fanpage da produção para a divulgação internacional do nosso projeto.
As ações se sucederam ao longo dos meses. Os alunos participaram, por exemplo, da “1ª Semana Regional de Mobilização e Articulação Contra os Impactos Causados por Agrotóxicos na Região do Baixo Amazonas”, ocorrida na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Em outra ação, no início do ano letivo de 2018, dez alunos participaram, na escola, da roda de conversa “Os Modos de Vida dos Povos do Tapajós Ameaçados pelos Grandes Projetos”, organizada pela Federação de Órgãos para Assistência Social.
O projeto teve como uma de suas vitórias o engajamento dos alunos. Um dos fatores foi a dinamização da metodologia de ensino, ultrapassando os muros da escola para estabelecer relações de integração com a sociedade, aliando também teoria e prática.
Devemos somar a isso todas as atividades realizadas, como as oficinas e a elaboração de pesquisa, que fizeram dos alunos protagonistas do projeto.
Essa particularidade e a própria essência do projeto foram bastante elogiadas por pessoas da comunidade e por representantes e pesquisadores de instituições parceiras.
É possível que esse projeto seja desenvolvido por outras escolas. Entretanto, há fatores essenciais – e que não podem ser esquecidos – para o desenvolvimento de ações mais dinâmicas, entre eles, a existência de recursos financeiros e o envolvimento da gestão, do corpo técnico e dos docentes.
Nosso objetivo inicial foi alcançado. Os alunos aprenderam a buscar informações além daquelas presentes nos conteúdos dos livros didáticos. Ficou evidente que, a partir de novas informações, da pesquisa de campo e do trabalho audiovisual, é possível fazer mais.
Cabe ressaltar a importância do grupo de WhatsApp "Ecologia do WM", utilizado para motivar os alunos e para o compartilhamento de assuntos relacionados ao trabalho.
Mais recentemente, alunos que participaram do projeto se aventuraram também como disseminadores de informações para turmas mais novas. Tornaram-se uma alternativa de orientação, capazes de gerar reflexão com a voz da juventude.
Ao atuarem em uma iniciativa que mudou a dinâmica escolar, tornaram-se sujeitos do processo ensino-aprendizagem.
Saiba mais
Há a proposta para a realização de uma nova edição do "Jornal Bela Terra", assim como para a continuidade das ações de estímulo à produção científica.
Instituições de pesquisa local e regional já manifestaram interesse pelos resultados e por futuras parcerias para a ampliação do projeto.
Mais informações podem ser encontradas em: