"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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A experiência de uma visita a uma comunidade Quilombola: capoeiras, etnicidade e diversidade no RN

Competência 1 | Competência 5 | Competência 6
Área(s): Ciências Humanas e Sociais.

Esta prática se propôs a reformular abordagens, principalmente com o mapeamento das contribuições do povo negro, numa tentativa de "fuga" das situações pitorescas e exóticas nas quais o negro é sempre colocado.

Quando:

Durante o ano letivo.

Materiais:
  • livros;
  • filmes;
  • tecnologias móveis disponíveis.
Competências específicas:

CHS – Competência 1; Competência 5; Competência 6

Habilidades trabalhadas:

EM13CHS101; EM13CHS102; EM13CHS103; EM13CHS104; EM13CHS106; EM13CHS502; EM13CHS601

Escola: EE Professora Zila Mamede – Ensino Fundamental, Médio e Jovens e Adultos, Natal (RN).
Professor(a) responsável: Daniel Luiz Sousa de Lima.

O que é:

Este projeto colocou os alunos em contato com métodos de pesquisa, de análise de documentos e de utilização da oralidade na construção histórica, possibilitando, assim, identificar aspectos do aprendizado que vão além da sala de aula e da disciplina ministrada, que, tem, habitualmente, o professor como figura central.

Como fazer:

Após observação das relações escolares e da aplicação de um questionário sobre o cotidiano escolar, considerei importante desenvolver uma atividade que oferecesse acesso a outras versões sobre a presença étnica dos negros no estado.

Assim, quando surgiu a possibilidade de fazer uma visita à comunidade de Capoeiras, formei uma equipe de alunos e partimos para o desenvolvimento de uma pesquisa diferenciada.

Com reuniões às sextas-feiras, a primeira etapa do projeto teve uma exposição oral minha, leitura de textos e a apresentação da temática.

Inicialmente, expliquei aos alunos o que era uma comunidade quilombola. Falei também sobre o direito de acesso à terra e sobre o processo de titulação de autoafirmação.

Foram apresentados, ainda, dados sobre a etnicidade no Rio Grande do Norte e sobre as diversas comunidades quilombolas no estado.

A partir disso, conversamos a respeito da comunidade que iríamos visitar, localizada num município vizinho e integrante da "Grande Natal".

A apresentação sobre a comunidade se deu por meio de textos e vídeos da internet. Essa atividade consumiu duas semanas.

A segunda etapa consistiu na divisão dos alunos pelos "produtos" que seriam desenvolvidos: vídeos, fotos e relatos escritos.

Dessa forma, coletivamente, traçamos um plano de trabalho e definimos os roteiros de observação e das entrevistas que seriam feitas na comunidade.

Os alunos se dividiram em grupos de acordo com a afinidade de cada um com o respectivo produto.

Atuei como orientador, mas tive o apoio também de bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), que atuaram com os grupos.

Depois da divisão, as reuniões passaram a ser feitas por produto, todas elas com a minha presença e a dos bolsistas.

Foram discutidas com cada grupo questões de identidade e oralidade e a fotografia como fonte histórica. Os alunos também fizeram observações sobre aspectos econômicos, culturais e históricos.

Após as duas primeiras fases, chegou o dia da visita à comunidade. Todos os alunos estavam com seus cadernos de anotação, máquinas fotográficas, celulares e filmadoras.

Ao chegarmos na comunidade, fomos levados à Casa de Cultura, onde se formou uma roda para uma conversa sobre as experiências comunitárias. Os alunos fizeram perguntas que foram prontamente respondidas pelo anfitrião.

Após a conversa inicial, a turma se juntou a um grupo de dança e de batuques. Após a apresentação, os alunos foram convidados a se juntarem à roda.

Na sequência, foram divididos nos grupos estabelecidos antes da viagem. Os alunos fizeram entrevistas com moradores e líderes e caminharam pela comunidade para os registros de observação.

Com muito material coletado, voltamos à escola para iniciarmos a elaboração dos produtos.

A primeira reunião pós-visita serviu para que todos expusessem suas experiências e relatassem se a atividade tinha sido proveitosa ou não e o que poderia ser modificado no futuro. Lemos os relatos iniciais, olhamos as fotos e assistimos aos vídeos.

O passo seguinte foi o de elaboração dos produtos. Para tal, passamos a fazer as reuniões por grupos:

O grupo do vídeo ficou responsável pela elaboração de um minidocumentário sobre a viagem, a partir de um roteiro criado coletivamente.

O objetivo do vídeo foi mostrar como se dá o processo de resistência e de autoafirmação de uma comunidade, bem como seus problemas e soluções. Todas as imagens e o vídeo foram editados pelos próprios alunos.

O grupo das fotos analisou e selecionou as imagens. A escolha correspondeu à divisão feita entre aspectos econômicos, culturais e históricos.

Foi montada uma "linha do tempo", valorizando assim a diversidade com base na experiência

O grupo dos relatos trouxe seus textos iniciais para leitura coletiva. Partindo disso, dividimos quais seriam os aspectos que cada um deles escreveria.

A leitura em conjunto também possibilitou correções e a contribuição dos alunos aos textos dos colegas.

Os registros finais compuseram o "ZineZila", nossa "produção independente". Além dos relatos e impressões sobre a comunidade, o folheto trouxe desenhos e fotos.

A ideia não era apresentar a "realidade" ou a "verdade" sobre um grupo quilombola. Queríamos que os alunos mostrassem sua visão a respeito de uma comunidade próxima, mas que tinha um modo de vida diferente daquele com o qual os jovens estavam acostumados.

O último passo foi a montagem de uma exposição durante a "Semana da Cidadania". A atividade ocupou três dias, cada um deles com temas e trabalhos específicos: "Gênero e Cidadania"; Direitos e Deveres dos Alunos do Zila"; "Inclusão Social a Partir da Visão dos Alunos Surdos da Escola"; e, por fim, "O Dia da Consciência Negra".

Além da exposição sobre a comunidade, também tivemos um júri simulado, sarau e música. Em todos os dias, os temas principais foram discutidos com pessoas convidadas.

A exposição foi montada numa sala de aula. Num canto, colocamos a "linha do tempo" feita pelas fotografias. No meio da sala, disponibilizamos cadeiras para que os alunos visitantes assistissem ao minidocumentário. As paredes foram decoradas com cartazes de alguns trechos do nosso "zine".

Alunos de outras turmas visitaram a exposição, ouviram explicações dos autores e também puderam fazer perguntas.

Saiba mais

O foco central do trabalho foi fazer com que os alunos se sentissem sujeitos autônomos, capazes de produzir conhecimento, sob minha supervisão.

A atividade teve como objetivo analisar o empenho dos estudantes na realização do trabalho, a qualidade das produções e as discussões.

A investigação fez parte de todo o trabalho. Por meio dela, percebemos o processo de produção de conhecimento na escolarização básica, indo além do discurso de que a educação escolar serve somente como espaço de reprodução do conhecimento produzido na Academia.

No nosso caso, demos voz a uma história de resistência e de valor étnico e cultural, evidenciando, assim, a diversidade da sociedade.