"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

Podcast

Ouça o podcast sobre o Ensino Médio.


O Sabor da Minha Poesia: fanzines e poemas concretos

Competência 1 | Competência 3 | Competência 6
Área(s): Linguagens.

O objetivo desta prática foi possibilitar experiências com o texto literário, por meio da produção de fanzines com textos autorais sobre os sabores que trazemos em cada um de nós e os sabores da fauna e da flora do Amapá.

Quando:

Em qualquer momento do ano letivo.

Materiais:
  • papel vergê 180g;
  • papel A4 75g;
  • papel Canson;
  • cortadores de papel;
  • revistas;
  • jornais;
  • tesouras;
  • cola;
  • itens da técnica do scrapbook;
  • exemplares do livro "N. D. A.", de Arnaldo Antunes;
  • artefatos e matérias-primas dos povos indígenas do Oiapoque (Instituto de Pesquisa e Formação Indígena e Museu Kuahí).
Competências específicas:

LGG – Competência 1; Competência 3; Competência 6

Habilidades trabalhadas:

EM13LGG105; EM13LGG301; EM13LGG603; EM13LP53; EM13LP54

Professor(a) responsável:

Carla Patricia Ribeiro Nobre.

Escola:

Escola Estadual Mario Quirino da Silva, Macapá (AP).

O que é:

Este projeto foi realizado com os alunos do 1ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Mário Quirino da Silva. Resultou em 51 fanzines individuais e 60 poemas concretos, criados para compor o "Fanzine Coletivo Sabores do Amapá".

O fanzine individual possibilitou a cada estudante refletir sobre sua relação com a poesia e o cotidiano e, a partir daí, relacionar a poesia com sua identidade amapaense, por meio da fauna e da flora.

O fanzine coletivo, por sua vez, foi fruto dos poemas concretos produzidos no decorrer do projeto. Teve tiragem de 170 exemplares artesanais, com capas produzidas manualmente pelos alunos.

Ele foi distribuído para cada aluno participante, para os familiares e também para feirantes da "Feira do Produtor do Buritizal", local onde também realizamos pesquisas para o trabalho.

Este projeto foi realizado porque é sempre importante aproximar os alunos das experiências literárias. A poesia ganha ainda mais relevância ao falarmos das coisas que são parte de nós. Isso aproxima o texto dos alunos e possibilita caminhos para que eles se tornem leitores assíduos, não se limitando aos textos escolares.

Além disso, viver a experiência, no início do Ensino Médio, de produzir um fanzine e distribuí-lo na comunidade pode ser um passo significativo para futuras experiências de produção de textos variados.

Por ser individual, o primeiro fanzine funcionou como um diário de revisão da própria vida. Possibilitou empenho e dedicação, bem como com a escrita criativa. Já o segundo serviu como elo de amizade e produto coletivo, ampliando a criatividade desenvolvida no fanzine anterior.

Como fazer:

A literatura é considerada a disciplina do ócio e do prazer. Por ela, passam o sonho e a imaginação, contribuindo para que os jovens não fujam da realidade e possam dominar seus medos e se abrirem para a vida. Busquei uma experiência com o texto literário que viesse acompanhada de vivências significativas e com uma interface no cotidiano dos jovens leitores.

O tema geral do trabalho uniu conceitos fundamentais para o início do Ensino Médio, como texto literário, conotação e metáfora, tendo como referência a temática da fauna e da flora de nosso estado.

A interface dada a esse recorte teve um apelo poético, percebido na palavra "sabor" que, ao mesmo tempo, remete ao sentido do paladar, com o amargo e o doce, e também ao nosso sabor interior. Isso poderia favorecer a produção dos textos poéticos dos alunos.

Na escolha, considerei importante ainda o fato de nossa escola estar próxima de uma feira de produtores, onde os alunos poderiam observar não somente os produtos, mas também as relações entre os consumidores e os agricultores.

O projeto teve como objetivo geral possibilitar uma experiência com o texto literário por meio da produção de fanzines autorais sobre o(s) sabor(es) que trazemos em cada um de nós e os sabores da fauna e da flora do Amapá, colaborando no processo de constituição de conhecimentos e valores nas áreas da linguagem escrita, da educação literária, das mídias atuais e da educação ambiental.

Escolhi o gênero fanzine porque ele possui, ao mesmo tempo, um status de produção alternativa e de criação pop.

Por meio dessa solução, conseguimos visualizar as criações poéticas num suporte escrito, valorizando a autoria juvenil.

O formato possibilitou também a formação dos interlocutores para que ouvissem o que os alunos tinham a dizer.

A produção dos dois fanzines seguiu etapas. Foram elas:

  • obtenção de diagnósticos por meio da aplicação de questionários;
  • realização de visitas ao Museu Sacaca e à "Feira do Produtor do bairro do Buritizal";
  • organização de aulas expositivas e dialogadas sobre o poema e a fauna e flora do Amapá;
  • realização de aulas expositivas e dialogadas sobre o fanzine, o que incluiu planejamento gráfico, colagem e desenhos e ilustrações;
  • produção de fanzines individuais;
  • produção de poemas concretos sobre as descobertas dos alunos a respeito da fauna e da flora amapaense;
  • produção de um fanzine coletivo somente com os poemas concretos;
  • divulgação do projeto à comunidade com a realização de uma mostra dos fanzines individuais e lançamento do fanzine coletivo para a comunidade escolar;
  • distribuição do fanzine coletivo na feira de produtores.

Para a produção do fanzine coletivo, contei com a colaboração de uma coordenação editorial, que deu valorosas sugestões.

O trabalho se desenvolveu durante o calendário regular, no turno da tarde e também no contraturno, pela manhã e aos sábados. Na escola, utilizamos a sala de leitura e a sala de aula como espaços de produção e criação, sempre com as carteiras dispostas em grupos de quatro a cinco alunos, o que facilitou os diálogos sobre as atividades propostas, a troca de ideias e informações e a produção coletiva.

No propósito de gerar o interesse inicial nos estudos, apresentei alguns fanzines e distribui kits com materiais para a montagem da edição individual. Para definir os caminhos e sistematizar cada etapa, apliquei quatro questionários.

Também realizei aulas expositivas e dialogadas sobre poema: conceito, classificação e autores. Durante as aulas, percebi que o conhecimento dos alunos sobre o gênero e seus autores era pequeno.

Elaborei um material sobre a poesia visual no Brasil e fiz uma aula expositiva. Distribuí para cada aluno um poema concreto. Minha seleção incluiu autores como Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Paulo Leminski e Arnaldo Antunes.

Somente depois desse percurso, partimos para a produção individual, com algumas direções, mas sem um sumário predefinido. Levei para a classe folhas de papel, tesouras, revistas e jornais.

A produção do fanzine visou ao estabelecimento de uma relação individual com a poesia. Dei os caminhos para cada página, mas deixando espaço para que os alunos se expressassem.

O primeiro resultado não ficou satisfatório, pois os alunos se perderam. Assim, decidi montar um material específico e recomeçar a etapa, com mais organização e um sumário predefinido.

O resultado final mostrou o acerto da decisão, pois os alunos compreenderam melhor o gênero e suas características e produziram com mais facilidade e agilidade.

A criação estética das capas demonstrou que nenhuma escolha dos alunos foi aleatória. As capas foram trabalhadas com palavras, desenhos e adornos.

O sumário predefinido incluiu quatro grupos temáticos. Foram eles:

Espaço para a expressão dos alunos sobre suas experiências cotidianas e estabelecimento de relações entre a experiência poética e a própria vida.

Espaço de reflexão sobre a fauna e a flora, sobre o consumo dos produtos da cidade e sobre a relação com o Amapá, na busca do fortalecimento de uma identidade regional e da sensação de pertencimento cultural.

Espaço para a colagem de partes de um poema presente no livro "N. D. A.", de Arnaldo Antunes, e inclusão de poemas autorais.

Espaço de síntese das impressões dos estudantes sobre as duas visitas e de sistematização do aprendizado.

Na página "O Poema e o Sabor", cada aluno escreveu um conceito seu sobre poema e sobre sabor. Já na solicitação "Qual o Sabor da Minha Poesia Particular?", foram elaborados poemas utilizando a palavra principal do poema concreto.

A etapa de produção de um fanzine coletivo somente com os poemas concretos criados pelos alunos durante as aulas não existia no projeto inicial.

Porém, o resultado estético da criação dos poemas concretos foi superior às expectativas e, como os jovens já tinham se habituado com o estilo fanzine, foi fácil a criação desse novo "produto", agora coletivo, e elogiado por todos.

O fanzine foi todo xerocado no miolo. As capas foram criadas manualmente com a técnica da colagem de letras, palavras e recortes de cortadores de scrapbook.

Com o fanzine coletivo pronto, fizemos seu lançamento para a comunidade escolar e as famílias dos alunos. A atividade foi de singular importância, pois os jovens, nessa etapa da vida, podem ser muito tímidos e pouco expressar suas opiniões.

Foi momento também de fortalecimento do protagonismo juvenil, pois colocou os jovens como estrelas principais do evento. Cada aluno presente recebeu um exemplar do fanzine coletivo com os poemas concretos e também o seu fanzine individual.

O lançamento ocorreu em 26 de junho. No mesmo dia, fizemos a distribuição do fanzine coletivo "Sabores do Amapá" na Feira do Produtor.

Essa etapa foi importante, pois possibilitou um "retorno" do trabalho para os agricultores e/ou representantes que os alunos já haviam visitado. Isso também fortaleceu a inserção da juventude na comunidade e o seu diálogo com a sociedade.

Foi prazeroso ver a empolgação dos estudantes e como eles apresentaram, determinados e corajosos, sua criação.

Essa atividade teve cobertura de uma emissora de TV local, e isso foi um incentivo a mais para os estudantes, melhorando sua autoestima e mostrando como a escola pode ser um espaço de saber e de atuação social.

Saiba mais

Para acompanhar o apoio teórico usado pela autora do projeto, o professor poderá fazer a leitura do livro “Letramento Literário: teoria e prática”, de Rildo Cosson, especialmente do capítulo “Sequências Didáticas para o Oral e a Escrita: apresentação de um procedimento”.