"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

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Contos Blumenauenses

Área(s): Linguagens; Matemática; Ciências da Naureza.

O intuito desta prática foi aproximar o conhecimento científico das experiências cotidianas dos estudantes, a fim de transformar o aluno leitor em aluno escritor ao mesmo tempo em que promoveu aos estudantes conhecer a cidade: contexto histórico, social, cultural, político, geográfico, econômico.

Componente(s): Língua Portuguesa.
Quando: A qualquer momento do ano.
Materiais:
  • livros;
  • computadores com acesso à internet;
  • cadernos;
  • canetas;
  • impressora.

  • Habilidades trabalhadas: EF69LP36; EF69LP40; EF69LP47; EF69LP54; EF89LP33; EF89LP35; EF69LP50; EF69LP53; EF89LP33.
    Escola: EEB Profº João Widemann, Blumenau (SC).
    Professor(a) responsável: Marcia de Souza.

    O que é:

    Todo início de ano letivo surge a mesma inquietação: como elaborar um planejamento de aula que aborde os conteúdos para cada turma e que seja atrativo aos alunos?

    O desafio se torna sustentável quando começa a emergir na sala de aula, como uma realidade possível, a ideia de trabalhar com projeto de letramento, utilizando os gêneros textuais como início (e não como fim) do processo de aprendizagem.

    O projeto de letramento demanda tempo e planejamento. Para isso, é inviável trabalhar com todas as turmas. A escolha das duas turmas do 9º ano para desenvolver o projeto foi minha. Essas turmas somavam 68 alunos.

    O conto foi o gênero escolhido por ser uma narrativa curta, mas que possibilita uma viagem ao mundo da imaginação.

    O desafio foi lançado: a meta era transformar os alunos em escritores. Começaram a borbulhar ideias sobre como seriam as aulas. Eu teria pela frente muito trabalho, mas com uma nova perspectiva de educação.

    Para isso, foram estabelecidos os seguintes objetivo(s):

    • Trabalhar o gênero textual "Conto", sem, entretanto, restringir o conhecimento da Língua Portuguesa ao conto. Conforme o desenvolvimento do projeto, outros gêneros surgiram como contraponto, e vários conteúdos gramaticais acompanharam as explicações, de maneira a tirar dúvidas dos alunos em relação ao texto produzido.
    • Levar os alunos a escreverem textos, empreenderem, compreenderem o mundo que os cerca e, principalmente, tornarem-se escritores para além dos muros da escola, de maneira a produzir um livro de contos.
    • Transformar em escritores os alunos que escrevem textos para o professor e possibilitar que todas as leituras e escrituras desenvolvidas no projeto criassem meios para autonomia, tornando os jovens "cidadãos do mundo".
    • Desenvolver habilidades de leitura, escrita e compreensão de textos diversos.
    • Conhecer obras de vários autores.
    • Pesquisar sobre os vários gêneros textuais.
    • Rever, estudar e apreender vários conteúdos gramaticais.
    • Desenvolver a oralidade.
    • Desenvolver o empreendedorismo.
    • Conhecer técnicas de fotografia.
    • Liderar e organizar trabalho em equipe.

    Como fazer:

    O início do projeto se deu quando levei para o diretor e para as turmas a proposta de escrever um livro de contos. Todos concordaram. Tínhamos de traçar uma estratégia de levantamento de recursos financeiros para pagar a edição do livro. Sabíamos que nos tornaríamos, além de escritores, empreendedores.

    O primeiro passo foi pedir ao Conselho Deliberativo da escola autorização para que vendêssemos algo na instituição. Após a reunião, fizemos uma votação para escolher uma comissão organizadora para o projeto do livro. Dez alunos (cinco de cada turma) foram eleitos. Começamos, então, a pensar em como “fazer dinheiro”, pois, com o orçamento do livro em mãos, sabíamos quanto teríamos de arrecadar.

    O que vender? Brigadeiro de copinho. Como? Montamos equipes de quatro alunos para, duas vezes por semana, no recreio, vender 200 brigadeiros.

    Os alunos tiveram de aprender a fazer brigadeiro, a trabalhar em equipe, a lidar com o público, a resolver cálculo matemático (na hora troco) e a fazer propaganda do produto. Mais tarde outros produtos entraram no “negócio”, como pipoca gourmet e alfajores.

    Ao mesmo tempo, os alunos se inteiraram do gênero conto. Pedi a eles que pesquisassem em livros e sites conceitos e características sobre o conto e que trouxessem um exemplar de um contista consagrado para leitura na classe, aumentando, assim, o repertório coletivo.

    Para trabalhar os elementos da narrativa, os alunos pesquisaram sobre os personagens de sua história. Conversaram com os pais e os avós para obter mais informações. Buscaram na internet nomes e sobrenomes típicos de moradores blumenauenses, e também características que os definissem como nativos ou descendentes dos primeiros colonizadores. Pesquisaram ainda personagens históricos ou que tivessem se destacado no cenário político, cultural e esportivo.

    Muitos alunos descobriram personagens importantes da história de Blumenau, como o Doutor Blumenau, Fritz Müller. Outros ficaram encantados ao falar de personalidades locais, como o prefeito da cidade, jornalistas de TV, desportistas e até pessoas famosas nascidas na cidade, como Vera Fischer, Tiago Splitter e Ana Moser.

    Os lugares da narrativa teriam de ser os pontos turísticos de Blumenau, com seus monumentos históricos, suas ruas famosas, restaurantes, bares, cemitérios e locais bem conhecidos pelo público.

    Para isso, os alunos fotografaram diversos lugares. Alguns deles pediram ajuda aos familiares, pois precisavam se deslocar para os bairros e para o centro de Blumenau.

    Os jovens foram agraciados com um curso de fotografia oferecido pela Universidade Regional de Blumenau. Organizamos uma excursão por Blumenau, quando, com nossos celulares e nossas câmeras digitais, registramos lugares para uso posterior na capa do livro de contos.

    Durante o passeio, os estudantes visitaram praças famosas, museus, cemitérios, um teatro, a Prefeitura e pontos turísticos. A excursão serviu também como uma viagem de reconhecimento territorial. No retorno à escola, a turma fez um relatório e, assim aprendeu, mais um gênero – o do discurso.

    Houve diferenças na escolha do tempo da narrativa. Muitos alunos optaram pelo tempo presente (para falar de personalidades mais atuais). Outros se aventuraram no tempo passado, lembrando-se de personagens históricos e que ajudaram a colonizar a cidade.

    Com todos os elementos no caderno, os alunos escreveram o primeiro parágrafo. No início, parecia uma tarefa fácil, mas a minha exigência era a de que conteúdo fosse original, autêntico.

    Eles estavam acostumados com frases comuns: “Era uma vez...”, “Certo dia...”. Por isso, ficamos um bom tempo reescrevendo esse início até que os textos ficassem com o estilo particular de cada escritor.

    Após a produção do conto, cada aluno leu seu texto para a classe. A ideia era que a turma avaliasse se as histórias estavam dentro dos critérios estabelecidos pelo projeto. Depois que fiz a primeira correção, os estudantes reescreveram os textos no computador. O material foi impresso e devolvido para mim.

    A segunda correção foi feita por três colegas de classe, que ficaram atentos às questões gramaticais, à coesão e à coerência, às características do gênero etc.

    Dessa maneira, os textos tiveram novos leitores, não mais apenas o professor. Após essa análise, os autores reescreveram seus textos mais uma vez.

    Depois da minha revisão, os conteúdos foram impressos e devolvidos aos alunos para os ajustes finais. Após minha verificação derradeira, considerei os textos prontos para envio à gráfica.

    Na classe, entreguei a cada aluno uma impressão de seu respectivo texto. Pedi aos alunos que preparassem uma apresentação para outros professores.

    Num concurso, selecionamos dez apresentações para o dia do lançamento. Infelizmente, não teríamos tempo para que os 68 contos fossem apresentados.

    Chamei a comissão organizadora e deleguei funções como definir o coquetel, a decoração, o som, o fotógrafo etc. Também chamei a imprensa local. Começamos a dar entrevistas para TVs e sites. A experiência com as câmeras deixou os alunos e seus familiares com a autoestima elevada.

    No dia do lançamento, o salão do Clube Guarani estava lotado. Toda a comunidade escolar estava presente. Pais, professores, alunos, autoridades, funcionários e convidados vieram prestigiar o lançamento do livro "Contos Blumenauenses".

    A apresentação do projeto ficou por conta dos alunos. Todos autografaram seus contos num livro, que ficou guardado na escola. Desde o início, as turmas foram protagonistas de sua história.

    Quanto à avaliação, ela foi um processo contínuo. Num projeto de letramento, o aluno vai evoluindo a cada aula e é perceptível o avanço dos estudantes a cada texto reescrito, a cada nova leitura.

    Cada aluno contribuiu para que o outro se apropriasse do conhecimento, e eu, como professora, fui a agente de letramento. Houve uma interação muito grande entre todos, possibilitando uma apreensão maior do conhecimento científico.

    Todos caminharam para o mesmo objetivo. Ao final, uns chegaram mais rapidamente. Outros contaram com a ajuda de seus pares, mas também chegaram.

    O empenho, a satisfação de tarefa cumprida e o resgate da autoestima fizeram valer todo o esforço.