"Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação." (BNCC, 2018, p. 60)

Podcast

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Como adquirir conhecimentos matemáticos através dos temas geradores horta caseira e comercialização?

Área(s): Matemática.

Essa prática tem como objetivo desenvolver conhecimentos matemáticos com base nos temas geradores “Horta Caseira” e “Comercialização de Produtos Agrícolas”. Para isso, fazer uma horta caseira na escola com os alunos do 6º ano, desenvolver uma horta caseira em suas residências, acompanhados de seus familiares, determinar o perímetro e a área de um canteiro de hortaliça, calcular a quantidade de adubo necessária para cultivar hortaliças, pesquisar a forma e os valores com que as hortaliças são comercializadas, criar e resolver situações-problema de comercialização dos produtos cultivados pelos alunos em suas hortas caseiras, fazer um calendário agrícola e participar de uma atividade prática na feira livre do município para a venda dos produtos agrícolas cultivados nas hortas caseiras

Componente(s):

Matemática.

Quando: Um semestre.
Materiais:
  • material básico do dia a dia dos alunos (caderno, lápis etc.);
  • computadores, acesso a internet para pesquisas.
Habilidades trabalhadas:

EF06MA03; EF06MA06; EF06MA07; EF06MA09; EF06MA10; EF06MA15; EF06MA18; EF06MA20; F06MA21; EF06MA22; EF06MA24; EF06MA28; EF06MA29; EF06MA32; EF06MA33.

Escola: Escola Municipal de Ensino Fundamental Eugênio Pinto Sant'Anna, Domingos Martins (ES).
Professor(a) responsável:

Letícia Sant’ana.

O que é:

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Eugênio Pinto Sant’Anna está localizada na comunidade de São Miguel, em Domingos Martins (ES). A partir de 2009, a escola passou a trabalhar com o projeto chamado “Integrando o Saber”.

Trimestralmente, cada turma da escola estuda um tema fixo que vem ao encontro de situações vivenciadas cotidianamente pelos alunos. Há também alguns momentos de participação da família e da comunidade local no desenvolvimento das atividades.

Levando em consideração os temas de estudo, desenvolvemos atividades que uniram conhecimentos matemáticos, o cultivo de uma horta caseira e a comercialização de produtos agrícolas.

Como fazer:

Para a realização desta prática, foram definidas as seguintes etapas:

  • pesquisa com a família;
  • elaboração de texto sobre as informações coletadas na pesquisa;
  • construção de uma horta caseira na escola;
  • construção de uma horta caseira nas residências dos alunos, com acompanhamento dos familiares;
  • estudo de medida de massa e comprimento referente à horta caseira;
  • pesquisa sobre os valores de comercialização dos produtos agrícolas;
  • problemas que envolviam o comércio de produtos agrícolas;
  • construção de um calendário agrícola;
  • visita às residências dos alunos para conhecer as hortas caseiras;
  • produção do relatório da atividade “Construção da Horta Caseira e Visita dos Meus Professores à Minha Horta”;
  • participação na feira livre de Domingos Martins (ES) para comercialização dos produtos agrícolas plantados nas hortas caseiras.

Para a realização dessas atividades, contei com a parceria das famílias, da equipe de profissionais da escola e dos feirantes locais. Foi feita ainda uma pesquisa na Wikipédia sobre valores de produtos agrícolas.

Como uma provocação inicial sobre o tema de estudo, os alunos foram motivados a apresentar questões às suas familiares sobre o que plantar numa horta e sobre a importância de se ter uma horta em casa.

A partir do questionário respondido, a turma desenvolveu um relatório ilustrativo com as informações colhidas. Com base nos relatórios, observamos que as famílias ainda tinham o hábito de cultivar hortas caseiras.

Pensando nessa realidade – a de que muitos alunos participam da horta com os familiares –, propus a construção de uma horta na parte externa da escola.

Essa atividade foi muito bem aproveitada, pois, além de plantar e cultivar hortaliças com a turma, pudemos definir o perímetro e a área dos canteiros, e a quantidade de adubo necessária. Utilizei medidas formais e informais.

Após essa atividade prática, sugeri aos alunos que organizassem uma horta em casa, com seus familiares, e fizessem anotações sobre o cultivo.

Reforcei à turma que a atividade deveria ser desenvolvida em parceria com a família e que, após alguns meses, professores e funcionários da escola iriam conhecer a horta e ouvir das famílias informações sobre as atividades realizadas.

Com o tempo, passaram a fazer parte do cotidiano escolar perguntas como “Quando você vai a minha casa?”; “Já tenho que colher as alfaces que plantei?”; “Você pode me ajudar a calcular a área e o perímetro da minha horta porque estou com dificuldade?”; e “Minha horta foi comida pelas galinhas!”.

Dois meses depois da proposta sobre a horta caseira ter sido lançada, chegou o dia da visita às casas dos alunos.

Fomos muito bem recebidos. Havia tanta coisa para contar que as informações ultrapassaram os canteiros de hortaliças e foram adiante.

As famílias relataram histórias de suas comunidades. Quiseram saber também sobre o comportamento dos filhos na escola. Como recordação, tiramos fotos para registrar a parceria entre alunos, famílias e escola. Para finalizar, a turma produziu um relatório sobre a experiência.

Para demonstrar aos alunos que, além do consumo familiar, as hortaliças também podiam ser comercializadas, foi feita em classe uma pesquisa sobre os preços no mercado formal, como os dos centros de distribuição, e do mercado informal. A pesquisa gerou uma reflexão passiva, pois alguns pais de alunos eram atravessadores, enquanto outros comercializavam seus produtos em centros de distribuição ou feiras livres.

Ao longo da atividade, os alunos começaram a calcular quanto iriam lucrar se vendessem suas hortaliças cultivadas. Como já estávamos no 3º trimestre, e o tema de estudo era “Comercialização”, foi proposto que negociassem as hortaliças numa feira livre.

Todos concordaram de pronto. A escola, então, organizou a logística de deslocamento da turma, contando com a parceria das famílias, que ajudaram os alunos a embalar as hortaliças, organizaram os preços e emprestaram bacias para colocar os produtos.

Alguns pais com experiência em feira livre também participaram da atividade. Vimos, com surpresa, vários alunos negociando seus produtos com os fregueses. Com muita firmeza calculavam o valor das mercadorias, recebiam o dinheiro e davam o troco.

Os estudantes ficaram empolgados por terem participado da feira livre e, é claro, por terem arrecadado um bom dinheiro, que serviu para uma ida ao cinema e uma feliz tarde em Vitória, capital do Espírito Santo.

Durante a realização das atividades propostas, percebi o envolvimento dos alunos de maneira intensa. Tão logo recebiam as orientações sobre o cultivo da horta caseira, colocavam as orientações em prática com a família.

As informações recebidas proporcionaram um aprendizado prazeroso, contribuindo também para que os conhecimentos matemáticos se tornassem vivos e significativos no processo ensino-aprendizagem.

Além dos conhecimentos de operações matemáticas, cálculo de perímetro e área e do estudo de números inteiros por meio do sistema monetário, os alunos refletiram também sobre a importância da comercialização dos produtos agrícolas, o que envolvia o custo de transporte e o retorno da venda direta ao consumidor.

Eles também avaliaram a comercialização para atravessadores. Perceberam que, apesar do baixo custo de transporte, tinham retorno muito inferior em relação à venda direta para o consumidor.

Na feira, os alunos viveram outro aprendizado. Para conquistar os clientes, tiveram de pensar não apenas na melhor maneira de apresentar os produtos, mas também na forma de dialogar com os consumidores. Era importante que demonstrassem conhecimento sobre o que estavam vendendo.

Saiba mais

A prática relatada deixou clara a importância da contextualização significativa, ou seja, aquela que ocorre com o envolvimento real do aluno. Nesse caso, agregou-se à experiência a riqueza da participação das famílias e da comunidade local.

Embora esta prática não descreva as ações pedagógicas da sala de aula, há uma infinidade de práticas relacionadas ao embasamento matemático necessárias à execução das atividades práticas. Elas podem variar conforme o currículo, o perfil das turmas e as expectativas de aprendizagem delineadas no planejamento anual. Dessa forma, as ações podem ser modificadas com muita flexibilidade.

Outras ideias:

O projeto possibilita um trabalho interdisciplinar mais aprofundado com o componente ciência ao abordar temas como crescimento de plantas, adubação, composição dos solos etc.