Quem não tem dinheiro conta história! E quem tem, conta também!
Esta prática teve como objetivo desenvolver nas crianças o pensamento e a capacidade crítica de resolver e elaborar problemas envolvendo cálculos. Além disso, estimular a produção de texto, a leitura e o espírito empreendedor.
Matemática.
Quando:No decorrer do ano letivo.
Materiais:- cédulas impressas;
- materiais diversos provenientes de doações;
- filmes;
- livros.
EF04MA03; EF04MA04; EF04MA05; EF04MA06; EF04MA07; EF04MA08
Gleidiston Wallen Moura da Silva.
Escola:EMEIF Valdemar Pinheiro da Silva, Tracuateua (PA).
O que é:
Tratou-se de um projeto diferenciado de ensino-aprendizagem de Matemática. Envolvente e contagiante, a iniciativa se deu por meio de ações desafiadoras que favoreceram o desenvolvimento do senso crítico, a cidadania e a autonomia para a construção e o desempenho de atividades cotidianas dentro e fora da escola.
Como fazer:
Nessa primeira etapa, começamos a estudar o dinheiro – sua história, como surgiu e como é fabricado. Fizemos isso de forma interdisciplinar, trabalhando as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Matemática.
Levei para a sala de aula vídeos sobre a história do dinheiro e como são fabricadas as cédulas na Casa da Moeda. Essa parte introdutória do projeto foi de suma importância, pois gerou o interesse das crianças pelo mundo dos números e, consequentemente, pelo cálculo.
Continuando com os conteúdos de História, apresentei um livro com as moedas do Brasil até os dias atuais.
Solicitei aos alunos que trouxessem de casa moedas ou cédulas antigas para que pudéssemos identificar quais eram as mais antigas e comparar com as moedas e cédulas que circulam hoje.
Para que todos se empenhassem na tarefa, resolvi dar uma pequena premiação a quem trouxesse a moeda ou a cédula mais antiga. Essa atividade proporcionou às crianças conhecerem e manipularem verdadeiras relíquias históricas do Brasil.
Após trabalharmos as moedas nacionais, foi hora de conhecermos as moedas e cédulas de outros países. As crianças ficaram encantadas com a quantidade diversificada de dinheiro existente no mundo.
Posteriormente, pedi a elas que descrevessem as cédulas de que mais tinham gostado. Comparamos as cores, os desenhos, os nomes. Sugeri que desenhassem uma nova cédula, com um novo nome, usando um novo animal da nossa fauna e um rosto de alguém que considerassem importante para o país.
Essa atividade se tornou uma das mais interessantes. Nela, pude observar o conhecimento das crianças sobre Ciências (animais de nossa fauna), História (personalidades importantes do Brasil) e Artes (desenho e criatividade).
O estudo do dinheiro despertou ainda mais o interesse dos alunos pelo mundo dos números. Para sustentar esse interesse ao longo do projeto, propus a criação de um dinheiro que eles utilizassem para pequenas compras dentro da classe. Para tanto, seriam "comercializados" alguns produtos doados por mim.
Antes disso, tínhamos de dar um nome à nossa moeda. Fizemos uma pequena eleição, e o nome mais votado foi o quants.
Para que os alunos recebessem o quants, foi planejada a criação de um banco que funcionaria dentro de nossa turma.
Como eu precisaria de ajudantes para lidar com o pagamento e mais da metade da turma se candidatou para o trabalho, veio a ideia de um processo seletivo, uma espécie de concurso público para que selecionássemos os "funcionários" do banco.
Tendo em vista que concursos públicos são realizados por meio de provas, aproveitei para realizar mais um teste diagnóstico, a fim de saber como a turma estava caminhando.
Por meio dele, selecionei os seis alunos que demonstraram ter melhor domínio sobre cálculos para me ajudar no Banco Quants.
No decorrer do ano letivo, reconfigurei o projeto, expandindo-o para outras turmas da escola. Em vez de receber o dinheirinho em troca das presenças, os alunos precisariam trabalhar para consegui-lo.
Foi, então, que surgiu a ideia da "Feirinha Cidadã", uma espécie de comércio beneficente em que as crianças precisariam arrecadar doações para colocá-las à venda na escola, dando oportunidade à prática cidadã e à solidariedade, ampliando os conhecimentos dos alunos sobre empreendedorismo.
Após as noções de como trabalhar com dinheiro, iniciamos a etapa seguinte, que consistiu no planejamento da feirinha.
As crianças fizeram campanha em casa e na escola para arrecadar doações de artigos usados, como brinquedos, roupas e sapatos, que seriam colocados à venda na feirinha. Com as doações chegando, as equipes foram orientadas a selecioná-las, fazer uma lista dos produtos e atribuir a eles um "valor de mercado" para a venda.
Deixei que fizessem da forma que achassem melhor. Contudo, notei que algumas equipes colocavam preços muito altos, enquanto outras, preços muito baixos.
Tive de intervir e orientá-las quanto ao retorno dos investimentos. Caso seus preços fossem muito baixos, teriam prejuízo. Se estivessem muito altos, correriam o risco de não vender.
Ao longo do planejamento da feirinha, as equipes propuseram que fizéssemos também promoções.
Como havia seis equipes, cada uma delas foi orientada a criar uma lojinha que funcionaria na "Feirinha Cidadã".
Para isso, os comércios precisariam de nomes de identificação. Cada um deles recebeu uma espécie de empréstimo/financiamento para que começasse suas atividades.
A quantia emprestada foi de 300 quants por equipe. Com esse valor, seria possível alugar espaços na escola, alugar mesas para expor produtos e investir em mercadorias.
Cada lugar na escola foi identificado como um ponto de aluguel. O valor atribuído aos negócios teve relação com seu tamanho e sua localização.
Dessa forma, as equipes poderiam escolher o melhor lugar de acordo com suas necessidades. Ao final da feirinha, o valor emprestado precisaria ser devolvido. Dessa forma, as equipes teriam de aprender a se planejar.
Os grupos foram orientados a criar placas de identificação para suas lojas. Disponibilizei uma aula para a confecção do que seriam as fachadas de suas lojinhas. O trabalho em equipe me ajudou bastante, por conta da diversidade de conhecimentos existente na turma. As equipes trocaram experiências, conversaram e, acima de tudo, foram respeitosas em relação aos colegas.
Com as lojinhas já identificadas, promovi uma espécie de comércio varejista dentro da nossa turma. Como eu também havia arrecadado algumas doações, resolvi colocá-las à venda para as crianças.
Da mesma forma, pedi a cada equipe que colocasse seus itens à venda. O que eu não havia previsto é que a minha oferta seria menor do que a demanda. Isso gerou confusão, pois havia vários compradores para o mesmo produto.
Assim, o que era para ser um comércio varejista acabou se tornando um leilão. Levava o produto a equipe que pagasse o melhor preço.
Resolvido esse imprevisto, começou a comercialização interna das lojas. As equipes poderiam comprar, trocar e negociar seus produtos com os de outras equipes.
As crianças podiam conversar entre si, trocar e comercializar mercadorias, praticar a solidariedade, doando mercadorias para os colegas com poucas doações. Terminado o comércio interno, foi hora de organizar os produtos, colocá-los em caixas, identificá-los e guardá-los para o dia seguinte, quando seria realizada a feirinha.
As equipes começaram a montar suas lojinhas antes mesmo de eu chegar na escola. Observar as vendas foi uma experiência educacional indescritível.
Na última etapa do trabalho, as equipes precisaram se juntar para calcular quanto tinham vendido, quanto estavam devendo para o banco e qual havia sido o lucro, que seria dividido entre elas.
Feito isso, cada aluno escreveu uma espécie de relatório individual, destacando os pontos positivos e negativos da feirinha.
Logo após, as equipes elaboraram um relatório de vendas, também destacando o que havia dado certo e o que havia dado errado.
Saiba mais
Usar o dinheirinho nas aulas me possibilitou observar e avaliar a habilidade dos alunos na realização de cálculos com autonomia. Isso possibilitou uma aprendizagem mais significativa e efetiva do ponto de vista social e financeiro, aproximando os conteúdos da sala de aula da realidade vivida pelas crianças.
Para delimitar o campo de aplicação do projeto, escolhi trabalhar com os números (1a unidade temática da Base Nacional Comum Curricular de Matemática do 5º ano).
Usei o dinheirinho de brinquedo como base, o que possibilitou ver a presença da matemática no cotidiano dos alunos, por meio de situações reais.
Trabalhamos, por exemplo, a habilidade de associar as representações 10%, 25%, 50%, 75% e 100%, respectivamente, à décima parte, à quarta parte, à metade, a três quartos e a um inteiro, no cálculo de porcentagens. Utilizamos, para isso, estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira, entre outros. Também resolvemos e elaboramos problemas de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais e com números racionais, cuja representação decimal seja finita, utilizando estratégias como o cálculo por estimativa, o cálculo mental e algoritmos.