"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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Acácia Branca: vegetal capaz de tratar a água no meio rural

Competência 2 | Competência 3
Área(s): Ciências da Natureza.

Esta prática teve como objetivo conscientizar os alunos sobre a questão de disponibilidade de água e seu uso, pois é preocupante a contaminação deste recurso tão vital para o ser humano. Além disso, procurou-se uma forma de tratar a água de forma biodegradável sem agredir o meio ambiente e sem fazer mal à saúde.

Quando: Sem período específico.
Materiais:
  • recipientes existentes no laboratório;
  • aparelhos como projetor de imagens, TVs, microscópios e computadores;
  • lousas;
  • livros, revistas e artigos científicos;
  • peneira;
  • panos;
  • sementes;
  • copos;
  • colheres;
  • confecção de cartazes;
  • vasilhames com água escura e água limpa.
Competências específicas:
CNT- Competência 2; Competência 3
Habilidades trabalhadas: EM13CNT206; EM13CNT301; EM13CNT302; EM13CNT303; EM13CNT307; EM13CNT310;
Escola: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Gertrudes Leite, Desterro (PB).
Professor(a) responsável: José Hélio Pereira.

O que é:

O projeto teve origem na preocupação da comunidade escolar em relação à qualidade e ao aspecto da água (de cor escura) retirada pela população de um açude localizado na zona rural do município.

Diante dessa inquietação, resolvi pôr em prática uma abordagem criativa para aguçar a curiosidade intelectual dos estudantes e conectar os estudos da sala de aula à realidade.

Isso provocou neles interesse imediato em discutir o tratamento convencional pelo qual a água passa antes de ser consumida pelo ser humano. Todos foram incentivados a pesquisar fontes sobre o assunto para que, então, desenvolvessem uma atividade prática.

O objetivo era identificar uma forma natural e sustentável de tratar aquela água, sem provocar interferência na saúde e sem agredir o meio ambiente.

Resolvemos procurar soluções de tratamento simplificado de água, diferentes do processo habitual, que tem como passos a capitação, a coagulação, a decantação, filtração, a cloração e a fluoretação, e que faz uso de produtos químicos como sulfato de alumínio, cloro granulado e cloro gasoso.

Resolvemos também pesquisar na internet formas naturais para tratar a água, decantando o barro e eliminando bactérias. Em nossa pesquisa, descobrimos a semente de um vegetal conhecido na região pelo nome de acácia-branca (nome científico de Moringa oleifera).

A acácia-branca tem substâncias naturais que podem deixar a água limpa e pura para beber. Era uma alternativa ideal para as pessoas da zona rural que não tinham acesso à água tratada pelo sistema convencional.

Fizemos diversas atividades e experimentos. No âmbito escolar, o resultado foi melhoria no rendimento escolar, desenvolvimento do gosto pela leitura, interação e maior participação em trabalhos coletivos.

O trabalho gerou ainda conhecimentos sobre a importância da valorização dos recursos naturais.

Ao final do ano, boa parte da turma passou a pedir mais projetos de Ciências, pois queriam prosseguir nesse tipo de atividade, utilizando estratégias de investigação.

Recomendo muito a outros professores este tipo de experiência. Senti que os estudantes passaram a gostar de ler e de pesquisar.

Como fazer:

Eram alunos que tinham um bom potencial para o uso das tecnologias e que gostavam de pesquisar e atuar em grupos de estudo. Mas não tinham o hábito de ler, eram desmotivados. Em função disso, fiz novos ajustes no planejamento para envolvê-los em tarefas com o enfoque de entendimento através de leituras.

O diagnóstico foi realizado em duas aulas e serviu como base para a reflexão e a elaboração de atividades. A avaliação foi registrada num livro, com a assinatura de todos os presentes.

A investigação se deu por meio de um questionário com dez perguntas (objetivas e subjetivas) destinado aos alunos da 2ª série do Ensino Médio. O objetivo foi analisar as percepções e concepções práticas referentes aos conceitos e às propostas do tratamento da água, bem como analisar as práticas dessa atividade. Participaram do projeto 49 estudantes.

As respostas trouxeram questionamentos suficientes para que fossem definidos os objetivos e as metodologias. Percebendo a preocupação da comunidade e os comentários dos alunos na sala de aula sobre a problemática do processo de purificação da água de forma natural, decidimos fazer uma pesquisa bibliográfica para tentar o clareamento da água de beber e a eliminação das possíveis bactérias, tudo sem o uso de produtos químicos.

Numa reunião com a turma, elegemos que o tema do projeto seria "Acácia-Branca: vegetal capaz de tratar a água no meio rural". Estabelecemos também etapas de trabalho.

Apliquei um questionário para saber se os alunos conheciam alguma forma de tratamento da água. Ao final, percebi que a maioria não sabia sequer qual era o tratamento convencional com produtos químicos.

Na internet, pesquisamos as primeiras formas de tratamento da água na história humana e as formas biodegradáveis para o tratamento simplificado.

Eu já conhecia a importância da Moringa oleifera como um vegetal que poderia solucionar o problema, mas deixei que a turma fosse atrás de uma resposta. Tínhamos esse vegetal na escola, mas os alunos ainda não sabiam da sua importância.

Os jovens se dividiram em grupos de pesquisa. Nos finais de semana, eles se juntavam, formando textos e tirando dúvidas sobre o que havia sido pesquisado. Ao final, perceberam que a Moringa oleifera também tinha nutrientes importantes para humanos e animais.

Naquele momento de pesquisa, os alunos usaram os próprios celulares para verem vídeos no YouTube, artigos científicos e documentários de revistas e de canais de televisão. Leram ainda alguns depoimentos de autores de livros.

Tivemos também a contribuição do professor de Química, na análise de substâncias, e do professor de Geografia, que falou sobre como desenvolver um viveiro na escola para a distribuição às famílias de mudas do vegetal.

Os conteúdos do projeto foram vistos por etapas, de acordo com o momento no bimestre. Após conhecermos o vegetal, fizemos um estudo de suas potencialidades. Realizamos também experimentos no laboratório de Ciências, utilizando o extrato da semente da Moringa oleifera para o tratamento simplificado de água.

As sementes foram fragmentadas para que virassem um pó. O material foi adicionado a um pouco de água, que assumiu um aspecto leitoso. Coamos o líquido com um pano para que fossem retiradas as partes maiores.

Já com o líquido da acácia-branca pronto, adicionamos o composto à água turva. Cerca de 20 minutos depois, o resultado: a água já podia ser consumida.

No processo, utilizamos duas sementes, que foram suficientes para o tratamento de dois litros de água turva.

Outro resultado importante do projeto diz respeito à interação entre os alunos. O trabalho em equipe fez com que estudantes mais tímidos também se desenvolvessem, aprendendo a lidar com o próximo e perdendo o medo de falar para a própria turma na hora das apresentações. Para os alunos que não sabiam usar a internet para fazer pesquisas, criamos um grupo de monitores.

Os jovens participaram de forma efetiva no projeto, atuando coletivamente nos grupos de estudos. Houve ainda parceria com alunos de outras turmas (na confecção de cartazes), com colegas professores (nas sugestões de ideias) e com funcionários da escola (na limpeza e organização do ambiente das pesquisas e nas apresentações das atividades).

Os pais também tiveram papel significado, ao permitirem que os filhos participassem de aulas de campo em comunidades vizinhas e que ficassem na escola em horário oposto ao turno das aulas.

Os pais se mostraram sempre satisfeitos com a participação dos filhos no projeto. Segundo vários deles, o interesse pelas atividades escolares aumentou significativamente.

A comunidade escolar também foi muito participativa – nos eventos, nas reuniões, no planejamento e nas apresentações dos resultados.

A informação de que projeto seria avaliado para concorrer num prêmio gerou uma expectativa de esperança, de mudanças nas aprendizagens e de dias melhores para a escola e para a comunidade.

O alunos foram avaliados de forma contínua, sempre levando em consideração as dificuldades de leitura naquela faixa etária, a sequência e assimilação dos conteúdos, os questionamentos e as dúvidas apresentadas, a realização das tarefas extraclasse, o rendimento escolar, o gosto pela leitura, a apresentação dos trabalhos, a produção de textos, o envolvimento dos pais e a interação nos trabalhos coletivos.

Posso dizer que os objetivos desejados foram alcançados da melhor maneira possível. O que os alunos jamais esquecerão é que a semente da Moringa oleifera apresenta um potencial ativo capaz de fazer um tratamento alternativo e natural, como a decantação e eliminação de possíveis bactérias contidas na água.

Os estudantes viram que, mesmo diante de toda industrialização e tecnologia, a natureza pode oferecer, sem gastos, uma alternativa para resolver um problema sério – o da poluição da água, beneficiando, assim, as famílias e a comunidade. Neste projeto, contamos com a ajuda de funcionários da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba da cidade (CAGEPA), que forneceram informações sobre os processos de tratamento durante a visita que fizemos a uma estação.

A Prefeitura, por sua vez, forneceu o ônibus para que os alunos visitassem os locais de pesquisa e participassem das aulas de campo. A Secretaria de Educação, em particular, abriu aos alunos o acesso à Biblioteca Municipal e aos computadores da rede de ensino.

Muitas foram as razões que levaram ao alcance dos objetivos. Dentre elas, o uso das redes sociais e do WhatsApp, que possibilitou a troca experiências, a organização de combinados e a marcação de encontros.

Os alunos aprenderam que é pesquisando que se aprende. A prática pedagógica trouxe meios e desafios diários, estimulando a vontade de realizar novas tarefas, em casa ou na escola.

Aprendi com este projeto que, para termos bons resultados, precisamos criar estratégias, planejar, comparar, pesquisar muito, ler e fazer bons entendimentos. Precisamos também envolver os alunos com a situação-problema, deixando-os correr atrás dos resultados.