"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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Ler Liberta: arrecadação de livros literários para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal

Competência 1 | Competência 2 | Competência 3 | Competência 6
Área(s): Linguagens.

O objetivo desta prática foi arrecadar livros literários para dar continuidade aos projetos de leitura realizados com estudantes e não estudantes e internas da Penitenciária Feminina do Distrito Federal.

Quando:

Em qualquer momento do ano letivo.

Materiais:
  • recipientes para pontos de coleta de livros;
  • banners;
  • livros.
Competências específicas:

LGG – Competência 1; Competência 2; Competência 3; Competência 6

Habilidades trabalhadas:

EM13LGG601; EM13LGG602; EM13LP47; EM13LP51; EM13LP52

Professor(a) responsável:

Gislene Silva Fernandes Teixeira.

Escola:

Centro Educacional 01 de Brasília, Núcleo Rural (DF).

O que é:

A leitura possibilita às pessoas compreenderem os fatos, a história e a vida, tendo, portanto, papel fundamental na formação dos indivíduos.

No caso específico deste trabalho, a leitura ajudou na preparação das internas da Penitenciária Feminina do Distrito Federal para a volta ao convívio social.

Mesmo privadas da liberdade, as internas podiam pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos e descobrir novos conceitos e novas ideias que fizessem a diferença no trajeto de superação rumo à socialização.

O projeto “Ler Liberta: arrecadação de livros para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal” buscou coletar livros de literatura (brasileira e mundial) para uso pelas internas.

Ele surgiu para contornar a situação de escassez de livros literários na biblioteca do Núcleo de Ensino da Penitenciária. Como resultado, o acervo aumentou, bem como cresceram os empréstimos de livros, passando de 20 para 500 exemplares por mês.

A participação das internas foi espontânea. Houve um natural aumento da sociabilidade, do gosto pelos livros, da concentração nos estudos e da participação em outras atividades desenvolvidas na Penitenciária.

A necessidade de realizar uma campanha de arrecadação de livros surgiu após as internas terem participado de rodas de leitura, de discussões e de terem ouvido depoimentos sobre a importância e os efeitos da leitura sobre os indivíduos, principalmente em pessoas privadas de liberdade.

Porém, a quantidade de livros existentes na biblioteca do Núcleo de Ensino da Penitenciária Feminina do Distrito Federal era insuficiente para desenvolver a rotatividade de livros entre internas, que, estimuladas pelo que tinham ouvido, não queriam mais ficar sem ler.

A cobrança das internas por livros diferentes era muito grande. Como não recebemos verbas suficientes para adquirir novos livros e de maior interesse, planejei uma campanha de arrecadação.

Com isso, não apenas o acervo da biblioteca do Núcleo de ensino cresceria, mas também seria possível a disponibilização de obras literárias para outros blocos do sistema prisional.

Nesse contexto, diversas ações foram planejadas, entre elas:

  • pedir autorização à direção da Penitenciária Feminina do Distrito Federal para a realização e divulgação da campanha de arrecadação de livros;
  • apresentar o projeto da campanha à direção do Centro Educacional 01 de Brasília;
  • buscar parceria com pontos comerciais para facilitar a coleta dos livros em várias cidades-satélites do Distrito Federal;
  • construir o banner de divulgação da campanha com o nome e o endereço do ponto de coleta nas cidades-satélites de Brasília;
  • divulgar a campanha nas redes sociais e em grupos (Facebook, Instagram, WhatsApp etc.);
  • divulgar o projeto em rede de televisão;
  • buscar todos os livros nos pontos de coleta, semanalmente;
  • selecionar os livros;
  • adequar os livros às regras e medidas de segurança definidas pela direção da Penitenciária Feminina do Distrito Federal. Esse processo contou com a ajuda de cinco internas matriculadas no CED 01.

Como fazer:

A primeira atividade foi a realização de um sarau cultural para o Dia das Mães, envolvendo todos os professores e as alunas interessadas.

Cada turma apresentou duas atividades diferentes, como teatro, varal de poesias com dedicação às mães, recitação de poemas, cartas, bilhetes, depoimentos, cartazes ilustrativos e biografia de alguns autores.

Todo o trabalho foi desenvolvido no pátio da Penitenciária, com o apoio dos professores.

Logo após a realização do sarau, para despertar o interesse pela leitura, desenvolvi um miniprojeto, oferecendo um kit de produtos de higiene pessoal à aluna que mais livros literários tivesse lido num semestre. O compromisso era que, a cada livro lido, ela entregasse um resumo da história.

Finalizei o projeto num ano letivo. O interesse em continuar lendo foi só aumentando, mesmo sem qualquer premiação.

Para incentivar o uso da biblioteca e executar atividades pedagógicas, como as rodas de leitura, a campanha "Leitora do Mês" e outras ações, listei os livros de interesse.

Num contexto de maior diversidade literária, avançamos no projeto, com a realização de novas atividades.

Foram elas:

  • sensibilização das alunas sobre a importância da preservação dos livros didáticos;
  • incentivo do uso da biblioteca;
  • disponibilização e preparação de espaços para leitura nos blocos;
  • promoção de grupos de leitura;
  • promoção de campanhas "Leitora do Mês";
  • criação do "Passaporte da Leitura";
  • realização do sarau cultural e poético;
  • oferta de música e leitura;
  • escolha de "Livros 5 Estrelas";
  • confecção de cartas e bilhetes;
  • realização de concurso de redação com tema específico.

Mesmo antes da campanha de arrecadação de livros, as internas matriculadas e as que trabalhavam nas oficinas próximas do Núcleo de ensino já me pediam livros para levarem às celas.

Foi valioso chegar ao fim do turno e ver todas as internas do setor com um ou dois livros em mãos para serem lidos nas celas após as aulas ou o trabalho.

A campanha inspirou o planejamento de novas ações, como a ampliação do acervo da biblioteca do Núcleo de Ensino e a montagem de uma minibiblioteca, em cada bloco, com livros literários apropriados à mudança de pensamento e atitude.

Os livros recebidos na campanha e que não estavam de acordo com as normas de segurança da direção do presídio foram adaptados pelas alunas. Os livros jurídicos desatualizados foram reciclados. Livros com apologia ao sexo e ao crime, por exemplo, foram descartados.

O planejamento e a campanha de arrecadação de livros aconteceram entre outubro de 2017 e maio de 2018. As internas estudantes e não estudantes, por medida de segurança, não participaram da arrecadação de livros. Porém, tudo aconteceu devido à interação e à aceitação das atividades.

No decorrer do projeto, cada interna foi avaliada pela escolha e pela quantidade de livros lidos mensalmente, tendo sempre, como referência, a meta de transformação da vida pela leitura.

Sobre isso, uma das internas apresentou um depoimento muito importante:

Nos momentos mais difíceis da minha vida, quando eu estava sofrendo muito, eu me deparei com a literatura, na qual eu comecei a observar que ela poderia mudar a minha forma de pensar, minha forma de viver”.

Outra colega buscou inspiração na biografia de Machado de Assis e de Eça de Queiroz, para escrever uma nova história de vida:

Todo esse sofrimento que a gente vem passando no presídio, a melhor coisa que a gente tem que fazer é adquirir o gosto pela leitura, aprender a se comunicar com as pessoas, adquirir o gosto pelo trabalho e vencer na vida da mesma forma que Machado de Assis venceu”.

A ideia é que o contato com a literatura chegue para mais internas de outros blocos e melhore a disciplina no presídio, como melhorou para as que já participaram.

O desejo mais amplo é que essa relação com os livros ultrapasse as portas do presídio e mostre, também para as famílias e para a sociedade, que as internas têm condições de serem reinseridas e de mudarem sua realidade de sua vida.

Com o projeto, os sonhos vão se tornando realidade. “Pretendo retornar à sociedade e, mais para a frente, quem sabe, fazer uma faculdade”, disse uma interna.

Eu gosto deste projeto, porque ele nos proporciona aprender cada vez mais. A cada dia lendo o livro, eu aprendo e fico com mais vontade de me aprofundar nos assuntos”, disse outra interna.

A leitura dá liberdade para a mente, além de ser um momento de aprendizado. A leitura transforma a vida das pessoas, melhorando os níveis de alfabetização, de criticidade, ressignificando a própria vida.

Após a campanha, com a diversidade de obras literárias disponíveis na biblioteca, o interesse pela leitura aumentou 100%.

No total, foram comprados mais de 10 mil livros literários para atender à ampliação da biblioteca existente e a construção de bibliotecas em outros blocos do Presídio.

O desafio ainda continua. Após a montagem dos novos espaços de leitura em outros blocos, será preciso iniciar o resgate de novas internas ao projeto de leitura.