"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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A pesquisa científica em sala de aula como prática de aprendizagem, inovação e transformação social

Competência 1 | Competência 3
Área(s): Ciências Humanas e Sociais; Ciências da Natureza.

Estimular o desenvolvimento de projetos de pesquisa por alunos do 3ª série do Ensino Médio.

Quando:
Ao longo do ano letivo.

Materiais:
  • materiais de uso comum do aluno (caderno, caneta, etc.);
  • conexão com a Internet para viabilizar pesquisas on-line;
  • home office para a produção dos textos finais e apresentações.
Competências específicas:
CHS – Competência 1
CNT – Competência 3

Habilidades trabalhadas:
EM13CNT301; EM13CNT302; EM13CNT303; EM13CHS103;
Professor(a) responsável:
Leandro Silva Costa.

Escola:
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Ceará-Mirim (RN).

O que é:

A demanda por práticas pedagógicas que estimulem o aprendizado dos estudantes vem ganhando a atenção de pesquisadores nos últimos anos. Dentre elas, destacam-se o uso do método científico e a elaboração de pesquisa científica em sala de aula. Essas atividades proporcionam aos alunos a aquisição de novos conhecimentos, que passam a pensar de maneira lógica sobre os fatos cotidianos e a resolução de problemas práticos.

Esta experiência teve como intuito avaliar as melhores condições de inserir a prática da pesquisa no currículo anual da disciplina de Biologia e as suas contribuições ao processo de ensino-aprendizagem.

O público-alvo foram 52 alunos de duas turmas do 3º ano do curso integrado de Informática que estavam cursando a disciplina Biologia I. A maioria das atividades foi realizada em sala de aula, em horários antes destinados à abordagem de outros conteúdos.

Foram necessárias 12 horas de aulas para explanações teóricas, oficinas, encontros e reuniões de orientação, em etapas colocadas em práticas ao longo do ano letivo.

Treze projetos abordando problemáticas locais relacionadas a conteúdos da Biologia foram criados e desenvolvidos pelos alunos. Os resultados mostraram uma série de benefícios ao processo de ensino-aprendizagem, como valorização da experiência cotidiana dos alunos, estímulo à leitura, análise e interpretação de textos e letramento científico, além de desenvolvimento de competências de investigação e compreensão.

Vale destaque para as premiações recebidas por alunos em eventos científicos de abrangência nacional e a apresentação dos resultados de um dos projetos numa mostra de projetos realizada em Hong Kong.

Como fazer:

O projeto foi desenvolvido durante todo o ano letivo, suas etapas e metas divididas por bimestre:

  • "Definição do Problema Científico pelos Alunos" (1º bimestre);
  • "Elaboração e Apresentação do Projeto Científico" (2º bimestre);
  • "Experimentação, Coleta e Análise de Dados (3º bimestre);
  • "Elaboração do Relatório Final do Projeto" (4º bimestre).

O projeto buscou inserir a pesquisa científica no currículo da disciplina Biologia I, evitando que o tema fosse abordado em apenas parte do conteúdo. Somente assim seria possível aos alunos compreenderem, de forma mais aprofundada, a importância do método científico e seu papel na aquisição de um comportamento crítico e reflexivo.

Desde os primeiros encontros, os alunos foram estimulados a observar de forma mais crítica os problemas ambientais. Percebeu-se a vantagem de inserir a prática da pesquisa em sala de aula, numa valorização da experiência cotidiana dos alunos.

Os três primeiros encontros foram utilizados para introduzir conceitos de ciências, tecnologia, metodologia científica e métodos de pesquisa, além de ajudar os alunos na definição dos problemas científicos que eles trabalhariam ao longo do ano.

Para minimizar as dificuldades no levantamento e na definição dos problemas, foi construída a ferramenta de apoio “Oficina de Pesquisa Científica no Ensino Básico”, adaptada da obra "Metodologia Científica ao Alcance de Todos", da professora Celicina Azevedo, transformada para uma fácil aplicação nas aulas com os alunos e replicada em outras escolas públicas.

Nessas etapas, muitos questionamentos foram levantados, mostrando que os alunos se interessaram pela metodologia. Como consequência, surgiram 14 projetos. Foram eles:

  • "Educoambiental: construção e uso de um aplicativo Android na reeducação ambiental" (dois alunos);
  • "Análise dos Parâmetros Fisicoquímicos e Biológicos dos Recursos Hídricos Armazenados nas Cisternas dos Municípios Localizados na Região do Mato Grande" (quatro alunos);
  • "AgroVerdes" (cinco alunos);
  • "Eletropan: desenvolvimento de aplicativo para conscientização e coleta de lixo eletrônico em Ceará-Mirim" (três alunos);
  • "Web Saúde: uma conexão informativa" (quatro alunos);
  • "Conscientização sobre o Descarte do Lixo Através da Robótica" (cinco alunos);
  • "Saneamento Básico na Cidade de Ceará-Mirim" (quatro alunos);
  • "Website para o Parque Municipal Boca da Mata: tecnologia a favor da preservação" (dois alunos);
  • "Desenvolvimento de Aplicativo Android para Auxílio de Oficinas de Metodologia Científica em Escolas Públicas de Ceará-Mirim" (três alunos);
  • "Saúde Dinâmica" (três alunos);
  • "Casa Ideal (três alunos);
  • "Velho Amigo" (três alunos);
  • "Medidor Digital" (cinco alunos);
  • "De que Maneira Podemos Implantar a Reeducação Ambiental numa Geração Tecnológica?" (seis alunos).

Concluídas as etapas de definição do problema científico, deu-se início à elaboração do projeto. Com base nas observações e no desempenho dos alunos durante os encontros de orientação, percebeu-se uma grande dificuldade da maioria com a escrita, o que, de certo modo, já era esperado.

As escolas municipais de Ceará-Mirim, apesar da constante evolução observada nos últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ainda estão aquém das metas nacionais almejadas e também abaixo da média para as escolas do Rio Grande do Norte, mostrando uma formação insuficiente de seus alunos.

A solução para resolver ou, pelo menos, amenizar essas dificuldades foi o estímulo à busca por referenciais teóricos relacionados aos projetos, o que se mostrou relativamente eficiente.

Particularmente apoiado nos temas e objetivos de cada projeto, busquei artigos científicos e os compartilhei com os grupos de alunos antes das reuniões de orientação.

Além disso, foram apresentadas aos jovens plataformas especializadas e de fácil acesso para a busca de textos científicos, como o Google Scholar. Essa solução se mostrou, na medida do possível, bastante eficiente. Os alunos que responderam ao questionário de avaliação declararam ter lido inúmeros artigos relacionados aos seus problemas de pesquisa.

A etapa seguinte, de experimentação e coleta de dados, ficou marcada pelo notável envolvimento da maioria dos estudantes.

Houve participação efetiva de grande parte dos componentes dos grupos visando alcançar as metas propostas nas pesquisas iniciais. Além disso, em alguns projetos, ocorreu um esforço adicional que os alunos respondessem às propostas apresentadas pelo professor no início do ano letivo.

Duas dessas metas ganharam destaque. Foram elas: 

  • preenchimento do diário de bordo, com o registro detalhado de datas e locais de todos os fatos, passos, investigações, descobertas, entrevistas e observações, bem como as reflexões surgidas durante toda a pesquisa;
  • envolvimento de outras disciplinas e professores no projeto. Como resultado, quatro docentes se engajaram como orientadores ou coorientadores: dois de Informática, um de Química e um de Sociologia.

As etapas seguintes, de análises dos dados e de elaboração do relatório final, foram particularmente mais simples, provavelmente porque os estudantes já estavam familiarizados com a metodologia e já observavam alguns resultados para os seus questionamentos do início do ano letivo.

Mais uma vez, destacamos os benefícios da prática, como a capacidade para desenvolver o raciocínio e aprender, interpretar e criticar resultados a partir de experimentos e demonstrações e entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências. Todas essas habilidades são sugeridas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), dentro da competência de Investigação e Compreensão.

De todos os projetos desenvolvidos, apenas dois não alcançaram nenhuma das metas propostas, sendo necessárias intervenções e modificações dos objetivos.

Um deles foi projeto "De que Maneira Podemos Implantar a Reeducação Ambiental numa Geração Tecnológica?", que tinha como objetivo incentivar crianças e jovens à preservação ambiental por meio de um jogo digital. Por falta de comprometimento de parte dos alunos do grupo, ele não foi finalizado. Alguns membros foram remanejados para outros grupos, enquanto outros tiveram de desenvolver novas atividades para a composição de suas notas.

Em quatro projetos não se conseguiu alcançar a totalidade das metas, especialmente a de aplicação das propostas de intervenção nas comunidades e nos públicos pesquisados. Entretanto, vale dizer que as pesquisas iniciais que comprovaram cientificamente o problema levantado nos projetos foram concluídas.

É de se destacar também que, em sete projetos, todos os objetivos foram concluídos. Mais do que isso, o envolvimento dos alunos em alguns deles ultrapassou os limites da sala de aula, com dedicação integral, no contraturno das aulas, à resolução dos questionamentos levantados.

Como resultado, alguns projetos foram inscritos em eventos científicos, com produção de textos aprovados por seus pares acadêmicos, premiações e reconhecimento de sua importância pela comunidade escolar. 

Saiba mais

Sugestão de questionário para avaliação do projeto pelos alunos.

A metodologia de pesquisa pode ser utilizada por disciplinas como Física, Química e Biologia, dentre outras. A prática aqui descrita, levada a cabo na disciplina de Biologia, pode facilmente ser adaptada.


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