"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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As violências do cotidiano: uma abordagem criativa dos estudantes sobre este problema social

Competência 1 | Competência 4 | Competência 5 | Competência 6
Área(s): Linguagens; Ciências Humanas e Sociais.

O objetivo desta prática foi promover a reflexão e compreensão dos estudantes em relação às diversas representações da violência dentro da sociedade contemporânea, além de estimular a autonomia, a organização e a criatividade para a produção de conteúdos sobre as violências.

Quando: Um semestre.
Materiais:
  • material de uso comum em sala de aula;
  • materiais diversos para as apresentações (depende do tipo de apresentação);
  • sala de informática com acesso à internet (desejável).
Competências específicas:
LGG – Competência 6
CHS – Competência 1; Competência 4; Competência 5; Competência 6
Habilidades trabalhadas: EM13CHS101; EM13CHS104; EM13CHS403; EM13CHS501; EM13CHS502; EM13CHS503; EM13CHS504; EM13CHS605; EM13LGG603; EM13CHS101; EM13CHS104; EM13CHS403; EM13CHS501; EM13CHS502; EM13CHS503; EM13CHS504; EM13CHS605; EM13LGG603
Escola: Escola de Educação Básica Bom Pastor, Chapecó (SC).
Professor(a) responsável: Maico Junior Magri.

O que é:

O presente relato descreve o projeto sobre violência do cotidiano desenvolvido com os estudantes da 1ª série do Ensino Médio da Escola de Educação Básica Bom Pastor no primeiro semestre do ano de 2017.

Os estudantes sentiam a necessidade de debater sobre as diversas causas e consequências das violências, presentes tanto no ambiente escolar quanto nos demais espaços e contextos da sociedade. Após este diagnóstico prévio, decidi incluir no planejamento bimestral uma metodologia de ensino que pudesse estimular tal debate.

A metodologia se tornou um projeto. Além de favorecer a discussão teórica sobre os diversos tipos de violências, o projeto estimulou a autonomia dos jovens, que puderam expor seus aprendizados de maneira crítica e criativa (por meio de palestras, apresentações teatrais, seminários, vídeos, jornais, entrevistas, poesias etc.).

Como avaliar esse conhecimento? Para tanto, foi executado um novo método avaliativo qualitativo e progressivo, embasado nas rubricas de avaliação do projeto Ayrton Senna, que acompanhou o desenvolvimento das atividades ao longo do período.

Segundo esse modelo de rubricas, o principal objetivo é desconstruir, nos estudantes, a visão tradicional de avaliação das tarefas, quantificada apenas pela nota. Dessa forma, para além do olhar do docente, o aluno também faz a autoavaliação, discutindo sobre sua evolução científica e humana.

A experiência trouxe resultados significativos quanto à integração, à reflexão e à produção de conteúdos criativos dos estudantes, estimulando novos olhares sobre o problema da violência.

Como fazer:

Um dos problemas para a discussão de conteúdos na Sociologia é desconstruir a visão dos estudantes pautada em "achismos".

Em qualquer debate, é necessária uma base de conhecimento que fundamente os argumentos, para que ele não se torne uma discussão banal, que não contribui de maneira significativa para o processo formativo.

Como a temática possibilita ampla participação, decidi sistematizar os conteúdos sobre alguns tipos específicos de violência, entre eles, violência psicológica (bullying), violência de gênero (homofobia), violência doméstica (agressão contra a mulher, crianças e idosos), racismo institucional e violência e intolerância religiosa.

Como base nesses temas, os estudantes realizaram produções artísticas, teóricas e audiovisuais.

Com a proposta apresentada, o projeto investiu, inicialmente, no embasamento teórico dos conceitos essenciais das violências.

Como atividades, o desenvolvimento do trabalho incluiu as orientações específicas aos grupos, a avaliação do percurso formativo e a socialização das produções criativas.

O suporte pedagógico da escola foi fundamental, facilitando aos alunos o uso da biblioteca e dos laboratórios de informática para pesquisas, entrevistas e ensaios para apresentações.

O trabalho de produção criativa foi desenvolvido com cinco turmas da 1ª série. Cada uma tinha entre 25 e 30 estudantes. Quase todos os jovens eram da "Classe Média", ou seja, jovens com conhecimentos e saberes bem consolidados, questionadores e engajados na realização das atividades propostas pelas disciplinas.

A primeira ação foi mostrar aos alunos a estruturação do projeto e buscar sugestões de aprimoramento.

Uma aula foi dedicada a essa prática e também à discussão sobre as seguintes dúvidas:

"Por que estudar as violências?"

"O que estudar sobre as violências?"

"Como estudar as violências?"

Na aula, apresentei a metodologia da atividade, o cronograma e a avaliação. Como a avaliação seria baseada num método novo, para a maioria dos alunos foi necessária uma ampla explicação sobre a mecânica do trabalho.

Após essa contextualização, eles foram divididos em grupos com até sete integrantes cada. Na sequência, foram sorteados os cinco temas.

Dentro da temática sorteada, cada grupo teve autonomia para produzir e apresentar seus conteúdos.

A criatividade seria aferida a partir dos seguintes aspectos: apresentação teatral, poesias, entrevistas, paródias, danças, contação de histórias, músicas, jornal, palestras e seminários.

Os grupos poderiam escolher mais de uma opção criativa para a construção de seu trabalho, como teatro e poesia, paródia e jornal, dança e teatro, seminário e entrevista.

As atividades criativas poderiam ser produzidas na escola e em casa, desde que o cronograma fosse seguido. O resultado do trabalho deveria ser compartilhado entre todos os alunos.

Cada estudante receberia uma síntese dos trabalhos. Esses materiais deveriam trazer dados e informações sobre seus temas e referências de pesquisa.

Segundo o cronograma inicial, o trabalho teria de ocorrer em sete aulas, entre maio e junho.

O roteiro foi o seguinte:

  • apresentação do projeto, descrição das atividades avaliativas e da utilização da rubrica, divisão dos grupos e sorteio dos temas;
  • aula teórica sobre os principais tipos de violência;
  • avaliação qualitativa em grupo, o que estamos produzindo, socialização de ideias e sugestões e autoavaliação nos diários dos estudantes;
  • exposição de vídeos sobre experimentos sociais com as diversas formas de violência e posterior debate;
  • apresentações e entrega das sínteses para a turma;
  • avaliação qualitativa em grupo: o que conseguimos desenvolver em nosso trabalho;
  • autoavaliação nos diários dos estudantes e debate sobre a atividade.

Com o passar do tempo, passei a desenvolver uma nova prática pedagógica – a orientação. Esse expediente foi usado com cada aluno, individualmente, e com os grupos, em nome da mediação visando ao alcance de soluções para conflitos ou dificuldades de pesquisa e organização do trabalho.

Nessa perspectiva, a orientação aproximou o docente dos alunos e os deixou mais seguros para desenvolverem suas atividades, gerando também ciência sobre as cobranças.

Isso também facilitou nas autoavaliações, pois os alunos sabiam que deveriam ser sinceros nas suas exposições.

Percebi, a cada aula, uma evolução gradativa e um entendimento ainda maior dos estudantes em relação à proposta do trabalho.

Após a aula teórica, cada aluno recebeu um material de apoio com os conceitos essenciais sobre os tipos de violências, o que ajudou no esclarecimento de dúvidas, ação complementada com orientações coletivas e individuais.

As apresentações foram realizadas no auditório da escola, dotada de espaço mais amplo e com recursos de som e imagem melhores do que os da sala de aula. Das produções criativas, destacaram-se vídeos, seminários, teatros, jornais e poesias.

A principal dificuldade em relação ao planejamento inicial foi o tempo de execução na comparação com que havia sido previsto no cronograma.

Os grupos que optaram por realizar apresentações teatrais e seminários solicitaram mais tempo para a realização da atividade.

Com isso, o cronograma teve de ser ajustado conforme as necessidades de cada turma, gerando mais segurança aos estudantes.

Os aspectos mais significativos foram os processos de desconstrução dos preconceitos e de "desnaturalização" de alguns tipos de violências.

Após esta atividade e também em seus relatos individuais das autoavaliações, muitos alunos passaram a tratar a temática com mais seriedade.

Os resultados se aproximaram muito dos objetivos propostos, pois a intenção principal na elaboração do projeto era iniciar um movimento de construção de um saber científico e de desconstrução de juízos de valor.

Tal processo trouxe aos estudantes embasamento teórico, conceitual e prático, com sequência ao longo do ano, em conteúdos da disciplina de Sociologia e nas abordagens sobre violências, com destaque para desigualdades sociais (3º bimestre) e cultura (4º bimestre).

A avaliação da atividade foi estruturada da seguinte maneira:

  • produções criativas dos grupos sobre seus temas e sua socialização com a turma;
  • síntese de cada grupo para a turma entregue no dia da apresentação;
  • rubrica 1: avaliações qualitativas da criatividade do grupo (1ª e 2ª etapas);
  • rubrica 2: diário dos estudantes com avaliação qualitativa individual (1ª e 2ª etapas).

Em relação às rubricas, a base desse modelo de avaliação foi sugerida pelo projeto Ayrton Senna, bem como a ideia de avaliar os trabalhos com ênfase no pensamento crítico ou na criatividade.

Entretanto, a elaboração de como seriam os questionários nos modelos de autoavaliação, tanto da rubrica da autoavaliação coletiva quanto da rubrica de autoavaliação individual, foi feita exclusivamente por mim.

Cada rubrica teve duas etapas, com perguntas específicas sobre o estágio de desenvolvimento dos saberes dos estudantes e de suas dificuldades, angústias e ideias. Desta forma, lendo os relatos, eu poderia orientá-los melhor no decorrer da produção.

Saiba mais

Essa atividade pode ser adaptada a outras disciplinas e escolas, dadas a importância e a a emergência da discussão sobre a violência, temática tão ampla e complexa em nossa sociedade.

A elaboração de apresentações, seminários, debates e outras produções dos alunos envolvem uma série de habilidades próprias da produção utilizada e da disciplina.

A existência de recursos de informática na escola é um recurso valioso para uso nas produções.

A avaliação por meio de rubricas é rica em possibilidades, sendo vista como uma metodologia de ensino e não somente como uma forma de avaliar.

Os dois itens a seguir dão subsídios para que o professor compreenda melhor esse tipo de avaliação:

Há também diversas ferramentas de criação de rubricas on-line.

Conheça a seguir algumas produções dos alunos:

- Racismo institucional: Stop motion. Estudantes: Amanda, Gabriela, Laura e Luísa. Turma: 105. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KSAW6pcNKMI&feature=youtu.be. Acesso em 27/05/2018.

- Trabalho sociologia: Diga não ao bullying! Estudantes: Matheus, Eduardo, Lucas e Ruberlei. Turma: 108. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mLZfV1R5Z_s. Acesso em 20/05/2018.

- Racismo institucional. Estudantes: Bernardo, Elias, Henrique, João, Lucas e Mateus. Turma: 107. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bLBVI_T3Z7M&feature=youtu.be. Acesso em 27/05/2018.