"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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Aprendendo empatia e alteridade na fronteira Brasil-Venezuela: uma reflexão sócio-histórica 2007-2017

Competência 2
Área(s): Ciências Humanas e Sociais.

O objetivo desta prática foi promover o desenvolvimento do senso crítico a partir de pautas relacionadas aos problemas sociais no país, em particular na região fronteiriça Brasil-Venezuela.

Quando: Em qualquer momento do ano letivo.
Materiais: Fotografia.
Competências específicas: CHS – Competência 2
Habilidades trabalhadas: EM13CHS201; EM13CHS205; EM13CHS206
Escola: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima, Amajari (RR).
Professor(a) responsável: Joelma Fernandes de Oliveira.

O que é:

Este trabalho relata a experiência resultante de mostra pedagógica desenvolvida na disciplina de Sociologia com alunos da 1ª série do Ensino Médio.

O objetivo foi realizar um trabalho reflexivo sobre um projeto mais amplo, a 6ª Mostra Pedagógica, realizada anualmente no campus da escola.

A atividade foi planejada em 2017 com a temática: “Territorialidade e Interculturalidade na Educação Profissional e Tecnológica”.

Foi um trabalho interdisciplinar, desenvolvido por docentes e alunos e que gerou troca de experiências e apresentação dos resultados à comunidade.

A motivação teve origem na localização do instituto, na região fronteiriça entre o Brasil e a Venezuela. Os alunos brasileiros indígenas e não indígenas são oriundos das comunidades que ficam nas imediações de Amajari.

A escola atende também a alunos venezuelanos indígenas e não indígenas, que migraram para a localidade em busca de um Ensino Médio técnico-profissionalizante. Isso significa dizer que existem na instituição demandas culturais bem distintas.

A partir da mostra, foi possível observar uma mudança dos alunos em sua compreensão sobre a situação dos venezuelanos, que se encontram em vulnerabilidade no Brasil por causa da crise social e política vivida pela Venezuela.

Entre os alunos venezuelanos, também foi identificada uma problematização sobre as condições de vida dos conterrâneos no Brasil.

Como um todo, o trabalho promoveu discussões coletivas, a partir das visitas técnicas realizadas no semestre.

Além disso, no momento da apresentação final da exposição fotográfica exibida na "Mostra Pedagógica", foram geradas muitas reflexões sobre a maneira como a cidade via e recebia esses imigrantes e sobre como aquelas pessoas se sentiam diante da recepção encontrada na cidade brasileira.

Como fazer:

Logo de início, algumas questões foram formuladas sobre as dificuldades impostas pelos aspectos linguístico-culturais, já que é recorrente na cidade o uso do espanhol, do português e da língua indígena ingaricó.

Assim, entre alunos e entre alunos e professores, deveria haver empenho e disposição para que os processos comunicativos se dessem satisfatoriamente entre os envolvidos nas interações cotidianas e na aprendizagem.

Como acontece com toda escola pública brasileira, a nossa se defronta com muitas demandas e poucos recursos, inclusive financeiros.

As necessidades surgidas da falta de instrumentos tecnológicos são supridas, na maioria das vezes, por aqueles que lá trabalham, visando fazer da instituição um ambiente acolhedor, propício ao aprendizado e ao convívio salutar.

Nas atividades relacionadas a este projeto, por exemplo, eu levava materiais, fazia a pesquisa e apresentava vídeos.

Como lidava com jovens, minha preocupação sempre foi desenvolver iniciativas interessantes e que despertassem neles a curiosidade.

Uma turma de adolescentes iniciantes ao Ensino Médio e formada também por alunos venezuelanos, indígenas e não indígenas requeria, portanto, uma temática ampla.

A questão da fronteira pareceu adequada. Na proposição desse tema, houve um trabalho prévio de discussão, uma vez que os alunos chegam à escola com problemas de leitura e na qualidade de suas leituras.

Por conta disso, a professora precisou realizar muitas discussões orais, com leitura direcionada, para que pudesse ser compreendido.

Se os preconceitos e as mazelas da sociedade são refletidos na escola, é possível que o movimento contrário também seja verdadeiro.

Estudar a questão da fronteira foi muito importante para a compreensão do cenário social e econômico do entorno da escola, pois havia uma visão generalizada segundo a qual os venezuelanos eram invasores e culpados pela situação em que a região se encontrava.

Assim, todas as discussões tiveram como finalidade estimular o senso crítico dos alunos, a partir de pautas relacionadas aos problemas sociais do nosso país e, especialmente, os da região fronteiriça Brasil-Venezuela.

Se os preconceitos e as mazelas da sociedade são refletidos na escola, é possível que o movimento contrário também seja verdadeiro, como os saberes promovidos no ambiente escolar chegando à comunidade e multiplicando os agentes sociais capazes de disseminar discursos de tolerância e compreensão.

Todos ganham com isso. De um lado, a escola cumpre a responsabilidade de formar cidadãos responsáveis em relação às problemáticas ao seu redor. De outro, beneficia-se também a sociedade, que se torna menos preconceituosa, com mais empatia e respeito.

Como professora, percebi que muitos alunos estavam apresentando um comportamento preconceituoso e hostil em relação aos venezuelanos.

Propus, então, uma investigação a partir de textos produzidos pelos próprios estudantes. O tema foi “A Realidade da Fronteira que eu Conheço”.

Li os materiais e comentei os conteúdos com a classe. Na sequência, realizamos uma leitura coletiva, na qual cada aluno-autor pôde compartilhar com a turma os seus pontos de vista.

Depois, numa atividade intitulada “Tempestade de Ideias”, os estudantes discutiram aspectos gerais das apresentações, anotando no quadro negro palavras, frases ou trechos de destaque.

Além da reflexão proporcionada, a atividade se converteu num momento de fala e escuta. Todos tiveram de praticar a empatia para que compreendessem o ponto de vista do colega que se expressava.

Um pouco mais tarde, indaguei como se sentiam por estarem diante daquela proposta. Questionei-os, ainda, sobre o que esperavam do desenrolar das atividades.

A proposição consistiu num estudo descritivo (relato de experiência) a partir da execução do macroprojeto "6ª Mostra Pedagógica".

Para atender aos objetivos propostos, foi realizado, inicialmente, um levantamento bibliográfico sobre as questões sócio-históricas da fronteira Brasil-Venezuela nos últimos dez anos.

Na sequência, diversas ações foram realizadas com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos alunos sobre as questões em pauta. Tudo foi planejado para culminar na reflexão profunda sobre a situação dos venezuelanos que estão vivendo de forma marginalizada em nosso país.

As atividades que antecederam à "Mostra Pedagógica" foram as seguintes:

  • estudos teóricos e discussão sobre o que significa uma fronteira geográfica e social;
  • análise do curta-metragem “Fronteira em Combustão”;
  • discussão do texto “Empatia e Inclusão em Regiões de Fronteira”, de autoria da própria professora da disciplina;
  • visita técnica à cidade fronteiriça Pacaraima;
  • produção textual sobre o que foi observado na visita, em relação à situação social de Pacaraima;
  • seleção, impressão e elaboração de painel fotográfico para a "Mostra Pedagógica";
  • produção de cartazes com frases significativas sobre a fronteira;
  • culminância do projeto na "Mostra Pedagógica", com apresentação para toda a comunidade sobre o que havia sido aprendido no decorrer dos estudos.

Numa das visitas do projeto, tivemos contato com o produtor de orgânicos Francisco Canindé, que conversou com a turma sobre sua experiência de vida na Venezuela, nos anos 1980.

Ele contou que, como seu trabalho era muito requisitado no país vizinho, não enfrentou situações de xenofobia, como é o caso dos estrangeiros que vivem hoje em Roraima, que sofrem com explorações de todo o tipo, como baixas remunerações.

Francisco frisou que a situação atual é diferente daquela vivida no passado. Hoje, o número de venezuelanos que entram no Brasil é bem maior do que a quantidade de brasileiros que, naquela época, ultrapassava a fronteira para viver na Venezuela.

Quando chegam ao Brasil, justamente pela crise atual no país vizinho, os imigrantes são vistos como pessoas "ansiosas por renda" e "prontas para qualquer trabalho". Essa condição faz com que muitos sejam explorados.

Outro momento marcante do projeto foi a visita à linha de fronteira. Durante essa atividade, muitos alunos se emocionaram ao ver as condições precárias em que vivem os que lá estão.

A organização dos painéis de fotografias para mostrar a realidade social da fronteira nos últimos dez anos se destacou também como um episódio de relevo no projeto. Foi igualmente importante a apresentação dos estudos na "Mostra Pedagógica".

A realidade observada durante o projeto e registrada pelas fotos é a de um povo que busca por condições para suprir suas necessidades básicas e que vem ao Brasil almejando moradia, alimento, trabalho e saúde.

Buscou-se, com o projeto, dar aos estudantes uma dimensão social das problemáticas nas quais estão inseridos e promover um olhar coletivo, de preocupação com o outro, de humanização das demandas de uma cidade.

Todas as diferentes proposições deram dinâmica e movimento ao tema, complementadas que foram com as atividades extraclasse e as rodas de conversa com pessoas da comunidade.

Na execução do projeto, possibilitei aos próprios alunos venezuelanos que também falassem de seus sentimentos em relação à vivência num ambiente predominantemente povoado por brasileiros e de como se sentiam diante de piadas e comentários negativos sobre seu povo.

Como o objetivo geral foi promover discussões que levassem a uma reflexão histórico-social, considerei, na avaliação, elementos como o respeito à opinião dos colegas e escuta genuína, produção textual, elaboração de relatório, produção do painel fotográfico, apresentação das imagens na "Mostra Pedagógica" e produção e apresentação oral das paródias sobre a realidade sociocultural da fronteira.

No fim do projeto, foi feita também a autoavaliação. Cada estudante teve a oportunidade de se expressar oralmente sobre sua participação e sobre pontos positivos e negativos da experiência.

Olhando para a caminhada de toda a atividade, avalio que essa proposição de dinâmica de conteúdos escolares vivenciados desenvolveu o espírito de companheirismo e valores cidadãos como alteridade, respeito, tolerância e empatia.

Foi uma prática que produziu reflexões de alto nível. Além disso, possibilitou-me aprender novos modos de pensar a prática pedagógica, com a organização de aulas práticas fora do ambiente escolar.

Houve desdobramentos na proposta. Depois das atividades do projeto, foi realizado um curso de português para estrangeiros, a fim de ajudar os venezuelanos que estavam na região.

O desejo futuro é oferecer um curso extensivo que contemple ex-alunos, possibilitando a eles ter uma formação básica sobre questões interpessoais, culturais, sociais e de trabalho que contribua para inseri-los no mercado de trabalho brasileiro.

Saiba mais

O professor poderá exibir o vídeo "Fronteiras em Combustão". Disponível em https://vimeo.com/search?q=Fronteiras+em+Combust%C3%A3o
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