Aplicativo da cultura PaiterSurui
O objetivo desta prática foi desenvolver um aplicativo que mostrasse um pouco da cultura indígena da tribo Paiter Surui e, por meio de novas formas de usar a tecnologia, valorizar a identidade cultural dos alunos.
Em qualquer momento do ano letivo.
Materiais:
- tablets;
- celulares.
LGG – Competência 1; Competência 7
CHS – Competência 2
Habilidades trabalhadas:
EM13CHS202; EM13CHS205; EM13LGG105; EM13LGG701; EM13LGG703
Luiz Weymilawa Surui.
Escola:
EIEEFM Sertanista José do Carmo Santana, Cacoal (RO).
O que é:
Desenvolvi com meus alunos o projeto “Aplicativo da cultura PaiterSurui”, com conteúdos específicos para tablets e celulares, sobre a cultura indígena.
A iniciativa trouxe uma reflexão sobre quem somos e sobre a perda de muitos aspectos da nossa cultura.
Meus alunos estavam apáticos e desanimados, usavam aplicativos somente para baixarem músicas e não aproveitavam, de forma positiva, a tecnologia em suas mãos. Havia reclamações dos professores e certa acomodação dos alunos em suas tarefas diárias, numa visível perda de identidade e interesse sobre o modo de vida Paiter.
Esse projeto trouxe um novo fôlego e a valorização da nossa identidade, de forma prática e com a participação de todos.
Realizamos pesquisas com as pessoas mais velhas e sábias de nossa comunidade, discutimos o uso da tecnologia de forma positiva e como um instrumento de luta e preservação da nossa identidade Paiter. Aprendemos a desenvolver tecnologia social e a usá-la a nosso favor para divulgação da nossa cultura.
Com essa experiência, saímos da condição de consumidores passivos e nos tornamos produtores culturais.
O êxito no uso dessa ferramenta tecnológica nos fez pensar em novos projetos, como a criação de um app para vender nossos artesanatos e gerar renda para a comunidade.
Como fazer:
Temos pouco tempo de contato com a sociedade não indígena, aproximadamente 50 anos. A nossa comunidade tenta manter a forma de vida tradicional. Temos roças com vários tipos de alimentos, pescamos e fazemos grande parte do nosso artesanato tradicional.
Nossa escola é bilíngue. Falamos a língua materna Paiter, que pertence ao tronco linguístico Tupi Mondé, e a Língua Portuguesa. Temos cinco salas de aula para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, com aproximadamente 120 alunos, e uma cozinha pequena. A escola não tem internet, linha telefônica, biblioteca ou sala de informática.
A turma com a qual trabalhei, 3ª série do Ensino Médio, era composta por nove alunos, sendo três garotas e seis rapazes entre 16 anos e 22 anos. Na classe, havia uma aluna com necessidade educacional especial (surdez).
Apesar das dificuldades e da falta de interesse em alguns momentos, meus alunos eram assíduos e disciplinados na execução das tarefas.
Quando da realização do projeto, éramos, no Ensino Médio, três professores indígenas e quatro não indígenas. Havia muitos desafios, principalmente em relação ao uso da Língua Portuguesa.
Desenvolver novas metodologias de ensino com material próprio bilíngue seria uma ótima alternativa a médio prazo, uma vez que já existem alguns livros publicados pelos professores Paiter.
Na concepção do projeto, o plano foi desenvolver nos alunos o senso crítico, a criatividade e a disciplina, pois a turma tinha grande potencial.
Com isso, eles teriam mais ferramentas para enfrentar o cotidiano e as dificuldades da cidade, já que a maioria tinha planos de ir para faculdades de cidades próximas.
Percebi logo o interesse dos jovens por aplicativos e redes sociais, o que me deu pistas para o desenvolvimento do projeto.
O trabalho durou três meses e foi desenvolvido em 15 etapas sequenciais. Após apresentar a proposta, discuti com a turma o conceito de tecnologia e como ela está presente em nossa vida cotidiana.
Conversamos sobre as várias formas de gerar tecnologia e sobre o uso positivo e negativo da internet. Os alunos fizeram muitas perguntas sobre a utilização de recursos e o funcionamento das redes sociais, o que gerou uma discussão sobre identidade.
Depois dessa primeira etapa, pedi a eles que fizessem uma redação em português para diagnosticar o que realmente haviam entendido da nossa discussão.
Quando conversamos, usamos a língua materna. Quando escrevemos, empregamos a língua portuguesa.
Falando sobre tecnologia, expliquei o que é um aplicativo. Mostrei que existem conteúdos específicos para tablets e celulares. Falei sobre os sistemas operacionais (Android e iOS) e sobre aplicativos existentes.
Na ocasião, destaquei que seria possível montarmos um app sobre a cultura Paiter, por meio da plataforma “Fábrica de Aplicativos”, disponível na internet.
Isso foi fundamental para prender a atenção dos alunos, despertando neles a curiosidade e estimulando sua criatividade.
Embora os alunos fizessem uso de tablets, a maioria não conhecia, de forma técnica, as funções básicas.
Como parte do aprendizado, os alunos fizeram selfies, editaram, gravaram as próprias vozes, fizeram vídeos uns dos outros e realizaram inúmeros testes.
Eu havia programado duas aulas para essa etapa. Mas, para deixá-los à vontade, estiquei a atividade para quatro aulas.
Sabendo o que seria possível fazer para que tivéssemos o app sobre a cultura Paiter, passamos a discutir qual seria o conteúdo do nosso aplicativo.
Chegamos ao consenso de que ele deveria ter palavras na nossa língua, a história e a participação dos sabedores Paiter. Nesse ponto, mudei a ordem das etapas, para que os alunos ficassem mais livres para o trabalho.
O trabalho fluiu com leveza e se tornou cada vez mais divertido. Eu contei um pouco da história Paiter. Apesar de ser um professor jovem, cresci ouvindo relatos sobre a nossa cultura, contados por meu pai, um dos mais antigos Paiter em nossa comunidade.
Convidamos dois sabedores para realizar uma palestra. Os alunos, atentos e preparados, tiraram fotos e gravaram histórias sobre nossa origem, usando o tablet. Comecei a visualizar os primeiros resultados, o que me deixou ainda mais motivado para continuar o trabalho. Os alunos também ficaram entusiasmados por terem nas mãos um registro tão valioso.
Na sequência, andamos pela aldeia e registramos as mulheres trabalhando no pátio das casas e fazendo artesanato, as crianças brincando, os homens indo para a roça. Tudo isso aconteceu no contraturno escolar.
Em seguida, cada aluno fez o mapa da aldeia. Os desenhos, expressivos, fortaleceram os vínculos ancestrais e a noção de pertencimento.
Os jovens entrevistaram seus parentes mais velhos e ouviram deles opiniões sobre a vida, hoje, e histórias de como era o cotidiano no passado.
Era preciso registrar esse momento com o uso da tecnologia, mas os próprios alunos queriam também escrever sobre a pesquisa. Foi difícil separar o que iria para o aplicativo.
Nossa trajetória é feita de alguns episódios tristes, e os nossos sabedores pediram para que alguns trechos não fossem do conhecimento de não índios.
Isso nos trouxe reflexões e uma discussão muito interessante. Mesmo jovens, já estávamos percebendo a nossa importância como seres humanos e como indígenas.
Com todo o conteúdo das pesquisas e das produções, decidimos o que entraria no app. Para tanto, separamos imagens do cotidiano, desenhos, textos etc.
A partir daquele ponto, precisaríamos da internet para alimentar a plataforma base do nosso aplicativo. Eu fiquei responsável por colocar os dados na plataforma, seguindo o conteúdo que os alunos haviam escolhido.
Com o app pronto, fizemos alguns ajustes. Ele está hoje na plataforma da "Fábrica de Aplicativos", mas disponível somente para os alunos.
Saiba mais
Para conhecer ferramentas de criação de um aplicativo: https://canaltech.com.br/apps/como-criar-um-aplicativo/