"A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida." (BNCC, 2018, p. 464)

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Mostra Fotogeográfica: momentos de humanidades, mazelas do humano

Competência 3 | Competência 5 | Competência 6 | Competência 7
Área(s): Linguagens; Ciências humanas e Sociais.

Esta prática teve com objetivo despertar e desautomatizar o olhar sobre o espaço urbano, destacar a importância dos direitos humanos a fim de praticar a empatia e refletir sobre nossas posições diante das mazelas humanas.

Quando:

Em qualquer momento do ano letivo.

Materiais:
  • câmera fotográfica;
  • fotos impressas ou reveladas;
  • material adesivo;
  • fontes bibliográficas.
Competências específicas:

LGG – Competência 3; Competência 5; Competência 6; Competência 7

Habilidades trabalhadas:

EM13LGG301; EM13LGG603; EM13LGG703; EM13CHS502;

Professor(a) responsável:

Eliana Passarin.

Escola:

Escola Municipal de Ensino Médio Alfredo Aveline, Bento Gonçalves (RS).

O que é:

Tornar o conteúdo vivo e despertar nos alunos um olhar sobre o espaço geográfico, saindo do "automático", do cotidiano, por meio da obra do renomado fotógrafo Sebastião Salgado. Essa foi a inspiração para o projeto, realizado nas aulas de Geografia com todos os 143 alunos da única escola municipal de Ensino Médio de Bento Gonçalves.

Desenvolvido durante o primeiro trimestre de 2018, o projeto trabalhou a importância dos direitos humanos, as mazelas da sociedade e os momentos de humanidade. A ação buscou também refletir sobre as posições individuais e a prática da empatia.

O instrumento, para tal, foi a arte fotográfica, que, produzida pelos alunos, foi levada ao maior terminal de ônibus da cidade para interação com a comunidade.

Provocar a reflexão feita pelo geógrafo Milton Santos, de que “o espaço pode ser a morada do homem e também a sua prisão e de que todo ponto de vista é a vista de um ponto”, foram subsídios para que os alunos despertassem o olhar fotogeográfico sobre uma cidade "dual".

Como diz Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, e, assim, levamos as 140 imagens produzidas pelos alunos para a “Mostra Fotogeográfica: momentos de humanidade, mazelas do humano”, que foi vista por milhares de pessoas. Cenas invisíveis aos olhos foram captadas pelo olhar atento dos jovens.

Relatos emocionantes de quem fez a mostra e de quem a viu e a possibilidade de ver o trabalho replicado em outras escolas foram as razões que me levaram a relatar esta prática pedagógica no "Prêmio Professores do Brasil".

Encante-se, motive-se e faça em sua escola. O resultado será surpreendente. Novos olhares e novas posturas em sala de aula.

Como fazer:

Foram três meses de atividades, numa concepção pedagógica mais contemporânea, pois acredito na educação como experiência de vivências múltiplas, agregando algo para o desenvolvimento total dos alunos.

Utilizei parte das aulas do primeiro trimestre de 2018 para a realização das atividades. Os alunos usaram ainda alguns turnos contrários para a captação de imagens nas áreas urbana e rural. Eles puderam escolher entre retratar as mazelas e os momentos de humanidade.

Começamos com uma visita à mostra do fotógrafo Sebastião Salgado, no Museu do Imigrante. Foi uma grande oportunidade, afinal exposições do tipo dificilmente podem ser vistas no interior do estado.

Já conhecíamos a obra e o fotógrafo por meio de textos que eu havia levado para a sala de aula.

Diante da perspectiva de realização de uma análise da paisagem geográfica, conversamos em classe sobre o geógrafo Milton Santos e sobre suas visões de mundo. Os alunos também conheceram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Ao coletarem notícias sobre Sebastião Salgado, os alunos perceberam sua importância para a iconografia das mazelas humanas mundiais.

Ao visitarmos a mostra, os alunos fizeram registros das imagens mais impactantes. Na sala de aula, utilizamos a técnica da "explosão de ideias".

O debate foi producente. Muitos jovens mudaram de opiniões sobre a importância dos direitos humanos no mundo.

Ao final, sugeri realizarmos a nossa própria exposição, a “Mostra Mazela do Humano: momentos de humanidade”, a partir do conceito “pensar globalmente e atuar localmente”. Os alunos escolheram os temas e as respectivas perspectivas (positivas ou negativas).

Com a imagem, eles me entregaram um breve texto, falando das razões de escolha da fotografia e do significado daquele trabalho escolar. Cada aluno apresentou seu texto e a imagem aos colegas como forma de socializar as produções.

Durante as apresentações, surgiu a ideia de que não deveríamos apenas buscar imagens fora da escola, mas também devolvê-las à sociedade.

Como queríamos alcançar o maior número de pessoas, escolhemos um terminal de ônibus.

Passamos todo o dia no terminal. Os alunos colheram depoimentos, fotografaram e observaram a reação das pessoas.

Quando apresentada, ainda mais num lugar tão inusitado, a mostra causou grande impacto, como se pode ver nos relatos abaixo de alguns usuários do terminal:

  • “Adorei, foi bem expressivo, retratou a realidade que eu vejo na cidade, foi uma ótima iniciativa da escola, pois precisamos nos conscientizar sobre a realidade, e nada melhor que começar pelos nossos jovens”.
  • “Ficamos encantados, não somos de Bento Gonçalves, vocês poderiam levar a mostra para nossa cidade, Santiago”.
  • “Eu queria ter estudado em uma escola assim. Em Geografia, só aprendi a decorar nomes de países e capitais. Isso sim é interessante”.
  • “Achei interessante, pois mostra a realidade, como o ser humano interfere negativamente, mas também positivamente na cidade e na vida das pessoas”.
  • "Alunos e professores de parabéns, ainda mais por ser uma escola pública”.

Um momento lindo da mostra foi que muitos dos artistas e artesãos retratados, como um deficiente visual flagrado atravessando a faixa de segurança com ajuda de um jovem, foram até a parada de ônibus para conhecerem seus quadros e serem fotografados ao lado das reproduções.

Para mim, o momento mais significativo foi quando uma aluna foi na direção de uma senhora, de uns 70 anos, que estava encantada com as imagens, lendo, olhando e chorando.

As duas começaram a conversar para a entrevista. De repente, outros alunos foram até elas. A mulher estava chorando porque, ao ver a foto de um morador de rua, pensou no filho que havia perdido dias antes por causa da violência urbana.

Os alunos ficaram chocados. Ter contato com uma notícia desse tipo é comum em suas vidas. Mas ouvir um relato de uma pessoa que tinha passado por essa situação era algo bem diferente.

Todos ficaram com a senhora por bastante tempo, dando-lhe atenção, sendo, naquele momento, os ouvidos de que ela precisava. A aluna a acolheu com um abraço muito fraterno, despertando nos colegas um sentimento de humanidade muito forte, algo novo para mim naquela turma, que costumava se dividir de forma muito ferrenha nos debates.

A seguir relatos de alguns alunos sobre o trabalho realizado:

  • “No início, estava preocupada com o que iria fotografar, não sabia se encontraria boas opções na cidade, mas me enganei, tanto que fotografei algo que acontece na minha casa todos os dias. Nem no espaço onde a gente vive se enxerga tudo, realmente a professora tinha razão: todo ponto de vista é a vista de um ponto”.
  • “Depois desta atividade ando mais atenta ao que está ao meu redor”.
  • “O meu lixo que alimenta outro ser humano foi algo que me deixou sem fome por vários dias, uma coisa é a gente ver na internet, outra é a gente fazer parte da cena, conversar com a pessoa e registar esta mazela, foi uma oportunidade reflexiva”.
  • “Foi uma experiência muito boa, me fez parar para pensar sobre pequenas situações que ignoramos no nosso cotidiano, mas que não deveriam e de forma alguma serem invisíveis. Tive novos olhos para ver coisas que antes eu não via e repensar minhas atitudes”.

Para encerrar este projeto, editamos um pequeno documentário para exibição às turmas envolvidas e envio, como agradecimento, ao "Instituto Terra", fundação mantida pelo fotógrafo Sebastião Salgado.

A obra "Êxodos", de Salgado, foi fundamental para a realização desta prática pedagógica, que me fez acreditar ainda mais que o caminho da educação só pode ser construído quando a gênese humana é tocada.

Os relatos das pessoas que conheceram a mostra fizeram com que eu acreditasse ainda mais na ideia de que a educação só se efetiva quando dialoga com a sociedade. As pessoas se emocionaram e se identificaram com os olhares diferentes que os alunos tiveram sobre o espaço geográfico.

Por isso, sou eternamente grata aos meus amados alunos, que toparam entrar nesta "viagem", que foi mais longe do que eu havia imaginado no início.

Saiba mais

O projeto tem relevante potencial interdisciplinar, podendo ser fortemente relacionado ao trabalho com legendas, biografia e relatos de experiências vividas, dentre outros gêneros.

Existe, na fase de análise das fotografias selecionadas pelos alunos, uma importante oportunidade de trabalho com a leitura de imagens e com a abordagem da fotografia como texto.


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